Discurso durante a 161ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do Dia Internacional da Democracia, instituído pela Assembléia Geral da ONU, para marcar a adoção da Declaração Universal sobre a Democracia no âmbito da União Interparlamentar. Liberdade de expressão, com ênfase no funcionamento livre e regular dos meios de comunicação, como condição para a preservação e a consolidação dos regimes democráticos.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DEMOCRATICO. IMPRENSA.:
  • Comemoração do Dia Internacional da Democracia, instituído pela Assembléia Geral da ONU, para marcar a adoção da Declaração Universal sobre a Democracia no âmbito da União Interparlamentar. Liberdade de expressão, com ênfase no funcionamento livre e regular dos meios de comunicação, como condição para a preservação e a consolidação dos regimes democráticos.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2009 - Página 46311
Assunto
Outros > ESTADO DEMOCRATICO. IMPRENSA.
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, SENADO, DIA INTERNACIONAL, DEMOCRACIA, REITERAÇÃO, CONCEITO, VALOR, VINCULAÇÃO, REGIME, FUNCIONAMENTO, LEGISLATIVO.
  • IMPORTANCIA, VINCULAÇÃO, DEMOCRACIA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, LIBERDADE, FUNCIONAMENTO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, APREENSÃO, SITUAÇÃO, AMERICA LATINA, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, ARGENTINA, DETALHAMENTO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, INTIMIDAÇÃO, GRUPO, IMPRENSA, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, PREJUIZO, ESTADO DEMOCRATICO, DIREITOS, INFORMAÇÃO, OCORRENCIA, REPUDIO, AMBITO INTERNACIONAL, MOBILIZAÇÃO, DEFESA.
  • ANALISE, ATUAÇÃO, IMPRENSA, COMBATE, DESEQUILIBRIO, CENTRALIZAÇÃO, PODER, RECEBIMENTO, CONFIANÇA, CIDADÃO.
  • REGISTRO, INFORMAÇÃO, OCORRENCIA, HOMICIDIO, JORNALISTA, AMEAÇA, JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, MEXICO, COLOMBIA, AUTORIA, CRIME ORGANIZADO.
  • SAUDAÇÃO, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), DEFINIÇÃO, INCONSTITUCIONALIDADE, LEI DE IMPRENSA, ORIGEM, DITADURA, REGIME MILITAR.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, RADIALISTA, CONGRATULAÇÕES, EMISSORA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, RADIO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Cícero Lucena, Srªs e Srs. Senadores, há apenas alguns dias, festejamos neste plenário o transcurso do Dia Internacional da Democracia, instituído pela Assembléia Geral da ONU para marcar a adoção da Declaração Universal sobre a Democracia no âmbito da União Interparlamentar. Pudemos então reafirmar, nesta Casa, não apenas o conceito e os valores da democracia, mas também o estreito vínculo entre esse regime e o pleno funcionamento dos Parlamentos nas sociedades contemporâneas.

            Hoje, Sr. Presidente, quero abordar outra condição igualmente básica para a preservação e a consolidação dos regimes democráticos, que é a liberdade de expressão, com ênfase no funcionamento livre e regular dos meios de comunicação.

            Essa reflexão decorre das várias tentativas de cerceamento da liberdade de expressão que vêm ocorrendo na América Latina, particularmente na Venezuela e na Argentina, onde grandes e tradicionais grupos de mídia têm sido intimidados e até perseguidos pelos governantes desses países.

            Esse tem sido o altíssimo preço pago pelos meios de comunicação simplesmente por praticarem aquilo que é o seu ofício: manter bem informada a comunidade de seus leitores, ouvintes e telespectadores, relatando os acontecimentos de interesse jornalístico com isenção e soberania.

            A democracia, Srªs e Srs. Senadores, não pode ser entendida como um regime estático, pronto e acabado. Ela está permanentemente em construção; ela vive um processo contínuo de aprimoramento do qual participam vários atores; e desde que a opinião pública passou a constituir a referência das sociedades modernas; os meios de comunicação assumiram uma importância tal que para eles se criou a expressão “quarto poder”, em alusão aos três poderes típicos dos Estados democráticos.

            Pode-se dizer que esse quarto poder tende a compensar algumas das fragilidades da democracia, como o eventual distanciamento entre representantes e representados ou a preponderância de alguns dos poderes tradicionais por força de determinadas circunstâncias.

            Ainda que movida por interesses próprios do mercado, a mídia comercial se consolidou no mundo ocidental como um contraponto a possíveis investidas totalitárias ou centralizadoras do poder público. Assim, credenciou-se a merecer a credibilidade do cidadão e da coletividade neste jogo de poderes, mesmo que, na sua individualidade, esses meios de comunicação possam ter pontos de vistas e ideologias completamente conflitantes.

            Esse reconhecimento não vem ocorrendo em países como a Venezuela e a Argentina, entre outros, o que comprova o quanto são frágeis a concepção e a tradição de democracia na América Latina.

            Na Venezuela, o que mais nos chama a atenção é a situação que vive a Globovisión, ameaçada de perder a licença por, supostamente, ter veiculado mensagens que atentariam contra a segurança da nação e representariam uma violação da lei que rege o setor.

            Não se pode ignorar um perigoso precedente, que foi o fechamento, em 2007, da RCTV. Não se pode ignorar também a recente decisão do Governo Chávez de revogar nada menos que 34 licenças de rádio e de canais de televisão naquele país, o que gerou protestos em várias partes do mundo. Até mesmo organismos internacionais, como a Unesco, se mostraram profundamente preocupados com aquela decisão.

            “O povo venezuelano” - disse então o Diretor-Geral da Unesco, Koïchiro Matsuura - “tem o direito de receber informação e análise dos eventos relacionados a ele a partir de diferentes pontos de vista”.

            Diversidade de pontos de vista, Sr. Presidente, é o que não tem sido tolerado também na Argentina, onde o Governo encaminhou ao Parlamento um projeto de lei de serviços audiovisuais que autorizava empresas de serviços públicos, basicamente companhias telefônicas, a atuar como fornecedoras de TV a cabo.

             Senador Mozarildo Cavalcanti, é um prazer receber um aparte de V. Exª.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Roberto Cavalcanti, V. Exª faz um alerta ou chama a atenção para um ponto interessante, já que comemoramos, há poucos dias, o Dia da Democracia. Como pode haver democracia sem imprensa livre? Gostemos ou não gostemos do que se publica, é exatamente esse o papel fundamental da imprensa para a democracia: informar, mesmo que eventualmente de forma errada. O que não pode acontecer é que o Presidente ou o Chefe de Estado de plantão julgue o que a imprensa deve dizer e, na medida em que esta contrarie seus pensamentos, comece a inventar leis, medidas, para justificar o fechamento daqueles veículos que, vamos dizer assim, não rezam pela sua cartilha. Li há poucos dias um artigo sobre a Venezuela. Não vou nem falar de Cuba porque ali só há um jornal, o oficial, que fala o que o partido único quer. Na Venezuela - e li recentemente o artigo -, por meio de eleições em que, aparentemente, não há muita evidência de que tenham sido fraudadas, o Presidente Chávez, agora, se elege e se reelege quantas vezes quiser. Já acabou com o Senado e elegeu uma assembléia nacional, que é a Câmara dos Deputados, num pleito do qual a oposição, por equívoco, não participou. Portanto, ele fez praticamente todos os Deputados e, hoje, tem uma oposição pífia. O Poder Judiciário ele desmontou e agora está calando as vozes, como V. Exª disse, com várias cassações de concessões etc. Portanto, passando a querer que lá só exista uma voz de imprensa: a que fala bem dele. E o Brasil precisa estar atento a isso. Nós não podemos aceitar no Brasil sequer uma semelhança a esse tipo de comportamento de países como os que V. Exª citou. O Brasil já venceu etapas difíceis na sua caminhada rumo à democracia e não pode condescender com a ruptura de um dos primados da democracia, que é a existência de uma imprensa livre e de um Legislativo atuante.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Agradeço-lhe o aparte. V. Exª se caracteriza como combativo parlamentar, honrando a dinastia dos Cavalcantis.

            O projeto, de acordo com os analistas, tinha o claro propósito de ferir os interesses do Grupo Clarín, o maior conglomerado de mídia do país e líder no mercado de TV a cabo.

         Embora o Governo Cristina Kirchner tenha recuado desse propósito, modificando a proposta original, o cerco ao Grupo Clarín continua.

            Há cerca de duas semanas, um órgão subordinado à Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), o equivalente à Receita Federal Argentina, promoveu uma blitz incomum e desproporcional na sede do jornal, que tem divulgado, com freqüência, reportagens denunciando corrupção no governo.

            Cerca de 200 fiscais tomaram de assalto as principais empresas do grupo, apreenderam livros contábeis e outros documentos.

            Embora o governo argentino negue qualquer responsabilidade direta, a mobilização foi interpretada como uma ação intimidatória e como violação da liberdade de imprensa pela Associação Empresarial e pela Associação de Entidades Jornalísticas daquele país; e também repercutiu no exterior, sendo condenada por agências de notícias como a espanhola EFE e a italiana Ansa, além dos jornais El Mundo, da Espanha, e El Tercero, do Chile.

            As situações de risco para a atividade jornalística se repetem em outros países da América Latina.

            A revista Mídia com Democracia, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, salientou recentemente, em sua edição de nº 8, que “na América Latina, a prática de uma comunicação democrática tem sido constantemente ameaçada por diversos fatores”. Nem sempre os motivos dessa ameaça estão ligados ao exercício do poder público. “México e Colômbia”, diz o periódico, “são os países latino-americanos onde há mais assassinatos e ameaças a jornalistas e veículos de comunicação, ambos por motivos semelhantes”.

            Nesse caso, o cerceamento decorre principalmente do crime organizado, da corrupção, da impunidade, das agressões por parte de corporações policiais e da falta de empenho do poder público em defender o direito à livre expressão.

            No México, nos últimos oito anos, 24 jornalistas foram assassinados e oito estão desaparecidos; na Colômbia, os jornais se arriscam num território onde há conflitos envolvendo o poder público, as guerrilhas e os grupos paramilitares. Também no Equador a mídia vem correndo riscos, estando o canal Teleamazonas ameaçado de fechamento pelo governo do Presidente Rafael Correa.

            Por muitos anos, Sr. Presidente, nós brasileiros também convivemos com a censura e a repressão aos meios de comunicação. É evidente que as condições de que dispomos no momento não são totalmente satisfatórias, o que nos impele a manter severa vigilância para que a opinião pública possa ter acesso a todas as informações do seu interesse.

            Há quase cinco meses, precisamente no dia 30 de abril, tivemos uma boa notícia, que foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de considerar inconstitucional a Lei nº 5.250, a chamada Lei de Imprensa, um entulho autoritário dos tempos do regime militar. Esse dia há de ficar na memória de todos os brasileiros que prezam a liberdade de manifestação do pensamento e de informação.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a liberdade de bem informar os cidadãos de tudo o que ocorre na vida pública é uma prerrogativa da qual não podemos abdicar.

            Agressões à imprensa e ao livre direito de expressão ocorrem em todos os quadrantes do mundo, mas é natural que nos preocupemos primeiramente com a vida nacional e, em seguida, como se fora em círculos concêntricos, com a dos nossos vizinhos, por uma questão de proximidade geográfica e de identidade cultural.

            Assim, é com pesar que registro as recentes intimidações e agressões que os meios de comunicação vêm sofrendo na Venezuela e em outros países da América Latina, mas é também com redobrada confiança que vejo as reações de todos aqueles que não se dobram ante tais ameaças; e com eles me congratulo, convicto de que a sociedade brasileira e latino-americana há de estar unida nessa luta pelo direito à livre manifestação do pensamento, pelo direito à informação e pelo direito às inegáveis vantagens dos regimes plurais e democráticos.

            Sr. Presidente, era o que eu tinha a relatar, fazendo essa convocação de defesa da imprensa.

         Aproveitando esta tribuna, gostaria de fazer também uma referência ao Dia do Rádio, ao Dia do Radialista, em uma homenagem à Rádio Senado, que atua nesta Casa com exemplar conduta e com extraordinária competência. Em nome da Rádio Senado, eu parabenizo e me congratulo com todas as emissoras de rádio do País.

            Muito obrigado Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2009 - Página 46311