Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 17/09/2008
Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagens às crianças, inspirado em trechos do poema "Os bons tempos de ciranda", de Aury Lessa, poetisa piauiense.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
:
- Homenagens às crianças, inspirado em trechos do poema "Os bons tempos de ciranda", de Aury Lessa, poetisa piauiense.
- Aparteantes
- Heráclito Fortes.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/09/2008 - Página 37917
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
- Indexação
-
- REGISTRO, VIAGEM, ORADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), HOSPEDAGEM, MUNICIPIO, CAJUEIRO DA PRAIA (PI), PROPRIEDADE, POETA, INTERESSE, TRANSFORMAÇÃO, VIDA, CRIANÇA, SITUAÇÃO, ABANDONO, MISERIA, POBREZA, REGIÃO.
- LEITURA, OBRA ARTISTICA, POETA, ESTADO DO PIAUI (PI), HOMENAGEM, CRIANÇA, CRITICA, EXCESSO, CONSUMO, CRIME, VIOLENCIA, ATUALIDADE, COMPARAÇÃO, ANTERIORIDADE, SITUAÇÃO, SUPERIORIDADE, DESENVOLVIMENTO, CARATER PESSOAL.
- COMENTARIO, INTERRUPÇÃO, VIAGEM, CAMPANHA ELEITORAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONVITE, HERACLITO FORTES, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, INVESTIGAÇÃO, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN).
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias.
A Srª Rosa Maria veio hoje com sua neta, Maria Isabel, que está com o braço quebrado, assistir à sessão do Senado Federal. E, por algumas circunstâncias, eu vou fazer uma homenagem, hoje, às crianças, inclusive a Maria Isabel.
Em agosto de 2008, Senador Alvaro Dias, tive a oportunidade de conhecer o delta do Parnaíba e algumas das mais lindas praias do Piauí, juntamente com Mônica de Abreu Dallari.
Na praia de Barra Grande, em Cajueiro da Praia, ficamos na Pousada Pontal da Barra, um lugar especialmente agradável, ainda mais porque foi criado há 13 anos por uma poetisa, Aury Lessa. Quase todo final de tarde, além de fazer suas orações, costuma compor lindos poemas que levam em conta aquela tão bela paisagem e a experiência de sua vida, dedicada sobretudo a transformar a situação de meninos e meninas de rua do Brasil. A Srª. Aury Lessa, desde os anos 70, participou de movimentos em defesa de meninos e meninas de rua.
O poema Os bons Tempos de Ciranda, de sua autoria, nos faz lembrar como eram felizes as crianças quando podiam brincar nas ruas, becos e praças de nossas cidades, ao tempo em que, ao som do violão, cantavam cantigas típicas que todos aprendemos, desde Se essa Rua Fosse Minha até Criança Feliz que Vive a Cantar. Era um tempo em que não havia tantos muros a nos dividir, nem estávamos tão estimulados pelas mensagens da tevê e da Internet, que nem sempre são as mais saudáveis.
O mundo adequado para as crianças se desenvolverem e se tornarem adultos melhores deve levar em conta a possibilidade de sempre poderem apreciar a mãe natureza com tudo de bom que pode oferecer: as árvores, as flores, os animais, os rios, os córregos, a praia, o mar, combinado com a presença das pessoas que nos ensinam os caminhos do amor, da verdade e da justiça.
Que bom se pudermos dar as mãos e entrar na roda para cantar uma das canções deste poema, a Ciranda de Barra Grande, de Aury Lessa!
Quero aqui aproveitar para registrar a insistência dos Senadores Mão Santa, Heráclito Fortes e João Vicente Claudino, para que eu fosse visitar, no Piauí, aquele lugar tão bonito, em especial o delta do Parnaíba.
Diz Aury Lessa neste bonito poema:
I
“Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava
Ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas
De brilhantes
Para o meu
Para o meu amor passar.”
II
Era uma vez muitas ruas
Bairros, cidades, países
Onde crianças cantavam
Sonhos bonitos sonhavam
Assim viviam felizes
Eu me nego a aceitar
Que na vida tudo passa.
Quero crianças brincando
Nas ruas, becos e praças
Sem rodas e sem cirandas
Desaparece o futuro
E o mundo fica sem graça.
III
Onde anda o Pai Francisco
Que sem malícia chegava
Nas brincadeiras entrava
Como se fosse criança
Respeitava a meninada
Trazia seu violão
Muito amor no coração
Caía também na dança
“Pai Francisco
Entrou na roda
Tocando seu violão
Baranranbanbão
Vem de lá seu delegado
Pai Francisco
Foi para a prisão
Como ele vem todo
Requebrado
Parecendo um boneco
Desengoçado”.
IV
E a ida ao Tororó
Buscar água pra beber
Encontrar belos meninos
Mas com eles não mexer
Voltar a roda e brincar
Enganar Mariazinha
Dizendo que iria
Na roda dançar sozinha
Difícil acreditar
Marizianha sabia
Que na roda sempre tinha
Alguém para ser seu par.
“Fui ao Tororó
Beber água não achei.
Encontrei belos meninos
Que no Tororó deixei
Aproveite minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada
Oh! Mariazinha
Oh! Mariazinha
Entrarás na roda
Ficarás sozinha
Sozinha eu não fico
Nem hei de ficar
Porque tem alguém
Para ser meu par.”
V
Crianças, rodas, cirandas
Por onde andam eu não sei
Saí por aí afora
E conto a vocês agora
O que foi que encontrei
VI
Assustei-me quando vi
durante minhas andanças
como é que as famílias
estão educando os filhos
como é que nós adultos
tratamos nossas crianças
tive medo do futuro
vergonha do meu presente
grande indignação
quantas crianças sofridas
abandonadas, perdidas
é grande o nosso descaso
vergonhosa a omissão
depois do que vi chorei
minha alma escancarei
e fiz esta reflexão.
VII
Que maravilhas vivi
quando um dia fui criança
deitei, rolei e dormi
nos braços da liberdade
vivi com intensidade
as doçuras da infância
sem limites para os sonhos
sem muros, sem gradeados
sem automóveis blindados
sem os pitbuls selvagens
SemTVs, sem Internet
mostrando para as crianças
toneladas de bobagens
VIII
Tínhamos quando crianças
as ruas para brincar
é importante lembrar
que as praças eram abertas
eram nossos os quintais
nas calçadas nossos pais
cultivavam vizinhança
costuravam relações
sonhos, segredos, paixões
no tear da confiança
enquanto nós, meninada
senhores do universo
brincando com a liberdade
muitas vezes em excesso
éramos donos da rua
feitores da alegria
era festa todo dia
e mais festa se fazia
quando era noite de lua
De mãos dadas pés descalços
corre-corre, pula-pula
pega-pega, esconde-esconde
cabra-cega, amarelinha
melancia, passa o Anel
boca de forno, pedrinhas
tudo era festa enfim
a pobreza existia
mas não nos incomodava
a alegria reinava
e cantávamos assim:
“Eu sou rica, rica, rica
De mavé, mavé, mavé
Eu sou rica, rica, rica
De mavé descer.”
IX
Riqueza que consistia
no tempo que permitia
Fabricarmos nossos sonhos
auto-estima, fantasias
medos, mentiras, poderes
força, coragem, magia.
Fazíamos nossa história
história que tinha cara
tinha jeito de criança
tinha cor, tinha o sabor
da ternura da infância
uma infância criativa
cheinha de traquinagens
de astúcias, de proezas
de muitas camaradagens
farta imaginação
e nunca faltava tempo
para viajar nos sonhos
eram bonitos medonhos
carregados de emoção
Amigos eram amigos
Queridos como os irmãos
Vejam só como essa música
traz essa confirmação:
“A canoa virou
Não deixou de virar
Foi por causa do Pedrinho
Que não soube remar
Ah! se eu fosse um peixinho
e soubesse nadar
eu tirava o Pedrinho
lá do fundo do mar”.
X
“Hoje as nossas crianças
São reféns do consumismo
das malícias, do egoísmo
da tal globalização
Viajam pela Internet
Têm amigos virtuais
Já nem sabem o que é mais
Brincar com a imaginação”.
XI
“No meu mundo de criança
A meninada reunida
Sempre de bem com a vida
Construía seus brinquedos
Montava em seus ‘cavalos’
Velhos cabos de vassouras
Saindo às ruas sem medo.
Deitar no chão e contar
As estrelas que se via
Olhar as nuvens no céu
Que apressadas corriam
Para encontrar outras nuvens
Que andavam desgarradas
Juntando-se elas formavam
Imagens raras e belas
Lembro que a gente queria
Subir pra brincar com elas.
As ruas arborizadas
Faziam nossa alegria
Cedinho e final da tarde
Era aquela sinfonia
Dos passarinhos cantando
Quem sabe, nos ensinando
A ser feliz cada dia
E falando em passarinhos
Lembro que era uma festa
Quando nos galhos das árvores
Encontrávamos os ninhos
onde eles punham os ovos
Para gerar seus filhinhos
E a gente tinha o cuidado
De proteger os bichinhos.
Hoje vejo que as crianças
Não cuidam da Natureza
Isso me dá uma tristeza
Uma dor no coração
Era tão bom ir ao campo
Saber o nome das flores
Falar com elas de amores
Cantando esta canção”:
“Alecrim, alecrim dourado
Que nasceu no campo
Sem ser semeado
Ai meu amor, ai meu amor
Quem te disse assim
Que a flor do campo
Era o alecrim
Alecrim, alecrim aos molhos
Por causa de ti
Choram os meus olhos
Ai meu amor...”
XII
“Brincávamos com os grilos,
Com borboletas e rãs,
Com os sapos, vaga-lumes,
Os pica-paus, as cigarras
Que quando a chuva caía
Davam sinal de alegria
Fazendo muita algazarra.
Tinha as pipas, os piões
Estilingues e petecas
Dos sabugos e das buchas
Saíam nossas bonecas
Com direito a batizado
Convidados, comidinha
O difícil era escolher
Dentre os nossos amiguinhos
Quem é que iria ser
O padrinho e a madrinha”.
XIII
“Sonhávamos acordados
Falávamos com as flores
Ansiosos esperávamos
As noites de lua cheia
Para ouvir as histórias
De reis, de gênios, de bruxas
De lobisomem, caiporas
Das mães-d’água e dos botos
Dos encantos das sereias
Fazer adivinhação
Falar do bicho-papão
Brincar com nossos castelos
Levantados na areia”.
XIV
“Quando chovia era festa
Era o banho nas biqueiras,
Nos jacarés, cachoeiras
Rios, bueiros e grotas
Não existia as marmotas
Da dengue, vírus, viroses
Criança com depressão
Anorexia e pânico
Isso tudo é doença
Da tal civilização.
Tinha-se um bicho-do-pé
Às vezes, uma frieira
Mas isso era besteira
Não merecia atenção
Graças à Mãe Natureza
Que pra ela com certeza
Foi feita esta canção”.
“Fui à Espanha
Buscar o meu chapéu
Azul e branco
Da cor daquele céu.
Olha palma, palma, palma.
Olha pé, é pé, é pé
Olha a roda, roda, roda
Caranguejo peixe é.
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é.
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré”.
XV
“E chegava o mês de junho
Dia 13 Santo Antonio
29 era São Pedro
E 24 São João.
Em cada casa um terreiro
No terreiro, uma fogueira
Arrumadinha, faceira
Espalhando o quilarão.
E a meninada soltando
Traques, bombas e foguetes
Rabo de saia e balão
Brincar de passar fogueira
Era a grande diversão.
São João disse
São Pedro confirmou
Que você vai ser minha prima
tia, comadre e madrinha
Que Santo Antônio mandou”.
“Capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosa
É de manjericão
São João está dormindo
Não acorda não.
Acordai, acordai,
Acordai João”.
XVI
“Depois da noites alegres
Dia seguinte escola
Era pública, não privada
A turma disciplinada
Aos mestres obedecia
Mestres que acumulavam
Conhecimento e respeito
Medonha sabedoria
Na mesa a palmatória
Na cabeça dos alunos
As lições da tabuada
Três vezes cinco são quinze
Duas vezes nove dezoito
Um mais oito somam nove
Que dá noves fora nada.
Recreio era recreio
Comandava a alegria
O corre-corre a fulia
Faziam de nossa Escola
Uma ambiente gostoso
Um espaço prazeroso
Muito acolhedor, enfim
Eram mais rodas cantigas
Sem timidez, sem intrigas
E cantávamos assim:”
“PIRULITO QUE BATE, BATE
PIRULITO QUE JÁ BATEU
QUEM GOSTA DE MIM É ELA
QUEM GOSTA DELA SOU EU”
XVII
“Olho pro mundo atual
E é tudo tão diferente
Falta ternura na infância
Falta sorriso inocente
Lembro que as brincadeiras
Que a gente organizava
Eram bonitas gostosas
Não eram maliciosas
Nem geravam violência
Às vezes nos escondíamos
Até em locais escuros
Mas não era pra ficar
Não era pra bulinar
Nem pra fazer saliência”.
XVIII
“Adolescentes e jovens
Em gangues se organizando
Entregues à violência
O ódio vão cultivando
Tiram a vida de outros jovens
Chegam a matar o pais
Valores foram invertidos
Respeito e Amor esquecidos
E os homens vão transformando-se
Em seres irracionais.
No meu mundo de criança
Tudo era diferente
Os conflitos, as intrigas
Aconteciam somente
Entre as flores, nos jardins
Tudo tão discretamente
E até faziam parte
Das brincadeiras da gente”:
“O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despetalada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar.
O cravo teve um desmaio,
E a rosa pôs-se a chorar”.
Veja, Senador Heráclito Fortes, o poema de sua conterrânea, Aury Lessa, em homenagem às crianças, que justamente estou lendo hoje para homenagear as crianças, porque o seu dia está por chegar, no início de outubro.
XIX
Os pais podiam ter filhos
O parto era normal
Não se falava em aborto
Nem ilegal, nem legal
Crianças nasciam em casa
Nos braços de uma parteira
Mulher simples, dedicada
Sabedoria caseira.
Uma artesã de vidas
Conhecida e respeitada
Disponível a qualquer hora
Do dia da madrugada
Não importava a distância
Ela pegava a criança
E nunca cobrava nada.
Quando em casa uma criança
Por acaso adoecia
De quebranto, mau-olhado
De espinhela caída
Dentição, disenteria
Levava-se à rezadeira
Que com um raminho verde
Fazendo cruzes, benzia
Tinha as meisinhas caseiras
Quando a doença insistia.
XX
As famílias, numerosas
Menino pra todo lado
O feijão era sagrado
O pão nosso de cada dia
A mistura nunca tinha
Por falta a gente nem dava
A mamãe sempre ensinava
Uma bonita oração
Para agradecer a Deus
Na hora da refeição
E ela ainda dizia
O pouco com Deus é muito
O muito sem Deus é nada
E saía a meninada
Cantando esta canção”:
“Bombaquim, Bombaquim,
deixa nós passar
carregados de filhinhos
pra Jesus criar.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª podia cantar o Bombaquim, que é lindo, não ficando só no cravo, não.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Deixo esta para V. Exª aqui me acompanhar:
Passará, passará,
Derradeiro fica atrás
Se não for o da frente,
O de trás será.
É que eu não sei tão bem todas essas cantigas.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Enquanto V. Exª respira, concede-me um aparte?
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com prazer.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero dizer-lhe que foi num misto de emoção e pressa que cheguei a este plenário para vê-lo, inspirado na sua ida ao Piauí, fazer este pronunciamento telúrico, voltando à infância de todos nós, V. Exª mostrando o seu outro lado, o lado humano.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Avô de cinco netos.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois, é. Exatamente.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Três netos e duas netas.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Fico muito feliz de o Piauí ter sido motivo de tanta inspiração para V. Exª, evidentemente inspirado em texto de Aury Lessa, que é uma figura querida e respeitada por todos os piauienses. Teve uma atuação muito marcante em Teresina em movimentos sociais, tinha um sobrinho, o Lessa, que foi Vereador de Teresina durante muito tempo, inclusive quando fui Prefeito. Fico muito feliz com essa sua estada. Tenho certeza de que V. Exª foi muito bem acolhido e bem recebido no Piauí por todos os piauienses.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com certeza.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Daí por que eu saí do meu gabinete, depois de uma tumultuada reunião, da qual V. Exª participou, apenas para me solidarizar com V. Exª por esse pronunciamento, e repetir mais uma vez: fico muito feliz em saber que V. Exª foi buscar inspiração no meu Estado, o Piauí. V. Exª agora está obrigado a ir todo ano. Imagine, Senador Suplicy, V. Exª indo ao Piauí. Mas não vá com tanta pressa, com tanta rapidez; passe um mês, passe dois meses, mergulhe um pouco no Delta do Parnaíba, naquelas águas do Delta do Parnaíba, vá conhecer o cajueiro plantado pelo Humberto de Campos, na cidade de Parnaíba, desça naquelas dunas, vá ao Sete Cidades, percorra o Piauí com maior intensidade, que eu tenho certeza de que V. Exª virá inspirado, inclusive em condições, Senador Alvaro Dias, de disputar um Oscar, tenho certeza, porque competência não lhe falta. A sua voz, evidentemente, já é uma marca desta Casa, os seus companheiros já a conhecem bem, cantando músicas que marcaram a nossa juventude, a nossa época. Agora, V. Exª com cantiga de ninar, eu tenho certeza de que a Drª Mônica deve ter sido embalada nas redes do nosso litoral piauiense com essa sua voz melodiosa. Parabéns.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes. Realmente o Piauí tem lugares muito lindos, e o Delta do Parnaíba é muito especial. E, lá em Barra Grande, por exemplo, quando estava na pousada da Srª Aury Lessa, passaram ali alguns meninos, rapazes e moças que são como que guias para que possamos andar em barcos a remo para daí ir pelos córregos que dão no mar, nos braços ali junto às praias com dunas. Então, é uma coisa realmente muito bonita de se ver: praias de areias brancas, com a Floresta Atlântica de ambos os lados, os córregos, e, na medida em que se aproxima do mar, então se vêem as dunas. É lá daquela praia de Barra Grande que Aury Lessa, normalmente ao final da tarde, faz a sua oração e fala esses poemas tão bonitos, que, se me permite, vou até concluir:
Quantas lembranças carrego
do meu mundo de criança
como eu queria voltar
a acreditar nos adultos
a esperar o futuro
guardando muita esperança
sem os medos que me cercam
sem vergonha de deixar
fluir os meus sentimentos
sem que eu fosse refém
do poder do egoísmo
da sede do consumismo
dos perversos pensamentos
sem tanta hipocrisia
sem os tais dos preconceitos
sem presídios, juizados
meninos abandonados
sem conselhos tutelares
sem conselhos de direitos
sem que fosse necessário
se criar leis, estatutos
para exigir dos adultos
respeito a cada criança
sem os maus tratos domésticos
a violência das ruas
turismo sexual
meninas prostituídas
adolescentes que matam
jovens, índios, anciãos
em busca de emoção
de sentido para a vida.
Falta infância nas crianças
O que pra nós não faltava
A gente tudo inventava
Às vezes até roubava
De alguém o coração
E para justificar
Soltava a voz para cantar
Essa bonita canção:
NESSA RUA, NESSA RUA
TEM UM BOSQUE
TEM UM BOSQUE
QUE SE CHAMA SOLIDÃO
DENTRO DELE, DENTRO DELE
MORA UM ANJO
QUE ROUBOU, QUE ROUBOU
MEU CORAÇÃO
SE ROUBEI, SE ROUBEI
TEU CORAÇÃO
É PORQUE TU ROUBASTE
O MEU TAMBÉM
SE ROUBEI, SE ROUBEI
TEU CORAÇÃO
É PORQUE, É PORQUE
TE QUERO BEM.
Onde andam as famílias
as saídas aos domingos
o almoço com a vovó
tomar a benção à madrinha
a tia que está sozinha
que ficou no caritó
hoje os tais dos casamentos
parece até um negócio
mal começa a união
já tão falando em divórcio
perderam mesmo a vergonha
o respeito, a moral
vão parar no tribunal
para dividir os troços.
Como não sentir saudades
lembrando que a família
estava sempre presente
cuidava tão bem da gente
dava conselhos, carinho
nos ensinava os caminhos
do amor, da caridade
da justiça, da verdade
da fé e da humildade
da oração, do respeito
dos deveres, dos direitos
da paz e da compaixão
e as crianças felizes
caiam na brincadeira
levando a família inteira
nos versos dessa canção:
TERESINHA DE JESUS
DE UMA QUEDA FOI AO CHÃO
ACUDIU 3 CAVALHEIROS
TODOS 3 CHAPÉU NA MÃO
O PRIMEIRO FOI SEU PAI
O SEGUNDO SEU IRMÃO
E O TERCEIRO FOI AQUELE
A QUEM TERESA DEU A MÃO.
Pois bem, vou aqui pular para não abusar do tempo. Passo, então, para o trecho final do poema Os bons tempos de ciranda, de Aury Lessa.
Vamos dar as nossas mãos
soltar toda a nossa voz
e libertar a criança
que permanece escondida
dentro de cada um de nós
deixar ela se soltar
fazer uma grande roda
retomar nossa ciranda
e vamos todos cirandar
lembrando papai do céu
que nos falou certo dia
“Vinde a mim as criancinhas
delas é o reino dos céus”
volta à terra, Bom Jesus
repete pra humanidade
este teu ensinamento
não deixe nos esquecermos
que criança é criança
precisa viver a infância
protegida, amparada
na Família, na Escola
na sua Comunidade
sendo para os governantes
e pra cada um de nós
a grande prioridade
só assim será possível
sonhar com nossas crianças
tendo um futuro feliz
juntarmos a nossa voz
à voz de nossas crianças
e sairmos mundo afora
cantando a canção que diz:
CRIANÇA FELIZ
QUE VIVE A CANTAR
ALEGRE A EMBALAR
SEU SONHO INFANTIL
OH! MEU BOM JESUS
QUE A TODOS CONDUZ
OLHAI AS CRIANÇAS
DO NOSSO BRASIL
Essa é a homenagem que faço, prezado Presidente Alvaro Dias, já como um prenúncio de homenagem à Semana e ao Dia da Criança, que acontece em outubro. Aproveitei esta tarde um pouco mais tranqüila.
Quero aqui transmitir que, nesses dias de campanha eleitoral, hoje vim a Brasília, inclusive a chamado do Senador Heráclito, para participar das comissões relativas ao sistema de inteligência, onde ouvimos os importantes depoimentos do General Félix e do Dr. Paulo Lacerda.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero só lembrar a V. Exª que temos que ouvir agora o Sr. Ambrósio. Ele está lhe aguardando.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - E temos também ainda a Comissão para uma breve reflexão sobre a Bolívia. Nós quatro queremos estar lá presentes.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois não. Vamos passar primeiro para o Dr. Ambrósio. Estou indo para lá lhe aguardar.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Em seguida, teremos então a reunião sobre como ajudar a Bolívia...
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero comunicar a V. Exª que vou deixar este plenário com o coração partido, estrangulado, porque não vou lhe ouvir no canto final.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Já fiz o canto final.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Não tem mais nada?
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não. É só isso. Quero transmitir-lhe que, nos últimos dias, tenho...
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero pedir, então, à diligente Drª Cláudia...
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -...feito visitas a dezenas de cidades por todo o Estado de São Paulo, na capital e no interior, e vou prosseguir viagem nesses próximos dias intensamente para apoiar os candidatos obviamente das coligações que o meu Partido apóia, o Partido do Trabalhadores.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Com permissão de V. Exª e sem a revisão do orador, quero pedir à Drª Cláudia que, com a diligência que lhe é peculiar, remeta-me, na íntegra, esse seu pronunciamento, principalmente com o seu canto, para que eu possa distribuir a diversas pessoas que já me telefonam aqui querendo ouvir a sua voz.
Portanto, solicito à Drª Cláudia que me remeta, o mais rápido possível, o cancioneiro do Senador Suplicy. Muito obrigado.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Quero apenas justificar, Senador Heráclito Fortes, que, por ter viajado nos últimos dois dias pelo interior de São Paulo, por cerca de 14 cidades, das 6 horas da manhã até 1 ou 2 horas da manhã, esta noite acabei dormindo apenas 2 horas e 45 minutos, durante a noite toda, que foi o que sobrou, para poder estar aqui. Então, hoje a voz não estava assim tão boa. Mas, em breve, voltará a ser melhor.
O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Modéstia de cantor. Todos eles são assim.
O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - De qualquer forma, Senador Eduardo Suplicy, nós o preferimos Senador a cantor.
Como cantor, V. Exª é um ótimo Senador. Prefiro os Brothers: o Supla e o João Suplicy.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Também estou contente com o sucesso que eles têm feito.
Muito obrigado, Senador Alvaro Dias.