Fala da Presidência durante a 18ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao eminente brasileiro Senador Jonas Pinheiro, que exerceu importantes cargos, dedicando sua vida pública ao País e em defesa da agricultura brasileira.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao eminente brasileiro Senador Jonas Pinheiro, que exerceu importantes cargos, dedicando sua vida pública ao País e em defesa da agricultura brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 29/02/2008 - Página 3963
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, FAMILIA, HOMENAGEM POSTUMA, JONAS PINHEIRO, SENADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, CONTRIBUIÇÃO, AGRICULTURA, ESPECIFICAÇÃO, TRABALHO, NEGOCIAÇÃO, DIVIDA AGRARIA, PRODUTOR RURAL, CONSTRUÇÃO, ACORDO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), MINISTERIO DA FAZENDA (MF).

     O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Havendo número regimental, declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

     A presente sessão especial destina-se a homenagear o eminente brasileiro Senador Jonas Pinheiro, que exerceu importantes cargos, dedicando sua vida pública a serviço do País e em defesa da agricultura brasileira.

     Nos termos dos Requerimentos nºs 156 e 160, de 2008, de autoria dos Senadores Jayme Campos, Marconi Perillo e outros Srs. Senadores e Senadoras, passo, então, a anunciar o nome dos oradores que usarão da palavra.

     Enquanto isso, vamos compor a Mesa dos nossos trabalhos, convidando, inicialmente, a Deputada Celcita Pinheiro, viúva do Senador Jonas Pinheiro, para que componha a Mesa; o Sr. Giorgio Pinheiro, filho do nosso Colega Jonas Pinheiro; a Srª Giani Antonia Pinheiro, filha do nosso Jonas Pinheiro; o Senador Jayme Campos, na qualidade de subscritor do requerimento. E, ainda, convido o Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, que está aqui presente.

     Na verdade, eu não estou me guiando aqui pelo Cerimonial. Eu estou me dirigindo, desta maneira, a todos os presentes, por saber da contribuição clara do Senador Jonas Pinheiro aos trabalhos da CNA, mas não sei efetivamente se algum diretor está presente neste momento. Aliás, fui informado de que está presente o Presidente da CNA, Dr. Fábio Meirelles.

     Inicialmente peço desculpas, Dr. Fábio Meirelles, pelo pequeno pecado cometido pelo Cerimonial. Mas o maior pecado foi meu, porque eu gostaria de ter identificado logo V. Sª, tendo em vista que já nos encontramos em várias oportunidades, quando vi V. Sª agir sempre na defesa da nossa agricultura como dirigente da Confederação Nacional de Agricultura. Convido V. Sª a tomar assento à Mesa, o que nos dará grande honra.

     Srªs e Srs. Senadores, autoridades que compõem a Mesa e que acabaram de ser nomeadas, foi com enorme pesar que esta Casa recebeu a notícia do falecimento do Senador Jonas Pinheiro, ocorrido no último dia 19 de fevereiro.

     Na verdade, tivemos de enfrentar, juntamente com seus amigos e principalmente com sua família, dias de intensa angústia porque o Senador Jonas Pinheiro foi acometido de uma doença que o levou à UTI e de lá ele não nos deu condições mais de convivência.

Deixa aqui no Senado um vazio impreenchível, assim como na vida política do Brasil e, sobretudo, na de seu amado Mato Grosso.

     Para nós, seus colegas Senadores e para todos os funcionários desta Casa, fica a saudade do homem simples e afável, que aprendeu com seu pai que a honestidade e o trabalho devem ser as primeiras virtudes de um homem de bem.

     Jonas Pinheiro era amado no Mato Grosso. Pude constatar isso quando, em companhia de 25 colegas Senadores, estivemos em seu sepultamento. Vimos a comoção popular, vimos o povo de Mato Grosso em sua casa, e a multidão tomava todas as ruas que circundavam a sua residência. Vimos como o povo chorou a morte de Jonas Pinheiro. Era o justo reconhecimento dos mato-grossenses ao trabalho incansável de um homem que se dizia “representante do lavrador no Senado”, representante do homem do campo.

     Jonas Pinheiro era possuído desse amor pela sua terra, e isso se mostrou presente em todas as ocasiões, diuturnamente, no plenário e nas Comissões desta Casa, onde ele defendia, com conhecimento, é verdade, porque foi técnico agrícola, teve formação técnica nessa área. E me dizia, há pouco, o médico veterinário, o Sr. Josélio de Andrade Moura, que se encontra entre nós, Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, da qual Jonas Pinheiro era um dos integrantes, fazendo parte da direção científica.

     Além do conhecimento, o que se notava em Jonas Pinheiro era o ardor, o entusiasmo, a vontade de transformar uma realidade que ele via ser injusta: aquela em que vive ainda hoje o homem do campo. Então, ele não perguntava apenas por que, como dizia o escritor. Ele perguntava por que não? Por que não transformar aquilo? Por que não dar ao agricultor melhores condições de vida, de trabalho? Ele me disse várias vezes que não entendia como se subsidiava o agricultor, o verdadeiro agricultor na sua tarefa diuturna.

     Em 25 anos de vida parlamentar, militou assim, dessa maneira, defendendo a causa da agricultura. Eu já tive oportunidade de dizer à Deputada Celsita, na sua emoção, pode não ter observado, mas eu tive a oportunidade de dizer que me comoveu o fato de ter sido colega de Jonas Pinheiro na CPI do Endividamento Rural. Era comovente a maneira como ele trabalhava naquela CPI. 

     Eu não poderia deixar de assinalar que esse trabalho que a CPI realizou se constituiu numa base para que, depois, ele pudesse ser aqui, nas Comissões de Agricultura e na de Reforma Agrária, um defensor dessa causa. Travou uma batalha incessante, que terá, certamente, continuadores: a batalha de processos de renegociação das dívidas dos produtores rurais.

     Era integrante da Oposição, membro do Partido Democratas, liderado pelo Senador José Agripino, mas se colocava na linha de frente para negociar com o Governo, em nome da agricultura e dos agricultores que viviam e que vivem ainda hoje esse penoso processo de endividamento rural.

     Não tenho dúvidas de que os avanços conquistados têm a marca desse trabalho de Jonas Pinheiro. Grande conhecedor de todos os aspectos do agronegócio, ele conseguiu construir um acordo entre os Ministérios da Agricultura e o da Fazenda, juntamente com outros Parlamentares, para prorrogar o prazo de amortização das dívidas e melhorar as condições de pagamento.

     Portanto, não é apenas o Estado de Mato Grosso que chora a morte de Jonas Pinheiro. São todos os produtores rurais, as suas famílias, que devem ao trabalho dele tudo isso que se obteve ao longo dos anos, apesar de se saber que não foi muito e que é preciso fazer muito mais.

     Talvez a melhor definição que eu possa encontrar para o colega e amigo derive de suas próprias palavras. Jonas Pinheiro era um lavrador da política! Como lavrador, trabalhou de sol a sol para defender seus ideais.

     Não era um homem de discussões filosóficas nem usava aquele jargão técnico, apesar de ter sido um técnico. Era um homem de trabalho árduo que, com simplicidade e dedicação, arava o terreno na certeza de que depois colheria os frutos.

     Em 13 anos de Senado, apresentou 59 proposições, sendo 33 projetos e 26 requerimentos, em sua maioria versando sobre a agricultura e o meio ambiente.

     Acreditava, como todos nós acreditamos, que estimular a atividade econômica do campo era a melhor maneira de combater o êxodo rural, principal responsável pelo agravamento da miséria e pelo aumento da criminalidade nos grandes centros.

     Fixar o homem no campo, por meio da geração de emprego e aumento de renda na agropecuária, era para ele a grande saída para as mazelas sociais do Brasil.

     Portanto, ao homenagear Jonas Pinheiro, eu quero dizer a sua família do imenso pesar desta Casa por esta perda. Para todos nós, que fomos seus colegas, ele deixou essa impressão, essa certeza de que nós perdemos um homem que dedicou a sua vida ao trabalho em favor do homem do campo.

     Quero contar até uma história que eu conto sempre e que contei lá em Mato Grosso, porque ela revela ao mesmo tempo todo o sofrimento do homem do campo e o humor com que ele enfrenta suas dificuldades. Foi uma história que ouvi com Jonas Pinheiro quando ele, na CPI do Endividamento Rural, foi abordado. Eu não me lembro exatamente onde, porque nós percorremos muitos lugares, um homem do campo disse a ele: “Olha, Senador Jonas, aqui não se trata mais as nossas mulheres por minha querida, as nossas mulheres nós não podemos mais chamá-las mais de minha... Nós só podemos chamá-la de amada, de querida, mas não podemos chamá-la de meu bem, porque, senão, o banco penhora”.

     Então, a partir dessa e de outras histórias, eu fiquei certo de que a identificação do homem do campo com ele era uma coisa maior do que a gente sentia aqui, até mesmo nos seus discursos. Por isso, eu faço questão de, nesta hora, na qualidade de seu colega, de seu amigo, mas de Presidente do Senado, dizer que o trabalho realizado por ele será sempre lembrado por nós, mas que será o trabalho realizado por ele, sobretudo, sempre lembrado por aqueles que estão no campo à espera de que possam surgir outros Jonas Pinheiros para defender a sua causa e a sua luta.

     Muito obrigado. (Palmas.)

     Registro a presença do nosso colega durante muito tempo Senador Maguito Vilela, hoje Diretor Vice-Presidente do Banco do Brasil; registro sua presença e sei que S. Exª sentado em uma dessas cadeiras vai se sentir tão bem como se estivesse sentado aqui à Mesa dos nossos trabalhos.

     Peço ao Senador Jayme Campos que assuma a Presidência dos nossos trabalhos porque tenho que estar no meu gabinete para receber o Ministro Guido Mantega, que vem entregar ao Senado Federal o projeto de reforma tributária.

     Peço desculpas à família se vou me ausentar, mas fica aqui um amigo, um companheiro do nosso Senador Jonas Pinheiro, que é o Senador Jayme Campos, que passa a presidir a sessão neste momento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/02/2008 - Página 3963