Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso, no próximo dia 8, dos 291 anos de Cuiabá/MT.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso, no próximo dia 8, dos 291 anos de Cuiabá/MT.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2010 - Página 12155
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, MUNICIPIO, CUIABA (MT), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ELOGIO, HISTORIA, CIDADE, LEITURA, ARTIGO, SAUDAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, FUNDADOR, JORNAL, REGIÃO, REGISTRO, SUPERIORIDADE, INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, CAPITAL DE ESTADO, MELHORIA, INFRAESTRUTURA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Com certeza, Senador Magno Malta, eu assino embaixo da sua fala quando se refere à nossa querida Senadora, Governadora, nossa companheira Ana Júlia Carepa. Eu diria que tudo o que o Senador Magno Malta disse todos nós assinamos embaixo, porque a gente acompanhou, durante todo o tempo, Ana Júlia - permita-me chamá-la assim -, em que você esteve aqui, a sua garra, a sua luta, mulher guerreira. E foi, candidatou-se ao governo, e hoje é governadora. É a primeira governadora do nosso partido, o Partido dos Trabalhadores. Realmente, você é grandiosa; você é uma honra para nós do partido e, acima da honra do partido, é uma honra para as mulheres do nosso País. Ter uma mulher governadora, realmente, é quase algo ímpar. São tão poucas as mulheres que no nosso País até hoje chegaram ao governo de um Estado, e a senhora é uma delas. A gente sabe de sua luta, de sua batalha; a gente sabe das dificuldades do segundo maior Estado do Brasil territorialmente, e as dificuldades que enfrenta. Porque, se fosse o segundo maior Estado territorialmente e tivesse um desenvolvimento econômico, com sustentabilidade ambiental; se fosse tudo assim, como a gente diz, muito fácil, estava bom. No entanto, a gente sabe que é tudo muito difícil, e a senhora vem bravamente governando - bravamente no sentido positivo - o Estado do Pará. Isso nos orgulha muito, orgulha as mulheres do País, independentemente da coloração partidária, nossa Governadora Ana Júlia. Bom tê-la aqui conosco no dia de hoje.

            Quero hoje, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos ouvem e que nos vêem nesta tribuna, falar um pouco da nossa Cuiabá, da nossa Cuiabá hospitaleira, da nossa capital de Mato Grosso: grandiosa, bonita, hospitaleira, que realmente traz nos seus braços a população que lá nasceu e muitos, muitos e muitos que para lá se mudaram e foram recebidos, como eu, da forma como fomos recebidos.

            Meus filhos são todos cuiabanos, assim como meus netos. À exceção de Marininha, Maria Eduarda, João Paulo, Pedro Paulo e o Gustavinho, recém-chegado, todos são cuiabanos.

            Cuiabá, minha querida capital de Mato Grosso, completará, no dia 8 de abril, 291 anos. A nossa Cidade Verde é maravilhosa e tem um povo acolhedor - eu diria -, como difícil é encontrar outro!

            Eu, assim como outros milhares de brasileiros e brasileiras, adotei Cuiabá e fui adotada por ela. Sou gaúcha de nascimento, da cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, e fui para Cuiabá em 1966. Lá se vão mais de 40 anos!

            Tenho orgulho de dizer que construí minha vida profissional e familiar em Mato Grosso, onde criei meus quatro filhos - lindos! -, que me deram cinco netos maravilhosos. Vó é assim mesmo: coruja. Todos são mato-grossenses, todos cuiabanos. Não é por outra razão que sou apaixonada por Cuiabá e pelos cuiabanos.

            Em Cuiabá, formei-me em Direito e em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso, a nossa UFMT, na qual fui professora por 26 anos.

            Comecei, Sr. Presidente, minha vida pública em Cuiabá, quando assumi a Secretaria Municipal de Educação em 1986. Em 1988, assumi a Secretaria Estadual de Educação e fui eleita, pela primeira vez em 1990, Deputada Estadual para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, onde exerci três mandatos consecutivos, todos pelo Partido dos Trabalhadores. Em 2002, fui eleita Senadora da República.

            Relato tudo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para demonstrar minha história de cuiabana adotada. Como dizem por lá, sou “pau rodado”. Minha vida, portanto, está lá, há mais de 40 anos, associada à história dessa linda cidade que amo e à qual agradeço por poder morar, viver e lá ser feliz.

            Sou Senadora da República eleita em Mato Grosso e não tenho medido esforços para conseguir recursos federais para a infraestrutura que Cuiabá merece e de que necessita. Assim, bairros importantes como Zé Pinto, Jardim Comodoro, 1º de Março, Getúlio Vargas, Santa Isabel, Jardim Araçá e outros receberam recursos para drenagem e pavimentação. Fui a parlamentar que mais levou recursos individualmente, fruto de emenda, para a construção da Avenida das Torres em Cuiabá, obra fundamental para a logística de tráfego que hoje está se tornando realidade na nossa Cuiabá.

            Essa Avenida das Torres foi inaugurada na semana que passou pelo Prefeito Wilson Santos, do PSDB. Alguns se admiraram à época: “Como, Senadora, a senhora leva milhões e milhões para uma avenida na capital de Mato Grosso, cujo Prefeito, Wilson Santos, é do PSDB?” Ao que eu respondi: “Não olho a coloração partidária. O problema é a necessidade da população da minha Cuiabá, da nossa Cuiabá”.

            Eu sabia que a Avenida das Torres traria facilidades a 14 bairros grandes, significativos, lá daquela região. No final, a Avenida das Torres veio a beneficiar não só 14 bairros, mas 18 bairros. Facilitar como? Eram pessoas que tinham a maior dificuldade para se deslocarem até o centro da cidade. Tinham um meio grande, significativo, praticamente um descampado em vários lugares, mas não havia como a população chegar facilmente ao centro da cidade para trabalhar, para procurar direitos de saúde, enfim, para ter uma vida melhorada. Como chegar ao centro da cidade para conquistar direitos que lhes são devidos? Era tudo muito difícil. Os ônibus lá não chegavam. Quando chegavam, iam às proximidades de determinados bairros. As pessoas, às vezes, tinham de caminhar quilômetros por estradas de terra, de chão, para pegar um ônibus. E o Prefeito determinou a elaboração desse projeto da Avenida das Torres e nos pediu que ajudasse. Nós liberamos R$7,5 milhões para iniciarmos a obra da Avenida das Torres. Logo após, o Governador Blairo Maggi, como Governador do Estado, também repassou R$10 milhões. O restante foi com recursos da Prefeitura.

            Mas valeu a pena! No dia em que lá estive, na inauguração, na semana que passou, havia 20 mil pessoas seguramente maravilhadas com o que conquistaram. Foi uma reivindicação da população da região daqueles bairros.

            E a reivindicação, quando se torna conquista e quando se faz realmente necessária, é algo para melhorar a qualidade de vida da população, e a população diz “presente”. A população desses dezoito bairros - infelizmente, não tenho aqui agora o nome desses dezoito bairros - lá esteve aplaudindo, realmente dizendo: “Exigíamos, precisávamos, merecíamos essa Avenida das Torres para facilitar a trafegabilidade para o centro da nossa Cuiabá”. E conquistaram-na. Fiquei realmente muito feliz de dizer “presente” naquela grande mobilização.

            Tudo isso, todo o nosso trabalho - e acabo aqui de falar sobre a Avenida das Torres -, tudo o que tenho feito tem sido no firme propósito de combater as dificuldades e, às vezes, até a miséria e de acabar com o abandono histórico a que sempre estiveram relegadas algumas comunidades, principalmente as mais empobrecidas. Cuiabá, assim como outras grandes cidades, sofre pelo crescimento desordenado que teve. As ruas que serviam para o tráfego de carroças e de bois ficaram pequenas para o fluxo de automóveis do século XXI.

            Por isso, senhoras e senhores, não posso deixar de destacar os investimentos que o Governo do Presidente Lula, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), resolveu fazer e está fazendo para que Cuiabá pudesse superar muitas de suas carências. Nenhum outro Presidente da República, antes do Presidente Lula, houvera investido tanto e tão decididamente em obras de infraestrutura na nossa Capital de Mato Grosso. É um Governo identificado com os interesses dos mais pobres, dos despossuídos, daqueles que sobrevivem nos bairros da periferia. O Governo Lula destinou mais de R$500 milhões para investimentos em saneamento em todo o meu Estado de Mato Grosso, sendo que, somente na Grande Cuiabá, estão sendo investidos aproximadamente R$250 milhões, destinados à ampliação da rede de esgotamento sanitário em Cuiabá e em Várzea Grande, a nossa querida Várzea Grande, a nossa vizinha Várzea Grande. Só o que divide Cuiabá de Várzea Grande é o nosso fantástico rio Cuiabá, rio que é vida. Com todo esse cuidado, com todo esse investimento no esgotamento sanitário das nossas cidades de Cuiabá e de Várzea Grande, estamos evitando a continuidade da poluição do nosso Pantanal.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, nessa segunda-feira, li o blog de Eduardo Gomes, que carinhosamente chamamos de Brigadeiro e que é jornalista competente, também adotado por Cuiabá. Achei muito boa a forma como Eduardo Gomes abordou a história de Cuiabá e peço permissão para registrar nos Anais do nosso Senado Federal o que ele disse:

“Na segunda década do século XVIII, depois de várias incursões pela região, bandeirantes paulistas descobriram ouro na calha do rio Cuiabá. As minas entusiasmaram os bandeirantes paulistas Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil, que juntos fundaram, em 8 de abril de 1719, à margem do córrego da Prainha, a vila que seria Cuiabá.”

            Assim, senhoras e senhores, as minas de Cuiabá receberam o nome de Lavras do Sutil e, à época, formavam o maior centro de extração do Brasil, o que atraiu aventureiros, comerciantes, mineradores, garimpeiros, farmacêuticos e outros, que foram a base da formação populacional cuiabana. Em 1º de janeiro de 1727, Cuiabá foi elevada à condição de vila pertencente à Capitania de São Paulo, com o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 17 de setembro de 1818, ganhou o status de cidade. Em 28 de agosto de 1835, tornou-se Capital de Mato Grosso, condição essa que, até então, pertencia à Vila Bela da Santíssima Trindade, na fronteira com a Bolívia.

            Hoje, nosso Município de Vila Bela da Santíssima Trindade é governado pelo nosso querido Prefeito Wagner. A nossa Vila Bela da Santíssima Trindade deixou de ser capital em 1835, e Cuiabá tornou-se a Capital. Mas a nossa Vila Bela da Santíssima Trindade é bela realmente. Há pouco tempo, estive lá com o nosso Ministro da Igualdade Racial, que viu o que significa a nossa Vila Bela da Santíssima Trindade. Realmente, é uma bela cidade. Lá existem ruínas que contam a história, especialmente a do negro, que, até poucos anos atrás, representava 80% da população - hoje, esse percentual deve estar em torno de 40%, 50%. Mas a história do negro lá está escrita pelo seu trabalho, pela luta de guerreiros e guerreiras que ainda hoje marcam a nossa Vila Bela da Santíssima Trindade com seu trabalho, com sua vivacidade, com sua cultura espetacular. É espetacular! Quem quiser conhecer é só ir lá para ver, porque contar não adianta. E digo isso sem falar das guloseimas, das maravilhas que lá se faz.

            O Município de Cuiabá faz limites com Várzea Grande, como eu já disse; com Santo Antônio de Leverger, terra do nosso saudoso Senador Jonas Pinheiro; com a Chapada dos Guimarães, a nossa belíssima chapada; com Rosário Oeste e com Acorizal. As rodovias federais 070, 163 e 364 cruzam o perímetro urbano da Capital. Cuiabá é centro de prestação de serviços públicos e da iniciativa privada. O Aeroporto Internacional Marechal Rondon, que opera voos para todas as capitais, localiza-se em Várzea Grande. E, hoje, lá chegam, por ano, em torno de 1,6 milhão de passageiros. São pessoas que lá vão, especialmente turistas, para conhecer o nosso Mato Grosso, especialmente nossa Cuiabá, nossa Chapada dos Guimarães, nosso Pantanal.

            Em 2014, Cuiabá será uma das subsedes do Campeonato Mundial de Futebol da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e, para tanto, demolirá seu principal estádio, o Verdão, para construir uma arena multiuso no local onde o mesmo se encontra, porém mantendo o nome original de Verdão. Não sei se isso é o melhor, não sei mesmo se isso é o melhor. É polêmico. Permanece o nosso Verdão, e se constrói outro grandioso estádio? Derruba-se o Verdão? É polêmica essa questão, mas agora não vou levar essa discussão adiante.

            Cuiabá é uma cidade aberta, e boa parte de sua população é oriunda de outros Municípios. O hoje Prefeito Chico Galindo, do PTB, nasceu no interior paulista; o Presidente da Câmara Municipal, Deucimar Silva, do Partido Popular (PP), é natural de Rondonópolis; Blairo Maggi morava em Rondonópolis; e Silval Barbosa, hoje Governador de Mato Grosso, morava em Matupá.

            Para homenagear Cuiabá, eu teria de citar aqui dezenas, centenas de personalidades, mas escolhi o que o jornalista Eduardo Gomes, que já citei antes, escolheu. Que se sintam todas as personalidades e figuras da nossa cuiabania antiga e moderna homenageadas. Para homenagear Cuiabá, nada mais justo que lembrar aqueles que fizeram sua história, e aí o jornalista Eduardo Gomes acertou mais ainda ao lembrar um grande matogrossense, o grandioso Arquimedes Pereira Lima. Também faço questão de reproduzir o que escreveu Eduardo Gomes em seu artigo, como forma de presentear Cuiabá pelos seus 291 anos:

Poucos fizeram tanto por Mato Grosso quanto Archimedes Pereira Lima, o homem que fundou e presidiu a Companhia Cervejaria Cuiabana, em Cuiabá; a Usina Jaciara, em Jaciara; os jornais O Estado de Mato Grosso e O Diário de Mato Grosso, ambos em Cuiabá, além de vários outros, em Campo Grande e Aquidauana, ambas cidades de Mato Grosso do Sul, mas que à época pertenciam ao território matogrossense.

            Archimedes vivia o hoje, mas com os olhos no futuro. A linha do horizonte era o lugar mais baixo onde fitava. Nascido em Campo Grande, prestou relevantes serviços ao Centro-Oeste. Em Goiás, foi Secretário de Estado e exerceu outras relevantes funções, inclusive na diretoria da Fundação Brasil Central, que tinha sede em Aragarças. Em Mato Grosso, presidiu a Imprensa Oficial, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia Matogrossense de Letras - hoje presidida por uma mulher -, participou da fundação da Federação das Indústrias (Fiemt) e do Rotary Clube de Cuiabá e foi Chefe da Casa Civil.

            Rábula, Archimedes foi promotor interino na Comarca de Nioaque, agora Mato Grosso do Sul. Foi o primeiro jornalista sindicalizado no Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, o que lhe conferiu o registro Número 1. Escreveu vários livros, entre eles A Companhia Mate Laranjeira Vista por um Repórter, em 1941. Íntegro, Archimedes exerceu várias funções e nunca se envolveu em qualquer tipo de escândalo. Desde seu nascimento, em 1º de janeiro de 1908, até o seu adeus, em Cuiabá, em 21 de outubro de 1993, suas mãos sempre foram limpas. Podemos dizer, com convicção, que foi um homem do seu tempo, um homem que realmente fez história.

            Sonhador, ousado, combativo, Archimedes construiu uma obra que somente alguém capaz de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo seria capaz de empreender. Partiu deixando um legado singular aos filhos, aos netos e a Mato Grosso. Sua memória é reverenciada pelo nome dado a uma avenida de Cuiabá. A Associação Comercial e Empresarial de Cuiabá instituiu o Troféu Mérito Empresarial Arquimedes Pereira Lima, que outorga anualmente à empresa que mais se destaca no período.

            Como Senadora da República e como a primeira mulher eleita para ocupar essa honrosa função, agradeço imensamente pela existência de Arquimedes Pereira Lima e pela sua importância para todos nós.

            Parabéns, Cuiabá! No dia 08 de abril, serão duzentos e noventa e um anos de história construída com muita luta, mas com grandiosidade.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2010 - Página 12155