Discurso durante a 240ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2007 - Página 46313
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMPROMISSO, VALORIZAÇÃO, SOLIDARIEDADE, SAUDAÇÃO, CRIATIVIDADE, MODERNIZAÇÃO, ARQUITETURA, RECEBIMENTO, PREMIO, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL.
  • SAUDAÇÃO, EXISTENCIA, ESTADO DO PARA (PA), MEMORIAL, AUTORIA, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, HOMENAGEM, HISTORIA, MEMORIA NACIONAL, LUTA, REVOLUÇÃO, POVO.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador Marco Maciel, que preside esta sessão em homenagem ao centenário do grande brasileiro Oscar Niemeyer; Senador Inácio Arruda, que representa, com certeza absoluta, nesta sessão solene, o Partido Comunista Brasileiro; Sr. Carlos Oscar Niemeyer Magalhães, neto do homenageado; Srª Edenise de Sousa, gerente do Espaço Oscar Niemeyer em Brasília, falo aqui em meu nome e em nome da bancada do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Não poderia furtar-me a vir aqui no momento em que se homenageia um brasileiro da estirpe e da história de Oscar Niemeyer. Peço a V. Exª que meu pronunciamento seja transcrito na íntegra, porque farei apenas a leitura de alguns pontos do pronunciamento que faria por inteiro.

Srªs e Srs. Senadores, não é todo dia que o Brasil tem a chance de celebrar o centenário de um dos mais destacados personagens da história da arquitetura do planeta. Comparável à estatura de um Michelangelo no generoso imaginário artístico brasileiro, Oscar Niemeyer comemorou seu centésimo aniversário no último dia 15, ao lado de amigos e parentes. Recepcionado na Casa das Canoas - primoroso projeto de Niemeyer no Rio de Janeiro -, surpreendeu a todos com a modéstia demonstrada, exaltando, antes de tudo, a igualdade entre os homens.

Na oportunidade, fez questão de reiterar que, “na curta passagem da vida, a única palavra que importa é a solidariedade. O importante é a fraternidade e a igualdade entre os seres.” Para ele, ainda, o centenário não seria importante, até mesmo a arquitetura não seria importante. “O que importa mesmo é ser tranqüilo e otimista”, declarou o arquiteto nessa ocasião.

Niemeyer recebeu na Casa das Canoas dezenas de amigos, no meio dos quais se destacou o nobre Senador Marco Maciel, a quem o Senado Federal simbolicamente atribuiu as funções protocolares de saudação.

Sr. Presidente, o “ano Niemeyer” teve alguns desdobramentos recentes, que se materializaram em homenagens aqui no Brasil e pelo mundo afora. Brasília, símbolo mundial da arquitetura, é reconhecida como uma obra que vai, com certeza absoluta, ser mantida não diria por séculos, mas ao longo de milênios, como uma obra da inteligência e da criatividade de Oscar Niemeyer. Por isso, ele não recebeu só as homenagens no Brasil; recebeu em vários países, Senador Paulo Duque.

A França, o condecorou com a medalha de Comendador da Legião de Honra, a mais prestigiada homenagem do governo francês. No seu apartamento em Copacabana, o Embaixador da França no Brasil fez a entrega dessa comenda ao grande brasileiro Oscar Niemeyer. Ele teve vários projetos desenvolvidos na França. Entre eles, alguns já citados aqui, a sede do Partido Comunista Francês, a sede do Jornal L´Humanité, sem falar no Centro Cultural de Le Havre.

Há ainda a homenagem da Rússia, da qual Oscar Niemeyer recebeu o Colar da Amizade dos Povos, pelas mãos do Embaixador da Rússia no Brasil. Além disso, Senador Mão Santa, recebeu Oscar Niemeyer uma carta elogiosa do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Oscar Niemeyer, arquiteto carioca, um dos principais nomes da área em âmbito internacional, também recebeu, como disse, homenagens aqui no Brasil. Afinal de contas, condecorações não são os únicos tributos pagos. Em São Paulo, por exemplo, na sala da Bienal de Arquitetura, os desenhos originais expostos no Museu de Arte Contemporânea da USP foram destaques. Em Niterói, o prédio do Museu de Arte Contemporânea tem em cartaz a mostra “Oscar Niemeyer - Arquiteto, Brasileiro, Cidadão”, expondo um resumo das principais fases da obra do arquiteto, com painéis, croquis, maquetes e desenhos.

Sr. Presidente, Ricardo Ohtake, arquiteto amigo e discípulo, conta que, na década de 30, enquanto o racionalismo se implantava no mundo por meio das linhas retas expressivas da indústria, Niemeyer introduziu sinuosamente a presença das curvas nas formas metropolitanas. Na época, o Brasil tipicamente agrícola instaurava um novo caminho para o racionalismo mundial, contribuindo para o avanço de novas frentes do modernismo.

Não por acaso, num levantamento feito recentemente, cerca de 22 países já lançaram material variado sobre Niemeyer. Até 2005, foram publicados 53 livros e periódicos, além de dezoito filmes de televisão. Não era para menos, são nada menos que setenta anos de atividade.

É o próprio Ohtake quem comenta a importância do arquiteto brasileiro no mundo, constatada por ele quando participara da inauguração da Pirâmide do Louvre, em 1989.

À guisa de conclusão, Sr. Presidente Marco Maciel, cabe exaltar não somente as obras e os desenhos magicamente traçados pelo gênio da arquitetura, mas sobretudo seu legado humanista, suas idéias coletivistas, sua dedicação à beleza em prol de um social mais justo e feliz.

Senador Marco Maciel, o meu Estado do Pará tem a honra de ter uma obra de Oscar Niemeyer em Belém: um memorial, A Cabanagem, o maior movimento revolucionário popular do Brasil. Oscar Niemeyer foi convidado para fazer o projeto desse monumento. Ele não conhecia a Cabanagem. Pediu que lhe encaminhassem livros, materiais sobre o movimento da Cabanagem, para que ele pudesse, então, ao tomar conhecimento, ter a sua inspiração. Ao ler sobre a Cabanagem, ao ver a importância desse movimento no âmbito do nosso País, ele se dispôs a fazer o projeto e nada cobrar do Governo do Estado do Pará, porque era, eu diria, uma homenagem que ele, com toda a sua sensibilidade, faria não só ao Pará, mas também ao movimento da Cabanagem. Assim, nós temos hoje, na entrada de Belém ou na saída de Belém, conforme o sentido de deslocamento, a obra de Oscar Niemeyer que orgulha a todos nós paraenses.

Em suma, para ele, arquitetura é, sim, uma invenção; mas não uma invenção solitária. Longe de imaginar que o arquiteto possa se isolar em suas próprias obras, cumpre pensá-las como ofertas à coletividade, pois, afinal de contas, antes das obras, respira a alma humana com sua comum humanidade.

Parabéns ao Brasil! Parabéns ao brasileiro Oscar Niemeyer!

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR FLEXA RIBEIRO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno

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            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é todo dia que o Brasil tem a chance de celebrar o centenário de um dos mais destacados personagens da história da arquitetura do planeta. Comparável à estatura de um Michelangelo no generoso imaginário artístico brasileiro, Oscar Niemeyer comemorou seu centésimo aniversário, no último dia 15, ao lado de amigos e parentes. Recepcionado na Casa das Canoas - primoroso projeto de Niemeyer no Rio de Janeiro -, surpreendeu a todos com a modéstia demonstrada, exaltando antes de tudo a igualdade entre os homens.

            Na oportunidade, fez questão de reiterar que "na curta passagem da vida, a única palavra que importa é a solidariedade. O importante é a fraternidade e a igualdade entre os seres." Para ele, ainda, o centenário não seria importante, até mesmo a arquitetura não seria importante. "O que importa mesmo é ser tranqüilo e otimista”, declarou o arquiteto.

            Niemeyer recebeu na Casa das Canoas dezenas de amigos, no meio dos quais se destacou o nobre Senador Marco Maciel, a quem o Senado Federal simbolicamente atribuiu as funções protocolares de saudação. Embora não tivesse caráter oficial, a participação do nobre Senador de Pernambuco na celebração do centenário representa a estima e a reverência com que o Senado e o Brasil cultuam a imagem de Niemeyer.

            Sr. Presidente, o "ano Niemeyer" teve alguns desdobramentos recentes, que se materializaram em homenagens aqui e alhures. No último dia 12, da França, ele recebeu a medalha de Comendador da Legião de Honra, a mais prestigiada homenagem do governo francês. Em uma cerimônia íntima, no prédio art déco onde fica o escritório e o apartamento do arquiteto, em Copacabana, a condecoração feita pelo embaixador da França no Brasil, Antoine Pouillieute, emocionou não somente aos presentes, mas a todos os brasileiros.

            Vale lembrar que, na França, Niemeyer assinou alguns de seus projetos mais inspirados, como a sede do Partido Comunista Francês em 1965 e a sede do jornal "L'Humanité" em 1987, ambas em Paris, sem mencionar o magnífico projeto do Centro Cultural de Le Havre em 1972.

            Na mesma linha reverencial, a Embaixada da Rússia no Brasil preparou, também, uma grande homenagem ao arquiteto, com a entrega do Colar da Amizade dos Povos, pelas mãos do embaixador Vladimir Tyurdenev. Dele também recebeu, com especial distinção, uma carta elogiosa do presidente russo, Vladimir Putin. 

            Por outro lado, Oscar Niemeyer, arquiteto carioca, um dos principais nomes da área em âmbito internacional, também recebeu homenagens aqui no Brasil. Afinal de contas, as condecorações não são os únicos tributos pagos. Em São Paulo, por exemplo, na sala da Bienal de Arquitetura, os desenhos originais expostos no Museu de Arte Contemporânea da USP foram os destaques. Em Niterói, o prédio do Museu de Arte Contemporânea tem em cartaz a mostra "Oscar Niemeyer - Arquiteto, Brasileiro, Cidadão", expondo um resumo das principais fases da obra do arquiteto, com painéis, croquis, maquetes e desenhos.

            Sr. Presidente, Ricardo Ohtake, arquiteto amigo e discípulo, conta que, na década de 30, enquanto o racionalismo se implantava no mundo por meio das linhas retas expressivas da indústria, Niemeyer introduziu sinuosamente a presença das curvas nas formas metropolitanas. Na época, o Brasil tipicamente agrícola instaurava um novo caminho para o racionalismo mundial, contribuindo para o avanço de novas frentes do modernismo.

            Segundo Ohtake, as declaradas posições políticas do arquiteto são outra característica marcante de sua trajetória. Apesar de Niemeyer afirmar que sabe bem separar a palavra do projeto, há quem disso discorde, pois se considera que suas obras partem do conceito de conceber espaços não-exclusivistas e priorizam o coletivo sobre o individual. Para alguns especialistas, quando se analisa um projeto como o do Ibirapuera, por exemplo, fica clara a preocupação da criação de espaços democráticos onde todo mundo se mistura.

            Não por acaso, num levantamento feito recentemente, cerca de 22 países já lançaram material variado sobre Niemeyer. Até 2005 foram publicados 53 livros e periódicos, além de dezoito filmes de televisão. Não era para menos, são nada menos que setenta anos de atividade.

            É o próprio Ohtake quem comenta a importância do arquiteto brasileiro no mundo, constatada por ele quando participara da inauguração da Pirâmide do Louvre, em 1989. Na ocasião, Ieoh Ming Pei, responsável pela intervenção arquitetônica no prédio histórico francês, reconheceu humildemente que Niemeyer havia sido de extrema relevância para a geração dele, expressando imenso respeito pelo arquiteto.

            À guisa de conclusão, cabe exaltar não somente as obras e os desenhos magicamente traçados pelo gênio da arquitetura, mas sobretudo seu legado humanista, suas idéias coletivistas, sua dedicação à beleza em prol de um social mais justo e feliz. Em suma, para ele, arquitetura é, sim, uma invenção, mas não uma invenção solitária. Longe de imaginar que o arquiteto possa se isolar em suas próprias obras, cumpre pensá-las como ofertas à coletividade, pois, afinal de contas, antes das obras, respira a alma humana com sua comum humanidade.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2007 - Página 46313