Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Diagnóstico da crise econômica brasileira. Proposta de que o Presidente da República crie comitê de crise. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Diagnóstico da crise econômica brasileira. Proposta de que o Presidente da República crie comitê de crise. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2009 - Página 4313
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, APREENSÃO, PREVISÃO, PERDA, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), DIFICULDADE, DESEMPREGO, AVALIAÇÃO, RECESSÃO, COMERCIO EXTERIOR, CRITICA, GOVERNO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, REDUÇÃO, INVESTIMENTO.
  • PROPOSTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, COMITE, CRISE, PARTICIPAÇÃO, LIDERANÇA, AUSENCIA, CRITERIOS, POLITICA PARTIDARIA, RECONHECIMENTO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, COBRANÇA, PROVIDENCIA, APRESENTAÇÃO, DISPONIBILIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, é da obrigação de qualquer homem público, de qualquer pessoa pública responsável neste País, discutir a grave crise econômica que aí está.

Se os números se mantiverem no que estão (e eu espero que não seja assim), o Brasil terá não os 4% ufanistas, positivos, previstos pelo Ministro Guido Mantega, mas lamentável 1,9% negativo, o que seria catastrófico para um País que precisa de pelo menos 4% de crescimento positivo para gerar empregos, sem mexer no estoque anterior de desempregados, só para receber quem está aportando no mercado de trabalho.

Eu faço aqui, então, um diagnóstico muito claro. Três razões nos levam a esta crise, uma delas alheia à vontade do Governo brasileiro: o fato de países compradores dos produtos que o Brasil fabrica estarem em retração, como é o caso da China, e outros em recessão, como é o caso dos Estados Unidos. O mundo está comprando menos; o Brasil, então, obviamente, está vendendo mais. Todavia, há duas razões outras de crise, Senador Jarbas, que são culpa, sim, do Governo brasileiro. O investimento desabou; e desabou por culpa dos gastos correntes demasiados, desmesurados que o Governo pratica. O consumo das famílias igualmente despencou. E nós temos que olhar isso com muita atenção porque o Governo diz: eu faço políticas anticíclicas. Não é verdade. O Governo gastou demais na hora da bonança. Fez o papel da cigarra, não fez o papel da formiga. E agora muita gente poderá ficar sem teto no País, exatamente como na fábula.

Eu faço uma proposta muito clara ao Presidente da República. É hora de um comitê de crise, de um gabinete de crise que envolva as lideranças responsáveis deste País sem olhar a que partido pertencem elas. O Presidente, primeiro, teria de admitir o caráter drástico da crise; admitir com todas as letras. É uma crise que não vai ser resolvida no próximo semestre. Ela vai durar os quase dois anos que faltam ao Presidente Lula e entrará pelos primeiros dois anos, Senador Tião Viana, do próximo presidente. Não na mesma intensidade, se Deus quiser, mas não é nada que vá resolver, Senador Geraldo, aquela palha.

Então, é preciso admitir a crise, em primeiro lugar, sob pena de não se encontrar nenhum remédio capaz de enfrentar uma doença que a gente não admite que exista. E a doença existe. É muito grave. Estão todos surpresos, sobretudo os mais otimistas. Mas aqui desta tribuna nós, há meses, argumentávamos, debatíamos, expúnhamos que a crise seria drástica, seria gravíssima. E ouvimos aqueles ufanismos de “marolinha” e “não atravessa o Atlântico. O Brasil agora está mais forte”. Está mais forte, sim, não por causa do PAC, que não funciona, a não ser como uma belíssima peça de propaganda e marketing político, mas - e isso é que ainda dá força ao Brasil - graças a dois instrumentos excepcionalmente benignos legados pelo Governo anterior a este: a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Proer. O Proer transformou o sistema bancário brasileiro no mais saudável do mundo. Isso é algo que mereceria uma autocrítica, aliás já feita pelo Ministro Palocci e pelo economista Marcos Lisboa, quando ele era a figura mais importante na formulação das políticas microeconômicas deste País.

Portanto, devemos enfrentar a crise, percebendo que ela é muito grave. Se tiver que custar a popularidade do Presidente, que ele tenha a grandeza de entregar sua popularidade em holocausto, que entregue a sua popularidade. Esse é o papel do estadista. Ao defender a popularidade à custa de prolongar a agonia do povo brasileiro, não sei se cumprirá o objetivo de garantir popularidade e sei que será extremamente prejudicial à própria saúde da economia e, portanto, à vida do povo brasileiro e, consequentemente, à própria popularidade do Presidente a longo prazo. Não é hora de pensar nisso. É hora de pensar grande. Portanto, as nossas previsões infelizmente estavam certas.

Eu peço a V. Exª mais um minuto. Muito obrigado, Srª Presidenta.

Infelizmente o realismo estava correto e os ufanistas estavam equivocados. A crise é extremamente grave; ela atingiu o País em cheio, centenas de milhares de desempregados já estão com suas vidas em suspenso, assim como o emprego informal volta a ocupar papel de destaque na economia deste País, o que significa menos recurso para a Previdência, o que significa precariedade das empresas em que se trabalha, o que significa mais empresas de “fundo de quintal”. É uma advertência que faço.

Eu espero que o Presidente não receba isso como uma torcida contra. Não é hora dessa menor maturidade, é hora de mais maturidade, é hora de perceber que eu não tenho a menor vontade de vencer uma eleição às custas de emprego de quem quer que seja neste País. Portanto, cobro do Presidente da República, do nosso Presidente, do meu Presidente, do Presidente que foi eleito contra o meu voto mas foi eleito por uma maioria esmagadora dos brasileiros, cobro do Presidente: “Presidente, lidere a Nação, assuma a crise e ajude a Nação a enfrentar esta crise, em primeiro lugar, diagnosticando-a com correção e apontando os remédios corretos”.

Se o diálogo se der nesse nível, o meu Partido, o PSDB, e neste momento pela Liderança eu assumo esta posição, o PSDB estará às ordens para o diálogo que signifique nós minorarmos o sofrimento de um povo que não merece sofrer mais do que secularmente já vinha sofrendo, como o povo brasileiro.

Muito obrigado, Srª Presidenta, era o que tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2009 - Página 4313