Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a perplexidade e acomodação do povo brasileiro diante dos vários problemas nacionais. Conclamação à juventude para romper com a perplexidade e acomodação. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a perplexidade e acomodação do povo brasileiro diante dos vários problemas nacionais. Conclamação à juventude para romper com a perplexidade e acomodação. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2007 - Página 8789
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APOIO, DISCURSO, AUTORIA, GERALDO MESQUITA, SENADOR, SUGESTÃO, ORADOR, CRIAÇÃO, BIBLIOTECA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, ESTABELECIMENTO COMERCIAL, INICIATIVA PRIVADA, VENDA, LIVRO, SUBSIDIOS, PREÇO.
  • COMENTARIO, CRISE, FUNCIONAMENTO, AEROPORTO, CRITICA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, PROBLEMA.
  • APREENSÃO, CONDUTA, INERCIA, JUVENTUDE, BRASIL, REFERENCIA, SITUAÇÃO, PAIS, DESRESPEITO, DIREITOS, CIDADÃO, REDUÇÃO, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, CRITICA, INDISCIPLINA, ADOLESCENTE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, POVO, COMBATE, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE.
  • CRITICA, INEFICACIA, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL, AUMENTO, POBREZA, DESIGUALDADE SOCIAL.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em primeiro lugar, depois de ouvir a fala do Senador Geraldo Mesquita, eu quero dar todo o meu apoio a esta idéia que ele trouxe, de uma livraria popular, assim como existem as farmácias populares. Eu só acrescento que poderia ser, na verdade, uma biblioteca popular vendida nas livrarias que já existem, senão, as atuais livrarias, coitadas, que sobrevivem com tanto esforço, vão terminar quebrando também. Mas se de fato houver publicação de livros subsidiados nas próprias editoras privadas - não é preciso ser em editoras estatais -, que seriam vendidos em livrarias tradicionais a preços subsidiados, como tantas outras coisas, creio que a idéia do Senador Geraldo Mesquita é muito boa.

Sr. Presidente, temos tido tantos problemas todos os dias aqui, tantos assuntos como o apagão e a indisciplina militar - e o contrário, indisciplina do Presidente na maneira como conduziu o Regimento Militar -, que está hora de nos perguntarmos por que temos tanto problema. Qual é o problema dos problemas que deixa o Brasil na situação que atravessamos?

Pode ser que eu esteja enganado, mas eu creio que uma das grandes causas desses problemas, Senador Tasso, é o acomodamento da juventude brasileira, que assiste a tudo passivamente. E esse acomodamento decorre, em parte, de nós os mais velhos, porque nós deixamos a juventude perplexa. Eu olho para a juventude hoje, converso com muitos jovens e sinto uma absoluta perplexidade diante das coisas que acontecem ao redor, como se não houvesse a menor explicação e nem a menor saída, Senador Gilvam. Perplexidade por falta de rumo e acomodamento por falta de vontade de mudar as coisas.

Afinal de contas, vemos os apagões que estão por aí, como esse do aeroporto, que sai todo dia na televisão, aqueles que saíram há algumas semanas ou meses e o apagão rodoviário das estradas, mas há um apagão que ninguém sabe: o das pessoas que passam horas em uma parada de ônibus, esperando o ônibus urbano para ir para sua casa. Esse apagão não sai no noticiário, mas ele acontece neste exato momento. Daqui a meia hora, quando forem 6 horas da tarde, até as 8 horas da noite, as paradas de ônibus estarão lotadas, “apagadas”, com as pessoas paradas, ônibus que vêm ou que não vêm, ônibus superlotados, ônibus que quebram.

Vemos o apagão da indisciplina generalizada - incluindo, Senador, a do Presidente, que desautoriza o comandante e depois volta atrás -, mas não é só essa, não. As salas de aula hoje são verdadeiros exemplos de indisciplina absoluta. As pessoas falam muito de salário de professor, mas hoje o que mais assusta e afasta o professor não é o salário baixo, é a indisciplina na sala de aula, é o caos que é uma sala de aula hoje: não há hora de entrar, não há hora de sair, não há hora de fazer silêncio, não há hora de assistir à aula; vivemos um verdadeiro apagão das salas de aulas.

Vemos, com perplexidade, o fato de que, depois de cinqüenta anos de crescimento, mesmo a essas taxas ridículas dos últimos anos, a desigualdade continua, a pobreza não é reduzida. Ouvimos o Governo dizer que tirou da pobreza certa quantidade de pessoas - milhões, como dizem -, porque elas passaram a ganhar trinta reais a mais por mês, valor que não se paga a um restaurante. As pessoas saíram da linha da pobreza financeira, porque o cálculo é artificial: um dólar por dia, dois reais por dia.

Mas, do ponto de vista da qualidade de vida, não houve gente saindo dessa classificação. Pelo contrário, aumentou o número de pessoas na linha de pobreza, Senador Tasso Jereissati. A linha de pobreza não é medida pela renda, mas com esse artificial valor de dois reais por dia, o qual não pode definir se a pessoa está na pobreza ou não. Se a linha da pobreza for medida pela qualidade de vida, a situação piorou, aumentou o número de pobres: aqueles que não podem andar na rua com medo da violência, aqueles que não sabem se amanhã terão ou não um emprego, aqueles que não sabem se vão tomar um ônibus, um avião ou não, porque sabemos da irregularidade com que as coisas funcionam neste País.

Por isso, creio que devíamos, um dia, fazer uma reflexão: por que há tantos problemas para os quais não conseguimos encontrar saída? Isso, volto a insistir, está em duas palavras: perplexidade, por uma falta de rumos que não conseguimos definir; e acomodamento, porque não conseguimos mobilizar as pessoas contra a corrupção.

Já fizemos tantas passeatas pelas diretas, pela anistia; por que não fazemos uma passeata substancial contra a corrupção, contra a impunidade, contra a desigualdade, contra os apagões? Há um acomodamento e uma perplexidade. E o mais grave é que tanto a perplexidade chegou aos jovens a partir da nossa própria perplexidade, como o acomodamento deles chegou a nós, porque eles é que deveriam mobilizar-se.

Aproveito, portanto, esses cinco minutos em que falo pelo PDT para manifestar preocupação não só com os apagões, mas com a perplexidade e o acomodamento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2007 - Página 8789