Discurso durante a 54ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a escolha de Rogério Rosso para o cargo de Governador do Distrito Federal, nas eleições indiretas realizadas no último sábado.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • Considerações sobre a escolha de Rogério Rosso para o cargo de Governador do Distrito Federal, nas eleições indiretas realizadas no último sábado.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2010 - Página 15105
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÃO INDIRETA, CAMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL (CLDF), GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ANALISE, VANTAGENS, ESCOLHA, APREENSÃO, PROBLEMA, VINCULAÇÃO, EX GOVERNADOR, EXPECTATIVA, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, RECONSTRUÇÃO, CIDADE, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, COBRANÇA, COMPROMISSO, POVO, INDEPENDENCIA, ATUAÇÃO, REFERENCIA, LEGISLATIVO, SUGESTÃO, ABERTURA, AUDITORIA, CONTAS, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), PROCESSO, LICITAÇÃO, OBRAS.
  • COBRANÇA, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), PRIORIDADE, AGUA, ESGOTO, EDUCAÇÃO, SAUDE, TRANSPORTE COLETIVO, AMPLIAÇÃO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, REVOGAÇÃO, PLANO DIRETOR, ORDENAÇÃO, TERRITORIO, URGENCIA, NECESSIDADE, DEMONSTRAÇÃO, ETICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, venho, mais uma vez, tratar de um assunto da minha cidade, do meu Distrito Federal. Venho, mais uma vez, tratar deste assunto que nos angustia a todos, desde o final do ano passado, com as trágicas consequências de cassação de um Governador, de renúncia de Vice-Governador, de prisão de Governador e, finalmente, no sábado, a eleição de um novo Governador, de forma indireta, escolhido por 24 Deputados locais.

            Venho, aqui, Sr. Senador Mão Santa, para, em primeiro lugar, relembrar que, ao longo desse tempo, a minha posição foi a de que deveríamos esperar que houvesse a escolha de um novo Governador por nós de Brasília, portanto, por meio dos Deputados, mas de um Governador que sentasse na cadeira com a coragem, com a confiança, com as mãos, a cabeça e o coração de um interventor, para que se pudesse, casando-se a legalidade da eleição pelos Deputados com a legitimidade do que o povo de Brasília e do Brasil inteiro hoje espera dele, saber o que houve nesta cidade: quem roubou; quem se apropriou de dinheiro público; quem cometeu equívocos. É isso que precisamos.

            A Câmara escolheu um Governador que tem algo positivo: o fato de não ser um Deputado. Eu temia que, no final, houvesse um acordo corporativo em que os 24 Deputados escolhessem um deles para ser o próximo Governador, trazendo para o Poder Executivo os vícios que, todos nós sabemos, tem hoje aquela Casa - ainda assim, a Casa que representa o povo constitucionalmente, que traz a legalidade.

            A escolha do candidato Rogério Rosso, que não é um dos Deputados, é um fato, a meu ver, positivo. É positivo também o fato de que se trata de um profissional com uma certa experiência de administração; trata-se também de um político que não foi eleito, mas que teve 48 mil votos, o que é uma votação expressiva para um pequeno colégio eleitoral, como é o Distrito Federal.

            Apesar dessas qualidades, existem alguns problemas. Há o problema de que é um Governador que fez toda a sua carreira executiva no Governo anterior e no Governo que terminou há pouco. Isso, queira ele ou não, por melhor que seja seu prestígio, deixa uma marca, e é preciso que se tenha clareza de como superá-la, para adquirir a legitimidade e a confiança que nós todos esperamos que adquira. E falo com a esperança de morador desta cidade de que o seu Governo poderá trazer uma esperança para nós. Mas a primeira coisa é ele ter consciência de que é uma chance histórica, que raramente se oferece a uma pessoa, a um homem político. É muito raro que na história alguém ocupe um cargo executivo, de liderança, de Governador, num ponto tão baixo da autoestima da cidade inteira. Essa é uma chance histórica.

            O Governador que assume num momento como este, se conseguir trazer o povo da parte mais baixa para uma parte alta da sua história, se conseguir recuperar a nossa autoestima, se conseguir fazer com que nós daqui saibamos que o povo brasileiro nos olha com respeito outra vez, esse governador ficará na história. É uma chance única. E é uma chance que espero que o novo Governador esteja disposto a assumir. Que ele esteja disposto a ganhar; que ele esteja disposto a ser reconhecido por nós, daqui a alguns meses, quando terminar seu governo, como aquele que agarrou a cidade no ponto mais baixo da sua história e que a colocou num ponto alto. Espero que ele tenha consciência da responsabilidade que tem e da chance ímpar que tem.

            Agora, para isso, é preciso que ele tome algumas providências; é preciso que ele assuma alguns comportamentos. O primeiro comportamento necessário para isso é ele dizer, pensar, saber que não foi eleito pelos 24 Deputados. Esses 24 representavam a população, mas seu compromisso não é com Deputado nenhum, não é com Senador também, nem com Deputado Federal: seu compromisso é com o povo desta cidade!

            Se não fizer isso, se ficar enrolado, como se diz, nas intrigas dos 24 Deputados, ele fracassará. Se ficar envolvido com os três Senadores, ele fracassará. Se ficar com os oito Deputados Federais, ele fracassará. Ele tem de olhar nos olhos dos dois milhões de habitantes desta cidade, olhos angustiados com a vergonha que nós vivemos. É nesses olhos que ele deve olhar. É com esse povo que ele deve ter compromisso, não com aqueles que cumpriram a obrigação legal de dizer quem é o Governador. Ainda menos, se ele imaginar que só tem compromisso com os 13 que votaram nele dos 24: será uma tragédia! Ele tem de governar, sem dar satisfação a esses 24. Usar, claro, a Câmara na hora de legalizar os seus projetos, mas sem ficar perdendo tempo no emaranhado das intrigas que a gente viu que levou o Distrito Federal a essa situação, inclusive pela compra de votos na Câmara, pelo guardar dinheiro em bolsas, pelo guardar dinheiro em meias, para se poder votar conforme o Governador queria.

            Por favor, Governador Rogério Rosso, olhe nos olhos do povo. Não se preocupe com os olhos dos líderes eleitos no Distrito Federal - e fala um desses líderes eleitos.

            Não é a mim que o senhor deve satisfação. Não dê satisfação a mim como Senador; peço que me dê satisfação como morador desta cidade. E, se decidir fazer isso, é preciso que o senhor, Governador, abra de imediato uma auditoria dura, rígida, independente, feita de maneira transparente, uma auditoria sobre todas as contas do Distrito Federal, uma auditoria, sobretudo, de todas as obras sobre as quais pesam suspeição de que foram ganhas com base em superfaturamento, de que foram ganhas com base em acordos feitos, e não na lisura de um processo de licitação.

            Os próximos dias, Senador Pedro Simon, serão decisivos para saber a credibilidade que este novo Governador vai ter. Eu, talvez, não devesse nem dizer os próximos dias, mas sim as próximas horas, para ele demonstrar que todo aquele passado que ele tem com os governadores envolvidos nesses aspectos que aí ocorrem é coisa do passado, que ele vai olhar para o futuro, que ele nada tem a ver com aqueles que o ajudaram na carreira dele, aqueles que foram seus pais, aqueles que foram seus protetores, que ele, agora, é Governador e tem de olhar para o povo. E tem de olhar para o povo fazendo um governo que traga credibilidade para o Distrito Federal.

            Feita a auditoria, é preciso que ele saiba que tem de fazer com que, no Distrito Federal, haja uma revolução na maneira de governar e uma revolução de para quem governar.

            Por favor, não seja Governador dos viadutos acima da água, do esgoto, da escola e da saúde; não seja um Governador de obras grandiosas às custas de um sistema de saúde falido como está o nosso, de um sistema de educação decadente como está o nosso. Faça uma revolução nas prioridades, agora faça uma revolução também na maneira de governar. Faça com que seu governo seja um governo tão transparente que nunca o Governador ou o Secretário se reúna sozinho com nenhum empreiteiro, com nenhum dirigente de empresa que vai vender bens ou serviços ao governo. Não deixe que volte a pesar sobre o governo suspeições, como nós tivemos por conta dos últimos que nos governaram. Mostre total transparência na maneira de governar. Não deixe nada ser secreto, nada ser escondido, não deixe pesar suspeita sobre nada. É isso que nós esperamos.

            Se tivermos essa transparência, se tivermos essa decência reconhecida - e, na política, não basta a decência, é preciso reconhecimento da decência também; se tivermos clareza de que, além de decência de como governar, com essa revolução na maneira de governar, haverá uma revolução no uso do dinheiro público a serviço das populações mais carentes, dos serviços públicos, mais do que dos serviços privados, como nós temos a tradição de fazer... Uma cidade que tem a melhor infraestrutura urbana viária para automóvel e um dos piores sistemas de transporte público das grandes cidades brasileiras. Por que não inverter isso? Por que essa cidade não se transformar em um exemplo do transporte público em vez dos bilhões que nós gastamos para facilitar o transporte privado, que, inclusive, não vai dar resposta porque a gente sabe que os engarrafamentos vão continuar?

            Se nas próximas horas o novo Governador for capaz de mostrar essa independência em relação às direções viciadas da cidade e for capaz de criar uma relação direta com a população, de confiança, de novidade, de mostrar que as coisas mudaram, que não há continuidade, ele não é nem mesmo apenas um sucessor, é um substituto - depois dele, uma ruptura com o passado recente; se demonstrar isso, creio que aí nós devemos dar o apoio que for necessário. Devemos, sim, quem sabe, construir a possibilidade de dizer que o Distrito Federal supera todas as suas contradições, todas as suas brigas, todos os nossos vícios pessoais e interesses, e juntos vamos reconstruir esta cidade.

            Ela foi construída e depois de amanhã comemoraremos 50 anos de começada a construção. Ele foi construída fisicamente, mas está demolida moralmente.

            A tarefa do Governador é a de construir moralmente esta cidade. Mas moralmente do ponto de vista da ética como se governa e do ponto de vista da ética de para quem a gente governa. Essa é uma chance, Governador Rosso, que o senhor tem e pela qual talvez nem esperasse uma semana atrás. Talvez tenha sido uma surpresa para o senhor essa eleição, como para tantos de nós. Não jogue fora!

            Peço também a todos nós, que por uma razão ou outra podemos ter preconceitos, que guardemos o preconceito. Esperemos algumas horas para formularmos o nosso conceito, sem preconceito, mas com conceito, sem olhar o passado, mas sem esquecê-lo, para ver se o presente e o futuro se diferenciam do passado. Não se trata de dar uma carta branca esquecendo o passado do novo Governador; mas se trata de não pôr nele um carimbo definitivo por causa do passado que ele teve.

            Quem sabe não pode estar aí a chance de alguém que entende seu papel histórico, que percebe a sorte que teve, graças a méritos, obviamente, e que diz: “Não vou jogar fora essa chance. Não vou por causa de um passado, por causa dos votos que tive na Câmara Legislativa, não vou me apequenar diante da história”.

            Governador do Distrito Federal tem a chance de não se apequenar diante da história; mas tem a tentação de ficar pequeno também. Esse é o problema, esse é o desafio: substituir a pequenez que pode continuar como tentação, pela grandeza que pode vir de uma decisão que ele tome de levar adiante a chance que hoje tem.

            Estou disposto a esperar as próximas horas para formular o meu conceito. Nenhum preconceito com o passado, mas também nenhum esquecimento daquele passado, nenhum esquecimento do passado. Esperar alguns dias, alguns momentos, algumas horas, e ver o conceito.

            Abra as auditorias que a cidade de Brasília espera. Revogue o tal do PDOT, o Plano Diretor de Ordenamento Territorial, que todos dizem que foi definido, sacrificando o meio ambiente, protegendo empresas, porque os que votaram nele, na Câmara Legislativa, votaram em troca de favores. Revogue; mande outro; mas revogue esse. Recupere, o mais rápido possível, o nosso sistema de saúde que está vergonhoso. Pare, se for preciso, obras sob as quais pesam suspeição. Não tenha medo disso. O povo está disposto a pagar o preço de esperar mais alguns meses por obras; e, no dia que andar naquelas vias, dizer: “Isso aqui foi construído decentemente”. É melhor esperar alguns meses e sair caminhando decentemente pela cidade do que ter obras que facilitem esses caminhos e a gente pise na lama, em vez de fluir como deveríamos.

            Vamos precisar de muita coragem. Eu creio que, como morador, estou disposto a ter a coragem de dizer: “Não vou carimbar o novo Governador com base no seu passado”. Agora, também não vou dar uma carta branca nenhuma, nem participar deste governo antes de esperar as próximas horas, Senador Eurípedes, os próximos dias no máximo e saber se de fato veio um governador que quer aproveitar a chance, que quer aproveitar o momento histórico; que não vai jogar fora a sua dimensão; que não vai ficar pequeno; que não vai ficar olhando as tramoias dos dirigentes, dos líderes e vai olhar diretamente nos olhos do povo, angustiado pela vergonha que atravessamos.

            É hora de dar algumas horas para o novo Governador, e rezando para que a gente possa dizer: “Passou o risco da necessidade de intervenção. Nós fomos capazes de resolver o assunto aqui dentro, com a Câmara Legislativa, que deu a legalidade, e com o Governador, que aproveita a chance para merecer a legitimidade”. Eu vou rezar por isso. Eu desejo que isso aconteça. Mas se isso não acontecer, se de repente nós vermos que a legalidade serviu para a ilegitimidade, que o Governador novo não foi capaz de trazer a legitimidade que a legalidade lhe propiciou a chance, eu não terei dúvida de vir aqui defender a intervenção. Eu não terei dúvida de vir aqui dizer “Nós fracassamos”, os líderes desta cidade. Fracassamos por não sabermos conduzir a escolha de um Governador, ou porque o Governador não soube aproveitar a chance que a história lhe deu.

            Espero, novo Governador Rogério Rosso, que o senhor possa aproveitar a chance. Não tenho nenhuma razão para dizer que o senhor não vai aproveitar - nenhuma, nenhuma, nenhuma. Diria até mais, que até tendo a achar que o senhor vai saber aproveitar essa chance. Mas eu quero algo mais concreto: ver os seus gestos nos próximos dias, nas próximas horas até, para dizermos que vale a pena investir, todos juntos, para que até 31 de dezembro, deste ano, nós tenhamos recuperado a nossa autoestima e a nossa credibilidade fora daqui do Distrito Federal - a autoestima de nós, daqui de dentro, e o respeito dos brasileiros de fora.

            Boa sorte, Governador, mas sobretudo firmeza. Não confunda aqueles que votaram nos representando como se eles fossem os seus eleitores. Seus eleitores somos todos nós; seus eleitores são o povo do Distrito Federal. Não tivemos a chance de votar no senhor, mas nós que somos eleitores; é para nós que o senhor está sentado nessa cadeira, não para os Deputados que cumpriram a obrigação de o escolher. Nós estamos de olho e esperamos que, daqui a poucos dias, poucas horas - quem sabe -, possamos dizer: “Os nossos olhos brilharam vendo uma nova estrela querendo salvar-nos no Distrito Federal”. E, nesse momento, em vez dos olhos, o senhor pode contar com as nossas mãos colaborando para que possamos dizer: “Juntos, recuperamos nossa autoestima e o respeito dos brasileiros”.

            Era isso, Senador, que eu queria trazer aqui como minha mensagem para o novo Governador do Distrito Federal, uma mensagem de esperança, mas uma mensagem, não de dizer que está tudo muito bem e que já está tudo aceito e que nós lhe damos uma carta em branco. O senhor vai ter que conquistar a nossa confiança. O senhor não teve tempo ainda de conquistá-la. Nós esperamos os seus gestos.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O Senador Pedro Simon...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Com os seus gestos, aí sim, a gente pode dizer: “Brasília, nós estamos outra vez nos recuperando”.

            O Senador Pedro Simon pediu um aparte e, com o maior prazer, eu passo...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Com muita autoridade, V. Exª faz o pronunciamento neste momento. Eu acredito que, com muita autoridade e com muita emoção, com muita sinceridade, V. Exª expressa o seu sentimento, que é, aliás, o sentimento desta Casa e, de modo muito especial, o sentimento do povo de Brasília. O drama que viveu esta cidade foi realmente muito pesado. Mas eu quero crer que, de certa forma - eu falei isso desta tribuna -, o que aconteceu aqui tem um lado positivo: pela primeira vez, a Justiça funciona no que tange aos erros e aos equívocos praticados ou aos crimes e às omissões praticadas por gente importante. O destino é assim: saiu o Governador, que tinha tido uma segunda chance; saiu o Vice; saiu o escolhido Presidente da Câmara Distrital, e, agora, entra esse que foi escolhido. O noticiário é muito reticente e muito desconfiado com relação a S. Exª. Eu não o conheço, não tenho nenhum conhecimento de S. Exª, não posso fazer nenhum juízo e nem vou fazer um juízo precipitado com relação às análises feitas. Aliás, as análises feitas hoje nos jornais foram muito duras aos políticos de Brasília, à exceção de V. Exª. A única pessoa que é colocada acima do bem e do mal e que realmente impõe respeito à sociedade aqui é V. Exª. Mas eu concordo com o pronunciamento de V. Exª. Queira Deus que esse ilustre Parlamentar, hoje Governador, aproveite a chance. Não importa, meu ilustre Senador Cristovam, não importa o que foi nem o que aconteceu. Não importa o que a imprensa diz sobre as ligações que ele teve com o ex-Governador ou com o Governador anterior ao ex-Governador. Não importa o que a imprensa diz das pessoas, os 14 eleitores, que o elegeram Governador. O que importa é que S. Exª, hoje, é o único responsável pela história de Brasília. É verdade que o Procurador-Geral tem se manifestado ainda muito duro. Na tese de S. Exª, ainda não foi a solução; acha que isso vai ser a continuação do que existia, apenas um quadro a mais do que já existia. E, na interpretação do Procurador-Geral, só a intervenção é que equaciona a questão. Não sei, mas acho que o Governador que assume neste momento pode realmente olhar para a frente e, como diz V. Exª, tentar se identificar com a dignidade, com a correção, com a história desta cidade. Pode, inclusive, falar com seu colégio eleitoral, com seus eleitores; pode, inclusive, falar com a equipe que está aí - e não sei se ele pode inventar mais -, mas pode dizer: “Olha meus irmãos, hoje vai mudar. Hoje, aqui em Brasília, a partir de agora, vai ser isso. Essa é a linha, essa é a ação, essa é a realidade: não tem mais caixa dois, não tem mais verba que entre, nem com filme, nem sem filme, nem escondendo na meia, nem onde for. Essa é a linha do partido, essa é a linha do Governo”. Ele pode fazer, ele pode ter coragem para fazer. E eu me atreveria a dar um conselho a este jovem: ele tem que começar hoje.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Isso mesmo.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje! Ele adota a linha, e a linha é esta: “É isso que eu vou fazer”. Se para o projeto passar na Câmara, tem que ter mensalão, mensalidade ou qualquer coisa, então, não passa na Câmara. Não passa na Câmara! Fica muito melhor a S. Exª não passar na Câmara do que pagar para passar na Câmara. Mas também digo que, se S. Exª a partir de hoje tiver coragem de dizer que mudou,...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Isso..

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E ele, com a linha dele, com o temperamento dele, com a fórmula dele, “mudou” - não vai nomear nem parente, nem a mulher, nem filho, nem nada; ele começa dando o exemplo. “Mudou” -, ele pode... E eu diria mais: tem uma página em branco na história de Brasília e na história do Brasil que S. Exª pode estar começando a escrever, e talvez ele nem tenha se dado conta disso. Até lhe daria um conselho: vá lá falar com ele. Tenha essa coragem. Vá lá como brasiliense e converse com ele. “Olha, meu filho, o conselho que te dou é este, assim, assim, assim. Não estou pedindo - e não é o seu estilo, sei que não é seu estilo - nem cargo, nem nomeação, nem isso e nem aquilo. Estou apenas lhe dando um conselho: faça isso”. É questão de pouco tempo. Onde ele deu a linha, está dada a linha: mudou; onde ele fez a primeira sentença, nomeou esse para agradar fulano, ou deixou as portas abertas da torneira para regar beltrano, aí ele não fecha mais. Lamentavelmente, foi esse o caminho escolhido por seus antecessores. Mas quero felicitá-lo por seu discurso, porque é oportuno, é feliz, é sábio e é muito importante neste momento. Peço perdão a V. Exª pelo meu atrevimento, mas eu não pude me controlar e vim do meu gabinete para entrar, de uma maneira deselegante, na beleza da elegância do pronunciamento de V. Exª para dizer exatamente isso. Eu, com a humildade de quem não tem o brilho de V. Exª, repito, meu irmão Governador, Senador Cristovam: vá, aproveite essa chance. Diga-lhe: “Num ano ou até o fim do ano, você não vai poder fazer nem 5% das obras que fez o Governador que saiu ou o anterior, não é por aí que você vai se notabilizar. Agora, você vai se notabilizar se, de repente, as manchetes dos jornais começarem a dizer que Brasília mudou, que agora é diferente”. Assim como mudou no momento em que o Governador foi preso, foi afastado, a imprensa pode avisar: “Mudou, porque agora entrou gente séria, responsável, que está escrevendo uma nova história”. Eu agradeço a gentileza de V. Exª e o felicito, em meio a essa situação, com a posse de hoje, a festa do aniversário depois de amanhã, porque V. Exª tem a serenidade de fazer, com a profundidade necessária, este pronunciamento.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador. Quero dizer que vou atender a sua sugestão: se não for pessoalmente - e até posso ir, sem nenhum problema -, enviarei a ele este discurso, sobretudo por seu aparte, muito mais do que pelo meu discurso.

            Mas eu quero chamar a atenção para um ponto levantado por V. Exª: tem de começar já! Confesso, Senador Mão Santa, que hoje, ao assistir ao seu discurso, fiquei preocupado. Eu imaginava que, antes mesmo de cumprimentar a Mesa, ele iria dizer, olhando para a televisão, olhando nos olhos do povo: “Brasília não está mais à venda!”. Era isso o que eu esperava ouvir dele: “Brasília não está mais à venda!”. E isso significaria que ele vai governar sem se preocupar com conchavos, com Deputados, com Senadores, inclusive, sem conchavos com os partidos.

            Por isso é que eu posso ir tranquilamente, porque se for fazer um pedido, será para que não chame o meu partido para fazer parte do Governo...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) -.... em vez de pedir que chame a gente, que não chame.

            Agora, se ele fizer essas mudanças, se ele mostrar que Brasília não está mais à venda, ninguém mais terá o direito de se recusar a colaborar, ninguém terá o direito de dizer que não faz parte desse esforço, um esforço que será de todos.

            Vai depender, como o senhor disse, das próximas horas. Espero que baixe nele um espírito da história do Distrito Federal, que ele perceba a chance que caiu sobre ele. É uma chance inusitada, surpreendente, que pode permitir-lhe deixar uma marca fundamental na história do Distrito Federal ou, em vez disso, continuar a tragédia que a gente vive.

            Eu tenho esperança - ele está começando agora - de que ainda é possível, sim, ele dizer que Brasília não está mais à venda, que Brasília muda - foi o verbo que o senhor usou -, que Brasília começa a mudar na maneira de governar e para...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Dito isso, termino minha fala, Senador Mão Santa, agradecendo a paciência.

            Quem sabe a gente não está vivendo um momento muito importante e novo no Distrito Federal? Estou pronto para dar minha contribuição se, de fato, a gente for mudar.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2010 - Página 15105