Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Encaminhamento do voto de aplauso ao economista Paul Robin Krugman, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia, em 2008.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Encaminhamento do voto de aplauso ao economista Paul Robin Krugman, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia, em 2008.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2008 - Página 39620
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, ECONOMISTA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RECEBIMENTO, PREMIO, AMBITO INTERNACIONAL, AREA, ECONOMIA, ESPECIFICAÇÃO, TEORIA, ANALISE, COMERCIO EXTERIOR, GEOGRAFIA, ATIVIDADE ECONOMICA, UNANIMIDADE, CIENTISTA, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, DETALHAMENTO, ESCLARECIMENTOS, DEMANDA, COMERCIO, INTEGRAÇÃO, PAIS INDUSTRIALIZADO, REGISTRO, BIOGRAFIA.
  • ELOGIO, ECONOMISTA, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, CRITICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, PROTESTO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, ANALISE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, ATUALIDADE.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, quero aqui apresentar um requerimento, nos termos do art. 222, do Regimento Interno do Senado Federal, para inserir em Ata um Voto de Aplauso ao economista estadunidense Paul Robin Krugman, Professor de Economia e Assuntos Internacionais da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times, por ter sido agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2008.

A Real Academia Sueca de Ciências concedeu o Prêmio Nobel a Paul Krugman, por sua análise dos padrões do comércio internacional e da localização da atividade econômica.

Conforme diz o jornal O Estado de S. Paulo de hoje, “o Nobel de Krugman deve-se aos seus trabalhos sobre ‘a nova teoria de comércio’ e ‘a nova geografia econômica’. Independentemente de orientação ideológica, os economistas são unânimes em afirmar o merecimento do seu Nobel pelas contribuições acadêmicas produzidas naquelas áreas.

Krugman conseguiu explicar por que existe um comércio internacional tão intenso entre países muito parecidos em dotações de recursos, como as nações ricas em geral. Na visão clássica de comércio internacional de David Ricardo, conhecida como “teoria das vantagens comparativas”, o comércio entre o mundo desenvolvido e o subdesenvolvido é bem explicado. Como esses países são diferentemente dotados de recursos, com abundância de capital nos ricos e abundância de matérias-primas e mão-de-obra barata nos pobres, o comércio internacional deixa todos em melhor situação, ao fazer com que cada um produza aquilo que tem condições de fazer melhor: matérias-primas e produtos de baixo valor agregado nos países subdesenvolvidos e produtos mais sofisticados nos desenvolvidos. Isso não explica, porém, por que os países têm entre si um comércio tão volumoso, que, na realidade, ainda representa a maior parte do comércio internacional.

O achado de Krugman foi o de mostrar que uma combinação entre desejo de variedade, por parte dos consumidores, e economias de escala, por parte dos produtores, combinam-se para tornar viável o comércio entre nações desenvolvidas.

Assim, diversos países ricos são sede de empresas de automóveis de luxo, que só se tornam viáveis economicamente se comercializados globalmente. Ao mesmo tempo, preferências variadas entre os consumidores fazem com que os Mercedes alemães, Toyotas japoneses ou Volvos suecos sejam comercializados simultaneamente em vários países”. Inclusive, digamos, na Suécia, adquirindo os automóveis Toyotas do Japão; e os japoneses adquirindo os Volvos suecos.

Krugman nasceu em 1953, em Long Island, Nova York; estudou Economia, na Universidade de Yale e, com 24 anos, obteve o título de Doutor em Economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT.

Lecionou na Universidade de Yale, no próprio MIT e na Universidade de Stanford, antes de ingressar na Universidade de Princeton, em 2000, onde leciona Economia e Assuntos Internacionais.

Entre 1982 e 1983, durante a administração do republicano Ronald Reagan, trabalhou na Casa Branca, como membro do Conselho de Economistas.

Em 1999, Paul Krugman foi contratado pelo jornal The New York Times para ser colunista. E escreve, entre outros tópicos, sobre economia, política e desigualdade nos Estados Unidos.

Os seus artigos são quase semanais. Na verdade, semanalmente, nós podemos vê-los publicados, seja no Jornal do Brasil, na Folha de S.Paulo, em O Estado de S. Paulo e nos principais jornais brasileiros.

Krugman é autor ou editor de 20 livros e mais de 200 trabalhos acadêmicos. A sua obra International Economics: Theory and Policy (Economia Internacional: Teoria e Política), que se encontra na 7ª edição, é um livro-texto básico para o estudo da economia internacional.

Destaco, também, os seguintes livros: Fuzzy Math: The Essential Guide to the Bush Tax Plan, de 2001; Geography and Trade, de 1991; International Economics: Theory and Policy, 2006; Peddling Prosperity, de 1995; Pop Internationalism, de 1997; Principles of Economics, de 2004; The Accidental Theorist, de 1999; The Age of Diminished Expectations, de 1997; The Conscience of a Liberal, de 2007; The Great Unraveling: Loosing our Way in the New Century, de 2004; The Return of Depression Economics, de 2000; The Self-Organizing Economy, de 1996.

Entre seus textos, estão várias obras para o público leigo, uma vertente de seu trabalho, que, segundo o próprio Krugman, surgiu após ter escrito The Age of Diminished Expectations (A Era das Expectativas Reduzidas), em 1989.

Em 1991, a Associação Americana de Economia concedeu a Krugman a Medalha John Bates Clark, prêmio dado a cada dois anos para “o economista com menos de 40 anos que fez uma contribuição significativa para o conhecimento econômico”.

Atualmente, Krugman pesquisa as crises econômicas e as flutuações cambiais na economia internacional e é colaborador freqüente dos periódicos: Foreign Affairs, Harvard Business Review, Scientific American, entre outros.

Este requerimento que apresento também é assinado pelo Senador Aloizio Mercadante, meu companheiro de partido e colega economista, pois todos temos uma grande admiração e respeito pelos trabalhos de Paul Krugman.

Quero aqui assinalar que Paul Krugman, em sua biografia, uma espécie de ensaio que é uma biografia tão interessante, à qual ele deu o nome Incidentes a respeito de minha carreira, diz que era o seu objetivo perseguir, procurar a verdade e a beleza, mas, como todos os demais, também tinha por objetivo alcançar o sucesso.

Ontem, pela manhã, quando soube, por um telefonema da Academia de Ciências da Suécia, que havia sido laureado com o Prêmio Nobel, ele apenas escreveu no seu blog: “uma coisa interessante ocorreu comigo hoje pela manhã”. E aí, quem quisesse acessar ia diretamente à página da Academia Real de Ciências da Suécia, que então o laureou com o Prêmio Nobel de Economia.

Quero ressaltar, caro Presidente Paulo Paim, que foi justamente Paul Krugman quem, diversas vezes, assinalou, chamando a atenção do próprio Presidente George Walker Bush, nos principais jornais norte-americanos, que ele estava realizando uma política como que a estimular o crescimento, mas de uma maneira em que dava, principalmente aos que tinham e aos que tinham muito, a possibilidade de se enriquecerem cada vez mais, sem se preocupar tanto com as disparidades de renda e de riqueza que, nesse período, se acentuaram na economia mais forte do mundo. E ele assinalou isso com os olhos de quem estava prevendo que poderia acontecer uma crise econômica, como infelizmente veio a ocorrer. Ele também chamou a atenção, criticamente, para o fato de o Presidente George Walker Bush se engajar na Guerra do Iraque, fazendo com que um volume extraordinário de recursos e de energia, que poderia ser utilizado de outra maneira pelo povo e pela economia norte-americana, passasse a ser despendido de maneira extraordinária para o esforço bélico, quando os próprios Estados Unidos produziram lideranças tão fantásticas, constituindo exemplos para todos nós, justamente de líderes como Martin Luther King Jr., que foi uma pessoa que se distinguiu, dentre outras razões e causas, porque ele sempre propugnou para que houvesse justiça e condições de realização efetiva de solidariedade e de fraternidade entre todos os povos e raças no mundo, e para que isso pudesse ser alcançado não por meio da violência e dos meios bélicos.

V. Exª se recorda de que, em 2002, eu fiz um pronunciamento, conclamando o Presidente Bush a evitar - o que depois acabou não fazendo - a utilização dos meios bélicos para a derrubada de Sadam Hussein, até porque, nós mesmos, brasileiros, tínhamos mostrado como, através das grandes manifestações do povo nas ruas, era possível se acabar com uma ditadura militar, no nosso caso, e construir um regime democrático, em que, felizmente, hoje estamos vivendo.

Mais uma vez, por ocasião do 20º aniversário da nossa Constituição, em 5 de outubro, pudemos realizar eleições livres e democráticas, com relativa tranqüilidade, em todo o Brasil, em praticamente todos os Municípios brasileiros - e são poucos os casos em que os contendores estão protestando, como, às vezes, acontece com respeito às eleições em alguns países, em que quase surge uma nova tentativa de golpe, de revolução ou de protestos violentos, quando se verifica que as eleições não se deram de maneira mais democrática e limpa possível.

Então, certamente, agora haverá um interesse muito maior na leitura dos artigos e livros de Paul Krugman, que hoje publica em jornais como a Folha de S.Paulo, como o Jornal do Brasil e outros, o artigo também publicado no New York Times, em que ele ressalta que o Primeiro-Ministro Gordon Brown, do Reino Unido, conseguiu tomar a atitudes muito positivas para enfrentar a crise econômica em seu país e deu um exemplo ao dizer que sim. O Governo do Reino Unido vai adquirir ações de diversos bancos, de alguma forma até nacionalizando, pelo menos, parte de inúmeros bancos privados, para conseguir reverter a crise econômica que estava levando alguns bancos a uma situação de insolvência ou de falta de liquidez, e assim por diante. Tal atitude contribuiu significativamente para reverter as expectativas tão pessimistas que estavam levando as Bolsas de Valores, na Europa, nos Estados Unidos e até no Brasil a uma situação de dificuldade. Sexta-feira e hoje mesmo, o movimento foi bastante positivo.

Assim, Sr. Presidente, aqui concluo dizendo que agradeceria se puder o Senado Federal, além de inserir nos Anais do Senado este voto de congratulações ao economista Paul Krugman, que possa, inclusive, ser encaminhado a ele próprio, na sua universidade, o teor deste requerimento.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2008 - Página 39620