Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário da Cruz Vermelha Brasileira.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário da Cruz Vermelha Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 13/02/2009 - Página 1630
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, FUNDAÇÃO, CRUZ VERMELHA, BRASIL, REGISTRO, HISTORIA, CRIAÇÃO, PERIODO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, EXPANSÃO, AMBITO INTERNACIONAL, AMBITO NACIONAL, COMENTARIO, EXPERIENCIA, ORADOR, AMIZADE, MEDICO, ENTIDADE, ELOGIO, AUXILIO, VITIMA, GUERRA, CALAMIDADE PUBLICA, RELEVANCIA, DIRETRIZ, TRABALHO, NEUTRALIDADE, IMPARCIALIDADE, INDEPENDENCIA, BUSCA, GARANTIA, DIREITOS HUMANOS.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Geraldo Mesquita, que preside esta sessão destinada a homenagear os cem anos da Cruz Vermelha no Brasil.

Sr. Luiz Fernando Hernández, Presidente Nacional da Cruz Vermelha Brasileira; Sr. Contra-Almirante Eimar Delly de Araújo, Vice-Presidente Nacional; Sr. Flávio Tolomelli, Parlamentares presentes, encantadoras senhoras, meus senhores, brasileiros e brasileiras que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Geraldo Mesquita, esta é a primeira vez que cito nominalmente. Quase sempre cito uma autoridade para saudar todos. Realmente V. Exª, com este gesto, a homenagem à Cruz Vermelha, engrandece este Senado da República.

Nós já ouvimos aqui os oradores que nos antecederam e eu iria falar o que sinto de coração e o que vi na minha vida.

Será que realmente ela nasceu com a inspiração de um suíço em 1858, Henry Dunant, para socorrer os feridos e os mortos em batalha na Itália? Acho que está ligada à Itália, mas vendo as instituições, nos meus 66 anos de idade, acho que nenhuma hoje, no mundo, simboliza unidade, amor, respeito, solidariedade. E acho que ela pode ter nascido na Itália até muito antes, muito antes disso.

Mozarildo, ali está o Marco Maciel, que é ícone cristão, católico. Marco Maciel, eu acho que ela nasceu na Itália, mas foi quando Francisco Santos, meu patrono, andava mundo afora com uma bandeira “Paz e Bem”. Paz e Bem, é essa instituição. Ela é aquilo que os filósofos diziam. Nós estamos perplexos, mas temos de ter a crença de que o bem vence o mal. Ela é o bem, vencendo a maldade, a guerra, as atrocidades. É a crença na vitória do bem. E estamos a comemorar aqui.

E Geraldo Mesquita, V. Exª foi muito feliz. Estamos a comemorar, mas temos muito que fazer. Aí a razão disso. Atentai bem! Foi uma vitória até do Brasil. Nós somos retardatários. Esta República que vivemos aqui gritaram lá na Europa, na França, liberdade, igualdade e fraternidade; cem anos depois é que passamos a gritar aqui e a viver aqui. Cem anos! Aquela outra vergonha, a nódoa maior da humanidade - e está ali o Paim, testemunha e lutador, que traduz e ouve o povo -, começa a se redimir com a eleição de Obama. Mas nós fomos vergonhosamente o último. O último! O último, João Pedro! Olha que um dos maiores Parlamentares, Joaquim Nabuco, era voz isolada aqui, era minoria; pior ainda, não conseguiu se eleger porque os poderosos já dominavam a política, e aí não conseguiu exercer sua profissão de jornalista e advogado de Pernambuco, e foi ganhar apoio e reconhecimento noutros países. Então somos retardatários, fomos o último. Aqui até que melhorou, porque foi em 1858, e conta a história de que um suíço, Henri Dunant, numa missão diplomática, estarrecido com os malefícios da guerra em solo italiano, em Piemonte, começou a unir aqueles que tinham sensibilidade a defender.

Então, cinquenta anos depois, ela estava instalada no nosso País. Quer dizer, esta nos sensibilizou mais do que todas. Mas, Marco Maciel, isto é uma vergonha. Geraldo, quis Deus V. Exª estar aí, e eu quero premiar os Estados brasileiros. E atentai bem: somos 27 Estados. Só em 16 Estados frutificou a existência da Cruz Vermelha. Então, quero citá-los e homenageá-los, como homenageio os dirigentes aqui, citei-os, emocionado. E uma raridade: foi a primeira vez que usei estes papeizinhos. Sempre digo: “como são tantas”, aquele papo, “poderia esquecer algum nome”, aí cito só um e vou embora, mas essa eu fiz, porque essa é única. Como da mesma maneira diz o Padre Antonio Vieira que um bem não vem só, é acompanhado de outro bem, eu quero homenageá-los.

Alagoas, Presidente Drª Sandra Morais Amaral de Souza. Até fico envaidecido porque sou Francisco Morais de Souza, ela é Morais de Souza também.

Amapá, Presidente Professor Danorton Tadeu Gomes.

Amazonas... João Pedro, dê um abraço no Presidente Francisco de Assis Portela, médico.

Ceará, Presidente Dr. Mário Hesse Leão.

Distrito Federal, Presidente Capitão Paulo José Barbosa de Souza.

Maranhão, Presidente Professora Carmem Maria Teixeira Moreira Serra.

Mato Grosso, Presidente Major Paulo Eduardo de Carvalho Wolkmer.

Mato Grosso do Sul, Presidente Drª Irene Corrêa da Silva.

Minas Gerais, Presidente Dr. Délzio de Moura Bicalho.

Pará, Presidente Drª Vânia Maria da Costa Mendonça.

Paraná, Presidente Dr. Lauro Grein Filho.

Rio Grande do Norte, Presidente Pastor Anselmo Rodrigues da Costa.

Rio Grande do Sul - Paim, Zambiasi - Presidente Vera Maria Nunes Michels.

Santa Catarina, Presidente Professora Rosângela Aparecida Zavarizi Medeiros.

São Paulo, Presidente Dr. Jorge Wolney Atalla.

E a Bahia - não tem o nome do Presidente... José Matos... Está de presente e que o Senhor do Bonfim o abençoe... E que nós... Eu quero me comprometer com o grande presidente, buscar um nome no Piauí, levando essa instituição grandiosa - universal - a nosso Estado. Como Geraldo Mesquita, com certeza, já o fez pensando em levá-la para o Acre. Então, que os outros estados se sensibilizem.

Mas o que eu diria é o seguinte, Marco Maciel: Nós nascemos na guerra. E este aqui viveu as guerras. Todas! A Primeira Guerra Mundial (as grandes, não é?). A Primeira Guerra Mundial, em 1914, e a Segunda, quando nasci. Eu nasci em 1942. Era a guerra... Muita!

E vi a influência. Os filmes a que assistimos, os jornais, o rádio, hoje a televisão, aquela moral que todos nós paramos quando nós vemos essa Cruz Vermelha.

Mas agora que eu senti isso, a força dessa... Eu quero confessar até para a minha cidade e vou com toda a sinceridade contar o fato. Eu estava, acho, terminando o primário, começo dos anos cinquenta, e tinha um médico muito humanitário, Dr. Ormeu do Rego Monteiro, cunhado de um santo Padre Antonio Sampaio, o cunhado dele era padre. Eu sei que esse médico para ir lá ia de Jeep - eu não sei se vocês sabem, porque é muito Jeep -, Marco Maciel, que é do Nordeste. Então, Paim, ele chegava na nossa escola primária, Professora Edméa Morais Ferraz, e buscava alguns e vestia de branco com essa cruz vermelha e um gorro. Eu era o primeiro - não era com intenção, eu nem entendia direito de solidariedade. Mas, naquele tempo, como hoje é a Aids, era a Tuberculose. Eu vi, e como vi pessoas se engasgarem com a tosse e vomitar, hemoptise, sangue e morrer. Era muito comum. E esse homem humanitário, que já morreu, queria fazer o primeiro núcleo de assistência. E ele nos colocava com essa cruz vermelha aí de branco, como médico, pequeno e um gorro vermelho. Eu era o primeiro a pular no Jeep do homem - mas porque eu queria gazear aula, vou ser franco -, a professora liberava, e eu já ia com as outras colegas de geração. Mas eu conto aqui o respeito. Olha, Geraldo Mesquita, a moral que tem essa cruz! Eu conto aqui que o povo dava dinheiro, Marco Maciel.

Construímos lá a primeira unidade, Nasad. Dava dinheiro e não demorava, não. Saltava do jipe, já ia nas firmas. Ele tinha uma sacolinha que tinha também a cruz. E o povo dava dinheiro; os empresários e o povo. Em pouco tempo, ele constrói.

Quis depois Deus que ele fosse embora tuberculoso. O governo começou a enfrentar e esse prédio passou à prefeitura. Deus me permitiu ser Prefeito e eu peguei e o transformei no primeiro pronto-socorro municipal do Estado do Piauí, na cidade de Parnaíba. Esse mesmo prédio, recordo.

Olha, nunca vi tanto entusiasmo, carinho e crença quando era recepcionado. O povo acreditava mais, Geraldo Mesquita, naquele menino de bata e de gorro do que hoje como Senador. Dava e dava...

Então essa é a história da Cruz Vermelha.

Nós queremos aqui justamente dizer que essa é uma história bela, das mais belas. E o Senado se engrandece, não esquece isso. Isso está sendo importante.

Nós estamos mostrando o País, diferindo o joio do trigo, envergonhados de tanta ONG que vemos aqui na CPI. Essa não! Essa é do voluntariado, é da decência e da dignidade.

Então hoje, com essa simplicidade, esta se torna uma das importantes solenidades de homenagem.

Então queríamos apenas dizer isto, do respeito, acreditando que ela nos inspira e podemos construir aquilo que sonhamos: um mundo melhor.

Ela não se restringiu como o nosso líder que ganhou o Prêmio Nobel, o suíço Henri Dunant; ela passou não só a viver e a minimizar os sofrimentos das guerras, mas de todas as calamidades que existem no mundo. Ela está nos terremotos, no país todo, nas inundações, nos tufões, nos ciclones, nas secas.

E tenho certeza de que a Cruz Vermelha estará nos corações de todos os brasileiros com seus princípios simples e fundamentais: humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, universalidade e unidade de ideal, de amor.

A nossa bandeira aqui - ideal positivista - deveria ter a palavra amor antes, mas aí acharam que isso era meio afeminado, naquele tempo, Luiz Fernando, mas eu acho que a presença de cem anos da Cruz Vermelha no Brasil é o amor que eles não tiveram coragem de colocar na nossa bandeira.

Sejam fortes, bravos e felizes! Arrastem-nos a termos coragem de levantar a Cruz Vermelha como Francisco Santos andava com uma bandeira: “Paz e Bem”.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/02/2009 - Página 1630