Discurso durante a 215ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio ao pronunciamento do Senador Pedro Simon, a respeito da sucessão presidencial no Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Apoio ao pronunciamento do Senador Pedro Simon, a respeito da sucessão presidencial no Brasil.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2008 - Página 45781
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • REGISTRO, DIA NACIONAL, ALFABETIZAÇÃO, ENCAMINHAMENTO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), PROPOSTA, AUTORIA, ORADOR, ERRADICAÇÃO, ANALFABETISMO, DISTRITO FEDERAL (DF).
  • APOIO, DISCURSO, PEDRO SIMON, SENADOR, ALTERAÇÃO, ESCOLHA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, CANDIDATO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, PROPOSTA, EDUARDO SUPLICY, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, DECISÃO, CANDIDATURA.
  • DEFESA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, ABRANGENCIA, PROBLEMAS BRASILEIROS, ALTERAÇÃO, REESTRUTURAÇÃO, BRASIL, REORGANIZAÇÃO, MODELO, DESENVOLVIMENTO, GARANTIA, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, CONVITE, UNIVERSIDADE, DEBATE, FUTURO, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, FERNANDO GABEIRA, DEPUTADO FEDERAL, HELOISA HELENA, EX SENADOR, NECESSIDADE, BUSCA, RESPOSTA, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, ALTERAÇÃO, CLIMA, DESIGUALDADE SOCIAL, POSSIBILIDADE, CONFERENCIA, DIVULGAÇÃO, INTERNET.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, vim falar aproveitando o dia 14 de novembro, que é o Dia Nacional da Alfabetização, para apresentar a todos os Senadores e, através desta Casa, a todo o Brasil, o projeto que estou entregando hoje ao Governo do Distrito Federal, dizendo como e quanto custa erradicarmos o analfabetismo no Distrito Federal; como fazer para que, dentro de 18 meses, antes que termine o atual Governo, possamos colocar placas nas entradas do Distrito Federal, dizendo: “Este é um território livre do analfabetismo de adultos”.

Vim aqui apresentar esse projeto, mas mudei o tema da minha fala depois de escutar o discurso do Senador Pedro Simon, e dele até participar com um aparte.

Creio que o discurso do Senador Pedro Simon exige uma reflexão desta Casa, exige que ela leve em conta o que ele está dizendo. O que o Senador falou, embora se dirigindo mais ao PMDB, seu partido, e ao Presidente Lula, é que este País está em um momento no qual não temos direito de escolher o nosso próximo Presidente à base de conchavos - conchavos entre os partidos, que indicam os candidatos e jogam, Senador Mão Santa, para o povo ratificar entre os nomes escolhidos pelos partidos.

Não temos esse direito neste momento, mais do que em qualquer outro da história deste País. Porque neste momento, neste começo de século, mais do que em qualquer outra época, vivemos um momento não apenas de dar continuidade, mas, sim, de dar uma virada na história do Brasil, de reorientar nosso projeto. A crise que vivemos não é uma crise apenas de bancos, não é uma crise apenas de vendas de alguns produtos. É a crise de um modelo que foi escolhido 60, 70 anos atrás e que, a cada período de tempo, demonstra sua fragilidade. Nós fazemos alguns arranjos e remendos para evitar que os bancos quebrem, para fazer com que as indústrias voltem a vender e, depois de algum tempo, outra vez vem outra crise e temos que repetir os mesmos remendos.

Nós entramos num momento da história - e não só o Brasil, mas o resto do mundo, como estão reconhecendo os chefes de Estado do planeta inteiro - em que é preciso uma reorientação do nosso modelo de desenvolvimento. O mais grave, Senador Papaléo, é que não se trata agora de escolher entre capitalismo e socialismo. Trata-se de formular uma visão nova e que não vai ser baseada em mudanças na estrutura da economia. Não se trata mais de tomar o capital do capitalista e dar para os trabalhadores, como o socialismo defendia. Não se trata também de imaginar que a pura e simples acumulação de capital, produzindo cada vez mais produtos, é o futuro. Essa alternativa de crescer, crescer, crescer está levando ao aquecimento global, à concentração da renda, ela está levando à própria crise financeira, em que os bancos não estão quebrando apenas porque foram irresponsáveis; eles estão quebrando porque necessariamente tiveram que ser irresponsáveis para financiar as vendas do setor industrial. Está no setor industrial de produtos caros, que são vendidos necessariamente à base da dívida, como o Senador Mão Santa denuncia aqui há muitos anos. Está na base de processo de industrialização, baseado na dívida, porque são produtos caros, e ninguém tem poupança para comprá-los à vista. Está na base da crise financeira o tipo de produto que nossa indústria fabrica.

Não é possível que passemos mais uma substituição de Presidente sem discutir a realidade das crises da estrutura industrial, e não da crise do sistema econômico em si. O capitalismo pode continuar, mas não dessa forma. O socialismo não traz alternativa, pelo menos neste momento.

Por isso, a escolha de um novo Presidente deveria ser o grande momento deste País, pondo em debate as diversas idéias que existem para o futuro, em vez dos diversos conchavos feitos por cada um dos partidos.

Sei que este discurso provavelmente vai cair no vazio, como a maioria dos outros, mas, pelo menos, ninguém vai poder dizer que não tentei. Ninguém vai poder dizer que aqui não houve voz, como a do Senador Pedro Simon, que trouxe uma proposta alternativa: que a escolha dos próximos candidatos a Presidente se faça com base em debates profundos entre as Lideranças de cada Partido e que essas Lideranças cresçam não pelo conchavo, não porque algum Líder passou a mão na cabeça de um Líder menor, mas porque novos Líderes surgiram ou Líderes antigos se consolidaram com propostas novas para o País. Direi mais: com propostas revolucionárias para o País, como foi Juscelino. Não a revolução de tomar o capital dos capitalistas, mas aquela revolução profunda, por meio da qual se pode dizer: este País não precisa ser baseado apenas na agricultura exportadora, como Getúlio havia começado a fazer. No caso do Getúlio, foi preciso fazer uma revolução política, foi preciso tomar o poder com as armas. No caso de Juscelino, foi preciso tomar o poder pela democracia, pela eleição do presidente. E é isso o que a gente deseja daqui para frente. O Juscelino fez uma revolução neste País pacificamente, fazendo com que o País se voltasse para a industrialização, na qual muitos não acreditavam. E depois vimos que ela era natural.

É hora de um debate desse tipo, e, para esse debate, não vejo outra saída a não ser aquela que o Senador Pedro Simon propôs: a saída do debate de quem vai ser candidato. Não apenas os programas eleitorais de quem vai ter mais votos. Sejamos sinceros, os programas eleitorais não debatem idéias, não trazem propostas; trazem marketing, trazem figuras, trazem propaganda. Estou falando de debate, e não de propaganda. É hora de fazermos esse debate.

Foi nesse sentido, provocado por um discurso anterior do Senador Pedro Simon, que tomei a iniciativa de convidar o Senador Suplicy, inicialmente - mas vou convidar outros também -, para que saiamos por este País, debatendo qual o projeto que cada um de nós defende para o futuro.

Senador João Pedro, vou propor que o Senador Pedro Simon se comporte como candidato a presidente; que o Senador Suplicy se comporte como candidato a presidente, sim, porque ele tem liderança, capacidade, história para se apresentar como tal, mesmo que, depois, não seja escolhido - como, provavelmente, eu não o seja também. Mas tenho obrigação de me colocar diante da Nação como alguém que tem proposta para liderar este País, e não apenas para dar continuidade administrativa àquilo que este País vem fazendo. Não vamos escolher um administrador. Isso a gente faz por concurso público! Não o fazemos por eleição. E não vamos escolher alguém apenas para continuar, mas alguém que reoriente o Brasil, que o reoriente mantendo tudo de bom que ele tem, que faça uma revolução doce, uma revolução que não seja por armas, nem por tocar na propriedade, mas que toque na estrutura deste País, como defendo, pelo lado da revolução na educação.

Há outros com outras propostas. Temos que debater.

Por meio de um simples discurso, num aparte em que chamei o Senador Suplicy, recebi convite de dez universidades, para que nós dois saiamos debatendo como é que vemos o futuro do Brasil. O tema será: Depois do Lula.

Refiro-me ao Suplicy, porque eu o considero do bloco de que participo, e queremos ir além, e não permitir um retrocesso. Vou chamar o Gabeira, vou propor o mesmo à Senadora Heloísa Helena. É o nosso bloco! Mas seria bom se houvesse gente de todos os blocos.

Que a gente saia por este Brasil, cada um dizendo como vê o futuro do nosso País, da nossa Pátria. Que a gente saia por aí dando respostas, Senador, às perguntas fundamentais. E as perguntas fundamentais não dizem respeito apenas a como resolver a crise bancária. Essa é uma pergunta importante, mas não fundamental. Fundamental é como fazer para que nunca mais volte a haver crise no sistema bancário. Isso é uma mudança na estrutura. Isso exige uma pergunta fundamental: qual indústria a gente quer para o Brasil daqui pra frente? Hoje, pergunta-se: como injetar dinheiro no setor financeiro para se financiar a compra de automóveis? Paciência! Alguém acredita que, por mais cinqüenta anos, a indústria automobilística possa ser o carro-chefe da economia? Onde serão colocados esses carros? Serão feitas estradas subterrâneas com o dinheiro que poderia ser usado para fornecer água e esgoto para as famílias pobres deste País?

É claro que não pode ser mais o carro-chefe do futuro deste País a indústria automobilística, não apenas pela falta do combustível petróleo - aí a gente inventa outros, a gente faz o etanol -, não apenas por que falte terra para produzir o etanol necessário para manter a frota de milhões de automóveis - aí a gente vai inventar, como combustível, o vento ou a água; isso se dá por uma questão de geometria, pois não cabem mais nas ruas do País automóveis em quantidade suficiente para dinamizar a indústria do Brasil.

Qual é a indústria que a gente quer? Qual é a indústria que vai ser o carro-chefe deste País depois de cinqüenta anos da indústria do automóvel? Essa é a pergunta que a gente precisa fazer. É uma pergunta que vai além daquilo que se pergunta superficialmente nos conchavos para se saber qual é o candidato que se quer, não quais os candidatos de que o Brasil precisa. Ninguém está perguntando qual o candidato a Presidente de que o Brasil precisa. Estão perguntando qual é o candidato que o Lula quer ou qual é o candidato que o partido “A”, “B”, “C” ou “D” deseja, não qual o candidato de que a gente e o Brasil precisam.

O debate é feito para se saber como quebrar o círculo vicioso da pobreza neste País e o círculo vicioso do atraso neste País, um atraso que continua em relação aos outros países, mesmo que a gente cresça, mesmo que a indústria aumente. O País continua atrasado civilizatoriamente. Nossa civilização continua atrasada, porque continuamos mais violentos, mais corruptos, mais desiguais, mesmo que mais ricos. Ser mais rico é uma coisa, ser mais civilizado é outra coisa. Riqueza o Brasil tem construído; civilização, não. Este País não é hoje mais civilizado do que há 30 ou 50 anos. Com exceção da democracia, a gente não pode dizer que houve avanços que nos colocassem na frente. Somos muito mais ricos, mas estamos ainda mais atrás hoje do que há 30 ou 50 anos, porque os outros países avançaram mais do que nós do ponto de vista de civilização, de qualidade de vida, de paz nas ruas, de crianças nas escolas, de jovens empregados, de jovens sem caírem na violência.

Essas são as perguntas. A pergunta a se fazer é como crescer mantendo o equilíbrio ecológico. Ninguém está perguntando isso quando se fala nos atuais candidatos a Presidente. Eu não os vejo dizer: “Eu sou o melhor candidato, porque tenho a resposta de como crescer sem destruir a natureza”. Até a gente escuta alguns falarem que são a favor de manter a natureza como ela está; outros, a favor de crescer a economia a qualquer custo. E como casar os dois? Quem é que traz essa proposta? Quero saber quem vai trazer essa proposta antes de os candidatos a presidente serem escolhidos pelos partidos neste País.

O Senador Pedro Simon trouxe uma idéia que acho positiva: a idéia de que cada partido lance seus pré-candidatos e de que, por intermédio dos militantes dos partidos, escolha-se o candidato. O Senador Suplicy, um dia, chegou a sugerir que nem fosse escolhido o candidato do PT entre os militantes do PT, mas, sim, em votações diretas de todos os eleitores brasileiros. Isto ele propôs há alguns anos: que todos os brasileiros dissessem, entre os candidatos que o PDT apresentasse, entre os pré-candidatos, qual seria o candidato.

A gente tem de responder aqui como manter a soberania deste País em um mundo com globalização. Não é fácil essa resposta, mas o pior é que nem estão perguntando nos debates quem será o próximo presidente ou a próxima presidenta. Não há como negar a globalização, não há como negar que este País não pode mais se isolar numa falsa soberania impossível no mundo de hoje, mas também não podemos dizer que o País vai se diluir na globalização. Como ser nacional sem negar a globalização?

Eu queria ver esse debate para escolher o próximo candidato. E isso o Senador Pedro Simon disse como fazer, mas colocou isso sob os partidos, e estou propondo que a gente faça independentemente dos partidos, pelo menos até certo momento. Depois, vai chegar o momento em que os partidos escolherão os candidatos, mas, até lá, estou propondo - e o Senador Suplicy aceitou - que viajemos por este País. Em vez de eu fazer palestras para um lado e ele para o outro, nós dois as faremos juntos, no mesmo momento, nos mesmos lugares, debatendo como vemos o futuro do Brasil. Dez universidades se ofereceram para isso, mas, lamentavelmente, nenhuma das federais - tenho a sensação de que, hoje, elas estão tuteladas pelo Governo. Estão tuteladas pelo Governo! Vejam o que estou dizendo. É uma acusação grave, forte, mas sinto as direções das universidades federais tuteladas hoje, e, talvez, por isso, nenhuma tenha se oferecido para tal.

Ricardo Noblat, em seu blog, ofereceu-se para transmitir ao vivo o debate que viermos a fazer, e tenho quase certeza de que, na hora em que um blog entrar nesse debate, os outros virão. E, na hora em que todos os blogs entrarem nessa discussão, a imprensa virá.

É preciso lembrar que o mundo mudou. Hoje, não há mais o monopólio da informação entre a mídia tradicional. Criaram-se mecanismos paralelos que levam as idéias às casas, aos escritórios, aonde as pessoas estão. Aliás, levam as idéias até aos telefones que as pessoas carregam. E creio que a gente pode dar isso como contribuição. Há pessoas como o Senador Eduardo Suplicy - e eu me considero uma dessas - e outros mais. O Senador Mão Santa poderia ir, independentemente de o PMDB mandar ou não.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Outros poderão vir, e, com isso, poderemos dar uma grande contribuição, fazendo com que o próximo presidente não saia de conchavos apenas, embora eles terminem acontecendo. O momento não permite isso. Ninguém sairá dessa crise com base em conchavos; só sairemos dessa crise com base em formulações, em propostas e em idéias viáveis, capazes de serem executadas, com um olho na utopia e com o outro na aritmética, com um olho sonhando e com o outro fazendo as contas para propor coisas viáveis. Sem isso, não vamos sair da crise.

Não podemos desperdiçar 2010, e é preciso que, agora, comecemos a debater os candidatos a presidente para o futuro do nosso País. Quais os candidatos que se propõem, para que o povo escolha quem será o além de Lula, quem será o além de Fernando Henrique Cardoso, quem será o além desses vinte anos de democracia sem mudanças substanciais neste País?

Até aqui, deu para agüentar. Essa crise financeira recente mostra que não dá mais para agüentar sem que a democracia, que conquistamos em 1985, transforme-se em mudança no futuro do País, que a Constituição não fez ainda.

Passo a palavra, Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, ao Senador Mão Santa, que me pediu um aparte.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Cristovam, V. Exª é um estudioso. Estamos vendo o impacto dessa recente eleição dos Estados Unidos. A história nos ensina. Li vários livros de Abraham Lincoln, Senador Valter Pereira. A convenção que ele disputava era igual. V. Exª está revivendo o que houve com Barack Obama e com John McCain: as mesmas coisas. Atentai bem: quis Deus que aí estivesse refletindo Valter Pereira, que é um líder do PMDB. O PMDB está grande, ele não sabe nem como. Houve as primárias. O Presidente do PMDB permitiu fazer isso, orientou. Em vários Estados, houve primárias. Eu não sei se em Mato Grosso do Sul houve primária. Houve prévia entre Garotinho e Rigotto?

O SR. PRESIDENTE (Valter Pereira. PMDB - MS) - Em Mato Grosso do Sul, houve...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Houve primária?

O SR. PRESIDENTE (Valter Pereira. PMDB - MS) - Houve eleição prévia até para a escolha de candidato a governador.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pois é. Então, por que o PMDB está grande? Atentai bem! No meu Estado, sou o Vice-Presidente. O Presidente é o Deputado Alberto Silva, que tinha a idéia dos que não queriam fazê-lo. Então, assumi naquele instante, porque o interior todo foi votar. Eles gostam de participar. Eu me lembrei de Ulysses Guimarães: “Ouça a voz rouca do povo!”. E, naquele instante, estava fechado que não era para fazer aqui; era a ordem do Presidente. Mas eu achei por bem, como Vice-Presidente, consultar o povo que tinha vindo do interior. Ele quiseram isso. Eu adentrei contra a Polícia, com a Justiça, convidei aqueles mais antigos que fazem os históricos. Que beleza de convenção entre Garotinho e Rigotto! Houve disputa mesmo, debates. Foi organizado. Lá no Piauí, o Garotinho ganhou, mas havia as normas. O Rigotto obteve até mais votos numericamente, mas o outro ganhou em maior número de Estados.

O SR. PRESIDENTE (Valter Pereira. PMDB - MS) - O ex-Governador Wilson Martins, no meu Estado, foi escolhido por uma prévia em que todos os filiados do partido exerceram seu direito de voto quando optaram não somente pelo nome dele, como também pelo candidato a Presidente da República do PMDB à época.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Está ouvindo, Cristovam? V. Exª é um candidato extraordinário, mas o PDT não é essa consagração. Então, o Garotinho acabou ganhando, e houve aquele imbróglio, muitos ataques à vida pública anterior dele. Ele saiu para aquela greve de fome. Esses que votaram se reuniram aqui. Então, Garotinho teve uma grandeza: recuou. Aclamou-se Pedro Simon. Por isso, o PMDB é grande. Houve essa participação. Aclamou-se Pedro Simon, que, emocionado, foi lá e disse: “Eu aceito, e o meu Vice é o Mão Santa”. Eu corri lá e disse: “Não dá. Nesta hora, você tem de se entender com o Garotinho”. Fomos à Executiva, que não deixou o Pedro Simon ser candidato. Mas esse resultado dentro do PMDB se deu por que houve essas primárias, houve a participação. O Garotinho venceu não em todos os Estados: parece-me que, dos 27 Estados, ganhou em 22. Houve o chamamento, a aproximação. O partido não pode fugir da base, do seu povo, dos militantes. E isso faltou no PDT, em que V. Exª é candidato. Então, o PMDB ainda está colhendo os frutos disso! Por isso, a grandeza dessa votação! Então, há dois anos, houve a participação. Mas a Executiva, embora o democrático Presidente a desejasse, decidiu que o Pedro Simon fosse massacrado. Pedro Simon foi consagrado depois por todos, mas foi impedido pela Executiva de se candidatar. Então, esse é um processo de aperfeiçoamento. V. Exª deu um grande passo - esse foi um grande avanço -, para que essa democracia se reaproximasse do povo. Atentai bem! Nos Estados Unidos, foram 21 meses. Uma escolha de 21 meses é muito mais bem feita do que tirar do bolso de um executivo um candidato, naquela emoção do período eleitoral.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu lhe agradeço, Senador Mão Santa, e concluo, Sr. Presidente Valter Pereira, dizendo que estamos numa encruzilhada, o mundo está numa encruzilhada, a humanidade está numa encruzilhada, e o Brasil, obviamente, está na encruzilhada, mas o Brasil tem mais condições até de que muitos outros países de formular uma alternativa. Não é à toa que daqui está saindo o etanol, daqui sai o Bolsa-Família. Nós temos condições disso, porque o Brasil é o País que mais se parece com o conjunto da humanidade. As estatísticas mundiais são as mesmas do Brasil quanto a índices de analfabetismo, de educação, de saúde. A renda per capita do Brasil, Senador Renan, é a mesma renda per capita do mundo inteiro. Além disso, somos um dos raríssimos países que têm todos os problemas e todos os recursos necessários. A África tem os problemas, não tem os recursos. A Europa tem os recursos, não tem os problemas. Nós temos os dois e temos uma massa crítica, temos uma democracia que funciona, temos lideranças importantes. Falta ter consciência da encruzilhada em que a gente está e de que, na encruzilhada, o que resolve e encontra um novo caminho não é o conchavo. O conchavo serve para usar a pá para tapar o buraco, mas o conchavo não serve para usar a bússola para encontrar o novo rumo, porque o novo rumo vai depender de debates.

Por isso, fica aqui meu apoio à posição do Senador Pedro Simon. Se os partidos não o fizerem, alguns Senadores, alguns Parlamentares, alguns dirigentes partidários estão dispostos a fazer. E o senhor está convidado também, para sairmos debatendo pelo Brasil, já que, aqui dentro, Senador Renan Calheiros, está tão difícil de a gente discutir o futuro do Brasil!

Era isso, Senador Valter Pereira, que eu tinha para dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2008 - Página 45781