Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos quarenta e cinco anos de atividades da Universidade de Brasília - UnB, inaugurada em 21 de abril de 1962.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração dos quarenta e cinco anos de atividades da Universidade de Brasília - UnB, inaugurada em 21 de abril de 1962.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2007 - Página 11509
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), ELOGIO, UNIVERSIDADE, POVO, BRASIL, INCLUSÃO, CIDADANIA, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, INDIO, POPULAÇÃO CARENTE, NEGRO, POLITICA, COTA, COMPENSAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
  • COMENTARIO, OCORRENCIA, AGRESSÃO, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, VITIMA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, ELOGIO, PROVIDENCIA, UNIVERSIDADE, SENADO, RETRATAÇÃO.
  • LEITURA, DEPOIMENTO, SERVIDOR, GABINETE, ORADOR, ALUNO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), CEGO, SAUDAÇÃO, OPORTUNIDADE, INCLUSÃO.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente desta sessão, Senadora Serys Slhessarenko - vou aprendendo com o tempo essa pronúncia -, Reitor Timothy, na sua figura eu cumprimento toda a Mesa; Senador Cristovam Buarque, ex-Reitor da UnB, que teve a iniciativa desta sessão, Senadores, Senadoras, mestres, professores, professoras, alunos que estão aqui nesta tarde, eu confesso que estou numa grande dúvida, aqui na tribuna do Senado da República do meu País: leio o pronunciamento - e confesso que é um belo pronunciamento - ou falo de improviso? E a tentação é improvisar, Senador Cristovam. Mas a história da UnB é tão bonita e tenho um carinho tão grande por essa universidade! Por isso, demonstro aqui a minha dúvida.

Acho que a UnB, Universidade de Brasília, tem um grande problema, um grande erro. Não deveria ser chamada UnB; deveria ser chamada Universidade do Povo Brasileiro, Universidade do Brasil, por tudo aquilo que tem feito. Como seria bom se eu pudesse ter lá no meu currículo: eu fiz curso superior na UnB, a nossa querida UnB, a Universidade da nossa gente, do nosso povo.

Aqui, ao longo deste pronunciamento, trabalhei com a diversidade. Isso é muito bonito. É o corte das diferenças que a UnB dá, e, infelizmente, no Brasil, isso não acontece. Aqui não vou falar, mas a UnB trabalha com as pessoas portadoras de deficiência. A UnB trabalha com os povos indígenas, que fizeram aqui, recentemente, um grande evento, com a presença de mais de mil líderes. A UnB trabalha com os pobres, a UnB trabalha com os alunos dos convênios com outros países. A UnB trabalha com os negros. Num momento em que o debate da política de cotas para muitos era constrangedor, a UnB, mais uma vez, com seu corpo docente, vem e dá o exemplo: nós aqui vamos adotar a política de cotas, e os negros aqui terão vez.

Eu estava lá, Sr. Reitor Timothy, naquela tarde de um dia de semana, quando foi assinado o protocolo da política de cotas, e para mim foi muito bom, mas foi muito bom mesmo. Naquele auditório eram negros, eram brancos, eram índios, eram mulheres, eram adolescentes, eram idosos, todos sorrindo, cantando e falando: como é bom a gente saber que aqui na UnB vai ser adotada a política de cotas. Foi um gesto ousado, foi uma demonstração de coragem, mas somente as grandes personalidades do País e as grandes entidades têm, ao mesmo tempo, ousadia e coragem para promover o bem comum. Por isso, palmas! Palmas à nossa UnB. Ela, mais do que ninguém, merece as nossas palmas. Peço a este Plenário: batam palmas, não se encabulem, não é para o orador na tribuna, é para a UnB. (Palmas.) É a nossa UnB, que é um exemplo para nós todos, para o nosso País.

Disseram-me que o discurso bom... Não é, Senadora Emília Fernandes, lutadora, guerreira, companheira, que me ajudou muito a chegar aqui? Eu quero já encerrar, mas só ressalto: Como é bom saber que existem entidades como a UnB! Como é bom!

Estivemos lá, Senador Cristovam Buarque, naquela tarde, recentemente, quando incendiaram o alojamento dos alunos africanos que estavam no Brasil estudando por meio de um convênio. Mas como foi bom ver a firmeza da UnB! Noutro dia, num debate, eu dizia: “Quem de nós não foi rebelde?” Dizem que, até hoje, eu sou rebelde no Congresso Nacional. Mas quem de nós não foi rebelde em nossa juventude? Ser rebelde faz parte das nossas vidas. Entretanto, incendiar o alojamento dos nossos convidados de um país da África não é rebeldia. Desculpem-me, mas se trata de uma grande covardia. Coloquem-se na posição contrária: um de nossos filhos estudando num país da África e nós sabendo, no Brasil, que o alojamento dele foi incendiado. Qual não seria a nossa revolta?

Os jovens vieram ao Senado e sabem o que eles fizeram? Eu estava lá, Reitor Timothy, numa audiência lotada, e eles pediram desculpas. Pediram desculpas porque não tinham entendido o porquê daquele ato e se tinham errado em algum ponto. Aí nós dissemos a eles: Não. Quem tem de pedir desculpas somos nós, os brasileiros.

E o fizemos lá na Comissão. E o Presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, o fez aqui da tribuna do Senado. Pedimos desculpas aos estudantes africanos que foram covardemente agredidos. Eles têm claro que essa não é a posição do conjunto do povo brasileiro. Não digo que não haja racismo ou preconceito. Todos nós sabemos que existe, mas a UnB está trabalhando para que não haja racismo e preconceito, todos nós sabemos que existe, mas a UnB está trabalhando para combater os preconceitos e, por isso, o processo de integração e, por isso, essa política muito bem aplicada.

Mas eu, por isso, estou a folhear tantas e tantas páginas... E vou terminar esta homenagem aos professores da UnB. No meu gabinete trabalha um menino que é cego e que está lá na UnB. Eu dizia: Olha, o discurso é longo, fala de tudo que a UnB tem de bonito, estou muito orgulhoso da UnB, mas eu quero uma fala tua.

E o Luciano escreveu esta pequena fala que eu vou ler e com ela termino. Diz o Luciano que está fazendo universidade e é cego:

Estar na Universidade faz com que eu me sinta como um igual, um partícipe do contexto acadêmico. Poder estar no meio de todos faz com que eu me sinta incluído em uma realidade que me era distante, era virtual.

Nas salas de aula, tenho o apoio dos professores e dos colegas. A maioria é muito amiga, muito interessada. As pessoas querem saber como é que é para mim estar lá e não enxergar; que dificuldades eu enfrento. É como se a universidade [é esta a minha avaliação] me entendesse. Há interesse em saber como eu lido com os fatos e as situações.

Alguns coleguinhas fecham os olhos (e, se vocês fecharem os olhos agora, entenderão como é importante a nossa caminhada pela inclusão, principalmente das pessoas portadoras de deficiência) e acabo eu aprendendo com eles. Eles me ajudam nas coisas do dia-a-dia, mas eu ensino algo a eles também, eu sei. Mostro como lidar e respeitar a diferença; afinal, somos todos diferentes.

E ele termina dizendo:

Estamos tendo a oportunidade de conviver com a diferença, com o não padronizado - com o não padrão do que é bonito, do que é feio. E, quando digo isso, estou me referindo a todos, a alunos e funcionários.

Aqui, o Luciano faz uma homenagem aos funcionários da UNB. (Palmas.)

É o Luciano que faz:

Por exemplo, os professores acabam percebendo que passar uma informação para mim não funciona através dos olhos, mas, sim, por meio dos meus outros sentidos. E, dessa forma, eles têm de trabalhar algo em si. Estamos todos trabalhando algo em cada um de nós.

Grande Luciano! Grande Luciano! Luciano, eu acho que o melhor do pronunciamento foi o que li de você aqui. Acho que é isso que tem que mudar. Por que, por que eliminar alguém por ser italiano, por ser alemão, por ser africano, por ser polonês? Pela idade, pela origem, pela cor, pela procedência, por gênero ou pelo fato de ter ou não ter uma deficiência?

Quero terminar com a última frase que incluí neste pronunciamento. Não tive oportunidade de estudar. Não fiz nível superior, porque não podíamos pagar na época. Sou gaúcho. Vim para Brasília nos anos 80 como Deputado Federal. Saí da fábrica para o Congresso. Mas confesso, Reitor Timothy, que gostaria muito, teria muito orgulho, se do meu pequeno currículo um dia pudesse constar que participei de uma forma ou de outra da nossa UnB, a Universidade de Brasília, a Universidade do Brasil.

            Não sei por que, mas quando me lembro de você, UnB, lembro a palavra “cidadania”, lembro a palavra “inclusão”. Por isso, meus sinceros votos de vida longa, vida muito longa. Parabéns, parabéns, minha querida UnB! Como é bom saber que você existe.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2007 - Página 11509