Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o aumento da criminalidade e da violência na Paraíba. Apelo ao governador José Maranhão, no sentido de constituir mais segurança pública no Estado.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Considerações sobre o aumento da criminalidade e da violência na Paraíba. Apelo ao governador José Maranhão, no sentido de constituir mais segurança pública no Estado.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2009 - Página 46443
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRESCIMENTO, VIOLENCIA, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMENTARIO, DADOS, DOCUMENTO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), MINISTERIO DA SAUDE (MS), PARCERIA, ENTIDADE, COMPARAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ESPECIFICAÇÃO, HOMICIDIO, VITIMA, JUVENTUDE, OMISSÃO, SOCIEDADE, IMPRENSA, DEMORA, IMPLEMENTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROGRAMA NACIONAL, SEGURANÇA PUBLICA, CIDADANIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, MAIORIA, ESTADOS, MUNICIPIOS, INSCRIÇÃO, PROGRAMA, RECEBIMENTO, REPASSE, AUSENCIA, APLICAÇÃO DE RECURSOS.
  • DETALHAMENTO, SITUAÇÃO, ESTADO DA PARAIBA (PB), SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, DEFINIÇÃO, PRIORIDADE, SEGURANÇA PUBLICA, BUSCA, AMPLIAÇÃO, OPORTUNIDADE, EDUCAÇÃO, TRABALHO, RESPONSABILIDADE, URGENCIA, PROVIDENCIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recentemente, ao falar aqui sobre a necessidade de a classe política paraibana ter uma posição homogênea na apresentação de emendas ao Orçamento do próximo ano, eu fiz uma referência muito rápida à questão da segurança pública em meu Estado.

            Na ocasião, lamentei o fato de as ocorrências criminosas na Paraíba terem crescido 30% entre 2003 e 2008, enquanto a população, no mesmo período, crescia apenas 3,48%.

            E destaquei que isso significava, simplesmente, que a criminalidade naquela Unidade da Federação estava crescendo em um ritmo oito vezes maior que o da população. Oito vezes, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores!

            A situação é tão grave, tão reveladora de que alguma coisa de errado está acontecendo em nossa sociedade, que me permito voltar ao assunto, para fazer algumas considerações adicionais.

            O problema, é claro, não se restringe à Paraíba.

            Como bem atesta o “Mapa da Violência”, documento elaborado conjuntamente pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, pelo Instituto Sangari, pelos Ministérios da Justiça e da Saúde e divulgado em fins do ano passado, a violência e a criminalidade são mazelas nacionais.

            Para a elaboração do documento, foram utilizadas informações de 83 Países. E os resultados, Srªs e Srs. Senadores, nos deixam em situação nada invejável. O Brasil, vejam bem, ocupa a sexta pior posição no que diz respeito às taxas de homicídio.

            Em 2006, ano-referência da pesquisa em que se baseou o documento, foram registrados em nosso País 46,653 mil homicídios, ou seja, 25,7 para cada 100 mil habitantes. Uma taxa que só é melhor que as de El Salvador, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Ilhas Virgens. Todos os demais Países têm índices menos vergonhosos que o nosso.

            A situação fica ainda mais delicada, Sr. Presidente, quando são considerados os homicídios juvenis, aqueles referentes à população entre 15 e 24 anos de idade. Nessa faixa etária, com 51,6 casos para cada 100 mil pessoas, pulamos da sexta para a quinta pior posição. Não há, portanto, como fugir à evidência de que somos uma sociedade violenta. E o pior, o mais grave, é que o problema parece ter-se incorporado à paisagem.

            Em certas ocasiões, principalmente quando confrontados com casos em que a covardia e a crueldade são mais explícitos e que, por isso mesmo, recebem maior destaque na mídia, esboçamos alguma indignação. No mais das vezes, porém, assistimos a essa hecatombe com uma passividade indesculpável.

            Ora, Srª Presidente, são 46,653 mil homicídios por ano! Não podemos encarar essa informação apenas como um número frio e algo distante. Na verdade, são dezenas de milhares de pessoas, de carne e osso, que têm irremediavelmente suprimidas, cada uma delas, suas potencialidades e seus sonhos.

            Para fazer frente a essa realidade, temos, é certo, o Pronasci - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania -, lançado com toda a pompa pelo Governo. O problema, porém, é que, pelo menos até agora, possivelmente por estar em seu estágio inicial, o Pronasci ainda se situa muito mais no campo dos discursos e das intenções do que no campo efetivo das ações práticas. De modo que se torna muito importante verificar o que cada um de nós, individualmente, e o que cada Unidade da Federação, de sua parte, pode fazer em nome do combate à violência e à criminalidade.

            Concedo um aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti e peço a gentileza de a Senadora Presidente me conceder um pouco mais de tempo para que o meu pronunciamento não tenha que ser interrompido, já que dá tanto trabalho inscrever-se para ter prioridade nos pronunciamentos.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Roberto, quero cumprimentar V. Exª pelo assunto e aduzir apenas poucas coisas. Primeiro, o Governo - e aí inclui-se o Governo Federal, em primeiro lugar - é responsável por toda a política nacional de segurança. Os Governos estaduais também. Mas eu queria chamar a atenção para um ponto: a questão das fronteiras na Amazônia. Quem acompanha, por exemplo, as blitze ou as brigas de tráficos nos morros, vê o quê? Armas de última geração. Entram por onde, Senador Roberto Cavalcanti? Pelas fronteiras da Amazônia. No entanto, as fronteiras da Amazônia são completamente desguarnecidas, seja para a entrada de armas, seja para o contrabando ou para a entrada de drogas. Portanto, vamos ao diagnóstico principal, vamos proteger nossas fronteiras terrestres, principalmente da Amazônia, que isso vai cair terrivelmente, mas também vamos equipar melhor as nossas Polícias e melhorar o aparelho de inteligência.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Muito obrigado, Senador Mozarildo.

            Nesse sentido, é extremamente preocupante a maneira como Estados e Municípios inscritos no Pronasci tratam os recursos que deveriam ser aplicados em programas sociais e de reforço da segurança nas áreas afetadas pela violência.

            Segundo matéria publicada no jornal O Globo, edição de ontem, 21 de setembro, sob o título “Estados engavetam verba contra a violência: metade dos Estados e Municípios inscritos no Pronasci deixa no banco dinheiro contra homicídios”, os engavetadores do dinheiro da segurança correspondem a mais da metade dos 21 Estados e 109 Municípios inscritos no Pronasci.

            De acordo com a matéria, do início do ano até agora, o Ministério da Justiça repassou aos Estados e Municípios R$1,1 bilhão, quase o valor integral do Fundo do Programa, que é de R$1,4 bilhão.

            Para a surpresa das autoridades federais, mais da metade dos beneficiários das verbas especiais do Pronasci receberam os recursos, mas não aplicaram o dinheiro.

            As verbas estariam paradas em contas bancárias, apesar dos índices de violência cada vez mais assustadores, o que obrigou o Ministro Tarso Genro a cobrar explicações de Prefeitos e Governadores.

            Mas, voltando à questão central que me trouxe a esta tribuna, lanço os olhos sobre a situação específica do Estado que tenho a honra de representar.

            Os números da violência na Paraíba, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são preocupantes, extremamente preocupantes.

            Voltemos ao “Mapa da Violência”, aquele relatório divulgado em novembro de 2008.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Na Paraíba, vejam bem, foram registrados 777 homicídios em apenas um ano.

            Dividindo-se esse número pela população total, chega-se a uma taxa superior à de muitas Unidades da Federação que, ao menos em tese, deveriam exibir índices mais elevados.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Tome-se, por exemplo, o caso de São Paulo, Estado onde o crime organizado é muito mais atuante e onde o inchaço populacional, por si só, já é fator que induz ao aumento da violência. Pois bem. Enquanto em São Paulo a taxa de homicídios é de 19,4 para cada 100 mil habitantes, na Paraíba, ela é de 21,5.

            Todos esses números, Srªs e Srs. Senadores, ainda que áridos, ainda que incapazes de expressar a dor e o sofrimento neles contidos, devem servir de inspiração para que dediquemos atenção absoluta ao assunto.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - De modo que lanço, daqui, um apelo ao Governador José Maranhão, que assumiu há pouco tempo a condução dos destinos da Paraíba. Um apelo no sentido de que a segurança pública se constitua, efetivamente, em prioridade de Governo e que a ela sejam dedicados os maiores esforços possíveis, sem esquecer, no entanto, que segurança pública se faz também - ou principalmente - com educação e trabalho.

            Qualquer pessoa em sã consciência sabe que muitos desses números que expressam a violência em nossa sociedade, números que nos constrangem e entristecem, têm sua origem na falta de oportunidades educacionais e, consequentemente, de emprego e renda.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - No Brasil - e a Paraíba, infelizmente, não é exceção à regra -, as desigualdades sociais são marcantes e não geram, apenas, frustração e ressentimento.

            Outro efeito colateral da pobreza, Srª Presidente, outra de suas funestas consequências é a precariedade do acesso à educação, que repercute, mais à frente, na dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Portanto, há que se dar atenção prioritária também a esses fatores.

            O jovem que recebe uma educação de qualidade, todos sabemos, é o jovem que acaba tendo discernimento para valorizar muito mais o ambiente familiar, para não se envolver com drogas, para seguir uma trajetória de vida mais consciente. É um jovem, por tudo isso, muito menos propenso à violência.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para finalizar, os números que hoje exibimos - no Brasil e, em particular, na Paraíba - relativos à violência e à criminalidade, fazem com que qualquer acomodação, de nossa parte, beire a irresponsabilidade.

            As medidas necessárias, seja no campo da segurança pública propriamente dita, seja no campo da educação, devem ser tomadas com a máxima urgência, para que, em novos Mapas da Violência, que vierem a ser publicados nos próximos anos, não nos vejamos em situação ainda mais constrangedora que a atual.

(Interrupção do som.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB) - Agradeço à Srª Presidente pela concessão do horário e pelas buzinadas que recebi.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2009 - Página 46443