Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comenta a entrevista da Carta Capital com Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, na qual questiona que não houve autopsia para apurar a causa da morte.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL.:
  • Comenta a entrevista da Carta Capital com Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, na qual questiona que não houve autopsia para apurar a causa da morte.
Publicação
Publicação no DSF de 17/06/2009 - Página 23886
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENTREVISTA, VIUVA, JOÃO GOULART, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, VIDA, PERIODO, REGIME MILITAR, DECLARAÇÃO, AGENTE, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, CONFIRMAÇÃO, OCORRENCIA, ENVENENAMENTO, PROVOCAÇÃO, MORTE, EX PRESIDENTE.
  • ENCAMINHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, SOLICITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CAUSA MORTIS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

     O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) Quero, também, Sr. Presidente, registrar - e esta seria a matéria principal da minha fala na tarde de hoje, acabei falando mais dessa situação do Senado, dos atos secretos -, repercutir nesta Casa a entrevista, nesta semana, na revista CartaCapital, da Sra Maria Thereza Goulart, a viúva de João Goulart. Nós precisamos dar atenção ao clamor dessa mulher, que foi primeira-dama do Brasil.

     A entrevista concedida nesta semana à CartaCapital é emblemática. É uma entrevista que merece a atenção de todos nós. Essa senhora continua sofrendo, Senador Cristovam. A entrevista relata, Senador Mão Santa, os últimos momentos do exílio de João Goulart, mistérios, a forma como o nosso Presidente da República morreu na Argentina.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - No Uruguai.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Não, foi na Argentina a morte. Ele tinha viajado para fazer um... Foi no interior da Argentina. Passou muito tempo no Uruguai, tinha negócios no Uruguai.

Veja V. Exa que só agora, na entrevista que ela dá, chama-me a atenção um fato: não houve autópsia, não houve autópsia. Justamente, ele estava na Argentina, estava em uma fazenda, tinha viajado para fazer um negócio, e ela estava só com ele. Houve o sepultamento sem a autópsia. Ela diz isso, ela chama atenção para isso.

E um agente secreto do Uruguai, o Sr. Mario Neira Barreiro, em um livro, garante que Jango foi envenenado.

O Presidente Jango ia a um hotel em Buenos Aires, na Argentina, buscar um medicamento. São detalhes:

ele sempre viajava para Buenos Aires, para, num hotel combinado, pegar o medicamento. Esse agente secreto do Uruguai diz que ele foi envenenado pelos medicamentos.

A Sra Maria Thereza estava com ele, quando do falecimento do ex-Presidente João Goulart.

Estou apresentando um requerimento, com a matéria da revista CartaCapital desta semana, para o Ministro da Justiça, Tarso Genro, e vou encaminhá-lo também ao Presidente Lula, para que o Estado brasileiro, o Governo adote providências para olhar essa situação, que merece investigação. Não podemos deixar que esses fatos sejam esquecidos sem que se adote uma investigação no Uruguai, na Argentina e aqui, no Brasil. Sabemos da articulação das ditaduras, tanto a do Brasil, como a do Uruguai, a do Chile, a da Argentina. Havia toda uma articulação de perseguição dos exilados, das lideranças políticas da época, naquele momento muito triste da nossa história, com a presença das ditaduras militares.

Nesta semana, foi divulgada a entrevista com a Sra Maria Thereza, mas há também uma matéria, ao lado da entrevista, sobre a Operação Condor, sobre esse trabalho do agente secreto, o Sr. Mano Neira Barreiro, que tinha uma ligação com a ditadura, com os órgãos de repressão. É preciso que haja uma investigação.

É preciso que seja dada atenção à entrevista de uma viúva, de uma senhora que foi a primeira-dama, de uma brasileira que viveu um momento muito difícil da história política do Brasil, que foi o golpe militar de 1964. Viveu no exílio e está hoje praticamente só. Na entrevista, ela deixa bem claro, dá a entender que vive um exílio dentro do Brasil. Reclama dos políticos a Sra Maria Thereza Goulart.

Quero, desta tribuna, fazer um apelo ao Ministro Tarso Genro. Estou encaminhando um requerimento à Mesa, ao Ministro, para que S. Exa adote providências no sentido de investigar as questões havidas nos anos 60, quando do golpe militar, como o desaparecimento dos guerrilheiros, dos militantes do PCdoB no Araguaia.

Até hoje, há uma interrogação a respeito desse desaparecimento.

São feitas buscas dos corpos desaparecidos no Araguaia. E esse era um Presidente eleito, um Vice-Presidente eleito, um Presidente legítimo do Brasil, que teve seu mandato encurtado da forma mais violenta, com o golpe militar.

Esses relatos merecem uma investigação séria, profunda, pois, afinal de contas, é a fala, é a voz de uma senhora que viveu todos esses momentos e que continua vivendo a dramaticidade da perda do marido, do exílio, da perda do mandato presidencial. E, paralelamente ao que diz a Sra Maria Thereza, que vive hoje no Rio de Janeiro, em Copacabana, há o relato desse agente do Uruguai que fez uma investigação e que diz que João Goulart morreu não de ataque cardíaco, mas de um processo de envenenamento, por conta dos medicamentos que tomava.

Então, Sr. Presidente, fica aqui minha solidariedade a essa senhora, que não conheço pessoalmente, mas que conheço pela história, por filmes e por documentários, que é a Sra Maria Thereza. Tocou-me muito a entrevista concedida à CartaCapital desta semana, que não pode passar em branco.

Estou apresentando requerimento e espero que o Ministro Tarso Genro, pessoa que a Sra Maria Thereza admira, adote um procedimento para que possamos investigar e esclarecer definitivamente as razões da perda desse grande brasileiro que foi o Presidente João Goulart.

     Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/06/2009 - Página 23886