Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da realização de audiência pública, na próxima quinta-feira, na CDH, para discutir a questão da transposição das águas do rio São Francisco.

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Registro da realização de audiência pública, na próxima quinta-feira, na CDH, para discutir a questão da transposição das águas do rio São Francisco.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, César Borges, Cícero Lucena, Eduardo Suplicy, José Agripino, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 13/02/2008 - Página 1185
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • APOIO, DISCURSO, KATIA ABREU, SENADOR, PROTESTO, AUMENTO, IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES DE CREDITO CAMBIO SEGURO E SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS A TITULOS E VALORES MOBILIARIOS (IOF), DESCUMPRIMENTO, ACORDO, GOVERNO FEDERAL, SIMULTANEIDADE, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, CARTÃO DE CREDITO, EXECUTIVO, EXPECTATIVA, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
  • IMPORTANCIA, DEBATE, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, ESPECIFICAÇÃO, BENEFICIO, ESTADO DA PARAIBA (PB), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ESTADO DO CEARA (CE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), COMENTARIO, REUNIÃO, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, CONVITE, PARTICIPAÇÃO, LIDERANÇA, ESTADOS, MUNICIPIOS, AUDIENCIA PUBLICA, DIVERSIDADE, OPINIÃO, POLEMICA, EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, OBRAS, INCLUSÃO, SANEAMENTO, RECUPERAÇÃO, ECOSSISTEMA, RIO, COMPENSAÇÃO, ESTADO DE SERGIPE (SE), ESTADO DA BAHIA (BA), FORNECIMENTO, RECURSOS HIDRICOS.
  • IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, OPORTUNIDADE, ATENDIMENTO, PEQUENO PRODUTOR RURAL, PROJETO, IRRIGAÇÃO, COBRANÇA, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, SETOR, ESPECIFICAÇÃO, BARRAGEM, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Efraim, eu vou tentar, em 10 minutos, resumir ao máximo este assunto que para nós, nordestinos, é de uma importância muito grande.

            Quando nós falamos da transposição do São Francisco, principalmente nós que somos do Estado da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Ceará e de Pernambuco, sabemos o quanto é importante.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Esta Presidência saberá ser tolerante com V. Exª.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Antes, porém, eu gostaria de parabenizar a Senadora Kátia Abreu, já que abdiquei de fazer um aparte a S. Exª, pelas comparações que fez, mostrando com clareza ao povo brasileiro o quanto estamos sendo sacrificados com essas medidas sobre o IOF. O Governo Federal descumpriu a sua palavra aqui colocada para todos os Senadores de que não iria aumentar a carga tributária, mas fez disso um presente de começo de ano. Quero dizer mais: realmente, enquanto se aumenta essa carga, nós estamos vendo a farra, a exorbitância nos gastos com cartões corporativos, 11 mil cartões usados sem nenhum critério.

            Gastaram dinheiro do povo, dinheiro suado dos nossos impostos, do imposto pago pelo povo brasileiro. Os recursos saíram de forma desrespeitosa, de forma errônea, de forma que realmente precisamos apurar. E a CPMI será, se Deus quiser, instalada, para termos toda a apuração e conhecermos melhor, com mais transparência, como são feitos esses gastos.

            Sr. Presidente, agora retorno ao nosso assunto, à questão que hoje, quando da reunião da Comissão de Direitos Humanos, foi de uma importância muito grande. Sabemos que, quinta-feira, vamos ter uma audiência pública em plenário, por solicitação do Senador Suplicy, para discutir as questões do rio São Francisco - existe polêmica, uns são favoráveis; outros, não -, com a presença, inclusive, do Bispo D. Cappio, que fez greve de fome. Poderia ter feito de sede, para saber como os nordestinos, quando morrem de sede, o que sentem.

            Hoje, na Comissão de Direito Humanos, houve uma audiência para avaliação e versão preliminar do exame e revisão periódica universal dos direitos humanos. Já avançamos muito, é verdade, mas muito ainda temos a avançar. Não tiro aqui nenhum mérito do Governo, seja do Governo do Presidente Lula, ou do seu antecessor, que começaram a criar mecanismos, como também deste Congresso, que criou mecanismos importantes, como a Lei Maria da Penha, como o Estatuto da Criança e da Adolescência, que tratou da questão do idoso, do deficiente. Tudo isso hoje tem sido mais debatido. Mas falar sobre o rio São Francisco é falar também de direitos humanos.

            Na Comissão, foi incluído o nome também de Aldo Pagotto, o Presidente da Comissão em Defesa da Transposição do São Francisco da cidade da Paraíba. Gostaria muito de que todos os Presidentes das Comissões que hoje existem em cada Estado pudessem ser convidados.

            Fizemos essa solicitação, sabendo que o número de pessoas que estarão presentes como convidados a participar e expor suas opiniões é muito importante. Por que a importância da presença de Dom Aldo Pagotto, como seria muito importante a presença de D. Heitor Sales, de D. Matias, de Dom Eugênio Sales, que sempre foi um defensor das questões de água para a nossa região e para o nosso Nordeste? Para não ficar essa imagem que muitas vezes se tem de que, se um Bispo fez uma greve de fome contra a transposição, toda a Igreja é contra. Não. Vamos trazer convidados aqui exatamente para que haja o contraditório, para que exponham as suas necessidades. Falo como nordestina do Rio Grande do Norte, Estado que necessita dessa água não para fazer áreas de lazer, não para fazer projetos mirabolantes, mas para matar a sede do nosso povo, para dar oportunidade de o pequeno irrigante ter água viva e condições de sobrevida ao seu trabalho, à sua pequena criação.

            Por isso, quero falar, desde já, do nosso entusiasmo com o debate, com a certeza de que não podemos parar, de forma alguma, obra tão importante, de valor incomensurável para o nosso Estado, para nossa região, de valor inestimável. Ela não pode ser protelada. Ela está acontecendo. Esperamos que os recursos continuem e que o Governo cumpra com a sua parte nas questões das cidades ribeirinhas, Senador César Borges, da sua Bahia, nas questões do saneamento dessas cidades, nas questões do apoio à revitalização do rio.

            Nós que precisamos dessa água, mais do que nunca, queremos o rio São Francisco vivo, pois não adianta transpor e depois termos algum prejuízo.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - V. Exª me concede um aparte, Senador Rosalba?

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Pois não. Concedo sim, Senador. É um prazer muito grande ouvir a sua opinião.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senadora Rosalba Ciarlini, acho que V. Exª toca num assunto que efetivamente é polêmico, em que os dois lados defendem ardentemente as suas propostas. Sou de um Estado, Sergipe, cuja população tem sido a mais prejudicada com a construção das chamadas hidrelétricas, que, sem dúvida alguma, colaboraram para o desenvolvimento da nossa região, mas, por via de conseqüência, produziram, pelo menos para os pescadores, para o meio ambiente, prejuízos muito grandes para a bacia do rio São Francisco localizada entre Sergipe e Alagoas. Lá, os peixes praticamente desapareceram, os pescadores recolheram as suas redes e não estão tendo mais como obter uma remuneração condigna com a sua sobrevivência.

            De outro lado, penso que o mais importante, neste instante, já que o Governo está disposto a realizar a transposição, é que a Câmara dos Deputados cumpra aquilo que o Senado Federal já fez, qual seja, aprovar a nossa proposta, que prevê a destinação de mais de R$250 milhões para a revitalização do rio São Francisco. Então, pediria a V. Exª, Senadora Rosalba Ciarlini, que, juntos, pudéssemos lutar a favor da revitalização do rio São Francisco. Ou seja, vamos, em conjunto, fazer uma comissão e pedir ao Presidente da Câmara dos Deputados que coloque como prioridade o que já está na pauta há quase cinco anos, a proposta da revitalização do rio São Francisco, sem ter sido votada. Já que V. Exª luta pela transposição, vamos lutar pela revitalização do rio, porque vai proporcionar, inclusive, mais segurança a esse projeto de objetividade duvidosa, uma vez que deveria, como V. Exª falou, atender às pequenas populações que não dispõem de recursos hídricos e não aos grandes projetos de irrigação, que certamente serão propostos ao longo da execução desse projeto.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Senador Antonio Carlos Valadares, quero agradecer a sua contribuição, a sua opinião. V. Exª é sergipano, e cada um fica defendendo o seu Estado, o que é melhor para o seu Estado. Acho que, realmente, é importante que Sergipe, que distribui, por meio de hidrelétricas, por meio de barragens, energia para as mais diversas regiões do nosso País, tenha compensações, sim. Que não receba apenas a compensação, que é natural, que já existe, dos royalties ou do imposto a mais que chega ao seu Estado. Mas que tenha compensações em obras.

            Sabemos que existem formas de revitalizar essas áreas para que o pescador volte a ter o peixe e, também, outras formas de sobrevida. Pode haver revitalização nas áreas marginais do rio, para que possa haver também oportunidade para a agricultura irrigada, pois sua região também, seu solo é de oportunidades.

            Quero ressaltar, Senador, que queremos exatamente que a água chegue ao nosso Estado, onde realmente há seca, pois se trata da região mais árida de todo o Brasil. Trata-se do semi-árido, que se estende de Pernambuco, passando pelo Ceará, ao Rio Grande do Norte.

            Portanto, essa água é de uma importância muito grande para o desenvolvimento, para a vida. Mas nem por isso estamos aqui querendo tirar o direito que têm o seu Estado e o Estado da Bahia, que será um dos fornecedores. Há o rio São Francisco que leva água para uma vasta região da Bahia, e sei que há regiões na Bahia e no seu Estado, imensas, que também sofrem os efeitos da seca, em que a água não chega. Mas existem outras formas de serem beneficiadas, de serem recompensadas.

            O que não queremos é que, em função de debates, de mais discussões, de mais contraditórios, se atrase uma obra de importância tão grande, aguardada desde a época do Império. Essa questão foi levantada pela primeira vez nesta Casa por um Senador cearense e já foi bastante estudada.

            Não é possível que, em tantos anos, depois de tantos estudos, tanta análise e levantamentos, tudo isso tenha sido em vão. Temos o exemplo não só de outros países, mas também dentro do nosso País, de rios. É claro que não o Rio São Francisco, um rio que leva o nome do Santo dos pobres, para ajudar os pobres da Região Nordeste, do nosso Estado, do nosso Rio Grande do Norte, do seu Estado, Senador Efraim, do querido Estado paraibano. Agora que estamos aqui, faremos esse debate, vamos participar e realmente apresentar a nossa defesa pela transposição, respeitando também o pensamento, o ponto de vista de cada um que quer defender o seu Estado. Mas não é porque a Bahia, Sergipe ou qualquer outro Estado do Brasil esteja contrário que vamos, de forma alguma, abaixar a cabeça e deixar de lutar por algo, Senador Agripino, que é importantíssimo para todos nós. Precisamos fazer com que o Rio Mossoró se torne perene. E não é somente isso, mas que tenha condições de levar água para as mais diversas regiões do nosso Estado, que, mesmo sendo abastecido por um determinado sistema, está sofrendo. Tenho, lá no Seridó, a questão de Currais Novos, uma sede imensa. Eu gostaria de conceder um aparte para o Senador César Borges, se V. Exª permitir, Sr. Presidente, já que ultrapassei o tempo. Gostaria de ouvir esse ilustre baiano e também o nosso Líder, o Senador José Agripino.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Esta Presidência concede mais dois minutos a V. Exª.

            O Sr. César Borges (Bloco/PR - BA) - Senadora Rosalba Ciarlini, quero lhe dizer que entendo perfeitamente a veemência com que V. Exª defende - e o faz porque é o seu dever, faz com satisfação - algo que entende que vai trazer melhorias para a população e desenvolvimento para o seu Estado. Eu a aplaudo por isso. Entretanto, tenho que alertá-la para a possibilidade de que estejam lhe vendendo uma quimera, uma miragem, de que isso não vá acontecer porque, como dizem, o transporte de 60m³ para os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco não vai efetivamente fazer essa transformação, não vai atender à pobreza. Os projetos para o eixo norte visam a atender os grandes projetos de irrigação. O Rio Grande do Norte tem hoje segurança hídrica com os grandes açudes. Lamentavelmente, as obras a jusante não foram feitas. Sabe bem V. Exª da grande obra que é o Armando Ribeiro Gonçalves, mas as águas desse grande açude não estão sendo utilizadas nos projetos em que deveriam ser utilizadas, muito menos atendendo a toda população pobre. Poderia ser feito muito mais com essas águas. E verificamos que V. Exª está preocupada, por exemplo, com os cartões corporativos. Somando-se todas as despesas dos cartões, chegaremos a R$100 milhões, R$200 milhões. Nessa obra vão se gastar R$4,5 bilhões até 2010. Alerto V. Exª de que, aí sim, deve-se preocupar com a aplicação desses recursos. E nós temos, na Bahia, 360 mil quilômetros quadrados de semi-árido que não estão sendo atendidos absolutamente em nada. Temos mais de um milhão de hectares disponíveis para irrigação à margem do rio que também não estão sendo atendidos. O rio está morrendo, não está sendo revitalizado. Então, nós temos que contrapor esses pontos para que o seu entusiasmo traga resultados para o povo do Rio Grande do Norte. Aplaudo V. Exª. Considero-a uma Parlamentar com vivência muito grande como prefeita e como médica e que faz isso com a maior boa-fé. Aplaudo a sua posição, entretanto, quero alertá-la: fique atenta para esses pontos, para que o debate possa trazer a sua consciência um esclarecimento e cobrar posteriormente os resultados, se essa obra ainda chegar ao seu desiderato, ao seu final.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Senador César Borges, com sua experiência, com sua inteligência, estou sempre aprendendo um pouquinho mais. Mas dizem que toda mulher é persistente e teimosa. Continuo a dizer que os recursos para a revitalização do rio, os recursos para o atendimento ao seu semi-árido o Governo tem; não faz porque se sabe que infelizmente está nessa farra do cartão corporativo, que são milhões comparados com os bilhões da transposição.

            Teremos que estar lá acompanhando a transposição. Vamos ver as obras, vamos ver se chega. Do cartão corporativo foi feito fumaça, está sendo feito fumaça. Nós não estamos sabendo onde foi nem quantos milhões foram sacados. Quando as investigações, com certeza, forem mais detalhadas, esses recursos poderão até ser bem maiores. Nós não sabemos; precisamos de mais transparência.

            Com relação ao Rio São Francisco, pode ser que eu tenha sonhos apenas, mas, se nós perdermos a capacidade de sonhar, jamais chegaremos a realizar algo. Só que esse sonho eu não sonho só. E sonho, quando é sonho em conjunto, se transforma em realidade. Se Deus quiser, vai se transformar em realidade para o bem dos nordestinos do meu Estado, da Paraíba, de Pernambuco, do seu Estado também e de todos que precisam de água da Bahia, de água para matar a sede, porque é diferente. É água para matar a sede água viva para manter a pequena atividade. Se não é para conter a questão de grandes empreendimentos, estamos aqui para lutar também e, em primeiro lugar, para que os pequenos tenham vez. Todos são produtores, todos vão dar trabalho e renda para este País através da fruticultura, da irrigação. Então, devemos defender o trabalho, valorizando também a oportunidade para os pequenos.

            Ouço o Senador José Agripino.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Senadora Rosalba, eu me apressei em chegar ao plenário para poder aparteá-la e cumprimentá-la pela oportunidade do discurso. É evidente que as opiniões são divergentes. Respeito a opinião do Senador César Borges, baiano, que tem razões locais para se posicionar contra a transposição. Mas S. Exª é um homem de bom senso, equilibrado, que sabe, como eu sei, que, por exemplo, a transposição das águas do Rio Colorado, nos Estados Unidos, feita com uma luta sangrenta que determinou a perda inclusive de muitas vidas, possibilitou, apesar do debate acalorado, que o Arizona e a Califórnia se transformassem de terra árida em celeiro para boa parte dos Estados Unidos, a partir da produção da agricultura irrigada, para não falar dos benefícios diretos da disponibilidade de água numa área onde não havia água alguma. Senadora Rosalba, V. Exª sabe tanto quanto eu que o nosso Rio Grande do Norte, que é um beneficiário importante do projeto da transposição, não tem um único rio perene, um só, unzinho só. Como é importante um rio perene ao longo de muitos quilômetros para se puxar água de beber para o ribeirinho ou puxar água de irrigação para gerar emprego ou acumular água para criar peixe ou usar a água para melhorar a qualidade de vida das pessoas. E por que vamos defender o egoísmo de as águas do São Francisco serem apenas para aqueles que estão situados nas suas margens? Penso que o projeto da transposição é um projeto de solidariedade nordestina e brasileira, porque é a redistribuição de oportunidades. Aquilo que aconteceu, há algumas décadas, nos Estados Unidos, temos que ousar a repetir agora no Nordeste, com a transposição do São Francisco. Ah, mas vai secar o São Francisco! Três por cento da vazão que vai embora para o mar! Qual é o problema? São estudos técnicos de gente de responsabilidade. E não haver o princípio da solidariedade, de se dar ao Piauí, que é tão pobre, ao Ceará, ao Rio Grande do Norte, à Paraíba, a Pernambuco, que são tão pobres, a oportunidade que têm os Estados que dispõem das margens do São Francisco?! Temos que nos irmanar, temos que ser racionais para discutir esta questão à luz da fraternidade nordestina. Quero que a Bahia, que Sergipe, que Alagoas cresçam, vão para a frente, agora, quero também ter direito a uma oportunidadezinha. A Barragem de Oiticica, que é parte do complexo da barragem da transposição do São Francisco, que vai perenizar o nosso Rio Açu, junto com a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, consta nas nossas preocupações, da bancada que alocou, dentre as emendas coletivas, dinheiro para fazer a Barragem de Oiticica, que é uma obra federal.

Já imaginou a barragem de Santa Cruz alimentada pela transposição do São Francisco, alimentando todo o Rio Mossoró perenizado? A riqueza decorrente disso? Não é só acumular água, é transformar rio seco em rio perene. E com o rio perene surgirão mil oportunidades que V. Exª com propriedade defende, com o meu absoluto endosso.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Senador, foi muito interessante o seu aparte, mostrando com muita clareza a este plenário e ao Brasil a importância do tema, com detalhes.

            Com relação à barragem Santa Cruz, também estão no Orçamento recursos para que possam ser feitos projetos dos canais que levem a irrigação. Com a transposição perenizando o rio Mossoró, a barragem de Santa Cruz poderá transformar toda a região da Chapada do Apodi, que são as terras mais férteis entre as mais férteis do Brasil, e transformar milhares e milhares de hectares em trabalho e renda para o nosso povo, gerando milhares de empregos. Como V. Exª sabe, cada hectare numa irrigação gera três empregos diretos. Imagine os indiretos.

            Muito obrigada, Sr. Presidente, pela paciência. Um minutinho só, Senador Cícero, para que eu possa concluir o meu pensamento sobre essa questão da barragem e sobre os recursos que estão no Orçamento.

            O que nós precisamos é ter um Orçamento cujos recursos, que foram colocados pela bancada, realmente cheguem ao Estado para que o Governo do Estado e dos Municípios possam fazer. Nós colocamos, Senador José Agripino, os recursos. A emenda foi coletiva até mesmo para os canais de irrigação, inclusive por sugestão do Presidente Garibaldi Alves Filho, assim como colocamos uma emenda coletiva para a barragem de Oiticica por sua indicação, porque V. Exª vem batendo há anos nessa questão. Mas os recursos não saem.

            Então precisamos realmente que o Senado faça uma reformulação para termos um orçamento que seja cumprido de acordo com a vontade do povo - porque nós trazemos aqui a vontade e a necessidade do nosso povo -, e não que fique como há anos. Reclama-se, fala-se, e os parlamentares ficam sendo relegados às suas necessidades de recursos no seu Estado, que são colocados para beneficiar questões importantíssimas do nosso povo. Nós ficamos com o pires na mão, mendigando, muitas vezes sendo interpretados, de forma errônea, como se estivéssemos trocando favores para poder ter aquilo que é direito do nosso povo e que é usurpado do orçamento que nós colocamos de forma consciente com toda a bancada.

            Senador Cícero.

            O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Senadora Rosalba, quero me somar a todos aqueles que a cumprimentam por este pronunciamento de quem conhece, viveu e vive a realidade do Estado do Rio Grande do Norte, mas conhece também os problemas que afligem boa parte dos Estados nordestinos. Hoje pela manhã, numa audiência pública conjunta da Comissão de Direitos Humanos e outras comissões, quando discutíamos a questão de direitos humanos, fui informado dos convidados para a próxima sessão que ocorrerá sobre a transposição das águas do Rio São Francisco, na próxima quinta-feira, às 9 horas. A sugestão do Senador Eduardo Suplicy de que fosse feita aqui no plenário foi acatada e aceita pelo Presidente Garibaldi Alves Filho. E naquela oportunidade eu defendi a presença do Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, que é o Presidente do comitê em favor da transposição das águas do Rio São Francisco na Paraíba e também o coordenador nacional da pastoral da criança, da CNBB.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Senador Cícero, eu já tinha, no início do pronunciamento, inclusive, me colocado parabenizando essa sua iniciativa e a aprovação para que ele estivesse aqui presente, até para mostrar ao Brasil que um bispo fez greve de fome, mas que não é esse o sentimento da Igreja. Pelo contrário.

            O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Exatamente, Senadora. E para minha alegria, quero comunicar que Dom Aldo não poderia estar aqui presente, porque coordenará, exatamente na quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira, em João Pessoa, na Paraíba, o Encontro Regional de Arcebispos e Bispos. Mas após ter sido feito o apelo para aprovação do seu nome, quero afirmar que ele confirmou sua presença. Vai sair de madrugada de João Pessoa, direto para a sessão, e retornará em seguida, dando uma demonstração da importância da transposição das águas para nosso povo. Como bem disse o Senador José Agripino, não é possível que alguém possa negar um copo d’água. É importante a irrigação? É. A geração de emprego é fundamental? É. Agora, quanto à água para beber, tenho certeza de que ninguém terá capacidade de negar a um povo que muitas vezes tem o feijão para cozinhar, mas não tem a água para ferver o feijão. O Senador José Agripino citou o Colorado. Eu cito aqui, Senador José Agripino, o Rio de Janeiro. O que seria daquele Estado se não fosse feita a transposição do Rio Paraíba do Sul? Então, tanto eu como o Senador Efraim Morais, que preside a sessão neste instante, somos de um Estado que já tem como nome Paraíba, que em tupi quer dizer “rio ruim”. Espero que esse Rio Paraíba possa ser perenizado, garantindo água para o povo de Campina Grande e da região e, num futuro bem próximo, inclusive para os habitantes da grande João Pessoa, para poderem beber e fazer uso dessa água, que não é só daqueles que estão às margens do rio, mas de todo o povo brasileiro. Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Peço que conclua, Senadora.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Sr. Presidente, eu vou concluir.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - V. Exª me permite um segundo, Senadora?

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Pois não, Senador.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Desculpe, mas a senhora usou uma expressão que realmente me confundiu um pouco pela sensibilidade. Em sua exposição, a senhora falou em água viva. É uma coisa tão maravilhosa que me fez lembrar de um batizado a que compareci. O padre, na hora do batismo, pegou a concha de água e disse: “A água é vida.” Por isso que se batizam as pessoas com a água: porque ela é vida. Então, não há como se negar a ninguém o direito à água, como disse o Senador. Não vou entrar no mérito do São Francisco, mas fico amargurado com isso.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Então, quero cumprimentar V. Exª. Vamos lutar para termos sempre água viva, para que toda a sociedade brasileira possa dela dispor.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - É verdade, Senador, a água é vida. E nós estamos agora na campanha da fraternidade em defesa da vida. Então, água também para salvar a vida daqueles que não estão tendo esse direito.

            Eu gostaria aqui de falar, Sr. Presidente, complementando, mais uma vez, sobre a presença de Dom Aldo Pagotto, que é muito importante. Pena que não tenham sido convidados todos os presidentes das comissões estaduais em defesa da transposição, bem como figuras exponenciais que têm um brilho maravilhoso, que nos ilumina e nos abençoa, como - Dom Aldo Pagotto vai estar aqui - Dom Heitor Sales, D. Matias, que são os Bispos do nosso Estado, e estão todos em defesa da nossa transposição.

            Para finalizar, eu gostaria só de agradecer os apartes, a contribuição. E na quinta-feira nós teremos aqui, com certeza, um debate bastante produtivo: em defesa da vida - água para aqueles que precisam.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um breve aparte? Peço só trinta segundos.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Eu peço permissão à Mesa, já que passamos do tempo.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Exatamente trinta segundos.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Pois não, Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É para reforçar, Senadora Ciarlini, como será importante o debate. E eu gostaria de reiterar o convite a todos os Senadores e Senadoras para, quinta-feira, a partir das 9 horas, participarem do debate com o Ministro Geddel Vieira, Dom Luiz Flávio Cappio, Dom Aldo Pagotto, o Deputado Ciro Gomes e quatorze pessoas que, de maneira equilibrada, vêm ponderar a favor e com outro ponto de vista - contrário ou crítico - ao projeto sobre as águas do Rio São Francisco. Agradeço a V. Exª por trazer o tema ao Plenário do Senado.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Eu agradeço também, Senador, a lembrança, porque V. Exª falou do ex-Ministro Ciro Gomes, que, quando foi Governador do Ceará - eu o acompanhei, porque a minha cidade faz limite com o Ceará, e é o Vale do Jaguaribe. Em um momento crítico, de muita dificuldade, de crise, em Fortaleza, foram as águas do Jaguaribe, por intermédio de um canal de transposição, que deram vida àquela cidade. Foi também muito bem lembrada a cidade do Rio de Janeiro, que deve ao Vale do Paraíba, ao rio Paraíba, a sua água, que também foi transposta.

            Senador Cícero, se Paraíba - eu não sabia, apesar de ter morado lá por três anos fazendo o curso de Medicina - quer dizer “rio ruim”, nunca vi uma terra que tem um nome que significa “rio ruim” ter gente tão boa, como é o povo paraibano.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.

            O Senador José Nery ainda deseja um aparte, mas infelizmente o meu tempo já está esgotado.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Concederei ao Senador José Nery a palavra, para uma questão de ordem.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Já abusei da boa vontade do Sr. Presidente. Agradeço.

            O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - V. Exª teria mais 10 minutos, pela sua última frase, pelo tratamento que tem dado aos paraibanos, principalmente em relação ao fato de a Paraíba ser uma terra de gente boa. Concordo com V. Exª.

            A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN) - Com certeza, Senador Efraim. Tenho gratas recordações. Muito aprendi. Tenho muito agradecimento àquela terra tão boa que é a Paraíba, que está sempre com o Rio Grande do Norte. Temos uma sintonia muito grande para fazermos crescer o nosso Nordeste.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/02/2008 - Página 1185