Pronunciamento de José Jorge em 10/04/2006
Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e o provável envolvimento do Ministro da Justiça no episódio.
- Autor
- José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
- Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
- Quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e o provável envolvimento do Ministro da Justiça no episódio.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/04/2006 - Página 11474
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
- Indexação
-
- CRITICA, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, VIOLAÇÃO, SIGILO BANCARIO, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, DEPOIMENTO, EMPREGADO DOMESTICO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, TESTEMUNHA, VISITA, ANTONIO PALOCCI, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), RESIDENCIA, EXECUÇÃO, LOBBY, TRAFICO DE INFLUENCIA, EMPRESA PRIVADA.
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTICIPAÇÃO, MARCIO THOMAZ BASTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), VIOLAÇÃO, SIGILO BANCARIO, TESTEMUNHA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
- EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, ADVOGADO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ESCLARECIMENTOS, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), EX PRESIDENTE, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF).
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o assunto que me traz à tribuna hoje é exatamente a questão da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Esse episódio começou no dia 16 de março, quando o caseiro esteve aqui para depor na CPI dos Bingos, depois da entrevista concedida à jornalista Rosa Costa, do jornal O Estado de S. Paulo. Naquela entrevista, que ficou famosa, Francenildo dizia que, como caseiro da chamada Casa de Ribeirão Preto, tinha visto diversas vezes o Ministro Antonio Palocci naquela casa.
Ressalte-se que o Ministro havia dito que nunca havia estado lá, o que já tinha sido desmentido pelo motorista e também pelo corretor que alugou uma outra casa para o pessoal de Ribeirão Preto.
A situação foi, aos poucos, complicando-se. O caseiro veio dar o seu depoimento, e, até agora, não representava nada de grave, mas a situação começou a se agravar quando, naquele mesmo dia, o Senador Tião Viana, representando o Partido dos Trabalhadores, solicitou junto ao Supremo Tribunal Federal um pedido de liminar para interromper o depoimento do caseiro. A liminar foi concedida e o caseiro teve o depoimento interrompido, num caso inédito.
É inédito, Senador Pedro Simon, porque todas as outras liminares foram concedidas a pedido do interessado. Uma hora era o Okamotto, que pedia para não vir; outra, era o Delúbio que pedia para não falar a verdade; enfim, cada um pedia para si e os Ministros concediam baseados naquela idéia de que ninguém pode prestar testemunho contra si mesmo.
Mas, nesse caso, foi completamente diferente, porque quem ia depor era o caseiro e o caseiro não pediu para não vir nem pediu para não falar. Mas o Governo, o PT, por intermédio do Senador Tião Viana, entrou com esse pedido de liminar, que foi concedida, o que é um fato inédito. Foi concedida sob a alegação de que poderia comprometer o sigilo do Ministro Palocci, que já estava na rua, porque a entrevista, com o mesmo que ele ia dizer lá, já havia sido publicada dois dias antes, na segunda-feira.
Houve uma grande movimentação no sentido de fazer com que o caseiro não falasse, o que foi conseguido. Nesse mesmo dia, comentavam na Comissão, diversos Senadores da Base do Governo, a mim mesmo disseram: “Vocês não devem investir nesse caseiro porque terão problema com ele.”, insinuando que haveria depósitos na sua conta - que realmente existiram, depósitos feitos pelo seu pai.
A partir daí criou-se todo esse noticiário de que o caseiro, efetivamente, tinha recebido dinheiro - e recebeu, como ficou comprovado depois. O que aconteceu a partir daí? Fez-se uma grande operação para quebrar o sigilo bancário do caseiro.
Não foi uma operação do Ministro Palocci, embora sempre se dizia que era ele o responsável. Na verdade, não foi apenas S. Exª. Essa foi uma operação de Governo. Estão querendo que o Ministro Palocci dê uma de Delúbio e assuma sozinho a culpa de uma ação que não foi praticada por ele sozinho. O Ministro Palocci participou dessa operação, mas não estava sozinho.
A partir daí, verificou-se que dois assessores do Ministro da Justiça estiveram com o Ministro Palocci para participar dessa operação de quebra de sigilo ou do uso da Polícia Federal. O Ministro Palocci procurou os assessores do Ministro Márcio Thomaz Bastos para saber o que estava ocorrendo e também para usar a Polícia Federal contra o caseiro. Imaginem! Estavam querendo utilizar a Polícia Federal contra o caseiro.
E utilizaram o Coaf, que nunca viu um tostão do Marcos Valério. Marcos Valério sacou e transportou milhões de reais por aí, mas o Coaf nunca notou isso. Um advogado envolvido na questão da GTech recebeu R$5 milhões em cash, que colocou em um carro-forte e levou para casa, e o Coaf não disse nada. No entanto, depositaram na conta do caseiro R$25 mil, em duas ou três parcelas, e o Coaf disse que ele era suspeito de lavagem de dinheiro. Como se alguém lavasse dinheiro em sua própria conta.
Daí em diante, a situação apenas cresceu e complicou-se. A grande dificuldade que eu vejo para o Governo é que a opinião pública está assistindo, a cada dia, que essa crise está aumentando. Um problema como esse, com a saída do Ministro Palocci, com a saída do Presidente Mattoso, deveria ser encerrado, não deveria continuar como está.
E por que esse assunto está, a cada dia, aparecendo mais? Porque a verdade ainda não apareceu. Aquilo que realmente aconteceu, na verdade, ninguém sabe ainda.
A revista Veja desta semana traz matéria sobre algo que considero o que de mais grave ocorreu até agora. Por quê? Em primeiro lugar, porque o assunto envolve o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que, pela função que exerce, pelo passado de grande advogado, ex-Presidente da OAB, é a pessoa do Governo a quem caberia defender o sigilo da conta do caseiro, o que é praticamente uma cláusula pétrea, ou seja, uma cláusula cujo descumprimento é de extrema gravidade.
O que considero de mais grave, que consta da matéria da revista Veja, já confirmado pelos participantes? O sigilo bancário do caseiro foi divulgado no dia 18 - ou 17 -, numa sexta-feira, no site da revista Época. No dia 26, portanto uma semana depois, todos já sabiam quem havia divulgado a notícia. O próprio Presidente da Caixa a divulgou. Foi ele quem teve acesso, ele quem pediu aos funcionários para terem acesso às informações. Portanto, ele sabia que havia sido ele. É claro: se eu faço algo, quem mais sabe quem o fez sou eu. Então, na realidade, ele sabia que havia sido ele.
O que aconteceu? Houve uma reunião na casa do Ministro Palocci entre este, o Presidente Mattoso, o advogado Arnaldo Malheiros Filho e o Ministro Márcio Thomaz Bastos. Essa reunião, a meu ver, é o fato mais grave que ocorreu até agora. Por quê? Porque se tratava de um Ministro da Justiça - que, teoricamente, é o defensor da Constituição dentro do Governo - que se reuniu com os dois acusados e com mais um advogado, seu amigo, que ele levou para que fizesse a defesa dos dois nesse processo.
Na realidade, creio que essa é uma operação que não faz parte das atribuições do Ministro da Justiça, porque não cabe a ele, mesmo sendo um grande advogado, mesmo sendo um grande criminalista, defender os membros do Governo. Para defender o Governo, existe o Advogado-Geral da União; e, para defender os membros do Governo, cada um tem de ter o seu advogado ou o do seu próprio Ministério. Mas o Ministro da Justiça não deve reunir-se com um advogado para que este seja contratado.
Certamente, durante todo esse período, deve ter sido discutida qual a estratégia que deveria nortear a defesa, tanto do Ministro Palocci quanto do Presidente Mattoso. E, diga-se de passagem, hoje em dia, os dois, de certa maneira, se acusam mutuamente pela responsabilidade do vazamento dessa informação.
O Ministro Palocci recebeu o papel. Depois disso é que a notícia foi divulgada. Por outro lado, o Presidente Mattoso já confessou que foi ele quem pediu a quebra do sigilo do caseiro. No entanto, o que acontece? O Ministro da Justiça se reúne com os dois, juntamente com outro advogado, para orientar a defesa dos dois.
Fiz um requerimento à Mesa da CPI dos Bingos pedindo para que o advogado Arnaldo Malheiros Filho viesse depor naquele Colegiado, já que ele não é advogado das partes - ele não aceitou fazer a defesa das partes -, para que ele diga o que, efetivamente, aconteceu naquela reunião. O Ministro virá aqui - já existe um requerimento dele em que já se ofereceu para vir. O Ministro Palocci e o Presidente da Caixa também já depuseram perante a CPI - e poderão vir depor novamente, principalmente o Presidente da Caixa. E nós, então, poderemos, a partir daí, tirar uma conclusão do que efetivamente aconteceu.
Foi grave, foi muito grave que o Ministro da Justiça, que é um advogado que todos aqui admiramos...
(Interrupção do som.)
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - (...) tenha participado dessa reunião e, portanto, tenha orientado ou pelo menos discutido a orientação da defesa dessas duas pessoas que estão sendo incriminadas por algo tão grave: o Ministro Palocci e o Presidente Mattoso. Não é atribuição do Ministro da Justiça defender, ajudar a defender ou indicar advogado para pessoas do Governo que estejam sendo acusadas. Isso é lamentável e é uma questão que precisa ser muito bem explicada.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Modelo1 10/31/2410:01