Discurso durante a 188ª Sessão Especial, no Senado Federal

Protesto contra o descaso de que são vítima vários municípios amazonenses.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Protesto contra o descaso de que são vítima vários municípios amazonenses.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/2009 - Página 54968
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ISOLAMENTO, MUNICIPIO, ENVIRA (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), SECA, RIO, IMPEDIMENTO, NAVEGAÇÃO, EXCLUSIVIDADE, ACESSO, TRANSPORTE AEREO, SOLIDARIEDADE, PREFEITO, APRESENTAÇÃO, RECLAMAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, MUNICIPIO, EIRUNEPE (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), FALTA, ENERGIA, COMBUSTIVEL, SOLICITAÇÃO, MESA DIRETORA, ENCAMINHAMENTO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), PEDIDO, URGENCIA, PROVIDENCIA, ANUNCIO, GESTÃO, ORADOR.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ATENÇÃO, MUNICIPIOS, REGIÃO SUBDESENVOLVIDA, PROTESTO, AUMENTO, DIFICULDADE, POPULAÇÃO, REPUDIO, PROPAGANDA, GOVERNO FEDERAL, PROGRAMA, ELETRIFICAÇÃO RURAL, CONTINUAÇÃO, PRECARIEDADE, FORNECIMENTO, ENERGIA, SEMELHANÇA, PERIODO, INFANCIA, ORADOR.
  • GRAVIDADE, EPIDEMIA, DOENÇA TRANSMISSIVEL, MUNICIPIO, LABREA (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM).

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Eu me dirigia ao gabinete para despachar meus papéis. Como cheguei de fora, depois de uma viagem longa, cansativa, pois dormi muito mal, pretendia me recolher muito cedo hoje. Mas acabo de receber duas notícias muito tristes, para mim, para V. Exª e para o Senador João Pedro, obviamente.

            O Município de Envira, que é muito bem dirigido pelo Prefeito Rômulo Mattos, está absolutamente isolado do mundo e do Amazonas, portanto, porque o rio baixou e os barcos não estão trafegando. O acesso é apenas por avião, um aeroporto não homologado e, portanto, com a condição precária que a gente conhece. E a cidade está sem telefone, está sem comunicação.

            O Prefeito Rômulo pensou que eu estava naquela região do Alto Rio Madeira, fazendo base em Porto Velho, e fretou um avião para me encontrar. Eu não estava lá, porque estava fora do País.

            Eu queria aqui reclamar medidas - queria que a Mesa, inclusive, tomasse essa providência, porque amanhã vou eu próprio ligar para o Ministro Edison Lobão -, queria reclamar medidas urgentes no sentido de se acabar com esse caos e cobrar do Governador do Estado que não cruze os braços e que não aceite uma situação como essa, pois as condições de vida no Município de Envira, no Alto Rio Juruá, que V. Exª conhece bem, já são duras o suficiente se tudo andar direito. Então, se tudo anda errado, vira um inferno, e aquele povo não merece isso e o Prefeito decente que governa Envira tampouco merece algo parecido.

            Recebo notícias também, através do meu companheiro Tião Cavalcanti, que foi candidato a Prefeito, muito bem votado, porém não eleito em Eirunepé, de que a situação do Prefeito vitorioso e reeleito, também meu amigo, Dissica Tomaz, de que a situação de Eirunepé é parecida. Não há luz em Eirunepé, falta combustível, uma situação dramática.

            Eu, portanto, reitero a V. Exª o pedido de que a Mesa encaminhe ao Ministro de Minas e Energia, com a maior urgência, essa reclamação que faço.

            Eu vou procurar o Ministro amanhã, mas daqui também, obviamente, me dirijo ao Governador do Estado, porque é preciso muita responsabilidade, muita capacidade de atuação rápida e firme para que não se instale o caos.

         Volto a dizer que cidades como as nossas são muito pobres. As pessoas nossas irmãs são muito humildes, são muito sofridas e nunca está tudo bem para elas, porque a infraestrutura das cidades a que me refiro são precariíssimas, mais do que precárias. E nós não podemos aceitar que essa normalidade, que já não é normal, da vida que as pessoas levam com tanta dureza, seja quebrada por uma anormalidade ainda mais anormal do que a pobreza em que vivem as pessoas habitantes de Municípios como esses.

            Eu não sei se são só os dois. Dois reclamaram diretamente para mim, para o meu gabinete. Outros podem estar vivendo a mesma situação, porque não há um Município do interior do Amazonas bem servido por energia elétrica. Esse programa Luz para Todos é um embuste! É “luz para alguns”, é um embuste! Ele não funciona pura e simplesmente. É propaganda pura, é puro marketing, é pura brincadeira com a sorte de pessoas humildes, que não merecem ser humilhadas desse jeito, e nós não vamos tolerar que elas sejam humilhadas desse jeito!

            Então, obviamente, estarei ligando amanhã para o meu colega e Senador, neste momento Ministro, Édison Lobão pedindo medidas enérgicas no sentido de estabelecer a normalidade nesses dois Municípios. Quem sabe, se Deus quiser, são apenas esses dois, mas é de se advertir também ao Ministro de que nenhum Município do Amazonas, incluindo Manaus, tem um fornecimento completamente regular.

            V. Exª também conhece essa realidade. Nem Manaus tem um fornecimento de energia confiável. Todas as cidades do interior têm momentos de blecaute, têm momentos de falta de luz, de falta de energia, com prejuízo para o que vende o seu guaraná, a sua cerveja, porque queima o seu freezer, porque queima o aparelho de ar-condicionado daquele que acabou de comprar, às vezes de segunda mão, o seu aparelho de ar-condicionado. A incerteza, a escuridão é irmã dos assaltos, é irmã dos estupros, é irmã da violência.

           Estamos quase virando a primeira década do Século XXI e ainda estamos falando de problemas que assaltavam e assolavam a minha infância. Eu tenho um problema na vista esquerda porque minha mãe, muito dura, me obrigava a fazer o tal exame de admissão que a gente tinha de fazer para passar para o Instituto de Educação do Amazonas. Escola pública, muito boa, mas para poucos; a maioria não tinha direito de estudar nada. A minha mãe me obrigava - e ela fez muito bem - a estudar com luz de lamparina. Eu tinha de passar. Ela queria, inclusive, que eu passasse em primeiro lugar; mas passei em segundo, no meio daquela estudantada toda. O primeiro não deu. Essas coisas não são como a gente quer, é como o destino determina. Tinha alguém que foi mais competente, foi mais inteligente, foi mais preparado. Isso bem lá para trás.

            Eu sou um homem maduro, mas estar discutindo isto agora, no ano de 2009, isso me dá um desânimo, um desalento, me dá uma falta de crença no País, me causa uma revolta, me causa uma sensação de mal-estar; me dá um certo nojo dessa política que a gente vive, um certo asco de nós sabermos que esses problemas são todos relegados enquanto as negociatas se multiplicam em um país onde a coisa mais fácil é malandro federal enriquecer. Chico Buarque tinha toda a razão. E os trabalhadores municipais pagando o preço. Para eles a falta de luz, para eles a escuridão, os assaltos, os estupros, a insegurança de suas famílias, a insegurança de seus negócios, a insegurança de seus eletrodomésticos; para eles tudo de ruim.

            Portanto, eu queria aqui me solidarizar com o Prefeito Dissica Tomaz, de Eirunepé, e o Prefeito Rômulo Mattos, de Envira, dizendo que eu não os deixarei sós, como sei que V. Exª, Sr. Presidente, também não os deixará sós. V. Exª tomará as providências neste momento, presidindo a Mesa, e tomará as providências de Senador diligente do Amazonas que é.

            O fato é que é revoltante termos de lidar com isso. Eu confesso que dá um desalento. A vida vai passando. Muito mais da metade da minha vida já passou, e eu ainda discuto luz, discuto propagandinha de luz para não sei quem, Luz para Todos, sempre com aquele desenhinho, aquele bando de bolinha, Brasil para Todos, enfim, e o povo de Envira está vivendo um quadro de desespero, de caos.

            Eu queria chamar as pessoas responsáveis por isso à vergonha. Que elas tenham vergonha e cumpram com o dever delas. Minimamente, cumpram com o dever delas. E é dever de qualquer governo garantir luz para as pessoas nas cidades do País, garantir água, garantir o funcionamento de telefone. Ou é uma cidade sitiada, é uma Tróia sitiada pelos gregos: ninguém pode entrar, ninguém pode sair? É o que está acontecendo, neste momento, no Município de Envira.

            Então, eu faço daqui um apelo muito veemente para que as autoridades acordem e cumpram com o seu dever. Neste País, está ficando difícil as pessoas cumprirem com o seu dever. Está ficando muito fácil não cumprirem com o seu dever. Está ficando difícil cumprir com o dever. Parece que é um santo milagroso aquele que cumpre com o dever mínimo, quando cumprir com o dever mínimo é apenas o mínimo. Deveriam se esforçar para cumprir com o dever máximo, e não deixarem sobre as nossas costas uma agenda não sei de que década do Século XX, que não poderia ter perdurado no início do Século XXI.

            Fica, aqui, o meu protesto e a certeza de que voltarei a esta tribuna um milhão e quinhentos mil vezes, cada vez dando nomes a mais bois, mas eu quero ver esta situação restabelecida com rapidez a bem do povo mais sofrido que tem neste País.

            Sabe V. Exª que é difícil, e nem eu queria ganhar esse concurso, mas é difícil achar alguém que vive em situação mais precária, mais difícil do que, por exemplo, os habitantes de Eirunepé e de Envira. É um campeonato que eu não queria ganhar. Eu gostaria de ganhar um campeonato da autossuficiência e não o campeonato da precariedade. Mas, infelizmente, nós somos campeões de precariedade em Municípios como Lábrea, onde nós temos hepatites que são quase um alfabeto inteiro: Hepatite A, Hepatite B, Hepatite C, Hepatite D, parece que já há Hepatite E, outra que não é A nem B, uma que chamam de “febre negra”; é quase um alfabeto inteiro de hepatites.

            Então, a criança de Brasília tem direito a não morrer; a criança de Lábrea não sabe se vai “vingar”, porque é muito hepatite em torno dela.

            Faço com muita revolta este pronunciamento e cobro à Mesa que seja igualmente dura ao se comunicar com as autoridades do Ministério das Minas e Energia, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/2009 - Página 54968