Discurso durante a 136ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Maçonaria Brasileira pelo transcurso do Dia do Maçom.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Maçonaria Brasileira pelo transcurso do Dia do Maçom.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2009 - Página 37716
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, MESA DIRETORA, MEMBROS, MAÇONARIA, PRESENÇA, SESSÃO, HOMENAGEM.
  • IMPORTANCIA, FUNÇÃO, MAÇONARIA, CONSTRUÇÃO, FORMAÇÃO, BRASIL.
  • CONCLAMAÇÃO, MAÇONARIA, CONTRIBUIÇÃO, GARANTIA, PAZ, ETICA, POLITICA, DIVERSIDADE, SETOR, SOCIEDADE, INCENTIVO, CONHECIMENTO, REVOLUÇÃO, EDUCAÇÃO, EQUILIBRIO ECOLOGICO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, JUSTIÇA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AUXILIO, BUSCA, SOLUÇÃO, CRISE, REFORMULAÇÃO, SENADO, MELHORIA, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Mozarildo, em nome do qual eu cumprimento todos os que compõem a Mesa e todos os maçons, jovens e não jovens aqui presentes, eu não poderia obviamente deixar de estar presente aqui, pelo respeito como observador da História do Brasil, pelo meu respeito ao papel da Maçonaria na construção e na formação do Brasil.

            Em todos os momentos da História deste País, importantes, a Maçonaria esteve presente e, em nenhum momento, do lado errado. O Senador Mozarildo, na sua fala, ao início, disse que já não temos mais monarquia, já proclamamos a República, já não temos mais escravidão, salvo a escravidão que ele disse da falta do conhecimento e outros.

            Eu vim aqui nem tanto para prestar uma homenagem a esse passado da Maçonaria. Eu vim aqui quase que para fazer um apelo à Maçonaria de hoje, que se há muito a fazer neste País.

            Se nós olharmos bem, existe um Brasil, como em 1887, morrendo, que era o Brasil da escravidão; como em 1888, morrendo, que era o Brasil da monarquia. Hoje, há um Brasil que quer ser superado ou que resiste a ser superado talvez: é o Brasil da violência nas ruas; é o Brasil da corrupção, como falou tão bem aqui o Senador Alvaro Dias; é o Brasil de uma população em que dois terços das crianças não terminam o segundo grau, e de um terço que terminam, o segundo grau é sem qualidade; o Brasil que não é hoje um importante ator na ciência e na tecnologia mundial -, somos um ator de segunda categoria em matéria de ciência e tecnologia, apesar do esforço de alguns cientistas.

            Nós somos um país velho no sentido da concentração da renda, da depredação do meio ambiente, e somos um país velho pela economia que nós temos, que, mesmo crescendo, vai contra o meio ambiente e não incorpora as características da economia do conhecimento, o setor que de fato gera valor daqui para frente.

            E há um Brasil novo querendo nascer. É o Brasil da indústria do conhecimento, mais do que da indústria mecânica; é o Brasil novo do desenvolvimento equilibrado ecologicamente; é o Brasil novo da distribuição da renda; é o Brasil novo da paz nas ruas; é o Brasil novo da ética na política e nos demais setores da sociedade, porque não é só na política que está faltando ética. Pois bem, eu vim fazer um apelo para que a Maçonaria ajude como parteiros vocês todos desse novo Brasil que quer nascer e não está conseguindo.

            Nós, meu caro amigo e irmão Jafé, acreditamos que a simples democracia de volta ia fazer nascer o novo Brasil. Não fez. Piorou o Brasil? Não, melhorou. Nós acreditávamos que a eleição direta seria capaz de fazer com que o nosso Brasil surgisse. Piorou com a eleição direta? Eu não acho, mas não fez ainda aparecer o parteiro desse Brasil novo. Nós elegemos inclusive presidentes que vinham das forças progressistas, como o admirável Fernando Henrique Cardoso, mas não vimos o Brasil novo nascer. Elegemos um operário, um trabalhador, que, a meu ver, está fazendo um governo melhor que muitos no passado fizeram, mas não fez nascer o novo Brasil. O Brasil da paz nas ruas, o Brasil da ética na política, o Brasil da indústria do conhecimento, o Brasil da revolução na educação, o Brasil do equilíbrio ecológico, a gente não está vendo.

         São governos que avançam, mas não mudam, como a Maçonaria ajudou o Brasil a mudar nos momentos certos e não apenas a avançar. Até mesmo a sigla que a gente vê de Programa de Aceleração do Crescimento já implica aceitar o velho, porque é acelerar, quando o Brasil precisa “inflexionar” o seu rumo. Não estamos em tempo apenas de acelerar, mas de acelerar numa outra direção, com uma mudança de rumo, para este Brasil novo. E não estamos vendo nas nossas lideranças - e eu me incluo entre elas - a capacidade, o discernimento, a competência para formar a base de apoio para essa mudança.

            Com isso, em vez de vir aqui homenageá-los, o que todos já fizeram, eu vim aqui apelar, para que usem a força que a Maçonaria tem, que já demonstrou no passado, para fazer surgir um parteiro do novo Brasil. Quando eu digo um parteiro, eu não digo uma pessoa, um líder carismático; eu digo uma força, uma força que seja capaz de tirar esse Brasil novo de dentro do velho, como fizemos em 1989, como fizemos em 1988, como eu acho que começamos a fazer em 1930 e em outros momentos.

            Vocês talvez não tenham a percepção clara da força que têm na sociedade brasileira. Não apenas essa força da manutenção de sistemas de apoio ao bom funcionamento do que está aí, inclusive com programas de caridade, mas essa força política de levar este País a se organizar em torno de uma transformação.

            E, além disso, eu quero falar - para não ficar na generalidade de um Brasil novo - de um caso específico: nós, o Senado, precisamos de vocês para sairmos desse pântano onde nós entramos. Não estamos conseguindo sozinhos. Ou haverá uma força de fora que nos empurre a reformar o Senado, ou nós vamos continuar patinando. Em até 2010, a eleição não vai mudar o perfil do Senado, tanto do ponto de vista das pessoas, como do ponto de vista das características de funcionamento, nem nessa lama que temos na superfície, nem na ferrugem que temos, embaixo, na engrenagem. Nós precisamos de uma força de fora! A força que fez as Diretas, que fez a República, que fez a Abolição. Essa força nova que representa a alma de um povo em mutação não vai sair, a meu ver, nos próximos anos e talvez até mais do que anos, décadas - daqui de dentro -, se não vier o impulso de fora.

            Eu vim aqui fazer o apelo de que nos ajudem. Não a mim, não a Mão Santa, não a Mozarildo, não a Augusto, porque a gente não sabe exatamente quem é que tem a verdade hoje, mas que ajude esta entidade a encontrar um novo rumo na sua história. Nós precisamos mudar e não estamos sabendo nem para onde exatamente, nem como, do ponto de vista da aglutinação das forças políticas.

            Quando eu digo de fora não é só a Maçonaria; é a juventude em geral; são os intelectuais deste País que estão calados; são os trabalhadores que já não se manifestam, porque parece que estão satisfeitos em terem benefícios para eles e não precisam pensar no Brasil como um todo.

            Eu venho apelar para que nós, juntos, construamos um Brasil limpo, porque desenvolvido a gente já construiu, e ele não está satisfazendo. O que a gente precisa é de um Brasil limpo, limpo na paz das ruas, limpo numa educação da mais alta qualidade, limpo numa economia que não degrade o meio ambiente, limpo na maneira como distribuímos a renda da nossa economia, limpo na maneira como fazemos política, limpo na maneira como fazemos os negócios. É de um Brasil limpo que a gente precisa. E esse Brasil não será limpo se suas forças políticas não estiverem passando a ideia de limpeza, além de serem limpos também.

            Hoje, eu acho que nós não estamos passando a ideia de limpeza, para não acusar ninguém de não ser limpo. Lá fora, a imagem que estamos passando é de sujeira, e não de limpeza.

            Nós precisamos de um Brasil limpo, este Brasil novo que quer nascer e de que nós não estamos sabendo ser os parteiros no momento exato.

            Claro que o Brasil novo vai nascer! Mas por que esperar 10, 20, 30 50, 60 anos? Por que deixar para outra geração o privilégio de entrar na História como parteira deste novo Brasil? Por que não trazermos isso para nós, como trouxeram para eles os de 1889, os de 1888, os de 1822, os de 1930, os de 1964 inclusive, em que alguns de nós participou; e o de 1985, quando a gente deu uma inflexão para a democracia.

            Vamos trazer para nós a tarefa de sermos parteiros desse novo Brasil, e a Maçonaria, com a experiência histórica que teve em momentos históricos fundamentais deste País, pode ser parte dessa grande força.

         Eu concluo, portanto, meu caro amigo Senador Mozarildo Cavalcanti, dizendo da confiança que tenho como brasileiro - não só como Senador -, ao ver aqui, na minha frente, pessoas que, pela instituição à qual pertencem, pela história que ajudaram a fazer, sei que não vão deixar passar em branco este momento que aí está e vão ajudar o Brasil a nascer de novo como um Brasil limpo, muito mais do que desenvolvido, como um Brasil contemporâneo com a historia do mundo inteiro e não um Brasil que fica para trás.

         Eu, como brasileiro, gostaria de fazer este apelo: levem para todas as lojas das quais vocês participam a ideia de que um novo Brasil precisa de vocês e de nós para nascer. E eu acrescentaria apenas que, pelo menos na minha impressão, esse novo Brasil, que precisa mudar tudo, tem um vetor fundamental, que é a revolução na educação. É preciso fazer com que aconteça neste País a grande revolução pela qual lutou Joaquim Nabuco, um dos irmãos de vocês - ontem, aliás, fizemos 160 anos do seu nascimento. Joaquim Nabuco já previa um Brasil onde a escola do rico fosse igual à escola do pobre. Ele dizia que era preciso colocar, na mesma escola, os filhos da casa grande e os filhos da senzala. Hoje, nada mudou, apenas o lugar onde estão os filhos. Temos de colocar na mesma escola os filhos das favelas e os filhos dos condomínios, os filhos dos trabalhadores e os filhos dos patrões, os filhos dos eleitos e os filhos dos eleitores. Esse seria o grande vetor desse novo Brasil que está querendo nascer, ainda que forças e vícios tentem impedir o seu nascimento.

            Vida longa para vocês!

            Vida longa para a Maçonaria!

            Vida longa para o Brasil, mas um Brasil renovado.

            Vocês tem tudo para fazer esse novo Brasil nascer, e essa é uma obrigação também.

            Muito obrigado por estarem aqui conosco hoje. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2009 - Página 37716