Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o filme Tropa de Elite. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Comentários sobre o filme Tropa de Elite. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2007 - Página 35279
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, FILME NACIONAL, REFERENCIA, ATUAÇÃO, POLICIA MILITAR, OPORTUNIDADE, ANALISE, GRAVIDADE, VIOLENCIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, COMBATE, CORRUPÇÃO, ORGANIZAÇÃO, POLICIAL MILITAR, VALORIZAÇÃO, PROFISSÃO, APERFEIÇOAMENTO, SISTEMA PENITENCIARIO, AVALIAÇÃO, ATIVIDADE SOCIAL, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), FAVELA, DEMONSTRAÇÃO, NECESSIDADE, URGENCIA, REORGANIZAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, APREENSÃO, LEGISLAÇÃO, INCENTIVO, IMPUNIDADE, DEFESA, REDUÇÃO, LIMITE DE IDADE, IMPUTABILIDADE PENAL, EXTINÇÃO, SAIDA TEMPORARIA, PRESO.
  • QUESTIONAMENTO, CONVITE, DIRETOR, COMPARECIMENTO, POLICIA MILITAR, ESCLARECIMENTOS, IDEOLOGIA, FILME, ATUAÇÃO, ATENTADO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, PRODUÇÃO INTELECTUAL.
  • DEFESA, INTEGRIDADE, CONDUTA, MAIORIA, MEMBROS, POLICIA MILITAR, EMPENHO, GARANTIA, SEGURANÇA PUBLICA, ADVERTENCIA, NECESSIDADE, EXPULSÃO, POLICIAL, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, CRIME.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assisti ontem à noite ao filme Tropa de Elite, que tem causado polêmica, injustas acusações e tem sido, sobretudo, um estupendo sucesso de bilheteria.

Antes de tudo, é preciso dizer que o filme é muito bom, muito bem feito e nada tem de fascista, Senador Mão Santa, como alguns críticos gostariam de fazer crer.

Conheço bem o diretor, um intelectual do melhor preparo e de enorme dose de genialidade, o cineasta José Padilha. Ele nada tem de fascista, e muito menos a sua obra.

O filme é, sim, realista. Mostra a crua e triste realidade que vive a cidade do Rio de Janeiro e que pode ser encontrada em várias outras grandes cidades deste País. É o império de violência, do crime organizado, do clima de verdadeira guerra civil. Tudo isso misturado com corrupção, impunidade, frouxidão de leis e desorganização do aparelho do Estado.

O filme de José Padilha nos leva, sim, a refletir sobre essa realidade. A realidade daquele que barbaramente mata uma criança, arrastando-a com o carro por quilômetros de distância e não vai para a cadeia porque falta um pouquinho para completar 18 anos de idade, para tornar-se imputável pelos crimes que cometa. Ou a realidade daqueles que, condenados por crimes praticados com requintes de crueldade, cumprem apenas um sexto da pena e vão para as ruas, praticar novas crueldades, novos delitos. Viu-se ainda agora, em São Paulo, um criminoso desses que tinha permissão para sair da cadeia nos fins de semana e os aproveitava para matar crianças. No Rio, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, com base nessa benevolente legislação, teve permissão para sair da cadeia num fim de semana - e não voltou mais. Vai certamente praticar outros assassinatos.

Enfim, o filme Tropa de Elite nos convida, a nós legisladores principalmente, a meditar sobre a organização policial que precisa ser depurada dos maus elementos, valorizando-se - inclusive com melhor remuneração - o seu lado sadio e bom; a meditar sobre o sistema penitenciário, pois não se pode mais tolerar que quadrilhas continuem fazendo de presídios o seu quartel-general e usando, quase livremente, celulares e outros aparelhos de comunicação; a meditar sobre o trabalho social desenvolvido em favelas e periferias das grandes cidades; a meditar sobre o que fazem certas organizações não governamentais; enfim, a meditar sobre o relacionamento entre pais e filhos.

O filme tem o mérito de chamar a atenção do País para a gravidade da violência, para a necessidade de se rever, de alto a baixo, todo o sistema de segurança pública que nos rege ou que nos atravanca a existência.

Não se compreende que o diretor de Tropa de Elite esteja sendo chamado à Polícia Militar para dizer se soldados participaram do filme - e isso, sim, significaria concessão ao fascismo. Ora, todos sabem que PMs fazem “bicos” para particulares sem serem incomodados por seus superiores. Agora pretendem, de repente, saber se fizeram um filme que precisamente denuncia o quadro de corrupção instalado no esquema, no sistema policial brasileiro. Quase que se poderia dizer que isso atenta contra a liberdade de criação artística. Aliás, afirmo que isso atenta contra a liberdade de produção intelectual. A Polícia Militar do Rio de Janeiro é organização respeitável; tem bons serviços prestados à comunidade. A grande maioria dos seus integrantes é composta de homens corretos e eficientes. Não devia estar se preocupando com obras de arte e, sim, em livrar-se dos maus elementos e em combater o crime tenazmente.

Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, encerro dizendo que acompanharei os passos da Polícia Militar do Rio de Janeiro em relação ao diretor José Padilha. Se persistir o que me parece um ato persecutório, daqui reagiremos. Porque cumpre à Polícia Militar do Rio de Janeiro o papel simples e básico de expulsar os seus corruptos, de expulsar os seus assassinos, de expulsar os seus sicários e não de imaginar que, talvez, deva proteger os seus sicários, os seus corruptos, os seus assassinos, perseguindo um diretor de qualificação genial, que acaba de oferecer ao Brasil um dos cinco mais relevantes filmes de que me lembro de ter visto nos últimos dez anos, algo que a mim me tocou profundamente e que é um alerta para todos aqueles que não se sentem entorpecidos, quedados, inertes, diante da insegurança que a todos nos ameaça neste País. Insegurança que deixa à solta os que cometem os crimes, insegurança que ameaça barbaramente aqueles que insistem em se portar reverentes às leis do País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2007 - Página 35279