Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Campanha da Fraternidade de 2007, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, intitulada Fraternidade e Amazônia, com o lema - Vida e Missão neste Chão.

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Homenagem à Campanha da Fraternidade de 2007, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, intitulada Fraternidade e Amazônia, com o lema - Vida e Missão neste Chão.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2007 - Página 6749
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ELOGIO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ATUALIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO, HABITANTE, MARGEM, RIO, GRUPO INDIGENA, QUILOMBOS, DEFESA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, ATUAÇÃO, ESTADO, APLICAÇÃO, LEGISLAÇÃO, PREVENÇÃO, DESMATAMENTO, PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, CIDADE, MOTIVO, MIGRAÇÃO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, SENADO, EMPENHO, CONTRIBUIÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Antonio Carlos Valadares; Cônego José Carlos Dias Toffoli, Secretário-Executivo da Campanha da Fraternidade; Senador Flexa Ribeiro; Srªs e Srs. Senadores; prezados convidados; prezadas convidadas, na Quaresma, quando a Igreja Católica propõe, na Campanha da Fraternidade, um tema, eu logo me interrogo o porquê do tema escolhido. Por que Fraternidade e Amazônia, respaldado no lema Vida e Missão neste Chão? Sem dúvida, com a responsabilidade pela defesa da construção de uma sociedade onde as pessoas possam viver em paz e com dignidade, os bispos do Brasil, por meio do seu órgão representativo, a CNBB, sabem muito bem da importância e da atualidade do tema.

A sua intenção vai além de uma análise simplesmente sociológica e econômica. Penetra profundamente no sentido da vida humana e da intenção original do Criador. Fundamentada na revelação, a Igreja busca descobrir o pensamento e as pegadas do Criador na condução do sentido da sua obra, amorosa e bela.

Há uma profundidade humanizadora na beleza e na poesia da imensidão amazônica como também um chamamento à preservação de uma obra construída com tanta força e carinho.

Registros passados fazem-nos imaginar a Amazônia como uma imensa floresta, cortada por majestosos rios, povoada por uma diversidade biológica infinita e uma fantástica fauna.

A Amazônia atrai hoje a atenção - e a cobiça - mundial. Não é para menos. Ali estão 20% da água doce disponível no planeta, 34% das reservas mundiais de florestas abrigam uma riquíssima biodiversidade - 30% de todas as espécies de fauna e flora da terra encontram-se naquela região e uma gigantesca reserva mineral, ainda pouco explorada, formada por dez Estados brasileiros, assim chamada Amazônia Legal, ocupa 59% do território nacional e 5% da superfície terrestre. 

A Amazônia, porém, é muito mais do que isso. O mais importante é que vivem ali 23 milhões de irmãos brasileiros com etnias e culturas bastante diferentes. Entre esses, estão 163 povos indígenas que somam 208 mil pessoas; milhares de descendentes de escravos, vivendo em mil comunidades quilombolas; povos ribeirinhos espalhados pelas margens do rio Amazonas e dos seus 1.100 afluentes; além de migrantes, colonos e posseiros, atraídos para a região por projetos de colonização, ciclos econômicos, como o da borracha, e grandes empreendimentos nas áreas de mineração e geração de energia elétrica. É uma população cujas necessidades, direitos e costumes são quase sempre ignorados, quando se pensa naquela região.

É sobre essa realidade complexa, na qual a pobreza do povo contrasta com a exuberância de uma natureza e um subsolo tão rico que a Campanha da Fraternidade nos convida a refletir.

Como harmonizar um desenvolvimento sadio que traga benefícios ao povo amazônico - a todo o povo e não para alguns privilegiados - e ao mesmo tempo tenha profundo senso de preservação? Absolutizar a preservação pode significar sacrificar um povo e condená-lo à miséria. Entregar a Amazônia à ganância e à voracidade do capital predatório nacional ou internacional significa ferir mortalmente a herança de uma natureza dadivosa, indefesa. Como a história tem provado que a voracidade pelo lucro não tem alma, nem escrúpulos, nem limites, a presença do Estado forte e respaldado por uma legislação coerente e firme se faz necessária. Considerando a imensidão territorial, sem a participação efetiva da população através de suas instâncias representativas, a ação do Estado ficará muito restrita.

A Campanha da Fraternidade chama a nossa atenção para uma realidade que é também de toda a Nação: a migração das populações para as cidades, pequenas e grandes. Aí os problemas são comuns a todas as cidades do País. É preciso então também pensar as cidades da região e a Amazônia.

Ação e Missão são duas palavras que têm muito a ver conosco, parlamentares revestidos de um mandato popular e, especialmente, no Senado Federal, que tem por obrigação estender o seu olhar e atenção para o País como um todo. E Neste Chão, chamando a atenção para que nos coloquemos diante da realidade concreta, com abertura e sinceridade.

Como Senador de um Estado do Sul, quero continuar a me aprofundar nesta temática, aprender com os nobres Colegas que representam aquela região - como é o caso do Senador José Nery, também autor deste requerimento para esta hora do expediente dedicada à Campanha da Fraternidade - e me colocar ao lado de toda a causa que tenha como fundamento e objetivo o bem do ser humano, sem qualquer discriminação. Esta é a minha - tem que ser de todos nós - vocação pessoal e política.

Quero registrar também, Cônego José Carlos Dias Toffoli, Secretário Executivo da CNBB, um voto de elogio aos bispos do Brasil que, em tão boa hora, propõem a reflexão deste tema tão importante, não só aos membros da Igreja Católica, mas a todos os cidadãos deste País. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2007 - Página 6749