Discurso durante a 70ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta à aparente mudança de prioridade, pelo Ministério da Saúde, no combate à dengue e à gripe suína.

Autor
Adelmir Santana (DEM - Democratas/DF)
Nome completo: Adelmir Santana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Alerta à aparente mudança de prioridade, pelo Ministério da Saúde, no combate à dengue e à gripe suína.
Aparteantes
Augusto Botelho, Mozarildo Cavalcanti, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2009 - Página 16850
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, PROPAGAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AUMENTO, CONTAMINAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL.
  • REGISTRO, PRESENÇA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, BRASIL, REDUÇÃO, APREENSÃO, POPULAÇÃO, QUESTIONAMENTO, ORADOR, PRIORIDADE, DOENÇA TRANSMISSIVEL, EXCESSO, DIVULGAÇÃO, RISCOS, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ADVERTENCIA, ANTROPOLOGO, HISTORIADOR, FALTA, ATENÇÃO, COMBATE, GRAVIDADE, DOENÇA, AGENTE TRANSMISSOR, AEDES AEGYPTI.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, MINISTERIO DA SAUDE (MS), DEMONSTRAÇÃO, EXCESSO, CONTAMINAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AEDES AEGYPTI, QUANTIDADE, MORTE, DEFESA, MANUTENÇÃO, POLITICA, COMBATE, DOENÇA.
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, QUANTIDADE, CONTAMINAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AEDES AEGYPTI, DISTRITO FEDERAL (DF), IMPORTANCIA, ESFORÇO, SECRETARIA DE SAUDE, COMBATE, DOENÇA, ADVERTENCIA, ORADOR, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, TRABALHO, PREVENÇÃO, CIDADE SATELITE, MOTIVO, EXCESSO, CHUVA.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Ministério da Saúde atualiza, dia a dia, os números confirmados de brasileiros infectados pelo vírus da gripe suína - ou Influenza A (H1N1) -, inclusive registrando contágios ocorridos no território nacional. O último número fala em 32 suspeitos e 8 confirmados. São pacientes localizados em diversos Estados. A maioria contraiu o vírus no exterior e ainda não há casos letais no Brasil, esperando-se que as autoridades sanitárias sejam felizes em evitar que isso ocorra.

Nas dias últimas semanas, o assunto dominou o noticiário e praticamente monopolizou as atenções do Ministério da Saúde, ocupado em evitar um clima de pânico na população brasileira. Ainda hoje, esteve aqui, na Comissão de Assuntos Sociais, o Ministro Temporão, explanando sobre a matéria.

Dito tudo isso, chamo a atenção para um dilema que deve estar cercando o Ministro José Gomes Temporão e toda a sua equipe.

Como priorizar o combate à gripe suína no Brasil se os efeitos atuais da dengue, outra doença gravíssima, são muito maiores e muito mais visíveis?

Atualmente, a dengue é a arbovirose mais comum que atinge o homem, sendo responsável por até 100 milhões de casos por ano no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 20 mil desses pacientes morrem atualmente. É uma verdadeira tragédia planetária.

A febre hemorrágica da dengue e a síndrome do choque da dengue atinge pelo menos 500 mil pessoas/ano no planeta, apresentando taxa de mortalidade de até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes não tratados.

A dengue é transmitida através da picada de uma fêmea contaminada do Aedes aegypti, pois o macho se alimenta apenas de seiva das plantas. Um único mosquito desses, em toda a sua vida (45 dias úteis, em média), pode contaminar até 300 pessoas.

Convenhamos que parece um quadro muito grave, mas estranhamente não sensibiliza a mídia nem mobiliza a chamada opinião pública nem mesmo a classe política.

Pior que isso: a dengue não abala as autoridades da área de saúde tanto quanto a nova gripe suína, que virou o grande destaque dos noticiários.

Preocupa-me registro feito pela Agência Brasil, focalizando justamente esse paradoxo, quando entrevistou o antropólogo e historiador Cláudio Bertoli, em São Paulo, ouvindo dele a seguinte advertência: “O destaque dedicado à gripe suína nos meios de comunicação acaba deixando de lado outras doenças, algumas até mais letais”, diz ele, explicando que isso acontece pelo fato de a gripe ser uma doença nova.

Além disso, lembrou Bertoli, existe ainda uma forte referência no imaginário popular com relação aos 26 milhões de mortos em decorrência da gripe espanhola, em 1918. Há quem fale até que foram 50 milhões de vítimas.

Segundo o antropólogo Bertoli, como o novo vírus ainda é desconhecido, traz o temor de que essa doença possa “colocar em xeque” a existência da civilização humana. “Ao lado de uma epidemia biológica, há sempre uma epidemia de medo”, destacou ele.

Por isso, apesar do baixo número de casos confirmados no Brasil, a gripe suína acaba sobrepondo-se à atenção dedicada à dengue.

Para o antropólogo, isso se motiva principalmente pelo fato de o “discurso midiático ser um discurso espetacular”.

Concedo o aparte ao nobre Senador Papaléo Paes.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Adelmir Santana, quero parabenizar V. Exª pelo discurso que faz exatamente porque nele há um fundamento muito forte sobre a questão que estamos enfrentando. Não quero negar. Hoje, V. Exª inclusive estava presente, tivemos uma audiência pública com o Sr. Ministro da Saúde - e, mais uma vez, reitero a presteza do Ministro com o Senado, todas as vezes que é convocado ou convidado para vir aqui. Entendemos que o Ministro fez sua parte de uma maneira muito positiva hoje, na nossa Comissão de Assuntos Sociais, presidida pela Senadora Rosalba Ciarlini, e na Subcomissão de Saúde, presidida pelo Senador Augusto Botelho. Quero registrar também que me senti muito honrado quando fui indicado Relator dos temas que vamos discutir na Comissão de Assuntos Sociais. V. Exª tem razão, porque a concentração de casos, principalmente na nossa Região Norte e aqui no Centro-Oeste, de dengue e de malária, faz com que realmente passemos a nos preocupar com o fato de que o Ministério da Saúde desfoque, dessas áreas importantes relacionadas à dengue e à febre amarela, o centro das suas atenções e que fiquemos apenas na questão da gripe - sobre a qual vou falar aqui - popularmente chamada de gripe suína.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF) - Ou Influenza A.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Ou Influenza A, exatamente. Foi muito boa essa mudança, essa caracterização, para o povo não ficar pensando que, se você tiver contato com o porco ou qualquer coisa parecida, até alimentando-se de carne de porco, pode pegar a gripe, porque não tem nada a ver. Fico satisfeito em saber que o País, pelo Ministério da Saúde, está tomando todas as providências sobre a prevenção e as cautelas que temos de tomar em portos, aeroportos e outras entradas de pessoas ou de estrangeiros. Mas louvo seu discurso exatamente por isso, porque não podemos desviar a nossa atenção daquilo que é crônico em nosso País e que precisa de investimentos pesados, firmes na área, principalmente, do saneamento básico, que não podemos deixar que fique de lado. É necessário que recursos continuem sendo injetados para o combate e prevenção à dengue e à malária, e que continuem as ações de Governo. Acredito que brevemente estaremos livres da preocupação com a Influenza A. Parabéns a V. Exª. Quero, mais uma vez, ressaltar que V. Exª participou hoje de uma audiência pública muito positiva para nós. E o Ministro e toda a sua equipe do Ministério da Saúde vieram aqui nos esclarecer, prestigiar o trabalho da nossa Comissão e da Subcomissão. E quero deixar claro, principalmente, que estamos lidando com um só partido em nossa Comissão, que é o partido da saúde. Muito obrigado.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF) - Agradeço a V. Exª pelo aparte.

E queria reafirmar que, na avaliação de Bertoli, os veículos de comunicação tratam de assunto que fogem do comum, como é o caso dessa nova gripe, e dão esse destaque midiático.

Concedo o aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti e, em seguida, ao Senador Augusto Botelho, ambos médicos, aliás, o primeiro também médico.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Adelmir, fico feliz que V. Exª, não sendo médico, esteja abordando com muita propriedade esta questão. Aliás, a Comissão de Assuntos Sociais, através da Subcomissão da Saúde, e também todos os membros da Comissão de Assuntos Sociais, começou um ciclo de debates sobre o Sistema Único de Saúde e os seus diversos aspectos. Assisti atentamente à palestra do Ministro. Digo a V. Exª que não estou convencido do que foi colocado ali, números relativos, como porcentagens, o que não retrata muito a realidade, por exemplo, quando se diz que se investiu 80% a mais na Amazônia, num Estado x, ou seja, que poderia investir 1 e passou a investir 8, o que dá 80% a mais. Então, não é bem por aí, o raciocínio não pode ser esse. V. Exª citou a questão da dengue, que só chamou a atenção das autoridades brasileiras e da imprensa quando atingiu o Rio de Janeiro. Enquanto estava na Região Norte, no Centro-Oeste, não houve nenhum tipo de atenção. A Anvisa, Agência de Vigilância Sanitária, está muito capenga, Senador. Na verdade, é preciso, sim, que depois dessas audiências possamos fazer uma profunda análise e mostrar, realmente, onde estão os gargalos, porque é sempre aquela história: está faltando dinheiro para a saúde. Está faltando competência para gerir e está faltando seriedade na gerência do recurso público. Veja a questão da saúde indígena: é só roubalheira. Veja o que acontece na Funasa: é só desvio de dinheiro. Então, assim, não há dinheiro que chegue.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF) - Agradeço ao Senador Mozarildo e concedo, em seguida, um aparte ao Senador Augusto Botelho. E, mesmo sem ser médico, Senador Mozarildo, estou atento e acompanhando esses fatos. E chama-me a atenção essa questão midiática para a gripe suína, quando vemos inúmeros, milhares e milhões de casos ocorrendo na questão da dengue. Um aparte ao Senador Augusto Botelho.

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Adelmir Santana, V. Exª tem-se destacado por defender as pequenas e microempresas aqui, mas agora está defendendo a saúde. Eu agradeço e fico feliz pela sua manifestação. Faço um aparte a V. Exª para reafirmar realmente que o Ministério da Saúde tomou as medidas adequadas para conter a disseminação do vírus; espero que ele tenha sucesso. Se houver recursos e as ações forem mantidas no sentido que estão sendo mantidas, nós não vamos permitir que esse vírus se dissemine incontrolavelmente pelo País. Agora, as pessoas têm que também cooperar. Este papel que tenho na mão eu recebi na quinta-feira passada, no Aeroporto de Boa Vista, e ainda não havia sido confirmado nenhum caso de febre H1N1, suína, no Brasil. Recebi antes das confirmações dos casos, para mostrar como lá, em Roraima, onde as coisas custam a chegar, o Ministério da Saúde já estava, com eficiência, distribuindo orientações sobre a gripe suína. Fiz aparte a V. Exª para poder parabenizá-lo e dizer que o senhor tem incorporado agora mais um lutador e defensor da saúde nesta Casa.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF) - Obrigado, Senador Botelho.

Eu citei aqui, Senador Botelho, exatamente o estudo do nosso Bertolli, que, na verdade, é um antropólogo e historiador; portanto, também não é médico.

Nessa mesma linha, é também um estudioso da história das epidemias, o infectologista Stefan Cunha, que foi ouvido pela Agência Brasil e destacou outro fator que faz com que a gripe suína cause maior temor: A cobertura “em tempo real” da evolução do número de casos. Segundo ele, ainda é cedo para determinar a capacidade de contaminação e a letalidade do novo vírus.

Apesar de os números atuais indicarem para uma taxa de mortalidade acima de 20%, Cunha explicou que as características da população mexicana contaminada podem ter elevado o número de mortes naquele país. “O que a gente acha é que a população dos mortos no México é uma população mais debilitada”, destacou o infectologista, portanto, abrindo reflexão sobre o assunto que domina o noticiário este mês.

A comunicação globalizada, a capacidade de monitoramento em tempo real, os antibióticos e as drogas antivirais são avanços que não estavam presentes na época da pandemia da gripe espanhola e, agora, ajudam a combater a gripe suína ou Influenza A (H1N1).

De acordo com Stefan Cunha, essas medidas, em conjunto com as ações para evitar a disseminação da doença, podem diminuir o possível número de mortos pela doença.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dito tudo isso, falo da Dengue Hemorrágica, uma doença grave, que se caracteriza por alterações da coagulação sanguínea das pessoas infectadas. Inicialmente se assemelha à dengue clássica, mas, após o terceiro ou quarto dia de evolução da doença, surgem hemorragias, pelo sangramento de pequenos vasos e nos órgãos internos.

Na Dengue Hemorrágica, assim que os sintomas da febre acabam, a pressão arterial do doente cai, o que pode gerar tontura, queda e choque. Se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à morte.

Na mesma linha de preocupação, convivemos hoje no Brasil com a “Síndrome de Choque da Dengue”.

Esta é a mais grave apresentação da dengue e se caracteriza por uma grande queda ou ausência de pressão arterial. A pessoa acometida pela Síndrome da Dengue apresenta um pulso quase imperceptível, inquietação, palidez e perda de consciência.

Neste tipo de apresentação da doença há registros de várias complicações, como alterações neurológicas, problemas cardiorrespiratórios, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural. Se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à morte.

A América convive com mais de 850 mil casos de dengue por ano, dos quais cerca de 600 mil só no Brasil.

Pensávamos que a situação estava sob controle este ano, mas não está. Em balanço parcial divulgado ontem, o Ministério da Saúde afirma que os casos de dengue no País caíram 49% em comparação ao mesmo período de 2008. Mas já passaram da marca de 220 mil casos e a situação ainda é muito preocupante em oito Estados: Acre, Amazonas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso e Roraima.

Essa é a triste realidade do País, que agora ainda é obrigado a conviver com verdadeiras tragédias provocadas pelas mudanças climáticas, com enchentes no Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e outros Estados, trazendo o risco de outras epidemias.

De acordo com a divulgação do Ministério da Saúde, houve queda expressiva em relação aos casos de dengue hemorrágica no País. São 552 pessoas que evoluíram para FHD, contra os 2.531 casos registrados em 2008, o que corresponde a uma queda de 78,2%.

Até agora, 87 pessoas morreram vítimas da dengue no Brasil, sendo 55 por dengue hemorrágica e 32 por complicações da forma menos grave da doença.

A medida tomada pelo Ministério da Saúde é a mesma: garantir recursos e enviar equipes para as regiões mais atingidas, mas a batalha parece longe do fim. Sem medidas de combate efetivo, os casos continuam se disseminando.

No Distrito Federal, entretanto, podemos comemorar a redução do número de casos em comparação com os primeiros quatro meses de 2008. No ano passado foram 1.804 casos contra 779 notificados até abril de 2009. No ano passado, portanto, apenas uma pessoa morreu em decorrência da doença. A redução é reflexo claro do trabalho da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que, como rotina, continua enviando cerca de 670 agentes de saúde para vários pontos do DF, destruindo as larvas do Aedes Aegypti e combatendo a contaminação.

As chuvas que continuam ocorrendo, no entanto, merecem atenção de todos nós. E por isso fazemos esse alerta, principalmente em regiões como Planaltina, São Sebastião, Sobradinho II, Taguatinga, Estrutural e Guará, mais atingidas pela doença. É preciso continuar o trabalho de prevenção que está sendo feito por essas equipes da Secretaria de Saúde.

Quero concluir este pronunciamento, Sr. Presidente, lembrando que a dengue foi reconhecida há aproximadamente 200 anos e tem apresentado caráter epidêmico e endêmico variados, tendendo a se agravar nos últimos anos e nos próximos.

O aumento da concentração humana em ambiente urbano propiciou crescimento substancial da população viral.

Os números que cercam essa doença obrigam todas as forças da sociedade a priorizar o seu combate.

Não podemos subestimar a gripe suína, um problema crescente e imprevisível, mas a dengue é milhares de vezes maior nos seus efeitos devastadores já contabilizados.

Portanto, vamos acordar para essa emergência. É o alerta que faço daqui da tribuna do Senado, tentando reconduzir o foco para uma situação dramática da saúde brasileira e não ficarmos focados apenas nas questões midiáticas de uma coisa que ainda não é tão grave como é a questão da dengue no Brasil.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2009 - Página 16850