Discurso durante a 192ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Inserção nos Anais, da matéria intitulada "Lula não sabe o que vai fazer", de autoria de Vilas Boas Corrêa, publicada no Jornal do Brasil, edição de hoje. Repercussões na imprensa, sobre as declarações do presidente Lula, de que não saberia "destravar" a economia.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Inserção nos Anais, da matéria intitulada "Lula não sabe o que vai fazer", de autoria de Vilas Boas Corrêa, publicada no Jornal do Brasil, edição de hoje. Repercussões na imprensa, sobre as declarações do presidente Lula, de que não saberia "destravar" a economia.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2006 - Página 35307
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INEXISTENCIA, SOLUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMENTARIO, ORADOR, IMPOSSIBILIDADE, GOVERNO FEDERAL, CUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO.
  • LEITURA, TRECHO, OBRA ARTISTICA, POETA, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, PLANO DE GOVERNO, REELEIÇÃO, NECESSIDADE, INTERVENÇÃO, CRISE.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESPREPARO, MELHORIA, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • REGISTRO, EVASÃO DE DIVISAS, ATIVIDADE INDUSTRIAL, DEFESA, NECESSIDADE, INCENTIVO, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO, PAIS, JUSTIFICAÇÃO, ORADOR, VOTO CONTRARIO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ISENÇÃO FISCAL, CAPITAL ESTRANGEIRO, PREJUIZO, AGRICULTURA, SUPERIORIDADE, TRIBUTAÇÃO, PRODUTO, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, LEITURA, TRECHO, EDITORIAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), FAVORECIMENTO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), OBJETIVO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a repercussão na imprensa sobre as declarações do Presidente Lula de que não sabe ainda como “destravar” a economia é enorme - e não poderia ser diferente. Os formadores de opinião se mostram perplexos com a falta de rumo e de alternativas para retomar o crescimento econômico.

No primeiro mandato o Presidente da República imaginou poder, através do discurso, promover o crescimento econômico do País; e cunhou alguns slogans, como aquele que se tornou mais conhecido: o espetáculo do crescimento. E o País não cresce, ao contrário, está no fim da linha entre os países emergentes em matéria de crescimento econômico.

Durante toda a campanha o Presidente afirmou que o País estava “pronto para crescer”. Agora ele comunica a 58 milhões de eleitores que o reconduziram ao segundo mandato: “Não tenho solução para crescer”.

O Presidente Lula assegura que vai se dedicar até o dia 31 de dezembro, véspera da posse, na busca de uma solução para o impasse.

Imaginem, depois de quatro anos de mandato, estamos prestes a concluir o mandato do Presidente da República, ele confessa não ter solução para o crescimento do País, mas pede à população que aguarde até o final do ano, que ele poderá encontrar uma solução para esse impasse.

E o Presidente ainda diz, indagado sobre o que o governo fará para alcançar o crescimento anunciado. Ele diz: “...Tem algo - e não me pergunte o que é ainda, que eu não sei, e não me pergunte a solução, que eu não a tenho, mas vou encontrar - porque o País precisa crescer.”

O Presidente vai encontrar a solução. Quatro anos não foram suficientes. Encontrará nos próximos quatro anos? E o País? Deve aguardar o Presidente encontrar a solução?

Reeleito para o seu segundo mandato, é inaceitável que o Presidente Lula esteja tão “perdido”. “Lula não sabe o que vai fazer”, é o título da coluna de Villas Bôas Corrêa, o decano dos analistas políticos, na edição do Jornal do Brasil de hoje.

Peço a V. Exª, Sr. Presidente, que autorize a inserção nos Anais da Casa do artigo na sua íntegra. “Lula não sabe o que vai fazer”, artigo desse notável jornalista, Villas Bôas Corrêa.

O SR. PRESIDENTE (Jonas Pinheiro. PFL - MT) - Sr. Senador, está deferida a sua solicitação.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O poeta e prosador português Miguel Torga, numa de suas poesias, descreve uma viagem que poderia ser a do Presidente da República neste momento de indefinição.

Diz o poeta:

Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro.

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

Para o poeta “o que importa é partir, não é chegar...”

O Presidente não se reelegeu para uma aventura. Ele precisa começar a governar imediatamente e precisa chegar ao fim do seu mandato com algo concreto.

O Presidente se limita a fazer discursos e se declarar “de calça curta” diante de crises que, sabemos, poderiam ter sido evitadas, como a da agricultura, por exemplo, e que V. Exª, Senador Jonas Pinheiro, bem conhece. Há pouco aqui discorria sobre o fato - a crise da agricultura.

O editorial de hoje do jornal O Estado de S. Paulo analisa essa tendência do Presidente Lula: o Presidente não gosta de governar.

Solicito também a V. Exª, Sr. Presidente, que considere como lido todo o editorial de O Estadão: “De Calça Curta”.

O Presidente Lula diz o seguinte: “A gente não deveria falar governar, deveria falar cuidar. Eu tenho de cuidar das pessoas pobres desse País.”

O atual cenário: um Governo acéfalo, uma nau sem rumo e o timoneiro atônito. E o Presidente diz que tem que cuidar das pessoas pobres do País.

Os obstáculos para atrair investimentos são enormes e cuidar das pessoas pobres do país é exatamente desobstruir para que os investimentos sejam uma realidade no nosso País; é eliminar esses obstáculos; é superar as barreiras que impedem que os investimentos ocorram no Brasil, sejam eles nacionais ou estrangeiros.

Pela primeira vez na História, a saída de recursos destinados a atividades produtivas vai superar a entrada: está saindo mais dinheiro do Brasil do que ingressando.

Lembro-me de que, há pouco tempo, antes das eleições, aprovamos uma medida provisória - nós, o Senado, o Congresso. Votei contra aquela medida provisória porque imaginava ser ela mais um obstáculo aos interesses da agricultura brasileira - aquela medida provisória isentava de impostos o ingresso do capital estrangeiro no nosso País; à aplicação financeira de recursos externos no nosso País isenção, enquanto uma carga tributária pesada e excessiva sobrecarregando o setor produtivo nacional. E, exatamente em função da crise da agricultura, consideramos que aquela medida provisória poderia ser um desestímulo. Ocorre que nem mesmo aquela medida provisória teve o poder de influenciar o ingresso de capital externo em nosso País, o ingresso de recursos externos no Brasil. Portanto, estamos num momento em que os recursos saem mais do que ingressam no Brasil.

O investimento do Brasil no exterior bateu novo recorde, demonstrando a pouca atratividade do País para os estrangeiros que preferem investir cada vez mais em outros países emergentes.

De janeiro a outubro, as empresas brasileiras investiram US$22,8 bilhões no exterior, mais que o dobro do recorde anterior: US$9,47 bilhões, em 2004. Vou repetir, são cifras significativas: as empresas brasileiras investiram de janeiro a outubro US$22,8 bilhões no exterior.

Segundo especialistas, câmbio valorizado e baixo crescimento ajudam a explicar o quadro.

“Não é fácil investir no Brasil”, afirmam os empresários estrangeiros.

Essa realidade se dissemina pelo mundo. Ontem mesmo, o Presidente do Comitê de Comércio e Indústria da Câmara dos Comuns, em visita à Fiesp, destacava a fragilidade regulatória e a alta carga tributária do Brasil como fatores inibidores dos investimentos estrangeiros.

São preocupantes os reiterados sinais sobre o baixo crescimento da economia brasileira.

Pela segunda semana seguida, o mercado revisou para baixo o crescimento do produto interno bruto em 2006.

O Relatório Focus, do Banco Central, prevê uma expansão de apenas 2,95%, abaixo dos 2,97% da semana anterior.

A cada semana uma revisão para baixo, lamentavelmente.

Enquanto isso, em uma lista de 14 países emergentes, segundo levantamento do Banco Dresdner, o Brasil está em último lugar. O País emergente que menos crescerá, a Hungria, deve alcançar uma expansão de 3,6% enquanto o Brasil chega a 2,9%.

Enquanto isso, o Governo aparelha o Estado.

Eis outro artigo, desta vez da Folha de S. Paulo: “Dane-se o público”. “Convênios da Petrobras são mais um exemplo de aparelhamento do Estado sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.”

No dia de ontem, desta tribuna, referimo-nos à aplicação dos recursos da Petrobras, inclusive favorecendo a ONGs, que ensejou ao Senador Heráclito Fortes propor a instalação de uma nova CPI para investigar as ONGs no nosso Brasil.

Leio apenas um trecho e peço ao Presidente que publique, na íntegra, esse editorial da Folha de S.Paulo:

R$31 milhões (foram transferidos da Petrobrás), a títulos vários, a organizações não-governamentais que apoiaram a campanha pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

Detectou-se curiosa concentração dessas ações em Sergipe, onde o ex-presidente da estatal José Eduardo Dutra concorreu ao Senado, tendo sido derrotado (campanha 68% financiada por empresas que têm negócios com a petroleira estatal).

Todas essas parcerias com organizações “companheiras” - mais um episódio de aparelhamento do Estado que persiste, na gestão petista, como fruto da impunidade - dispensaram licitação pública. O critério adotado foi, nas palavras de Gabrielli, “o trabalho que as ONGs fazem”.

O dirigente da estatal acha que R$31 milhões são quantia irrelevante se comparada ao “impacto” total dos mais de R$20 bilhões em investimentos da Petrobras. Também considera ser um exercício de “mau jornalismo” recorrer à prestação de contas de campanha, identificar as empresas que fizeram doações ao partido governista e buscar suas relações com a Petrobras.

O episódio ilustra o grau de desrespeito na cúpula do Executivo federal para com o direito do cidadão de saber o que é feito do seu patrimônio.

Enfim, “Dane-se o público” é o título do editorial da Folha de S.Paulo, que peço a V. Exª, Sr. Presidente, considere lido e publique na íntegra nos Anais do Senado Federal.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALVARO DIAS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“De calça curta”, O Estado de S. Paulo;

“Lula não sabe o que vai fazer”, Jornal do Brasil;

“Dane-se o público”, Folha de S. Paulo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2006 - Página 35307