Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do transcurso, hoje, dos 106 anos da Revolução Acreana, que levou à independência do Estado do Acre.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro do transcurso, hoje, dos 106 anos da Revolução Acreana, que levou à independência do Estado do Acre.
Aparteantes
Flexa Ribeiro, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2008 - Página 29280
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, REVOLUÇÃO, INDEPENDENCIA, ESTADO DO ACRE (AC), REGISTRO, HISTORIA, DEFINIÇÃO, TERRITORIO NACIONAL, FRONTEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, INTERESSE, IMPERIALISMO, PRIMEIRO MUNDO, REGIÃO AMAZONICA, PERIODO, INICIO, INDUSTRIALIZAÇÃO, MOTIVO, SUPERIORIDADE, PRODUÇÃO, BORRACHA, DETALHAMENTO, ATUAÇÃO, VULTO HISTORICO, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, MEMORIA NACIONAL.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Epitácio Cafeteira, Srªs e Srs. Senadores, o Senado também é a Casa da Federação, e é justo que, em datas especiais, possamos lembrar feitos e parte da história dos nossos Estados. No caso, o Acre compõe uma belíssima página da história de definição de fronteiras e a conformação da integridade do território nacional brasileiro.

Hoje é feriado estadual, lembrando o 6 de agosto como o início da revolução acreana de 1902, que levou à independência o Estado do Acre. Havia uma indefinição diante de um processo social que se vivia à época entre o Brasil e a Bolívia, que tinha por traz fortíssimos interesses de países como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França e a Alemanha. Eles disputavam a possibilidade de anexação de uma parte do território sul-americano em plena Amazônia, como um interesse da afirmação de uma etapa da Revolução Industrial, a fase da mecanização e intensa movimentação pela expansão dos recursos daquela revolução.

A borracha é um marco definitivo na história da economia do Brasil, na história do PIB brasileiro. Alguns anos após a anexação do Acre ao Brasil, disputamos o primeiro lugar no PIB nacional. Pouca gente considera esse dado importante, mas é fato histórico: disputamos o primeiro lugar do PIB nacional com o café e com a pecuária.

No dia 6 de agosto, houve o inicio de uma revolução dirigida por um gaúcho de 27 anos, José Plácido de Castro, que liderou um exército de brasileiros que ocupava aquele território tido como boliviano, mas que era parte de uma indefinição, de uma consolidação de fronteira.

A nossa história é muito interessante, porque havíamos tido três outras insurreições. Houve uma tentativa forte, chamada Revolução dos Poetas, em que um grupo de jovens idealistas do Amazonas usufruíam das riquezas geradas pela borracha e entendiam que aquele território não deveria ser explorado por bolivianos. Tivemos as histórias de Gálvez e de José Carvalho. José Carvalho, Gálvez, os poetas e, depois, Plácido de Castro definem uma estratégia de gerações que estavam determinadas a defender aquela região como parte da integridade do território brasileiro.

Esses fatos repercutem muito quando se analisa a história global, porque havia um processo de exploração e definição de colônias africanas, e a América do Sul era o próximo alvo, assim como a região amazônica. Alfonso Domingo, o extraordinário autor do livro Uma Estrela Solitária, que diz respeito à história de Gálvez, considerado o único espanhol a vencer os americanos em uma guerra, disse que, como na mitologia grega, a Amazônia sediava, por meio do choro da sua árvore chamada seringueira, o leite branco que jorrava e que atendia à Revolução Industrial, alimentava o poder industrial que emergia no mundo, e, em troca, a floresta amazônica pedia vidas: vidas de índios e de imigrantes nordestinos que ali chegavam.

Então, essa data de 6 de agosto é muito preciosa, porque nos levou ao dia 24 de janeiro de 1903, quando houve um conflito duro, intenso entre brasileiros e bolivianos, hoje povos irmãos, intocáveis nas relações de paz, estabilidade e boa convivência na região de fronteira. Foi um desafio de definição de um marco territorial tanto para o Brasil como para a Bolívia, tendo como base o Bolivian Syndicate, uma instância econômica que se queria afirmar e que era muito importante em termos estratégicos aos olhares americanos, ingleses, franceses e alemães, que entendiam a borracha como um componente essencial e fundamental da Revolução Industrial. Então, há um sentimento unitário forte no Acre hoje ao lembrar as suas datas, os seus momentos históricos fortes.

O Brasil rejeitou o Acre durante alguns anos, na fase pós-Revolução. Nos primeiros meses, então, esse desprezo foi muito mais intenso como também a indefinição de o Brasil querer o Acre. Plácido de Castro afirmava a história de independência como uma história de pressão, para que o Brasil pudesse compreender que ali estavam brasileiros que afirmavam a soberania do País naquele território e entendiam que era uma luta contra uma interferência internacional.

Esse 6 de agosto, para nós, é muito precioso. Estamos hoje abrindo uma exposição no Acre sobre a história de Plácido de Castro que, por coincidência, está completando o seu centenário de morte em relação à fase de vida, de autonomia, de independência do Estado. Hoje, uma exposição que saiu de São Gabriel e chegou ao nosso Estado traz peças de altíssimo valor histórico daquela região, para as gerações atuais poderem tomar conhecimento, para que sejam bem aproveitadas, para que venha à lembrança uma fase de luta entre povos, em que o conflito expressava uma possibilidade de internacionalização da nossa Amazônia já naquele momento.

Então, para nós do Acre, 6 de agosto é a lembrança de uma fase heróica da vida do Estado, de uma fase de construção da independência, de uma fase de afirmação da unidade territorial brasileira, uma fase de homenagem aos migrantes nordestinos que chegaram ali e levaram-nos à epopéia de afirmar aquela região como brasileira. Sr. Presidente, àquela época, de cada quarenta migrantes nordestinos, muitos oriundos do Ceará, das Alagoas, do Maranhão, de Pernambuco, dezesseis morriam no primeiro ano, em razão da malária, do beribéri, das febres hemorrágicas.

Então, é uma história ímpar dentro da formação histórica da Amazônia, da formação histórica do Brasil, da afirmação das áreas de fronteira em nosso País. Nós, com muito orgulho, nos afirmamos brasileiros por decisão, por opção, lutando contra a rejeição, a timidez, a dubiedade, que tinham os grandes dirigentes do Brasil à época.

Plácido de Castro tem a lembrança de seu nome em cem anos de seu assassinato, uma das mais trágicas fases da vida republicana. Ele foi covardemente assassinado por instâncias representativas do poder à época e, até hoje, ainda não demos uma resposta, não houve um julgamento.

Então, 6 de agosto é o marco da luta pela afirmação da defesa da Amazônia num processo de ameaça à sua internacionalização, que nós, com muito orgulho, lembramos em todo o nosso Estado.

A primeira fase foi de José Carvalho; depois, houve a presença de Gálvez, coincidindo o 14 de julho com a Queda da Bastilha, com um espanhol que venceu os americanos numa guerra em plena região amazônica; depois, vieram os poetas na sua luta também de insurreição e, depois, Plácido de Castro, no 6 de agosto, iniciando a afirmação do Acre como, de fato, uma região do Brasil tem um sentimento muito forte para todos nós, para as gerações que estão ali e que têm interesse em conviver e divulgar.

Há uma etapa de desafio para nós que é afirmar um museu da revolução que lembre esses quatro momentos, além da luta de fronteira que tivemos com o Peru alguns anos atrás.

Ouço o Senador Mozarildo Cavalcanti, já para encerrar.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Tião, quero parabenizar V. Exª pela importante data para o Estado de V. Exª, cumprimentar todo povo acreano que realmente é um exemplo de brasilidade. Como V. Exª colocou no seu pronunciamento, o povo acreano lutou, brigou, insistiu para ser brasileiro. Portanto, é um exemplo. E eu me orgulho de saber que, no contingente principal, estavam os nordestinos. Em Roraima também os nordestinos foram fundamentais, entre os quais se incluem meus pais e meus avós maternos. Nós, da Amazônia, devemos muito aos nordestinos. Quero, nesta data, portanto, dizer a V. Exª que admiro muito a luta do povo acreano, que praticamente teve que convencer o Brasil de que aquele pedaço de terra tinha que ser brasileiro.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - É verdade, Senador Mozarildo. Imagine que, em 100 anos, um Estado jovem - como é o Estado de V. Exª, que é mais novo ainda do que o meu - conseguimos sair do 27º lugar na educação brasileira para o 9º lugar, conseguimos ser a 5ª capital do País em nível de educação, pagamos o melhor salário de professores do Brasil. E estaremos concluindo em 2010 a BR-364. É o único Estado que não tem ainda a sua ligação rodoviária definitiva, como Estado de unidade continental. Então, é um Estado que olha de cabeça erguida para o seu passado, para o seu presente e para o seu futuro.

Já encerro, nas palavras do Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Apenas para parabenizar, Senador Tião Viana, em seu nome, todos os acreanos por esta data tão significativa, que é o 6 de agosto. V. Exª, no seu pronunciamento, fez uma observação da maior importância: “O que a Amazônia já representou para o Brasil em séculos passados?” Era de lá que vinha a riqueza brasileira. Era na Amazônia que estava a economia mais forte do Brasil. Belém, àquela altura, era uma cidade muito mais desenvolvida do que São Paulo. Então, a Amazônia ajudou a desenvolver o sul do Brasil. Agora, temos que ter o apoio do Brasil desenvolvido, dessas regiões, para que possamos avançar na Amazônia todo esse tempo em que ficamos desamparados, sem a atenção do Governo. Parabéns ao Acre, parabéns a V. Exª.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado.

Agradeço, Sr. Presidente, em meu nome, essa homenagem ao Acre de Jorge Viana, de Binho Marques, de Marina Silva e de todos que lutam pela dignidade do nosso Estado. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2008 - Página 29280