Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Chama a atenção da Senadora Ideli Salvatti que acusa sem provas o Senador Álvaro Dias de divulgar o dossiê com os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, através de cartão corporativo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.:
  • Chama a atenção da Senadora Ideli Salvatti que acusa sem provas o Senador Álvaro Dias de divulgar o dossiê com os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, através de cartão corporativo.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2008 - Página 7774
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, IDELI SALVATTI, SENADOR, ACUSAÇÃO, ALVARO DIAS, CONGRESSISTA, RESPONSABILIDADE, DIVULGAÇÃO, DOCUMENTO SIGILOSO, GASTOS PUBLICOS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARTÃO DE CREDITO, EXECUTIVO, AUSENCIA, PROVA, NECESSIDADE, PREVENÇÃO, INJUSTIÇA.
  • QUESTIONAMENTO, RECUSA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, VISITA, CONGRESSO NACIONAL, DESRESPEITO, LEGISLATIVO, PROTESTO, AUSENCIA, RESPOSTA, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES, AUTORIA, ORADOR, CRIME DE RESPONSABILIDADE.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OCULTAÇÃO, EXISTENCIA, DOCUMENTO, POSSIBILIDADE, UTILIZAÇÃO, INTIMIDAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sem dúvida, está bastante. Prefiro, Sr. Presidente, com muita atenção da Senadora Ideli, nem usar o tempo da Liderança após.

            A Senadora falou com muita certeza, colocando todo o peso desse delito no tal vazamento, certeza, Senadora, que eu não tive quando V. Exª foi acusada de coisas muito graves aqui e contou até com a minha defesa e com o meu voto de confiança em V. Exª. Num momento difícil de sua vida, não deixei de faltar a V. Exª com a solidariedade do colega que queria provas. Foi o momento em que V. Exª não estava aparentando, digamos, toda essa exuberância, que, na economia, Alan Greenspan chamava de exuberância irracional e que, no seu caso, deve ser uma exuberância bastante racional.

            Não foi imprudente a minha atitude quando ilustre colega nosso estava sendo envolvido no episódio do dossiê - aí sim, dossiê petista, sim -, o dossiê do tal de Lorenzetti, o dossiê do Hamilton Lacerda, que trabalhava aqui dentro. Fui prudente, inclusive enfrentei companheiros meus de Partido que queriam que eu trouxesse à baila o nome de um colega nosso. Não trago, não trago, porque eu não trabalho sem provas. Não trago porque não trabalho sem ter absoluta convicção.

            Mas V. Exª trabalhou com uma convicção santa de que havia uma enorme culpa no Senador Alvaro Dias, a culpa que eu não reconheci em V. Exª naquele momento. Não reconheci.

            Agora vamos para a questão essencial. Trabalhando desse jeito parece até que não houve mesmo o dossiê e parece até que temos um brutal complô das oposições contra a Ministra Dilma Rousseff, que se pega em todos os santos para não vir ao Senado prestar informações e que detrata e faz mal ao Congresso quando ela diz: tenho mais o que fazer do que ir ao Congresso discutir com quem quer que seja. Quando sabemos que a soberania é vir ao Congresso, a soberania do Congresso está inclusive em ser ele obedecido por ministros que não podem tratá-lo com menoscabo. Vamos ser bem claros.

            O Senador Dias diz: Não vazei e não sei quem vazou. Ela diz: Eu sei que foi ele que vazou, com uma certeza que acho que deveria levar a Senadora a uma meditação.

            Agora, eu vou, por minha vez, trabalhar com uma certa certeza: não tenho dúvida de que tem dossiê, não tenho dúvida sobre se há diferença entre banco de dados e dossiê, não tenho dúvida de que dossiê é aquele em que o nome de Dona Ruth Cardoso é pinçado. E me parece surreal. Eu começaria a duvidar da sanidade do Senador Alvaro Dias se ele pegasse um dossiê que denigre, até por gastos pitorescos, Dona Ruth Cardoso e o Governo do qual fui Líder e Ministro e, em vez de comunicar isso ao seu Líder, ao Presidente do Partido, ele fosse para a imprensa dizer algo que eu não diria se fosse do Presidente Lula. Eu não diria. Se chegasse o dossiê aqui, eu trabalharia como trabalhou o Senador Tião Viana, quando certa vez apareceu uma denúncia que era vã contra o então Ministro da Saúde José Serra, e o Senador Tião Viana deixou de fazer o escândalo. Ele poderia ter sido primeira página em tudo que é jornal, e ele foi ao Ministro Serra e disse: Ministro, está aqui o dossiê. O Ministro Serra disse: Senador, não é verdadeiro isso, por isso, isso e isso. Agradeceu publicamente ao Senador Tião, e o Senador Tião, então, marcou um ponto enorme que faz com que ele tenha todo esse trânsito, toda essa respeitabilidade entre nós.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou falando numa condição em que não posso lhe permitir. Estou falando por uma concessão do Presidente.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Desculpe-me.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas, em seguida, V. Exª certamente falará.

            Eu gostaria de menos certezas, porque o que sabemos é que está em curso uma manobra para se dar a impressão de que não se teve dossiê, não teve dossiê qualquer. Então, o importante agora é saber se o Senador Alvaro Dias conversou com alguém a respeito do dossiê e não se existe uma tática que está ficando recorrente, que aconteceu no episódio Vedoin, no episódio sanguessuga. É recorrente a tática de se usar do dossiê como manobra para se intimidar, para se chantagearem as oposições, numa manobra democrática. Ainda há pouco, eu disse ao Senador Tião Viana, um dos grandes amigos que tenho nesta Casa: Senador, é preciso nós olharmos se não está havendo um certo vezo autoritário no seu Partido. Essa prática de dossiês, essa prática da intimidação, essa prática que é recorrente, ou o PT se livra dela ou o PT vai ter um estigma pelo resto do tempo.

            Portanto, eu gostaria muito de pedir cautela à Senadora Ideli. Não dá para ser uma pessoa numa circunstância e ser outra em outra circunstância; tem que ser a mesma o tempo inteiro.

            Eu, aqui, não tenho por que colocar em dúvida a palavra do Senador Alvaro Dias, até porque não coloquei em dúvida a palavra do Senador Mercadante, eu não coloquei em dúvida a palavra da Senadora Ideli Salvatti. Eu mantenho o meu equilíbrio, agora, com muita convicção de que isso aí é fruto, sim, de uma reação à tentativa da CPI; de que se montou um banco de dados, sim, e, a partir desse banco de dados, sim, se fez, Sr. Presidente, a “pinçagem” que virou o dossiê.

            Em relação, Senadora Ideli, a isso - que é outra inverdade - de que teria havido alguma resposta que me provaria que teriam um banco de dados, e não um dossiê, essa inverdade tem que ser desmontada mais uma vez. E eu repetirei isso à farta, à exaustão.

            Peço um minuto para concluir, Sr. Presidente.

            Eu recebi uma resposta evasiva da Ministra. A Ministra disse: Estamos coletando dados para lhe dar as informações. Não tinha nada a ver com a Presidência da República; tinha a ver com os gastos dela, do antecessor dela, José Dirceu, e do Chefe da Casa Civil do Governo Fernando Henrique. Eu fiz três requerimentos à Casa Civil. Não tive resposta positiva em nenhum.

            Muito bem. A Ministra, que tinha os dados, não repassou os dados para o Senador requerente, ou seja, a meu ver - isso aí não fofoca, isso aí não é disse-me-disse, isso não é gossip de coluna social -, ela incorreu em crime de responsabilidade, porque deixou de dar para o Senador requerente os dados que ela alega no documento, Senador Mário Couto, que tinha em mãos. Então, ela incorreu em crime de responsabilidade. Isso é objetivo.

            Portanto, eu recomendo muita cautela ao se fazerem essas afirmações. Eu vou continuar com muita cautela toda vez que tiver que lidar com a honra, com a palavra empenhada por algum colega meu, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.

            Era o que tinha a dizer.


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