Discurso durante a 176ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com a escolha da cidade do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016. Crítica às iniciativas do Presidente do Banco Central e do Ministro das Relações Exteriores de se filiarem a partidos políticos.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Satisfação com a escolha da cidade do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016. Crítica às iniciativas do Presidente do Banco Central e do Ministro das Relações Exteriores de se filiarem a partidos políticos.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2009 - Página 49442
Assunto
Outros > ESPORTE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, ESCOLHA, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SEDE, OLIMPIADAS, DIVULGAÇÃO, BRASIL, AMBITO INTERNACIONAL, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, REVIGORAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, APLICAÇÃO, SUPERIORIDADE, INVESTIMENTO, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, CIDADE.
  • DISCORDANCIA, CONDUTA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), FALTA, COMPATIBILIDADE, DEMOCRACIA, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não há brasileiro de verdade que não tenha sentido uma grande emoção quando se revelou que o Brasil havia sido escolhido como sede das Olimpíadas de 2016.

            Do ponto de vista do País, sem dúvida alguma, é uma grande oportunidade, seguida logo à Copa de 2014, de nós divulgarmos o País como destino turístico privilegiado. Do ponto de vista específico do Rio de Janeiro, uma oportunidade e tanto de aquela cidade ser revitalizada, até porque eu leio que os investimentos mínimos necessários para se implantar convenientemente a estrutura das Olimpíadas será de uma quantia na ordem de R$25 bilhões pelo menos.

            É uma grande oportunidade de se levantar o Rio de Janeiro, que é a minha segunda cidade. A Guanabara é o meu segundo Estado. Enfim, lá me criei, lá eu fiz os meus estudos, lá desenvolvi minhas emoções mais fortes da juventude.

            Minha vocação e meu amor maior ainda pelo meu Estado me fizeram retornar, em 1978, para o Amazonas, para seguir esta vida pública que os meus colegas tão bem conhecem.

            A cena do Presidente abraçado, emocionado, abraçado a esse ídolo de todos nós que é Pelé foi realmente tocante.

            Mas, obviamente, a vida continua. E nós lemos que o Brasil evolui muito lentamente nessa questão do Índice de Desenvolvimento Humano: é o 75º País, atrás de quase todos os principais países da América do Sul; atrás da Venezuela do Sr. Chávez; atrás de Cuba, que sofre embargo e vive sob uma ditadura cruel; atrás da Argentina, que vive em crise há décadas; atrás do Chile, que há muito mais tempo encontrou o caminho do equilíbrio econômico. E o Brasil, não.

            E quero aqui repetir o que tem sido para mim um lugar comum. O Brasil há anos vem plantando, repito, as sementes de uma crise fiscal, porque os gastos correntes são sempre, em termos reais, acima do crescimento do Produto Interno Bruto. E isso, a longo prazo, não dá certo. Agora já se tem data marcada para a retomada de aumentos da taxa Selic. O Boletim Foco foi muito claro. A expectativa é de que o ano que vem apresente uma taxa Selic maior do que aquela que se verificará em dezembro deste 2009.

            Cobrar milagres do Banco Central não dá. A política monetária, a ela cumpre garantir o valor da moeda. A política fiscal é que tem que ser ajustada. Os gastos correntes são brutais, e o investimento é mínimo em contrapartida - em dura contrapartida; em cruel contrapartida. O investimento público é muito baixo, e isso não induz a investimento privado maior.

            Os rescaldos da crise fazem com que os grandes conglomerados, as grandes empresas adiem os seus projetos, as suas perspectivas de investimento mais denso. Como o investimento público é praticamente nenhum, então, nós temos que o aumento de gastos foi corrente, foi de despesas correntes. Isso tudo - eu repito - é uma bomba fiscal plantada a longo prazo neste País e vai redundar, inevitavelmente, em aumento da taxa de juros e, mais adiante, em redução do ritmo de crescimento econômico.

            Eu tenho, ainda, dois reparos a fazer. Eu aqui não tenho deixado de dar apoio a medidas acertadas deste bom Presidente do Banco Central que tem sido o Presidente Henrique Meirelles, mas me surpreendi, e muito negativamente, quando S. Exª se inscreveu num partido para disputar uma eleição, seja qual for - Presidente, Vice-Presidente, Senador, Deputado, Vereador, Governador -, o que ele quiser. Ele não deveria querer, porque é descabido que, por exemplo, o meu xará Arthur Bernanke se filie ao partido democrata ou ao partido republicano para disputar uma eleição. É descabido. Isso não passa pela cabeça de nenhum americano médio.

            O Banco Central perde na sua majestade, perde na sua autoridade. Amanhã, se aumenta juros - puxa vida! -, vai ter prejuízo político; se não aumenta juros, vão dizer que ele baixou juros porque é candidato a alguma coisa no pleito de 2010.

            Então, não é próprio de um Presidente de Banco Central ser candidato a nada. Ele fez mal. Ele deveria ir até o final do Governo do Presidente Lula, cumprindo o bom papel, o papel competente de guardião da moeda brasileira, que tem sido esse o papel do Presidente Henrique Meirelles.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concluo, Sr. Presidente.

            Do mesmo modo - estou referindo-me a um amigo pessoal; e vou referir-me a outro amigo pessoal que é o Embaixador Celso Amorim -, ele quebra um paradigma, porque, de 1989 para cá, não houve nenhum chanceler que tenha pertencido a partido político. Antes, não; antes, era comum - e peço a V. Exª dois minutos, Sr. Presidente. San Tiago Dantas foi do PTB e foi chanceler de João Goulart; Afonso Arinos, UDN, foi chanceler de João Goulart e de Jânio Quadros; Horácio Laffer, Negrão de Lima e tantos outros pertenciam ao PSD, por exemplo.

            Mas o fato é que, de 1989 para cá, ou seja, na fase que considero definitiva de afirmação da democracia brasileira, passou a não caber mais a figura do chanceler ligado a partido político. Vou dar exemplos: Governo Collor foram, se não me engano, Rezek e Laffer, e não eram filiados a partidos políticos; Governo Itamar Franco, Celso Amorim, não filiado a partido político; Governo Fernando Henrique, Lampreia e Laffer, não ligados a partidos políticos; no primeiro Governo Lula, Celso Amorim, não filiado a partido político; no segundo Governo do Presidente Lula, infelizmente, o Ministro Celso Amorim filia-se ao Partido dos Trabalhadores, do mesmo jeito que se filiou ao PMDB o Presidente do Banco Central.

            Então, considero duas atitudes inadequadas, duas atitudes que não compõem com a moderna democracia brasileira, e que não rendem bons frutos, porque colocam sob suspeição os atos e os gestos que essas duas figuras chaves da democracia brasileira poderão vir a adotar, com ênfase ainda maior para as atitudes que possam ser tomadas pelo Presidente do Banco Central, mas, sem dúvida alguma, causando um mal-estar. A partir do momento em que adota a sigla do PT como sua, nós começamos a compreender a ideologização dos atos em Honduras, por exemplo, adotados pelo Ministro Celso Amorim.

            Eu os preferia equidistantes. Eu sou diplomata, há muito tempo afastado, e mal podia... Nem que eu quisesse eu descobria qual era o partido dos meus colegas. Não conseguia descobrir. Eles conseguiam ser discretos nisso, porque aquilo ali é uma carreira de Estado, que é para se manter distante mesmo da luta política e é para servir a qualquer governo e a qualquer Estado. Ao Estado brasileiro sempre e a qualquer Governo, com muita competência, com a competência típica do sistema parlamentarista.

            A politização que estão levando para o Banco Central agora e que estão levando para o Ministério das Relações Exteriores é lamentável. E eu devo aqui dizer que com essa politização eu não concordo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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