Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
  • Comentário sobre pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2006 - Página 17780
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DISCURSO, SENADOR, REFERENCIA, ATUAÇÃO, ORADOR, CONVOCAÇÃO, BANQUEIRO, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, MOTIVO, GRAVIDADE, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, EXTORSÃO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, evidentemente, da forma elegante e ética com que se referiu ao meu nome a Senadora Ideli Salvatti, eu não teria mesmo por que estar presente. A presença se faz necessária quando há a figura do questionamento, da interpelação, da dúvida e até da acusação. Mas, de qualquer maneira, apresento aqui meus reparos, Senador Heráclito Fortes, e meus óbices à linha de raciocínio expendida por S. Exª.

Em primeiro lugar, S. Exª se referiu à carga que eu teria feito ao tal banqueiro Dantas, quando não fiz carga nem deixei de fazer, ou seja, para mim, trata-se de figura capaz de qualquer coisa para ganhar dinheiro. É um ganhador de dinheiro, é um money maker, e isso, ainda assim, se não me faz admirá-lo, se me faz dele desconfiar, não invalida, aos meus olhos, a eventual importância de declaração que possa trazer ao Congresso Nacional e, por essa via, à Nação brasileira. Por exemplo, a certidão que li, assinada pelo advogado Korologos, advogado da Srª Verônica Dantas, referia-se ao depoimento da Srª Verônica Dantas na Corte Distrital Sul de Nova Iorque. Lá, fazia ela carga nítida e clara ao PT e ao Governo dizendo que o grupo Opportunity tinha sido procurado por figuras de proa do Governo, a começar pelo Presidente Lula - Deputado Bismarck Maia, isto é de uma gravidade enorme -, pedindo dezenas de milhões de dólares para que o Governo não incomodasse as atividades do grupo Opportunity. Então, sobram duas hipóteses: ou o Sr. Daniel Dantas é mesmo esse rematado mentiroso que deve ser desmascarado por todos nós - quem sabe saindo preso daqui -, ou ele tem como provar essa acusação tão forte - e aí é literalmente o fim do mundo, é literalmente um dilúvio político, é literalmente a desmoralização cabal das instituições brasileiras, a ser verdade que nós temos um Governo dirigido por “extorsionistas”.

Do mesmo modo, quando diz a eminente Líder que, vindo para cá, ele dá a versão dele, é óbvio que tudo o que eu espero é que ele dê a versão dele, que ele não dê a do Senador Eduardo Siqueira Campos, que é habilitado a dar sua própria versão, ou a de V. Exª, Senador Renan Calheiros, que vai dar sua versão sempre. Eu, às vezes, estou na tribuna e alguém diz: “Senador Arthur Virgílio, esta é a sua opinião”. Eu digo: “Mas que novidade!” Só pode ser a minha. Vou ficar dando a opinião dos outros? Quando eu dou a opinião dos outros, eu faço aspas e, aí, sim, digo: “É opinião do Senador Gilberto Mestrinho”. Mas, quando eu não coloco aspas, é evidente que eu estou dando a minha. Eu não tenho nenhuma procuração para ficar dando a opinião dos outros. É claro que ele tem que me dar a versão dele. O que quero saber é: ele, que disse a Diogo Mainardi que foi procurado, em termos de achaque, foi procurado por “extorsionistas” do alto escalão do Governo, confirma ou não confirma? Ela, a Srª Verônica Dantas, que foi procurada - supostamente procurada - por esses mesmos escalões, com a mesma versão do irmão... Depois, eles mentem e desmentem. Eu gostaria de ver a versão definitiva, final, a versão cabal, a última, aqui, até porque não temos mesmo como deixar no ar essa dúvida. Essa dúvida não é boa para o Presidente, não é boa para o ex-Ministro Palocci, não é boa para o ex-Ministro José Dirceu, não é boa para ninguém! E, aqui, ninguém, eu imagino, vai fazer o jogo de grupo econômico nenhum. Ou seja: se o Sr. Dantas tem um dossiê, a cobrança que o Congresso tem de lhe fazer é que apresente o dossiê, porque o Brasil não vai engolir que ele use o dossiê para ganhar dinheiro, ou para achacar, ou para extorquir. Isso, não!

Então, eu não vejo nenhuma inviabilidade prática, e chamo à coerência o Partido dos Trabalhadores, Senador Marcos Guerra, porque quando diz assim: “ele não merece”, no fundo, é assim: “ele não merece estar aqui”. Ora, por iniciativa da Oposição, já trouxemos aqui aquele brinde de pessoa que é o Toninho da Barcelona. Já o trouxemos. A testemunha de acusação contra o General Cruz foi o prostituto Polila. E só podia ser ele, supostamente, a ver aquilo. A madre Teresa de Calcutá já estava dormindo há muito tempo, já estava para acordar para fazer as orações dela. Ela não podia estar mesmo ali. Então, quando dizemos que trazer Daniel Dantas desmerece a Casa, digo que não, quero saber o que uma pessoa que é capaz de mergulhar tão fundo no submundo da política, como supostamente mergulhou, tem para nos esclarecer, Sr. Presidente, porque, por iniciativa já não da Oposição, mas da Bancada do Governo, ouviu-se também - já foi a CPI ouvir em Cuiabá - aquela outra prenda que é o tal Comendador Arcanjo, aquela prenda de pessoa, aquela jóia de pessoa! O Comendador Arcanjo foi ouvido pela Comissão em Cuiabá. Lá, deu as declarações que quis. Nesta República todo mundo pendura-se em habeas corpus para mentir ou para “negaciar”, para dizer inverdades ou para, impunemente, recusar-se a dizer as verdades que a Nação requer.

Não cabe, a meu ver, a explicação de que ele não merece estar aqui se tem algo a testemunhar sobre um crime de que participou, de um crime que viu. Aqui é o lugar correto para que explique, se tem funcionando uma Comissão.

Mantenho o requerimento assinado por mim e pelo Senador José Agripino Maia convocando os grupos em choque para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a fim de fazermos a oitiva dos envolvidos. Alguém me disse: “Puxa vida, mas lá é mais fraco. Lá ele pode mentir”. Aprendi que é possível mentir na CPI, no corredor, fora da CPI, na Comissão de Constituição e Justiça. Aprendi que a mentira está livre e impune. Mais do que nunca é preciso que gritemos para a justiça divina porque aqui dá para mentir à farta, dá para mentir, mentir, mentir. Qualquer dia vai cair um raio quando um depoente chegar lá falando a verdade.

Vamos, ainda assim, cumprir o nosso papel e pedir a ele, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que diga a verdade: achacou ou não achacou? Impune não poder ficar se está mentindo; impune não pode ficar o alto escalão do Governo se, porventura, ele estiver falando a verdade. O que não podemos é prevaricar, e seria prevaricação do Congresso se, tendo tomado conhecimento de denúncia tão grave, não a investigássemos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2006 - Página 17780