Discurso durante a 54ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao Dia do Exército Brasileiro, comemorado no dia 19 de abril, em referência à vitoriosa Batalha dos Guararapes.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.:
  • Homenagem ao Dia do Exército Brasileiro, comemorado no dia 19 de abril, em referência à vitoriosa Batalha dos Guararapes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 9900
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, EXERCITO, DEPOIMENTO, ORADOR, CINQUENTENARIO, ATUAÇÃO, QUALIDADE, POLICIAL, PARCERIA, FORÇAS ARMADAS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DEFESA, TERRITORIO NACIONAL, SOBERANIA NACIONAL, IMPORTANCIA, MODERNIZAÇÃO, EQUIPAMENTOS, DEFESA NACIONAL, ATENDIMENTO, AMEAÇA, FRONTEIRA, REGIÃO NORTE, DROGA, TRAFICO, GUERRILHA, TERRORISMO.
  • ELOGIO, OFICIAIS, VOLUNTARIO, PREPARAÇÃO, EXERCITO, ATUAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, SUPERIORIDADE, CONHECIMENTO, POLITICA INDIGENISTA, REGIÃO, DEPOIMENTO, QUALIDADE, HOSPITAL MILITAR, NAVIO, MARINHA, ASSISTENCIA, SAUDE, POPULAÇÃO, COOPERAÇÃO, AERONAUTICA, TRANSPORTE AEREO.
  • COBRANÇA, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, FORÇAS ARMADAS, DIVERSIDADE, FUNÇÃO, DEFESA CIVIL, CALAMIDADE PUBLICA, COMBATE, AGENTE TRANSMISSOR, EPIDEMIA.
  • REPUDIO, TENTATIVA, UTILIZAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, SUBSTITUIÇÃO, POLICIA.

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Ilustre Presidente, Senador Garibaldi Alves Filho, a quem preliminarmente agradeço por ter inserido na pauta a cerimônia desta sessão, pela sua sensibilidade, amor à Pátria e respeito às Forças Armadas; ilustre Presidente da Câmara, que vem se destacando na conduta daquela Casa, Deputado Federal Arlindo Chinaglia, companheiro de São Paulo; Exmº Sr. Comandante do Exército, General-de-Exército Enzo Martins Peri; Secretário-Geral da Marinha, Almirante-de-Esquadra Alvaro Luiz Pinto, representando o comandante da Marinha; Sr. Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito - quero dizer sentar perto de um brigadeiro significa chegar mais fácil ao céu; acho que estou certo, não é, Brigadeiro? -; Exmº Sr. Presidente do Superior Tribunal Militar, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Flávio de Oliveira Lencastre; Sr. Ministro General Magioli, do Superior Tribunal Militar; Sr. Ministro General Fernandes, do Superior Tribunal Militar; Srs. Embaixadores representantes do Corpo Diplomático; Srªs e Srs. Deputados Federais e Senadores; meu amigo Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, General Cândido Vargas de Freire, obrigado pela presença de todos.

Hoje pela manhã, quando levantei, a primeira coisa que fiz foi ligar para minha mulher e perguntar-lhe se minha farda de tenente ainda estava limpinha e no cabide. Ela disse: “Está aqui. Você não quer que tire? Não cabe nem no meio da sua barriga”. Eu disse: “Mas guarde-a porque meu espírito, minha alma, meu coração estão aí dentro”.

Hoje, General, pela manhã, pus meu terno mais escuro, por respeito a uma solenidade tão importante, e peguei uma gravata que recebi do Adido do Exército nesta Casa com a inscrição “EB” (Exército Brasileiro), que uso, com muito orgulho, no dia de hoje.

Desculpem-me a emoção. A idade faz com que a emoção aflore mais rápido. (Palmas.) Com a idade, nossa vida vai se transformando em um filme, que, em cerimônias como esta, passa pela nossa cabeça.

Durante cinqüenta anos, exerci a missão de policial. Provavelmente, a maioria deles junto às Forças Armadas, pelas missões importantes que a polícia sempre tinha e precisava contar com o apoio das Forças, tanto do Exército, quanto da Marinha e da Aeronáutica, principalmente na Região Amazônica.

Há pouco eu conversava com um coronel sobre o General Rodrigo Octávio. Quando falava sobre a Amazônia, ele deixou uma frase importantíssima que está numa revista, mas eu a esqueci no meu gabinete. Acho que a frase, o coronel me ajudou a lembrar, é: “Árdua é a missão de defender a Amazônia. Muito mais árdua, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la”.

Todos nós, na juventude, aprendemos a ver a Amazônia como um bem nacional, por isso a soberania, a qualquer preço, tem de ser mantida naquela região. Não podemos nos esquecer de que quem primeiro chamou a atenção da sociedade brasileira e dos governantes foi Rodrigo Octávio. E isso está, acredito eu, na memória de todos. Aqueles que passam pela escola militar não deixam de estudar um pouquinho a vida de Rodrigo Octávio. Peço licença para repetir isso com a força enorme do meu coração, em razão de tudo o que vem sendo discutido ultimamente na Região Amazônica.

Eu trouxe aqui alguns dados de uma entrevista coletiva que o General Heleno, meu amigo quando Major, concedeu. Trabalhamos juntos na Presidência da República, eu como delegado e ele como o oficial encarregado de atender às camadas mais necessitadas da população. A logística que ele tinha era militar, mas eficiente para a atividade civil. E, acompanhando o seu trabalho, senti o que o Exército oferece à Nação brasileira.

Hoje, ele está lá na Amazônia e tem a coragem de falar, pelo Verde-Oliva - estão aqui praticamente todos os seus comandos -, sobre como o Exército está passando por dificuldades em manter suas missões.

Ainda anteontem conversava com o Ministro Unger, e ele dizia que entre os cinco pontos que pretende discutir com o Governo Federal estão dois: a visita à Rússia com o Ministro Jobim, bem representado nessa Mesa, e a Amazônia, na tecnologia moderna de material de defesa. Não é isso, General Joilson? Eu conversava com o General Joilson, e ele disse assim: não fale em armamento militar, porque todo mundo se assusta, mas em material de defesa.

Eu sei que o Exército Brasileiro se preocupa com a defesa, com a garantia da soberania e não é beligerante em situações que possam ocorrer. Quando eu estava no CPOR, tínhamos o inimigo vermelho, e éramos do exército azul; mas sempre se discutia como defender melhor o País de uma possibilidade de invasão.

Numa recente visita à Amazônia com o ex-Comandante, nós perguntamos se o Exército Brasileiro teria capacidade, com essa mudança do grande número de unidades militares do sul - a Argentina era a grande preocupação, hoje é uma nação amiga e sócia no Mercosul - para a região norte, porque hoje todo o perigo é oferecido nessa região, onde a produção de drogas, o narcotráfico, as guerrilhas revolucionárias, o narcoterrorismo, enfim, tudo ocupa a nossa região de fronteira; eu diria que, em tese, estamos quase cercados por eles. Então, eu dizia que não temos a capacidade, se um exército regular, com a força e armamento - aí tenho que falar em armamento, general -, e militarmente bem preparada, de impedir a ocupação e, sim, de procrastinar a ocupação, como se fosse um exército de guerrilha.

Eu sei que a escola de preparação de sobrevivência na selva, onde fiz convênios para preparar policiais para trabalharem e sobreviverem naquela região, tem cursos espetaculares de preparação de oficiais. E são voluntários. Não tenho conhecimento de nenhum oficial, Deputado, que tenha ido para lá por obrigação ou por determinação do seu comando; são todos voluntários. E esses cursos trazem, sem dúvida nenhuma, um conhecimento profundo da região e de como é a sobrevivência.

Por isso é que eles conhecem o problema indigenista daquela região. Ainda ontem, na televisão, o General Heleno fez uma brilhante exposição sobre a convivência com as comunidades indígenas na Região Amazônica. E estou falando como testemunha que viveu nessa região, General Pedro. Lá existem os pelotões de fronteira, e alguma dificuldade para se completar toda a infra-estrutura do Calha Norte. Chegou um período em que o Calha Norte não tinha dinheiro para manutenção. As pistas que a Aeronáutica usava para pousar não tinham mais sobrevida, não davam mais para pousar. E V. Exªs sabem que, para se chegar ou sair da Região Amazônica, é por mar ou pelo ar; e quando se chegava na região dos ianomâmis, por exemplo, um grande número de índios iam pedir carona às Forças Armadas para buscarem assistência à saúde ou qualquer coisa.

O Hospital de Tabatinga é um hospital de primeira grandeza. Fiquei lá um dia e meio, porque tive um problema cardíaco e me botaram na mão do médico, e não do general. Então, fiquei com eles e pude ver a dedicação que têm pela comunidade que lá vive, sejam brancos, índios, não importa. É o menor índice brasileiro de cesarianas. É a capacidade de um trabalho permanente de assistência à saúde pelas Forças Armadas. A Marinha tem navios que lá percorrem. Lembro-me de Lábria, onde a malária é permanente. Lá, o navio de saúde da Marinha está sempre presente. E lá os índios cantam o Hino da Aeronáutica; provavelmente não sabem o Hino Nacional Brasileiro, mas o da Aeronáutica eles sabem.

Além disso, toda a arte de figuração, de imaginação deles é dedicada às Forças Armadas, principalmente à Aeronáutica, pela presença permanente naquela área.

A Força foi perdendo os seus aviões. Os aviões foram sendo sucateados, cada um tirava uma peça, até que sobrou só um. É isso que eu digo. O Ministro Unger vai discutir o que a Nação quer das Forças Armadas. Mas eu pergunto: hoje, com a situação que temos, o que a Nação está oferecendo às Forças Armadas para elas cumprirem suas missões? Ela é hoje, General Peri, praticamente pau para qualquer obra.

Eu trouxe aqui hoje e foi distribuído nas folhas de jornais para nos orientar: “Exército e Defesa Civil ajudam vítimas da enchente”. Eles estão presentes. Hoje estão contra um exército que está matando muita gente: o exército de mosquitos. A estratégia militar está sendo usada pelos seus soldados para um combate eficiente e para a conscientização da população, principalmente do Rio de Janeiro, que V. Exª tão bem representa, Deputado.

É importante essa participação ativa em todos os casos em que a Nação, por intermédio dos seus cidadãos, faz um apelo, faz suas orações para ser salva. Então qual é o primeiro pensamento da autoridade? Vamos chamar o Exército, vamos chamar a força militar para colaborar no sentido de minorar o sofrimento. E lá estão as barracas com os médicos das Forças Armadas para tentarem salvar aqueles que já foram picados pelo mosquito da dengue.

Eu me lembro, General Joelson. Quando V. Exª era Comandante Militar do Nordeste, houve uma grave greve de segurança e a própria polícia deixou de patrulhar as ruas. Houve cerca de 28 assassinatos, homicídios, pela falta de policiamento. Os senhores receberam a missão de ocupar para substituir. É difícil para as Forças Armadas substituírem a polícia. Mas era necessária a presença de força para inibir a criminalidade e continuar a liberdade que havia. E o que aconteceu? Cinco dias para juntar uma força para ocupar a região ameaçada.

Então, quando o general voltou e assumiu um cargo no Ministério da Defesa, nós começamos a trabalhar num projeto de mobilização. Provavelmente, a comunidade brasileira, fora das Forças Armadas, não tem conhecimento do que é um projeto de mobilização e a sua necessidade presente nesta altura do campeonato, em que a sociedade vem sofrendo uma série de investidas de forças perigosas, como o mosquito da dengue, da febre amarela. Parece brincadeira, parece piada, mas está matando. A única salvação é o Exército.

Então, quando se vai discutir o que a sociedade brasileira, por meio dos seus governantes, quer das Forças Armadas, do Exército, eu me acautelo: não pode ser polícia. Elas têm uma missão nobre da defesa interna e externa, da soberania nacional, investir contra qualquer tipo de ameaça.

As Forças Armadas não estão com um salário digno, não têm equipamentos, têm de improvisar. E é claro que a disciplina e a hierarquia se sobrepõem a qualquer interesse pessoal e individual de qualquer um dos senhores.

Sei das necessidades e das dificuldades por que cada um passa. Sei o que é um oficial ir para a reserva, sem outra oportunidade de continuar a trabalhar: é ir para casa esperar a morte chegar. Sei disso. Senti isso. Tive amigos que passaram por isso. Quatro, cinco meses depois de deixarem a Força foram para casa para morrer, porque não tiveram opção e não tiveram o respeito da sociedade.

Perdoem-me a emoção, porque estou me lembrando deles e sei da agonia e da angústia de cada um, quando recebia um telefonema, ou na Polícia ou quando já aqui, e não sabia o que fazer.

Temos de pensar seriamente nas necessidades das Forças Armadas para cumprirem a sua nobre missão, com o sacrifício da própria vida e dos interesses pessoais. E vamos lutar por isso. Já estou velho, estou com 76 anos, e espero que Deus me mantenha vivo até poder ver o sorriso de vitória por terem conquistado tudo aquilo que as Forças Armadas necessitam no meu fim de vida.

Muito obrigado.

Agradeço aos senhores pela atenção. (Palmas.)

Acabei não lendo o discurso. Acho que a alma e o coração falaram mais alto.

Obrigado, senhores.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR ROMEU TUMA.

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           O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de amanhã, transcorre o Dia do Exército, motivo desta sessão especial que solicitei ao Senado da República para o reverenciarmos em nome dos Estados brasileiros.

           Um dia de festa e de angústia. Assim se pode descrever o paradoxo que estará presente na data escolhida pela Pátria para balizar homenagens ao “braço forte, mão amiga”, que lhe asseguram existência como a maior nação multirracial do mundo, desde a expulsão do invasor estrangeiro de nossas terras, há 360 anos.

           Em nosso caso, a aparente incoerência de ocorrer bipolaridade entre festa e angústia a um só tempo decorre dos equívocos governamentais com relação ao nosso Exército “há pelo menos duas décadas”, conforme as palavras de quem exerce autoridade sobre a mais nevrálgica região do País - o General Augusto Heleno Pereira, Comandante Militar da Amazônia. Dentro dos limites da hierarquia e disciplina inerentes à profissão, ele juntou sua voz, através do programa “Canal Livre” da TV Band, dia 6 último, à dos chefes militares seus antecessores no preocupante alerta sobre a situação das Forças Armadas, desprovidas de equipamentos e salários à altura da missão.

           O ilustre militar lembrou que, no último almoço anual dos oficiais-generais com o Presidente da República, ouviu o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar ser “inadmissível um país com a estatura estratégica do Brasil ter Forças Armadas mal equipadas e mal pagas.” E definiu a situação dos seus 25 mil comandados ao longo de onze mil quilômetros de fronteiras, ressaltando:

           “O combatente de selva brasileiro é um dos mais preparados, mas um dos mais mal aparelhados do mundo”.

           Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, existe algo dotado de representatividade ímpar do nosso cadinho de raças, impregnado de sentimento pátrio desde que brancos, índios, negros, cafuzos e mulatos consolidaram o alicerce da nacionalidade na vitoriosa batalha dos Montes Guararapes, em Pernambuco, no longínquo, mas sempre lembrado 19 de abril de 1648. Esse algo é o Exército Brasileiro. Com raízes em todas as camadas sociais, sem distinções de qualquer natureza, a Força Terrestre nasceu ao mesmo tempo que aquele sentimento, no processo histórico destinado a consagrar um Brasil uno, independente, indivisível e soberano no dia 7 de setembro de 1822.

           Nessa heróica caminhada, as três Forças Armadas despontaram como instituições nacionais permanentes para garantir a integridade territorial e a paz interna, bem como a convivência pacífica e o respeito por este País gigante e belo no cenário internacional. São o povo em armas. Sua missão, expressa em todas as Constituições brasileiras desde o Império, configura compromisso que exige honra, bravura e dedicação total à Pátria, inclusive, se necessário for, imolando-se por ela.

           Sem dúvida, pormenores históricos dessa trajetória serão esmiuçados pelos oradores inscritos hoje, assim como têm sido toda vez que a Casa homenageia o Exército e seu Patrono, Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Posso, portanto, resumi-los de maneira a liberar parte de meu tempo na tribuna para tratar do que mais importa no momento, isto é: o sentimento de imobilidade diante da defasagem entre o interesse estatal e as necessidades nacionais de defesa mediante capacidade de dissuasão. Isto porque, além de estar preocupado com essa realidade como qualquer cidadão e oficial da Reserva verde-oliva, tenho obrigação de agir como Presidente da Subcomissão Permanente para Modernização e Reaparelhamento das Forças Armadas.

           Integrada pelos ilustres Senadores Eduardo Azeredo, Vice-Presidente; Jefferson Peres, Relator; Flexa Ribeiro, Marcelo Crivella, Marco Maciel, Paulo Duque e Pedro Simon, ela pertence à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, uma vez que cumpre à Casa incentivar, normatizar e fiscalizar aquele reequipamento. Daí, a minha proposta para sua criação, em 2006.

           Nosso objetivo é acompanhar "pari passu" os procedimentos do Poder Executivo. Mas, realmente, os canais financeiros para a modernização militar afiguram-se mesquinhos e até cruéis, devido à má vontade e insensibilidade de décadas perante o já inacreditável estágio de sucateamento das Forças Armadas.

           Digo inacreditável porque, desde os anos 80, sucedem-se propostas antiobsolescência rotuladas com belos, mas inócuos títulos, tais como Força Tarefa 90, Força Tarefa 2000 e por aí afora, todas sucumbindo sob ditames orçamentários. A constante escassez de recursos obstou os programas e colocou o País em risco ao criar dependência externa num setor crítico.

           Chegamos a possuir uma indústria bélica respeitada internacionalmente, não com o intuito de nos militarizarmos para matar, mas sim para nos defendermos. Conseguimos figurar entre os dez maiores exportadores de material militar. Mas, a nossa produção especializada no setor, desprotegida e enfraquecida internamente, acabou massacrada pela concorrência estrangeira.

           Hoje, nem a aquisição de navios polares modernos se afigura possível em face das periódicas e insanas privações orçamentárias. E olhem que nossa presença na Antártida data de 1982, com a participação de centenas de cientistas brasileiros nas pesquisas da Estação Comandante Ferraz. Assim, a questão orçamentária tirou do Brasil a liderança entre as nações emergentes que atuam numa região de crescente importância científica e estratégica no concerto mundial.

           Aliás, ainda ecoa a advertência feita por especialistas, há algum tempo, de que "o Brasil perderá a liderança sul-americana na área militar em um prazo de dez anos", se não proceder à modernização. O que dizer, então, com referência aos equipamentos necessários para a segurança dos 16.886 quilômetros de nossas fronteiras terrestres e 7.367 quilômetros de linha litorânea?

           O que dizer quanto ao Mar Territorial - uma Amazônia Azul com mais de quatro milhões de quilômetros quadrados - e à Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas marítimas de largura, áreas plenas de atividades que nos proporcionam suficiência energética e alimentar, seja graças à enorme variedade de peixes, crustáceos e moluscos, seja através da vastidão dos campos petrolíferos, sem citar outros imensuráveis recursos que ali se ocultam? Como ignorar as necessidades da Marinha e da Aeronáutica para garantir soberania e segurança nessa imensidão oceânica por onde passam 95% do nosso comércio internacional?

           E, ainda, o que dizer quanto à Amazônia propriamente dita, como lastro da futura liderança brasileira no ranking ecológico das potências mundiais? De que maneira, sem vigilância eficaz pelas Forças Armadas, especialmente o Exército, poderemos garantir-lhe integridade diante da cobiça internacional por ser o maior bioma terrestre, abrangendo metade dos 61% de território brasileiro compreendidos na Amazônia Legal ou seja, seis milhões de hectares de incomparável floresta e inestimáveis reservas ecológicas e minerais?

           Uma sintética resposta está nas palavras do General Heleno. Referindo-se aos rincões amazônicos sob os seus cuidados, ressaltou esse militar, famoso também pela atuação como comandante da Força de Paz da ONU - Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) -, que "a luz amarela já acendeu algumas vezes."

           É importante o País tornar insofismável a consciência de que toda aquela riqueza não caiu do céu. Foi conquistada com sangue pelo braço forte dos descobridores, colonizadores, bandeirantes e, finalmente, dos combatentes que, nos Montes Guararapes, deram origem à mão amiga verde-oliva e abriram caminho para a Independência. Portanto, só a história das Forças Armadas basta para motivar urgência de dotação orçamentária à altura dos equipamentos e da justa retribuição pecuniária de há muito almejada pelos que devem usá-los a serviço da Pátria.

           Desde Guararapes até as missões de paz a serviço das Nações Unidas, passando pelo heroísmo evidenciado na II Guerra Mundial, todos os acontecimentos estão a demonstrar que essas organizações permanentes materializam o sentimento de afirmação nacional.

           Mais de três séculos atrás, a Holanda apoderou-se do Nordeste brasileiro e fixou seu centro político-administrativo em Pernambuco. Feriu, assim, valores do nascente sentimento nativista, a ponto de unir brancos, índios, negros e mestiços em defesa dos seus ideais e da sua terra contra um inimigo comum. Constituíram o embrião do Exército Brasileiro.

           Guerreiros indômitos de ambos os lados avultaram em meio a atos de heroísmo. Os pernambucanos combinaram conhecimento do terreno à agilidade e à surpresa para obter máxima eficácia de seus artefatos rudimentares e compensar a inferioridade em armas e efetivos. Ousaram e venceram.

           Em 1649, a 2.ª Batalha de Guararapes assinalou a vitória da Insurreição Pernambucana, consolidada com a expulsão dos holandeses em 1654. Nela, personagens como o General Francisco Barreto de Menezes, João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Sargento-Mor (ou Major) Antônio Dias Cardoso, Henrique Dias, Felipe Camarão e Matias de Albuquerque, além de centenas de heróis anônimos, transformaram-se em esteio da nacionalidade.

           A combatividade do soldado brasileiro marcou também a Guerra da Tríplice Aliança, no cone sul do Continente, durante a segunda metade do século XIX. Sua participação foi decisiva igualmente para a Abolição da Escravatura, assim como para a proclamação e consolidação da República. No conturbado período imperial anterior, nossos militares desempenharam função moderadora idêntica à exercida pelo Imperador na Monarquia.

           Desde os tempos coloniais, eles se mostram presentes nas fortificações, na cartografia, nos arsenais e em inúmeras atividades subsidiárias de apoio à economia brasileira, principalmente em regiões distantes e inóspitas, onde a iniciativa privada se mostra muito onerosa e, portanto, pouco atraente. Suas missões incluíram e continuam abrangendo a construção de estradas, ferrovias, pontes, viadutos, túneis, aeroportos, instalações portuárias, açudes, poços artesianos, tubulações de água e esgoto, além de mapeamentos e demarcações. A Lei Complementar n.º 97, de 9 de junho de 1999, regulamenta essa cooperação das Forças Armadas com o desenvolvimento nacional e a defesa civil.

           A par disso, além de garantir a sobrevivência das instituições e a integridade territorial, viram sua história ser robustecida pela incomparável obra do Marechal Cândido Rondon, que desbravou mais de cinqüenta mil quilômetros de sertão e estendeu dois mil quilômetros de fios de cobre por regiões inóspitas e longínquas, onde fez chegar a comunicação por telégrafo.

           Inúmeras provas de valor nos deram durante a 2.ª Guerra Mundial depois que, em 1942, o Brasil foi levado à beligerância provocada pelo torpedeamento de vários navios mercantes por submarinos do Eixo, à vista da costa brasileira, com centenas de vítimas inocentes. Sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi organizada rapidamente e, em 1944, ingressou no teatro de operações europeu.

           Integrada ao 5.º Exército dos Estados Unidos da América como Divisão, a FEB combateu em solo italiano e sofreu mais de 400 baixas por morte em ação. Mas, fez pelo menos 15 mil prisioneiros aguerridos e calejados por anos de campanha, entre eles os integrantes de duas divisões inimigas inteiras. Portanto, nossos pracinhas igualaram-se aos mais experientes soldados aliados e superaram em denodo e capacidade um inimigo traquejado por inúmeras batalhas.

           Há anos, as atenções do Exército Brasileiro concentram-se na Amazônia, onde mesclou o seu verde-oliva à cor da maior floresta do mundo, submetida a indisfarçável e despudorada avidez estrangeira. A Força coopera na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, proporcionando suporte logístico, assim como de inteligência, comunicações e instrução. Participa da assistência à população nos rincões mais distantes e inóspitos, onde sua atuação representa a única presença do Estado. Faltam hospitais, médicos, remédios, escolas, enquanto sobra ausência de poder público. Mas, felizmente, lá está o Exército, ombreado com a Marinha e a FAB.

           A marcante atuação militar vai além da defesa do patrimônio nacional. Nosso soldado leva segurança, assistência médica e odontológica, educação, socorro e solidariedade às populações ribeirinhas e comunidades isoladas. Proporciona sentimento de cidadania que, de outra forma, seria desconhecido. Quer apoiando o povoamento de áreas longínquas, quer criando um mínimo de infra-estrutura antes do desenvolvimento convencional ou fornecendo serviços básicos à população rarefeita, o seu trabalho silencioso afigura-se como a mais ponderável parcela da contribuição verde-oliva.

           A vocação do Exército fê-lo celebrar acordos com o Ministério dos Transportes para que seus engenheiros e máquinas atuem na construção, recuperação e duplicação de rodovias federais, além de fiscalizar serviços executados por empreiteiras civis. A transposição das águas do Rio São Francisco figura no rol de obras a seu cargo, assim como a adequação de capacidade e restauração da BR 101 (Rio Grande do Norte - Corredor Nordeste) e as construções necessárias para implementar o complexo aeroportuário da Grande Natal (Rio Grande do Norte).

           Subsidiariamente, em auxílio à defesa civil, participa da distribuição emergencial de água nos municípios do semi-árido nordestino e norte de Minas Gerais, além de prestar socorro a quem sofre com secas ou enchentes catastróficas em qualquer região ao País. No Rio de Janeiro, atualmente, empenha-se em minorar os efeitos da epidemia de dengue que flagela e alarma a população, com reflexos noutros Estados. Aliás, da mesma forma que as Forças coirmãs, o Exército jamais se esquivou do chamamento diante de acontecimentos calamitosos.

           Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vários detentores de parcelas do poder político passaram ao largo da angústia presente nas Forças Armadas, o que resulta agora na continuada perda de preciosos recursos humanos para a iniciativa privada ou mesmo setores oficiais capazes de oferecer merecidos salários. Encontramos disso um exemplo evidente no caso do primeiro astronauta brasileiro, que passou para a Reserva da FAB por desesperança relativamente ao próprio futuro no meio onde se criou. Talvez tenham funcionado como catalisadores as críticas e os excessos decorrentes de inveja pelo brilhante cumprimento de uma missão inusitada nestas plagas, a ele atribuída em consonância com os interesses nacionais.

           Vejo nesse fato semelhança com o que se observa nos quadros de oficiais do Exército devido à baixa remuneração, segundo pesquisa realizada entre alunos de Infantaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao). A maioria declarou-se insatisfeita e disposta a abandonar a carreira. Dos quarenta capitães ouvidos, 31 manifestaram desânimo e desejo de se inscrever em concursos públicos noutros setores estatais mais bem remuneradas.

           Temos, assim, a obrigação de buscar medidas que tragam mais tranqüilidade para a família militar brasileira. Portanto, a melhor maneira de reverenciar hoje o "Exército presente e solidário" é tomarmos a decisão de juntar esforços naquele sentido, mesmo porque vocação, condecorações e patriotismo não funcionam como moeda para saldar contas de farmácia e supermercado.

           Glória ao Exército Brasileiro pelo transcurso do seu dia! E reconhecimento da Nação aos guerreiros verde-oliva que a protegem, sempre a postos e empenhados em cultuar os valores e tradições de Guararapes.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 9900