Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de dados sobre o crescimento da economia do País.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA. POLITICA INDUSTRIAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Apresentação de dados sobre o crescimento da economia do País.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2007 - Página 18840
Assunto
Outros > MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA. POLITICA INDUSTRIAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, OCORRENCIA, AUMENTO, VOLUME, OPERAÇÃO FINANCEIRA, OFERTA, CREDITOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), FINANCIAMENTO, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA, AMPLIAÇÃO, CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • REGISTRO, CONTRADIÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, EFICACIA, AUMENTO, VENDA, AUTOMOVEL, INSUFICIENCIA, OFERTA, PRODUTO, PREJUIZO, CONSUMIDOR, SETOR, EQUIPAMENTOS, ATIVIDADE AGRICOLA.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, SITUAÇÃO, INDUSTRIA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ACELERAÇÃO, VENDA, CRESCIMENTO, FATURAMENTO, SETOR, PRODUÇÃO INDUSTRIAL.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, SETOR, AGROINDUSTRIA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), INVESTIMENTO, EXPORTAÇÃO, CRIAÇÃO, EXCESSO, VAGA, EXISTENCIA, PROBLEMA, FALTA, MÃO DE OBRA, OBRIGAÇÃO, EMPRESA, REALIZAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, EMPREGADO, JORNADA DE TRABALHO, APROVEITAMENTO, TRABALHADOR, ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não vou entrar na polêmica levantada pelo Senador Marcelo Crivella. Nós tivemos a oportunidade de uma audiência pública há poucos dias, na Comissão de Assuntos Sociais. E vou dizer muito rapidamente que este é um tema que devemos tratar sempre sob a ótica do amor. O amor entre as pessoas se manifesta de maneiras muito diferenciadas, e o critério deve ser sempre se a relação da pessoa é movida pelo amor, e não pela forma como expressa o amor. Na audiência pública utilizei, inclusive, vários exemplos bíblicos e de comportamentos de igrejas, ao longo dos séculos, que se pautaram pelo dogma, mas não pelo amor. Então, esse é um tema sobre o qual ainda vamos ter muito a debater aqui no Senado da República.

Venho à tribuna, mais uma vez, porque, ao debater alguns assuntos, estamos deixando de registrar números, dados, indicadores e situações extremamente positivas e relevantes que temos vivenciado no País e que aqui no Plenário acabam muitas vezes passando despercebidas. Tenho buscado, sempre que possível, trazê-las para que possamos não só fazer a reflexão, o registro, mas também adequar um pouco mais à realidade o que está vivenciando o nosso País, porque as turbulências No Congresso Nacional muitas vezes acabam descaracterizando uma série de situações positivas em relação ao nosso povo, à nossa economia e à distribuição de renda. Parece que há dificuldade para se trazer o cotidiano das pessoas ao plenário.

Eu gostaria de fazer alguns registros e explicitar melhor um assunto que abordei na tribuna ontem.

Quero realçar algumas matérias sobre economia publicadas no dia de hoje. A primeira delas, de fundamental importância, é que o volume de operações indiretas do BNDES, aquelas abaixo de R$10 milhões, em que os bancos entram como intermediários dos empréstimos, bateu recorde em maio, atingindo R$2,29 bilhões entre janeiro e maio. Os negócios somaram R$9 bilhões, 49% a mais do que no mesmo período de 2006.

Essas operações abaixo de R$10 milhões, que são intermediadas pelos bancos, são fundamentalmente voltadas para micro e pequenas empresas, às quais foi destinado R$1,97 bilhão. Portanto, houve uma oferta de crédito extremamente positivo para o financiamento das micro e pequenas empresas, que são efetivamente as que mais geram empregos no nosso País.

Os jornais de hoje também dão conta de que a produção industrial teve uma pequena queda de 0,1% no mês de abril, em relação a março, depois de seis meses de expansão. E o próprio chefe da coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) apresenta que esse recuo mostra apenas uma pequena acomodação e não indica reversão na tendência de crescimento. Ou seja, nos últimos seis meses, houve uma pequena acomodação do crescimento em abril. Mas todos os outros indicadores demonstram permanência no crescimento. Até porque, se compararmos o mês de abril deste ano com o do ano passado, a diferença é da ordem de 6%. Isso demonstra que o movimento da produção industrial, que é significativo, estabilizado e crescente, vem propiciando uma série de modificações significativas. Um exemplo disso são as manchetes que tivemos, no início da semana, em relação à indústria automobilística: a venda de automóveis bateu recorde histórico em maio. A indústria automobilística prepara-se para comemorar exatamente o melhor mês de vendas da sua história no Brasil. Ao final do mês de maio, os números do mercado doméstico eram mais do que suficientes para garantir o melhor resultado dos primeiros cinco meses de todos os tempos, desde que a indústria automobilística se estabeleceu no Brasil. Entre 1º de janeiro e 30 de maio, foram licenciados 870 mil veículos, incluindo caminhões e ônibus. Esse volume representou um crescimento de 24% em comparação ao mesmo período de 2006. Inclusive as filas nas concessionárias, Senador Gilvam Borges - não sei se V. Exª está pretendendo adquirir um veículo -, estão quilométricas. As concessionárias de automóveis começaram o mês com estoques bastante reduzidos e, para a compra de determinados modelos de carro, pode haver uma demora de até quatro meses. No caso dos caminhões e do maquinário agrícola, a situação está muito mais grave no que se refere à espera, o que demonstra que esse fenômeno não ocorre apenas no mercado consumidor de automóveis; o setor de equipamentos de maquinário também está demandando muito mais e provocando uma espera muito maior, porque a indústria não tem dado conta de atender a todos.

Gosto sempre de me reportar aos benefícios e à situação no meu Estado, como todos gostam de fazer. E as reportagens desta semana, relacionadas a Santa Catarina, são extremamente animadoras. Uma matéria de capa do dia de ontem, por exemplo, era de que a indústria de Santa Catarina acelera as vendas. Aumentou o ritmo de crescimento das vendas industriais entre janeiro e abril e, na comparação com o primeiro quadrimestre de 2006, o crescimento do faturamento das indústrias catarinenses foi de 8,59%. Isso é bem superior à média nacional, que, no mesmo período, foi de 4,8%. Em Santa Catarina, nós tivemos 8,59%, quase o dobro, portanto, da média nacional de vendas. Isso, relacionado com o primeiro quadrimestre do ano passado, significa um crescimento de 7%.

Quatro setores cresceram acima de 10%, em Santa Catarina, nos primeiros quatro meses.

As indústrias de alimento e bebidas tiveram um crescimento nas vendas de 16,75% no período. Em seguida vieram as empresas de máquinas e equipamentos. Volto a realçar que o crescimento se dá exatamente nos setores que apontam para a ampliação do desenvolvimento do crescimento, porque máquinas e equipamentos só têm aceleração de vendas quando o setor produtivo está com a intenção de produzir ainda mais. Portanto, o crescimento das empresas de máquinas e equipamentos nas vendas em Santa Catarina ultrapassou os 15% (15,42%) e o de material eletrônico e equipamentos de comunicação foi de 13,32%. O quarto setor foi exatamente o de veículos automotores, que acompanha o crescimento nacional.

Agora, Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu queria aqui relatar alguns trechos da reportagem a que fiz referência muito rapidamente ontem com relação à agroindústria.

A agroindústria catarinense está vivenciando uma situação que eu diria quase inusitada. Nós temos duas mil vagas sobrando na agroindústria catarinense. As exportações de aves e suínos e os investimentos em novos frigoríficos estão abrindo vagas continuamente no setor em todo o nosso Estado. E, como nós tivemos uma grande vitória recente, que foi o certificado de única região, único Estado na América Latina livre de aftosa sem vacinação, pela Organização Mundial de Sanidade Animal, essa perspectiva de exportação e de ampliação da produção da agroindústria catarinense é ainda maior. Só para dar uma idéia, uma dimensão: a Sadia deve investir em uma nova fábrica em Concórdia, a Aurora vai ampliar o abate em Chapecó e a Perdigão vai modernizar a unidade de Herval D’Oeste. A Diplomata reabre na segunda-feira o frigorífico de Guarujá do Sul, com capacidade de abate de 550 suínos/dia, com previsão inicial de exportar 40% da produção.

A Avepar é apenas uma entre novas empresas que estão construindo frigoríficos em Santa Catarina. Em agosto a empresa deve inaugurar a unidade industrial em Abelardo Luz, com capacidade inicial para 70 mil aves/dia. A Bondio está dobrando o abate no frigorífico de Guatambu.

O potencial de crescimento é grande, mas o problema é ter gente para trabalhar nas fábricas. Ou seja, em Santa Catarina, em termos de agroindústria, por mais inusitado que seja, estamos tendo um apagão de mão-de-obra e não temos tido capacidade de fornecer e de empregar todo esse potencial que está surgindo.

As empresas estão investindo em refeitórios, assistência médica, cestas básicas, auxílio-transporte e, mesmo assim, não estão conseguindo preencher todo o quadro. A Sadia, por exemplo, teve que abolir exigências que antes eram regras, como a questão do ensino fundamental completo, e está ofertando turmas para a conclusão dos estudos. A Diplomata de Xaxim fez convênio com a Prefeitura para garantir os estudos - portanto, o aperfeiçoamento do pessoal. Estão fazendo divulgação de vagas nas rádios e fornecendo o vale-transporte. Nada é cobrado do funcionário. Mesmo assim, a rotatividade é grande.

A própria escassez de mão-de-obra está inibindo o investimento. Algumas indústrias estão tendo recuo, estão diminuindo a velocidade de investimento e de ampliação das suas unidades, porque estão tendo muita dificuldade para contratar mão-de-obra.

Há situação de melhoria de salário e de rotatividade, como a que vivenciamos na década de 70, quando o empregado saía de uma empresa porque havia oferta de um salário melhor em outra empresa. Isso estamos vivenciando hoje, em Santa Catarina, no setor da agroindústria principalmente. Há uma rotatividade dos funcionários entre as empresas devido a melhores ofertas.

Além dessa rotatividade, há outra situação extremamente interessante: para atrair empregados, as empresas estão inclusive negociando jornadas menores. Como não conseguem mais funcionários que tenham disponibilidade de trabalhar oito horas diárias, e a região ainda tem um volume significativo de pequenos agricultores, para que estes possam trabalhar na indústria sem abandonar sua propriedade, as empresas estão promovendo jornadas de cinco horas e meia. Isso, exatamente para que as pessoas possam cumprir uma parte na indústria e outra em sua propriedade. Por isso, as tradicionais jornadas de oito horas estão sendo substituídas.

Esse é um esforço que as empresas estão fazendo para dar condições para que esse setor possa ampliar-se e desenvolver-se. E é um setor que emprega atualmente mais de setenta mil pessoas em Santa Catarina.

Tem ocorrido ainda outra situação que eu gostaria aqui de registrar. Pelo mapa de Santa Catarina, a agroindústria catarinense - cuja maior parte está localizada no meio-oeste, oeste e extremo-oeste - tem muita proximidade do Paraná e do Rio grande do Sul. Portanto, a evolução e a ampliação da nossa agroindústria tem beneficiado também o Rio Grande do Sul e o Paraná. A indústria catarinense está dando emprego para moradores desses dois outros Estados. Por exemplo, as unidades da Cargill, em Itapiranga; da Sadia, em Chapecó; da Concórdia e da Perdigão, em Capinzal, buscam funcionários no Rio Grande do Sul de ônibus.

Alguns funcionários chegam a viajar até 150 quilômetros para chegar ao trabalho. Somente no Rio Grande do Sul cerca 1,5 mil pessoas atravessam, todos os dias, as divisas entre os dois Estados. Em Itapiranga, por exemplo, 800 funcionários gaúchos cruzam o rio Uruguai, todo dia, de balsa, lancha ou barco para poderem trabalhar nas unidades do Município de Itapiranga. Em Chapecó, são 100 funcionários que vêm de ônibus de Nonoai e arredores. E, quando a Sadia inaugurar o terceiro turno em Chapecó, serão 500 funcionários a virem de Ametista do Sul, Trindade do Sul, Gramado dos Loureiros, Planalto e Constantina.

Em Concórdia, a Sadia começou, há um ano, a buscar mão-de-obra no Rio Grande do Sul. Além dos ônibus que chegam de Marcelino Ramos, outras 500 pessoas vieram de cidades como Bagé, São Borja, Pelotas e Cachoeira do Sul para trabalhar em Concórdia.

Em Capinzal, há ônibus até de Sananduva. Em Videira, há trabalhadores vindos do Paraná. Muitos fazem aquele expediente que eu mencionei: um turno, na roça, e o restante do período, nas agroindústrias.

Sr. Presidente, era isto que eu gostaria de deixar registrado, até para que, no Senado da República, possamos tratar também do cotidiano das pessoas, da melhoria das condições e das perspectivas extremamente positivas que o País está vivenciando.

Espero que isso tudo contamine, Senador Romero Jucá, aquela rapaziada do Copom, para que eles tenham juízo e dêem uma acelerada na baixa dos juros.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2007 - Página 18840