Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26951
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, LIDERANÇA, POLITICA NACIONAL.
  • COMENTARIO, APOIO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, REALIZAÇÃO, ESTADO DA BAHIA (BA), CONGRESSO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PROCESSO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL.

O SR. INÁCIO ARRUDA (PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, meu caro Senador Antonio Carlos Júnior, Srª Arlete, Srª Tereza Helena, ACM Neto, eu posso dizer que o PCdoB, ao homenagear o Senador Antonio Carlos Magalhães, o faz com a idéia de que sempre estivemos, ao longo de toda a trajetória de Antonio Carlos Magalhães, em campos opostos, como adversários políticos. Na Bahia e fora da Bahia.

Antonio Carlos era daqueles que devem ter folheado muito o escritor russo Tolstoi. Um gigante da literatura, professor. Ele, às vezes, dizia “sou um simples professor aqui na minha aldeia”. E é daqui da minha aldeia que se transforma em gigante, o gigante da política.

ACM iniciou-se ali pelas mãos de Juraci Magalhães, um cearense que não tinha grau de parentesco com Antonio Carlos Magalhães, mas em cujas mãos ele se inicia, digamos assim, na política, construindo exatamente a sua aldeia, cuidando dela e de sua força política, uma força política que o transportava para o Brasil inteiro. Era o sentimento da sua casa, do seu bairro, da sua vila, da sua comunidade que o tornava forte, que lhe dava força, que lhe dava energia e que o transformava em um gigante da política nacional.

Creio que aqui esteja o centro da atividade de ACM, que criou uma corrente política no seu Estado. E não é fácil que as lideranças passem - embora alguns não queiram! -, sejam elas de centro, de direita ou de esquerda, a constituir uma corrente política de pensamento ali no seu torrão natal, transportando-a para o conjunto da nação, como fez Antonio Carlos Magalhães. Acho que esse é um sentimento forte.

Antonio Carlos, com sua intempestividade na ação política, sempre parecia que o fazia sem pensar. Mas ele pensava na política, era um homem da política 24 horas. Ele raciocinava com a política sempre. Basta acompanhar a sua atividade como Governador, como Parlamentar, como Senador da República, a sua participação no Ministério. Toda essa movimentação é um ato de natureza política de quem sempre raciocinava: Como é que vou melhorar o meu Estado? Como é que vou fortalecer o meu Estado? Como é que vou fortalecer o meu País? É na política. As coisas concretas eu vou buscar na política, vou materializá-las na política. Assim agiu Antonio Carlos a vida inteira, sempre.

Muitas vezes era duro, mas a dureza era a forma do embate político que se apresentava. Acho que sempre foi muito positiva a sua forma de enfrentar o problema da política.

Lembro alguns episódios que marcaram a sua trajetória política em nosso País. Um deles - uma boa parte das pessoas aqui ainda era muito jovem - foi a realização do Congresso da União Nacional dos Estudantes na Bahia, em Salvador. E todos ficavam imaginando, “mas vocês vão fazer na Bahia?” “É, vamos fazer na Bahia, porque tem lá uma corrente política conhecida, que é o carlismo. Então, vamos fazer na Bahia”. “Mas vocês estão querendo enfrentar uma fera?” Ao contrário, ACM mandou apoiar o Congresso da União Nacional dos Estudantes, que se realizou no Centro de Convenções, em Salvador. E foi um grande evento da história política do nosso País.

O segundo grande episódio - que é pensar com a política - é a batalha de 84, que começa com as Diretas Já e dá no rompimento político de ACM com o status quo de então da política brasileira, que era o regime militar. Então, ele examina o passo adiante. “Vamos dar um passo adiante no Brasil. Este regime não tem mais o que dar ao nosso País. É preciso dar um passo adiante”. E precisava de forças políticas que pudessem dar curso a esse sentimento que tomava conta do País. E ACM rompeu e se uniu a Tancredo, a Sarney, naquela grande frente que se formou, com apoio de algumas das forças políticas que hoje estão aqui, como o PCdoB.

O Senador carioca aqui entre nós, do Rio de Janeiro, parente-irmão de Tancredo, contou inclusive o episódio de que alguns militares foram mandados fardados de PCdoB. Em vez de irem com a farda de seu destacamento, foram fardados de PCdoB para o comício de Goiânia, porque lá estava o PCdoB, mas apoiando Tancredo, nessa grande frente que se formou no País.

São episódios para mostrar a compreensão do passo adiante do Brasil, que precisava ser dado. Ele examinou a realidade e disse: temos que dar esse passo; é um passo político importante para o nosso País. É importantíssimo para a Bahia e, em sendo importantíssimo para a Bahia, é importante para o Brasil. E assim enfrentou aquela realidade política do momento em nosso País.

Imagino que homenageá-lo é destacar esses episódios importantes que mostram a sua natureza. Ele era um homem da política, que sempre pensava e raciocinava com a política o tempo inteiro. Acho que era a sua natureza, sempre se agigantando com valentia, uma espécie de leão enfrentando os seus adversários, mas pensando na Bahia e no Brasil.

Há uma marca em parte desses homens, mesmo no campo conservador, mesmo na direita brasileira, mas que pensavam o Brasil, que pensavam o nosso País: precisamos conduzir o País no progresso, no desenvolvimento; este País precisa crescer para oferecer melhores condições de vida ao seu povo e para a sua economia poder se destacar efetivamente. São marcas que devemos registrar.

Os defeitos nós podemos dizer que todos sabem, mas é preciso contar esses episódios da História para ressaltar o seu papel de homem da política, que vivenciou esses últimos 30 anos da vida política brasileira com grande maestria.

Imagino dessa forma, meu caro Senador Renan Calheiros, a homenagem que V. Exª, conduzindo os trabalhos do Senado Federal, presta à família de Antonio Carlos Magalhães e à sua memória nesta Casa.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26951