Discurso durante a 136ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Constatação de que o avanço da Petrobrás sobre o setor do etanol poderá trazer prejuízos à indústria nacional.

Autor
César Borges (DEM - Democratas/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Constatação de que o avanço da Petrobrás sobre o setor do etanol poderá trazer prejuízos à indústria nacional.
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2007 - Página 28894
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, UNIÃO FEDERAL, SITUAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), COMPOSIÇÃO, CAPITAL SOCIAL, BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), BRASILEIROS, ESTRANGEIRO, MONOPOLIO, RECEBIMENTO, PRIVILEGIO, GOVERNO FEDERAL, FACILITAÇÃO, EXPANSÃO, ATIVIDADE, QUESTIONAMENTO, AQUISIÇÃO, AÇÕES, EMPRESA PRIVADA, SETOR, PETROQUIMICA, PREJUIZO, CONCORRENCIA, INICIATIVA PRIVADA, APREENSÃO, ORADOR, CRESCIMENTO, PARTICIPAÇÃO, EMPRESA ESTATAL, AREA, PRODUÇÃO, ALCOOL, EXCESSO, INTERVENÇÃO, ESTADO.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DECISÃO, GOVERNO, CONTROLE, PRODUÇÃO, TRANSPORTE, EXPORTAÇÃO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, ALCOOL, REGISTRO, ANTEPROJETO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), CASA CIVIL, ESTATIZAÇÃO, SETOR, SEMELHANÇA, MONOPOLIO, PETROLEO.
  • ANALISE, DADOS, EMPRESA, PRODUÇÃO, ALCOOL, REPUDIO, PROPOSTA, ESTATIZAÇÃO, AUSENCIA, FAVORECIMENTO, CONSUMIDOR, ESPECIFICAÇÃO, SUPERIORIDADE, PREÇO, COMBUSTIVEL, BRASIL, DEBATE, DEFICIT, GAS NATURAL, CRITICA, ATUAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).

            O SR. CÉSAR BORGES (DEM - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ninguém discute, neste País, o importante papel da Petrobras para a nossa economia e a nossa infra-estrutura. É um papel estratégico.

            A empresa merece o apreço dos brasileiros. Ela se consolidou, ao longo do tempo, com o sacrifício de tantos que lá estiveram comandando ou trabalhando e também com a colaboração do povo brasileiro. Por isso, é inquestionável a defesa que fazemos dessa instituição.

            A Petrobras é uma empresa de economia mista, que tem 30% de seu capital social nas mãos do Governo. Tive o cuidado de olhar a distribuição das ações ordinárias, que é a seguinte: 55% das ações são da União Federal; BNDESPar, 1,9%; ADR Nível 3, 27%; estrangeiros, 2,9%; demais pessoas físicas e jurídicas, 8,2%. Este é o resumo das ações ordinárias da empresa.

            Se considerarmos as ações preferenciais, a divisão será a seguinte: 15,5% do BNDESPar; 36,6% da Regra 144-A; estrangeiros, 15,8%; demais pessoas físicas e jurídicas, 32,1%. Essa é a distribuição de ações preferenciais da Petrobras.

            A empresa tem investimento externo, tem acionistas de outros países. E os lucros obtidos estão indo também para fora do País, porque é uma empresa que tem ações na Bolsa de Nova Iorque. Isso é normal. É do capitalismo. Entretanto, Sr. Presidente, essa é uma empresa que tem tido sempre todas as benesses do Governo.

            Sem sombra de dúvida, a Petrobras é monopolista. Está tendo todas as facilidades para expandir suas atividades num movimento cada vez maior, controlando setores estratégicos para o País, setores esses que, no passado, a própria empresa reconheceu que não era sua atividade fim, que é a exploração e produção de petróleo e derivados, e abriu mão de setores como a Petroquímica, participando apenas como sócia minoritária.

            Agora, a Petrobras avança por esse setor e está adquirindo participação de outras empresas privadas. E é bom que se diga que essas empresas privadas estão sendo deslocadas, empurradas para fora do setor pela pressão do próprio Governo e da própria Petrobras, Sr. Presidente. Não é porque as empresas, o setor privado, não queiram participar. Muito pelo contrário, são as limitações impostas pelo domínio da Petrobras, uma vez que ela é produtora da matéria-prima. Ela produz a nafta e, ao mesmo, tem participação. Ela é produtora, cliente e concorrente. Então, as empresas privadas ficam numa posição extremamente desvantajosa em relação à Petrobras, que avança no setor petroquímico.

            Sr. Presidente, o que é realmente de estupefazer todos nós, de trazer uma surpresa de que já tínhamos suspeitas: estamos perplexos diante da possibilidade que tem a Petrobras hoje de avançar sobre um setor que é do capital privado brasileiro, que tem avançado, tem dado divisas ao País, tem gerado centenas, milhares de empregos. O próprio Presidente Lula diz que é o propagandista do etanol brasileiro. Entretanto, o que parece é que a Petrobras, com o apoio do Governo Federal, quer também avançar sobre esse setor.

            No dia 26 de agosto, domingo, o jornal O Globo, em seu caderno de economia, publicou a seguinte manchete, com a seguinte matéria: “A mão pesada do Estado chega ao setor de álcool. Governo decide controlar produção de biocombustíveis, equipará-los ao petróleo e intervir até nas exportações”.

            Então, estamos passando para uma economia centralizada, em que um setor tão estratégico passa a ter o controle exclusivo da Petrobras, fazendo ali a política que mais lhe convier ao seu monopólio e aos seus interesses.

            A matéria é do jornalista José Casado. Vou ler alguns trechos, Sr. Presidente.

O Governo decidiu controlar toda a cadeia produtiva de álcool e outros biocombustíveis - a produção, o transporte, a exportação e a importação. E vai enquadrar a indústria no mesmo regime jurídico reservado na Constituição para o setor de petróleo.

            A reportagem apresenta já o anteprojeto que deve ser encaminhado ao Congresso Nacional.

O Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil da Presidência da República concluíram o texto das novas regras - um projeto de lei, já referendado pela Fazenda e pela Agricultura. A previsão é que seja enviado ao Congresso no mês de setembro.

Essa intervenção governamental em um segmento da economia onde atuam mais de 300 empresas privadas é entendida com objetivo político claro [chamo a atenção, Sr. Presidente, para esta gravidade, que está aqui, nesta reportagem do jornal O Globo]: privilegiar a Petrobras e favorecer seu plano de se transformar em um importante negociador mundial de álcool combustível no fim desta década”.

Claro que a indústria teme esse controle governamental, em que a estatização pode se dar mediante a criação até de uma outra empresa, que alguns chamavam de “Canabrás” e agora se fala em “Alcoolbrás”, mais uma estatal num processo nitidamente estatizante do País e da economia do País. A reportagem diz:

            Percebe-se no setor privado o temor de uma extensão do virtual monopólio consolidado pela estatal sobre petróleo e derivados, com o nascimento de uma espécie de ‘alcoolbrás’.

            O Centro Brasileiro de Infra-estrutura se pronunciou por intermédio do Dr. Adriano Pires, que diz:

Estender o monopólio da Petrobras ao setor do etanol constitui um grave erro, uma intervenção excessiva, camisa-de-força para uma estrutura industrial que é diferente do setor do petróleo.

O que existe por trás disso é um grande projeto político [vejam, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores] em torno da Petrobras.

É para entregar-lhe o controle e a propriedade de toda a infra-estrutura, a partir do transporte, os dutos, que hoje o setor privado não tem condições de fazer sozinho. E eles são essenciais tanto para exportar quanto para abastecer o mercado interno.

            Ou seja, os gasodutos de que o País tanto necessita, os dutos tão necessários para transportar os derivados de petróleo e o gás natural quem tem capacidade de investimento é a Petrobras. Então, ela terá uma vantagem logística sobre o setor privado e, se acontecer de este projeto de lei chegar aqui e for colocado da forma como está, sem sombra de dúvida, será mais um controle, “a mão pesada do Estado chegando ao setor de álcool”, como diz o título da reportagem, um setor que se tem desenvolvido, que prevê a exportação de 500 milhões de litros de álcool até o ano que vem e o avanço para 4,75 bilhões de litros em 2012, com o crescimento médio anual do desembarque de 45,5%.

            Pois bem. Esse setor, que hoje é privado, não teve necessidade de apoio estatal. São 300 empresas; passará, agora, pelo projeto de lei, que está sendo gestado no âmbito do Ministério das Minas e Energia - está pronto, deverá vir em setembro para o Congresso - e passará para o total controle do Governo, sendo a Petrobras a grande beneficiária desse projeto de lei.

            É algo para o qual a sociedade brasileira precisa atentar, porque a Petrobras avança sobre o setor privado, com um poder impressionante.

            E de onde vêm os lucros da Petrobras? Será que ela beneficia o consumidor brasileiro por meio do preço do combustível? Lamentavelmente, eu tenho que responder que não. A Petrobras pratica preços internacionais. Nós temos um dos combustíveis mais caros da planeta com os preços praticados pela Petrobras. E olha que nós estamos, segundo a Petrobras, com auto-suficiência. E o que importa essa auto-suficiência se não trouxe benefícios à população brasileira, ao consumidor brasileiro, mas apenas aos acionistas da Petrobras, entre eles o Governo?

            E, agora, quando a produção de álcool se expande no País, a Petrobras já procura aumentar sua força, seu domínio, seu verdadeiro monopólio, exercido por meio de seu poder econômico, para o setor do álcool.

            É uma matéria de página inteira, Sr. Presidente, do jornal O Globo, sob o título “A mão pesada do Estado chega ao setor do álcool”. É para isso que o País precisa estar atento: se nós queremos uma economia estatizada, centralizada em uma companhia como a Petrobrás, que tem privilégios do Governo quando deseja, que se diz também do setor privado porque que tem ações da bolsa de Nova Iorque, que traz privilégio a seus acionistas e parte desse lucro inclusive vai para o exterior por meio de acionistas estrangeiros.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador César Borges, permita-me um aparte?

            O SR. CÉSAR BORGES (DEM - BA) - Com muita satisfação, Senador Jefferson Péres.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - V. Exª aborda um tema importante: o peso gigantesco da Petrobras na economia brasileira e, em caráter praticamente monopolista, no setor de petróleo. E olhe que foi uma luta no Senado, há dez anos, Senador, nós quebrarmos o monopólio legal. Nem isso queriam. Conseguimos a duras penas. Ainda assim, ela mantém o monopólio de fato, devido ao seu peso.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador César Borges, isso demonstra a necessidade de nós aperfeiçoarmos e reforçarmos muito o marco regulatório. Para uma situação como essa, precisaríamos de uma agência nacional de petróleo realmente autônoma, com grande capacidade técnica, muito bem equipada, para pôr um freio nesse império que é a Petrobras no Brasil de hoje. Parabéns pelo seu pronunciamento!

            O SR. CÉSAR BORGES (DEM - BA) - Eu agradeço a V. Exª. Veja bem, Senador Jefferson Péres, agora é um outro setor, o do álcool. É o etanol que cresceu sem necessitar da intervenção governamental dentro da Petrobras. Mas ela já criou o olho grande sobre o setor. Já o Governo trata de encaminhar um projeto de lei. Da mesma forma, corre aqui no Congresso Nacional - está aqui na Câmara dos Deputados - projeto procurando regulamentar a questão do gás no País. E a pressão e o lobby da Petrobras sobre todos os congressistas no sentido de dar a ela o monopólio também dos dutos no País. Então, se ela tem o monopólio dos dutos, da produção do petróleo, ela terá toda a economia sob as suas mãos. Uma empresa como a Petrobras terá mais força do que até o Governo.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT- AM) - Permita-me ainda?

            O SR. CÉSAR BORGES (DEM - BA) - Pois, não. Com satisfação.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - No caso do Amazonas, ela levou mais de dez anos para dar início à construção do gasoduto Coari/ Manaus - o gás sendo rejeitado embaixo da terra ou queimado. E as usinas térmicas de Manaus consumindo fuel oil e óleo diesel. Isso mostra que a empresa faz o que quer, exatamente o que quer, não na medida do interesse nacional, nem sempre com o objetivo de atender os interesses nacionais. Se, como V. Exª diz, esse semimonopólio se estender também ao setor alcooleiro, isso será extremamente danoso ao País.

(Interrupção do som.)

            O SR. CÉSAR BORGES (DEM - BA) - O que o Senador Jefferson Péres disse é muito importante: houve esse fato, quer dizer, o País inteiro pagando por óleo combustível para iluminar Manaus quando poderia ter sido feito de outra forma. Mas a Petrobrás faz o que é do interesse específico dela e não do ponto de vista estratégico de servir bem o povo brasileiro ou o povo do amazonas.

            Esse também é o caso do Projeto Gasene, que já reivindicamos e pelo qual esperamos há tanto tempo, que, por meio da Bacia de Campos, abastecerá o Nordeste de gás. A Bahia é deficitária em gás, bem como o Nordeste brasileiro.

            Agora, vejo o embate do Estado do Ceará para tentar instalar uma siderúrgica. Vi aqui reação do Senador Tasso Jereissati, do ex-Ministro Ciro Gomes, da Senadora Patrícia Saboya, porque a Petrobrás não quer cumprir, sequer, contratos assumidos para o fornecimento do gás. Ela quer sempre lucro, só o lucro. Agora, é empresa estatal que não serve ao desenvolvimento do País da forma como atua.

            Então, Sr. Presidente, a matéria de O Globo veio em muito boa hora, trazendo essa preocupação do setor privado de que a Petrobrás e o Governo avancem, para, como sua mão pesada, controlar todo o setor de álcool.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/08/2007 - Página 28894