Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo do Presidente Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Críticas ao Governo do Presidente Lula.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Flexa Ribeiro, Heloísa Helena, Heráclito Fortes, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/2006 - Página 7433
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, PRIORIDADE, CAMPANHA, REELEIÇÃO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, NOTICIARIO, IMPRENSA.
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, EXERCITO, INTERVENÇÃO, FAVELA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FALTA, LIDERANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, RECUPERAÇÃO, ROUBO, ARMAMENTO.
  • DENUNCIA, OMISSÃO, GOVERNO, VIOLENCIA, INVASÃO, SEM-TERRA, DESTRUIÇÃO, PESQUISA, GENETICA.
  • COMENTARIO, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, OBSTACULO, JOGOS PANAMERICANOS, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, MATERIAL DE CONSUMO, PALACIO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, tenho em mãos uma foto do Senhor Presidente da República falando da Inglaterra para o Brasil pelo telefone. Está aqui a foto.

Qualquer pessoa equilibrada, qualquer pessoa mentalmente sã, vai imaginar, Senador Cristovam Buarque, que o Presidente está ao telefone por causa da crise envolvendo o Exército, que entrou nas favelas cariocas e não sabe como sair delas. Chegou-se a ponto tal em que já não são roubados apenas os cidadãos no Rio de Janeiro e nas grandes capitais brasileiras; já assaltam o próprio Exército brasileiro.

Repito: se alguém vê a foto do Presidente e não lê a legenda, se não se apercebe da manchete, supõe que o Presidente está falando da crise da segurança pública no País. Esse jornal que tem a foto é O Estado de S. Paulo, edição de hoje. O jornal O Globo também estampou uma foto muito expressiva de Sua Excelência ao telefone. É aquela coisa assim: Duda Mendonça por trás, em espírito!

Mas estou lendo a Folha de S.Paulo, que está com uma foto de Vanderlei Almeida, da France Press*, que é a mais exemplificativa do que é esse Governo. Aqui está: dois soldados do Exército brasileiro e por trás deles duas crianças, sem blusa, uma fazendo aquele gesto com a mão nos testículos e a outra com outro gesto, em que os dedos simulam um falo, um pênis. Estão fazendo isso na direção dos soldados do Exército. Ou seja, desrespeito completo em relação ao Exército, absoluto distanciamento de todos os valores do País. É esse o retrato da infância brasileira e esse é o retrato do Governo sem autoridade do Presidente Lula, que está com naquela carruagem inglesa para virar abóbora. A cinderela política em que ele se transformou aparece com sua carruagem, que vai virar abóbora.

Ele não está aqui falando em segurança pública, Senador Flexa Ribeiro. Ele está aqui conversando com o técnico da seleção brasileira de futebol, Parreira, prestigiando o atacante Ronaldo, o “fenômeno”. Ele não está atento para isso aqui, ele não passou nenhuma instrução sobre segurança pública. Ele está fazendo uma foto de campanha e, supostamente, se popularizando ao se preocupar com futebol, assunto do qual ele não entende. Não entende de governar e se arvora em fazê-lo; não entende de futebol e fica dando conselho a Ronaldo, que é considerado por alguns o melhor jogador do mundo.

Então: “Lula falou, de Londres, com Parreira por telefone”. Um "marqueteiro" deve ter dito: Presidente, o Ronaldo é tão querido no País, prestou tantos serviços ao Brasil... Pegue o telefone e ligue para o Parreira. E S. Exª ligou.

Está aqui, com ar aparvalhado, falando com o Parreira. Enquanto isso, o Governo dele tem uma face real, e não é a face da Cinderela, da carruagem que vai virar abóbora. É a face real do desrespeito ao Exército brasileiro, da aventura em que se meteu o Exército brasileiro, porque falta comando, falta liderança, falta quem lidere a administração deste País.

Senador Cristovam Buarque, ouço V. Exª, com muita honra.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, em primeiro lugar, quero dizer - talvez os mais jovens não saibam - que, pelo que eu saiba, o último Presidente da República que se meteu na escalação da seleção foi o Presidente Médici, na época do regime militar. Mas isso, para mim, é um detalhe. O mais grave é o que V. Exª está trazendo aqui. Esse gesto desses meninos simboliza um sentimento que há no local; simboliza que eles não apenas não entendem essa ocupação como também que sabem que, encontradas as armas, o Exército sai e o povo continua entregue aos bandidos. E ninguém sabe se essas armas serão encontradas, ninguém sabe se alguns soldados serão mortos, ninguém sabe se os soldados matarão brasileiros em território brasileiro, ninguém sabe...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Um já morreu. Um adolescente que não era sequer ligado ao tráfico já morreu.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Já morreu. Ninguém sabe ainda se foi ou não o Exército, mas já é fruto desse confronto. Nessa batalha, há uma certeza: o Exército está sendo derrotado, se não do ponto de vista militar - o que seria impossível -, do ponto de vista da sua imagem e do seu papel na sua dignidade. Eu queria saber, como V. Exª fala da liderança, que autoridades autorizaram essas tropas a saírem dos quartéis e irem para o morro. Foi o próprio comandante do quartel, foi o Ministro da Defesa ou foi o Presidente da República? Creio que esta seja uma pergunta que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional deveria fazer: quem deu a ordem de comando para que o Exército subisse aos morros?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Senador Cristovam. V. Exª, brilhante como sempre, acrescenta - e muito - aos discursos dos oradores que aparteia.

Não houve a ordem. Foi uma atitude do próprio Exército. Ou seja, o Exército se sentiu ultrajado.

A Srª Heloísa Helena (P-Sol - AL) - Então, não há Presidente da República?

O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM) - Exatamente. Eu denunciei ontem, Senadora, o estado de anomia, ausência de normas e de regras a regerem a vida dos brasileiros e a disciplinar o Estado.

O Exército, Senador Cristovam Buarque, foi, modo próprio, aos morros. Tomaram uma atitude. Eu não diria que a culpa da insegurança é apenas do Governo Federal. É uma obrigação da sociedade como um todo, até das Prefeituras, mas, sobretudo, uma obrigação dos Governos Federal e estaduais.

Refiro-me, Senador Teotonio Vilela, ao fato de que chegamos a um estado de anomia tal que o Exército, sem ordem de ninguém, sobe às favelas para recuperar armas que ainda não recuperou, expondo seu prestígio e demonstrando clara e cabalmente que não há Governo neste País. O nosso Presidente, qual uma Cinderela - Cinderela de carruagem que, à meia-noite, vira abóbora -, está aqui falando ao telefone com o técnico Parreira, da Seleção. Ele não está preocupado com a segurança pública. Ele está dizendo ao Parreira que deve ter paciência com o Ronaldo. Esse é o problema que está ocupando a cabeça fútil e vazia do Presidente da República.

Na primeira página da Folha de S.Paulo - faço questão de repetir -, há foto de dois soldados do Exército, foto da agência France Press fotógrafo Wanderley Almeida, com dois meninos: um, exibindo os testículos para os soldados; o outro, imitando um pênis com os dedos, num gesto que é muito característico da irreverência da juventude. Aqui está o quadro a que expuseram o Exército Brasileiro*! A que ponto levam este País a falta de Governo, a falta de Liderança, Senador Jereissati, que é tão preocupado e especializado em segurança pública, e a falta de comando no Brasil!

Digo que é muito “contristante”, porque o Presidente é mesmo um fracasso. Se fosse técnico de futebol, não seria um técnico vencedor. Como Presidente da Republica, é isso que estamos vendo.

Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, lembro que, ao mesmo tempo em que ocorre isso no Rio de Janeiro, no outro lado do País, no Sul - talvez na página seguinte desse jornal haja uma fotografia -, um laboratório imenso, de mais de 20 anos de trabalho, de uma empresa de papel e celulose foi destruído não se sabe direito se por integrantes do MST ou se por pessoas ligadas ao MST - não ficou muito bem identificado -, sem nenhuma intervenção de forças de segurança. O laboratório foi totalmente invadido e destruído por vândalos dizendo-se integrantes do MST, comemorando como se fizesse parte da comemoração do Dia Internacional da Mulher, também sem manifestação alguma do Governo. Ao mesmo tempo, vemos, novamente, o Presidente da República saindo da carruagem, preocupado com o apoio que deveria ser dado ao Ronaldo, deixando em polvorosa não apenas os produtores. Essa não é uma questão particular dos produtores, mas de todo o ambiente produtor brasileiro, em função do que aconteceu. Não estamos falando de invasão, mas de destruição.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - De vandalismo mesmo.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - De vandalismo contra a produção de pesquisa científica.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Tasso Jereissati, apresentei um voto de solidariedade à cientista que se revoltou justamente contra o desperdício do trabalho dela e de outros especialistas em tecnologia genética e, ao mesmo tempo, um voto de repúdio ao braço desse absurdo MST que se chama Via Campesina, que perpetrou esse atentado contra a pesquisa científica num País que despende tão poucos recursos para esse fim.

V. Exª tem inteira razão. Olhamos o quadro de corrupção, e a CPI está ali discutindo corrupção, numa sala e em outra. Estamos vendo o Presidente se arvorar a aconselhar o técnico Parreira. Estamos vendo a segurança pública chegar ao ponto mais agudo de crise. Estamos vendo o MST tolerado, o MST que é parceiro deste Governo, o MST que se “apelegou” com este Governo, o MST que, como a CUT, urrava como uma onça selvagem e, de repente, virou um gatinho de pelúcia nas mãos do Presidente. Há parceria nisso. Há parceria. Não há desaprovação. Eles têm um Ministro deles, o Ministro da Reforma Agrária. Um Ministro deles está lá. Há parceria do Governo. Essa é a grande verdade.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador, permite-me?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O Ministro da Reforma Agrária foi entrevistado e não desaprovou. Disse que aquilo não fazia parte do Plano Nacional de Reforma Agrária. Era essa a observação.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É incrível: o MST tem um Ministro. O MST participa de uma coalizão e indicou um Ministro para este Governo.

O Senador Heráclito disse-me, Senador Jereissati, que uma pessoa do Palácio - o Presidente Fernando Henrique, ao contrário do que alguns amigos nossos julgam, julga-me uma pessoa capaz de arbitrar sobre moda - teria dito a ele: “Presidente, não use essa casaca, porque, senão, o Arthur Virgílio vai fazer alusão ao filme ‘Ladrão de Casaca’. Então, não use a casaca. Ele vai fazer isso, com certeza”.

Eu não havia pensado nisso, mas, quem sabe, vendo as figuras de casaca eu me lembrasse de um clássico do cinema - o ator chamava-se Cary Grant. Ele passa ainda no circuito cult. É um filme de muita capacidade de se fazer compreendido por todas as gerações.

Eu disse: olha, de repente, influenciei na vestimenta, na indumentária do Presidente da República, Senador Teotonio. Que coisa boa! Isso significa que, talvez, eu passe a ganhar a antipatia da estilista de moda Glória Calil. Ela vai dizer: “Poxa, esse Arthur Virgílio vai deixar de ser Senador e vai entrar no meu ramo. Vai ficar ditando moda, assessorando elegantes do sexo masculino”.

Mas, enquanto isso, a preocupação do Presidente é: Parreira ou não Parreira; casaca ou não casaca - e a produção científica brasileira é destruída por vândalos, e a segurança pública, no Rio de Janeiro, chega a esse ponto máximo de perplexidade.

Qualquer hora, Senador Cristovam Buarque, morre alguém do Exército - porque gente do povo já tem morrido muita. Vai morrer, a qualquer momento, espero que não - bato na madeira -, alguém do Exército. Trocando tiros, a possibilidade de que alguém morra é grande. Aí, estará formada uma confusão que pode virar convulsão neste País, e a única razão para se explicar esse fenômeno é a falta de governo, a falta de liderança, a falta de comando, a falta de seriedade mínima para tratar com as coisas. Ou seja: tudo pela futilidade, tudo pela eleição, tudo pela demagogia, tudo pelo marketing e nada pela sinceridade, nada pelo ataque frontal e concreto aos problemas vivenciados pela população brasileira, que consagrou o Presidente Lula com 53 milhões de votos há tão poucos anos.

Sr. Presidente, consulto V. Exª se, com os recursos - estou pedindo que essas duas matérias sejam incluídas nos Anais - gráficos modernos, posso não só inserir as palavras, mas a foto, pois queria essa foto nos Anais do Senado. É preciso que os pósteros saibam que tempos obscuros vivemos hoje. É preciso que eles saibam como arriscaram a estabilidade da democracia brasileira nesses idos de 2006, quando nos estudarem em 2030, 2050 ou 2100. Eu gostaria de saber isso.

            Já concedo o aparte ao Senador Flexa Ribeiro.

            Fiz uma pergunta ao Presidente Paulo Paim.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Respondo a V. Exª, Senador Arthur Virgílio, que tem mais seis minutos, e eu os descontarei. A solicitação de V. Exª ficará nos Anais. No Diário do Senado Federal só fica o escrito.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Infelizmente, não poderá ficar consignada no Diário do Senado Federal a foto do Presidente Lula falando com Parreira ao telefone e, como se o atacante Ronaldo precisasse - vamos falar um pouco de futebol - de conselho ou do apoio do Presidente Lula. Não tem nada a ver com o Ronaldo. O Ronaldo não joga futebol parecido com os pernas de pau do Alvorada. Não tem nada a ver. Ronaldo não precisa dele para coisa alguma. Ele precisa treinar, emagrecer e ser o que sempre foi, aquela figura fria na hora de fazer o gol.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concederei o aparte ao Senador Flexa Ribeiro e, em seguida, a V. Exª, Senador Heráclito Fortes, com muita honra.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Arthur Virgílio, a Nação observa perplexa as atitudes do Presidente Lula. V. Exª apresenta aqui o retrato do Presidente preocupado com a situação do Ronaldo, o Fenômeno, enquanto Sua Excelência, na viagem a Londres, diz que o Brasil não tem pressa de crescer. Expressou, aqui, com pirotecnia, sua opinião a respeito do espetáculo do crescimento, e se contradiz, dizendo que o Brasil não tem pressa de crescer, como se a Nação concordasse, mas nós estamos perdendo a oportunidade internacional de crescer, pelo menos de estarmos próximos da média do mundo. Corroborando com o que disse aqui o Senador Tasso Jereissati, o que ocorreu no Rio Grande do Sul, Senador Tasso Jereissati, ocorreu por diversas vezes em meu Estado, o Pará, onde o Movimento dos Sem-Terra invadiu áreas produtivas de plantio da Camargo Correia Metais, que dava suporte à produção de silício metálico, apoiado pelo Incra, que distribui cestas-básicas, destruindo o patrimônio. Esse é o retrato fiel da administração petista no Brasil. Senador Arthur Virgílio, os brasileiros, observando isso, corrigirão o rumo do Brasil nas eleições de outubro próximo.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Flexa Ribeiro.

            Ouço o aparte do Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, se realmente fosse sincera a preocupação do Presidente Lula com o esporte brasileiro, não caberia ao Presidente da República uma demonstração de preocupação isolada com um atleta, por melhor que ele fosse. Aliás, o Presidente Lula vem agredindo os atletas brasileiros. V. Exª bem se lembra quando, outro dia, Sua Excelência fez apologia ao jogador Tevez, enquanto Ronaldinho faz gols pelos campos da Europa. Disse que o PT era comparado ao Tevez ou bem melhor que ele. Se quisesse realmente demonstrar amor ao esporte brasileiro, o Presidente podia, da Inglaterra, garantir que não faltará dinheiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007. A burocracia não impediria a construção do estádio olímpico e de todo o complexo de que o Brasil necessita, aí sim, para fabricar milhões e milhões de Ronaldos. Seria muito mais próprio de um Presidente da República preocupar-se com o esporte como um todo do que fazer apenas um agrado isolado para a platéia assistir. Muito obrigado.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Heráclito Fortes.

            Na verdade, de futebol, ele não entende nada mesmo, porque Nilmar, do Corinthians, joga bem mais do que Tevez. Essa é uma verdade. Basta assistir aos jogos pela televisão e constatar.

Por outro lado, não é a burocracia que impede a ajuda aos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. É o fato de o Prefeito do Rio de Janeiro ser de um partido adversário do Presidente da República. É basicamente isso. Por isso, a discriminação; por isso, a enrolação; por isso, a aparência de burocracia, tentando esconder o que, na verdade, é má-fé, vontade de dar a entender que o Prefeito do Rio de Janeiro não saberia organizar convenientemente, adequadamente, os Jogos Pan-Americanos.

            Senador Tasso Jereissati, concluo dizendo a V. Exª que apresentei, em 10.02.2004 requerimento ao Ministro da Agricultura indagando que providências o Governo porventura estaria por adotar a respeito do que, na época, era conhecido como gripe do frango, atualmente popularizada, infelizmente, malsinadamente, como gripe aviária. Em 2004, Senadora Heloísa Helena.

            O outro retrato do Governo é o que está no Diário Oficial de hoje - o Pregão nº 42, para compra de materiais de mesa e copa -: oito jogos de toalha de mesa: R$15.700,00; doze jogos de toalha de mesa, outro modelo: R$33.400,00; duas toalhas de mesa: R$7.700,00 cada uma, toalhas de mesa caras; vinte toalhas de lavabo: R$1 mil cada uma - não vai faltar toalha para a “companheirada”, mas não vai mesmo -; e jogos de forro de bandeja: R$4.900,00. Total: R$62.700,00, jogados fora. Jogados fora por um Governo que está vendo os gastos públicos aumentaram, em 2005, 10%. Ao longo dos seus três anos de Governo, a média é de 8%. O PIB cresce 2,3%, e os gastos correntes, 8% ao ano. Não há como se pensar em sustentar crescimento desse jeito.

Concedo um aparte à Senadora Heloísa Helena.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senadora Heloísa Helena, faço um apelo a V. Exª. É claro que vou permitir o aparte, fique tranqüila. Mas há uma série de oradores, cada um vai dispor de vinte minutos, e o tempo do orador já terminou.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Não há problema, Sr. Presidente. Se V. Exª entender que não posso apartear, não o farei.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Faço questão de ouvir o seu aparte.

A Sr. Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Tentarei fazer um breve aparte a um pronunciamento de alta complexidade como o de V. Exª, Senador Arthur Virgílio. Não se trata de um assunto qualquer. Sei que o Senador Jefferson Péres já tratou do mesmo assunto, o Senador Cristovam tratou das preocupações com relação à gripe aviária...

(Interrupção do som.)

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - O Senador Jefferson Péres tratou da questão do Rio de Janeiro. Sei que pode até parecer, para algumas pessoas, que falar do telefonema para o técnico de futebol ou da carruagem da rainha pode ser uma forma de ridicularizarmos o Presidente. Mas, sei que o pronunciamento de V. Exª não trata disso, do mesmo jeito que meu aparte não trata. O problema é que há uma coisa muito, mas muito grave, no Brasil. O Presidente dá telefonema para quem quiser. Mas ser refém desses rituais cínicos, esnobes, daquele negócio que detesto, quando a aristocracia diz que são os novos ricos, aqueles que...

(Interrupção do som.)

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - ...nunca comeram mel e quando comem se lambuzam, sinceramente sempre desprezei esse comportamento esnobe, cínico, esse lixo do luxo. Mas não é nem disso que se trata. O pronunciamento que V. Exª faz é muito importante e muito grave, porque não é uma coisa simplória o que está acontecendo no Brasil. Do mesmo jeito que, de um lado, choram as mães das crianças que estão sendo assassinadas ou pelo narcotráfico ou pelo aparato policial, de outro, choram as mulheres dos policiais também assassinados pela violência no cumprimento e no exercício de suas tarefas. Sinceramente, não sei como... Aliás, eu não devia mais me surpreender com nada vindo do Lula e dessa gangue partidária chamada PT. Sei que tenho a obrigação de não me surpreender...

(Interrupção do som.)

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - ...de não me indignar e de não me entristecer. Sei que tenho a obrigação de fazer isso, porque não vou ficar, pelo resto da vida, lamentando esse tipo de coisa. Eu sei que eles mudaram de lado, constituíram uma farsa e uma traição de classe. V. Exª sabe exatamente o que eu penso do Governo de que V. Exª foi Líder, mas a angústia é maior por este Governo, por caracterizar a traição de um projeto e de tudo o que foi acumulado ao longo da história pela esquerda socialista democrática. A violência não é uma coisa simples. Se o Estado brasileiro não adotar uma geração, centenas de outras gerações estarão sendo perdidas. Não é uma coisa qualquer, não é uma coisa simples. Quando a menininha está na rua vendendo o corpo por um prato de comida, quando o menino de seis anos de idade vira olheiro do narcotráfico, quando uma mulher que a vida já abandonou abandona a menininha ou o menininho dela...

(Interrupção do som.)

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Não é uma coisa qualquer. Portanto, não é possível que o pronunciamento de V. Exª e de outros Parlamentares sobre a violência não sejam capazes de movimentar o Senado Federal. Sabem todos que eu não mantenho relação coorporativa alguma com essa coisa, porque a maioria do Congresso Nacional é refém e anexo arquitetônico dos interesses do Palácio do Planalto, estabelece qualquer promiscuidade, não tem sensibilidade, não tem interesse social, nada, nada. O que o imperador de plantão do Palácio do Planalto manda a Casa faz de forma subserviente e subordinada. Os que se salvam se angustiam ou na tribuna ou em algumas outras atividades perdidas. Mas não é possível que não tenhamos a ousadia, a coragem de salvar uma geração, fazendo com que o Estado adote um menino que nasce hoje. Seja com a família, seja com entidade não-governamental, seja com quem for, é realmente inacreditável que não salvemos uma única geração. Analisemos aquela cena daqueles meninos, daqueles adolescentes fazendo gestos que qualquer adolescente pode fazer, por rebeldia, por repúdio, ou por outro motivo qualquer. A maioria deles já viu os pais serem assassinados. Muitos já foram vítimas do caveirão. Igualmente os filhos do policial ou do profissional do Exército também estão com medo de que aconteça algo com suas famílias. Então, não é possível que este Governo seja tão imoral e indecente que o Presidente da República vá passear na carrocinha ou na carruagem de onde quer que seja e não retorne logo para cá. Ele tinha que estar aqui. Tinha que voltar ao Brasil imediatamente. Não é uma coisa qualquer que está ocorrendo. É algo muito sério, e ele sequer se dá a autoridade de assumir o cargo para salvarmos ao menos uma geração. Se conseguirmos salvá-la, poderemos salvar este País. A situação é realmente muito grave. Desculpe-me por estender-me no pronunciamento de V. Exª. Mas é algo tão grave o que aquela foto sinaliza, assim como o fato de mulheres jogarem suas menininhas na água podre ou na lixeira. Já são mulheres tão abandonadas pela vida, que, como já não têm mais nada, abandonam qualquer um porque já foram tão abandonadas. Um menino de seis anos embaixo de uma caixa, virando olheiro de narcotráfico, e o Presidente da República, passeando, conversando sobre Ronaldinho, Ronaldão ou quem quer que seja! Isso realmente não tem quem agüente!

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Arthur Virgílio, faço um apelo a V. Exª, pois já se passaram dez minutos. Se V. Exª me permitir dizer, houve um incidente aqui no plenário hoje entre os Senadores Sibá Machado e Almeida Lima devido ao tempo. Então, se V. Exª puder me ajudar...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida, sem dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Vou dar a V. Exª mais um minuto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª.

Senadora Heloísa Helena, acolho com muita honra para o meu discurso o seu aparte comovido e justo.

Sr. Presidente, não precisando sequer do minuto que V. Exª me concedeu, encerro exibindo mais uma vez à Casa as duas fotos. A foto das crianças abandonadas deste País, fazendo gestos obscenos para o Exército brasileiro, e a foto da nossa “cinderela política”, com a carruagem prestes a virar abóbora, telefonando, não para saber da segurança pública, mas marqueteiramente, “dudamendonçamente” a Parreira para pedir-lhe proteção ao jogador Ronaldo, do Real Madrid.

Essas duas fotos são o retrato de um Governo, do estado de anomia a que está submetido este País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos na forma do art. 210, inciso I e o § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Exército amplia ocupação e faz bloqueios nas saídas do Rio; Lula manda carta de apoio a Lula manda carta de apoio a Ronaldo; Pregão nº 41/2006; Para Governo, ação do Exército é de alto risco; Arma não está em morro, diz facção; Sem êxito, Exército agora bloqueia estradas”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/2006 - Página 7433