Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26926
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, HISTORIA, POLITICA NACIONAL, DEFESA, REFORÇO, PARTIDO POLITICO, LEGITIMIDADE, REPRESENTAÇÃO POLITICA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Dona Arlete, familiares do Senador Antonio Carlos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “democrata por convicção ideológica e por filiação partidária, sempre defendi Partidos políticos fortes. Daí por que penso que uma reforma tenha por prioridade valorizar as agremiações políticas, impedindo que elas se afastem das ruas, da vontade popular”.

Com essas palavras, Antonio Carlos Magalhães, o jornalista, o médico, o político baiano, o grande homem público brasileiro, iniciava, nesta tribuna, uma de suas últimas intervenções no plenário desta Casa. Era uma quarta-feira, 23 de maio. Algumas poucas semanas mais tarde, o Brasil haveria de receber a lamentável notícia da morte de uma de nossas figuras públicas mais expressivas e, sem dúvida, também controversas das últimas cinco décadas.

Durante mais de 50 anos, Antonio Carlos Magalhães transitou com extrema desenvoltura pela cena política brasileira. Com larga dose de coragem, pessoal e cívica, portador de autenticidade ímpar na política, ACM demarcou um campo de atuação extremamente amplo e fértil, em favor de sua querida Bahia e também do Brasil. Com desembaraço, transitou pelo gabinete de vários Chefes de Nação, a começar por seu dileto amigo Juscelino Kubitschek.

De JK foi um amigo afetuoso e um importante apoio regional. Ensaiava, então, seus primeiros e decisivos passos no âmbito da política nacional.

Foi nessa época também que conheceu e se tornou amigo de meu pai, Renato Azeredo, de quem se lembrava sempre aqui comigo, com muito carinho e com muita admiração.

Depois de conquistar, em 1954, seu primeiro mandato como Deputado Estadual, na Bahia, Antonio Carlos trilhou uma carreira, sempre ascendente, que o levou a algumas das mais importantes posições do País, culminando, no final dos anos 90, com a Presidência desta Casa.

Nessa longa trajetória, foi protagonista e testemunha ocular de muitos dos mais importantes e significativos capítulos da vida pública nacional.

Com sua verve, inteligência e agudo senso de timing político, Antonio Carlos Magalhães escreveu algumas das páginas mais memoráveis da política brasileira, na segunda metade do século XX.

Não é preciso ser propriamente um historiador voltado para a história brasileira contemporânea para reconhecer e apreciar o protagonismo de Antonio Carlos Magalhães na vida política nacional. Como mencionei, esteve com JK em toda a linha, sobretudo na adversa e árdua empreitada da construção de nossa capital, Brasília.

Ao alinhavar algumas notas para a redação deste pronunciamento, tive oportunidade de revisitar vários momentos relevantes da vida brasileira recente e, logo, de identificar, em quase todos eles, a presença sempre marcante de Antonio Carlos Magalhães. Em meados da década de 80, por exemplo, com a articulação da Frente Liberal e o apoio à eleição, pelo Congresso Nacional, de Tancredo Neves e José Sarney, Antonio Carlos Magalhães colocou-se de forma decisiva. A sua participação foi de grande importância para a conciliação nacional e a volta da democracia no Brasil.

Por ocasião do movimento em torno da candidatura de Fernando Henrique Cardoso ao Palácio do Planalto, Antonio Carlos teve novamente um papel de extrema relevância nas negociações com vistas à composição da aliança do PFL com o PSDB. Uma aliança, como todos haveremos de recordar, fundamental na viabilização da vitória de Fernando Henrique.

Porém, muito mais do que apenas apoiar a eleição, Antonio Carlos Magalhães, sem alinhamento automático, o que positivamente não era do seu feitio, deu sustentação aos dois mandatos de Fernando Henrique. Crítico, independente, senhor de suas opiniões e atitudes, nunca deixou de apontar o que considerava equívoco, dentro dos diversos governos que apoiou. E isso não foi diferente durante as duas administrações do PSDB, tampouco nos dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em sua conduta pública, havia uma linha de extraordinária coerência, que fluía naturalmente de suas mais íntimas convicções políticas, sempre muito explícitas. Não transigia com o erro, não admitia a incompetência, e exatamente por isso descobriu para a Bahia e para o Brasil tantos administradores extremamente talentosos.

Se fosse possível - e não creio que seja, apenas faço uma tentativa - resumir em uma única palavra o traço central da personalidade do Senador Antonio Carlos Magalhães, determinante para a consagração de sua magnífica carreira pública, podemos dizer que é a palavra “ousadia”. “É preciso sempre ousar”, para recordar as palavras do revolucionário francês Danton. Ousar foi uma das maiores regularidades na vida política de Antonio Carlos Magalhães. Uma regularidade que se transformou em uma excepcional e produtiva singularidade.

O Senador Antonio Carlos Magalhães era um homem dotado de ousadia, aliada a um formidável senso político. Assim, acabou por personificar um dos políticos brasileiros mais expressivos de sua geração. Uma geração que atravessou e enfrentou décadas de delicados arranjos, reconfigurações e sobressaltos na política brasileira.

Uma geração que experimentou do Estado Novo de Vargas aos anos dourados de JK, ao Golpe de 1964, à Nova República, à era FHC, e, enfim, ao Governo do primeiro Presidente operário do Brasil.

Em mais de 50 anos de atuação política, Antonio Carlos Magalhães sempre fez o que recomendou às agremiações políticas brasileiras: jamais se afastou das ruas, da vontade popular e, sobretudo, soube em todo o tempo manter-se completamente sintonizado com sua amada Bahia e seu povo, que teve a felicidade de governar em três distintas ocasiões.

Creio, Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, Srªs e Srs. Senadores, que, em sua derradeira participação no Senado Federal, Antonio Carlos Magalhães deixou-nos uma mensagem emblemática, de grande profundidade, que resume o cerne das preocupações que se foram constituindo em seu cotidiano de homem público: a existência de Partidos políticos fortemente estruturados e o inalienável compromisso de ouvir e respeitar a voz das ruas.

Campeão de votos em seu território natal, Antonio Carlos era dotado de uma personalidade que exalava autoridade e impunha respeito. Entre os extremos da aspereza e da ternura, para recuperar rótulos simplificadores de afetos e desafetos, há um universo de humanidade, um universo complexo e contraditório, mas intensa e veementemente humano e belo.

O Senador Romeu Tuma lembrou aqui, Neto, de sua presença aqui. Era uma coisa que sempre nos chamava muita atenção: o seu carinho com seu avô, e isso mostrava o lado humano que Antonio Carlos tinha. O Senador Sarney lembrou bem aqui: toda vez que aqui entrarmos, vamos lembrar da presença de Antonio Carlos nessa primeira fileira.

O Senador Antonio Carlos merece o respeito e o carinho dos mineiros que represento. Merece a homenagem de todo o Brasil. Guardarei dele sempre a lembrança amiga de uma pessoa de grande experiência, de um político sensível e obstinado. Não me esquecerei jamais de sua mão estendida e companheira.

ACM foi um bravo, sim. ACM foi grande, um dos maiores entre os seus Pares. Por tudo isso, estamos hoje aqui a render-lhe merecidas homenagens.

            Senhoras e senhores, não tenhamos dúvidas, Antonio Carlos fará falta à Bahia, ao Senado e ao Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26926