Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com os dados revelados no Primeiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários, realizado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas. Relato de iniciativas legislativas de S.Exa. no enfrentamento da problemática das drogas. (como Líder)

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA. POLITICA SOCIAL.:
  • Preocupação com os dados revelados no Primeiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários, realizado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas. Relato de iniciativas legislativas de S.Exa. no enfrentamento da problemática das drogas. (como Líder)
Aparteantes
Magno Malta, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2010 - Página 31178
Assunto
Outros > DROGA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • APREENSÃO, DADOS, LEVANTAMENTO, CONSUMO, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE, BEBIDA ALCOOLICA, DIVERSIDADE, DROGA, RESPONSAVEL, SECRETARIA, AMBITO NACIONAL, SETOR, ANALISE, ORADOR, PROBLEMA, SUPERIORIDADE, INDICE, JUVENTUDE, VICIADO EM DROGAS, GRAVIDADE, POSSIBILIDADE, UTILIZAÇÃO, DERIVADOS, COCAINA.
  • PROXIMIDADE, CONCLUSÃO, MANDATO, AUSENCIA, DISPUTA, ELEIÇÕES, BALANÇO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, CONTRIBUIÇÃO, LUTA, PROBLEMA, DROGA, APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, REDUÇÃO, BUROCRACIA, ESTABELECIMENTO, POSSIBILIDADE, CONVENIO, UNIÃO FEDERAL, MUNICIPIOS, OBJETIVO, PREVENÇÃO, PERIGO, REINTEGRAÇÃO, NATUREZA SOCIAL, VICIADO EM DROGAS, ANALISE, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, PROPOSIÇÃO, AUMENTO, PENA, CRIME, TRAFICO, ENTORPECENTE, TRAMITAÇÃO, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), PROPOSTA, CONCESSÃO, SEGURADO, PREVIDENCIA SOCIAL, AUXILIO, DOENÇA, PERIODO, TRATAMENTO, DEPENDENCIA QUIMICA, IMPORTANCIA, INCLUSÃO, PROJETO, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO), TIÃO VIANA, RELATOR, DEFINIÇÃO, RECURSOS, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA NACIONAL, COMBATE, DERIVADOS, COCAINA, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, SOCIEDADE, FAMILIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO.
  • REGISTRO, PROVIDENCIA, EXECUTIVO, POLITICA, SETOR, PROMOÇÃO, SEMANA, COMBATE, DROGA, ANUNCIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LIBERAÇÃO, RECURSOS.
  • REGISTRO, COMPROMISSO, CHEFE DE GABINETE, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), AUXILIO, CUSTO, ENSINO, LINGUAGEM, SURDO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, CEGO, INTERIOR, LEITURA, TRECHO, CARTA, PROFESSOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa, por essa carinhosa manifestação, que eu guardo no meu coração. Vou guardar este 23 de junho, véspera de Dia de São João, como um dos momentos sublimes da minha passagem nesta Casa, por uma manifestação tão especial feita à minha pessoa e por esta relação construída na vida política aqui, no Congresso Nacional.

            Eu realmente, este ano, não sou candidato. Encerro minha caminhada de oito anos aqui, nesta Casa, porque pretendo retornar a Porto Alegre, retomar a minha vida, que é uma relação muito periférica, comunitária, e resgatar toda essa relação que se distanciou de mim durante esses oito anos. Mas eu vim aqui cumprir uma missão, como estou fazendo, de representação do meu Estado, sem nenhum tipo de compromisso maior que não fosse exatamente a representação do Rio Grande do Sul, ajudando o Brasil, ajudando o Presidente Lula, ajudando o Governo com o meu voto aqui, sempre muito fiel ao Governo Federal, como sempre aconteceu neste período. Não acredito ter o Governo recebido mais do que um ou dois votos contrários a projetos aqui encaminhados e sempre muito bem dialogados com a nossa Bancada. A Bancada gaúcha tem tido essa afinidade. O Senador Paim, o Senador Simon, nós temos conseguido trabalhar essa afinidade de interesses com o Estado, o que se traduz num processo de muito respeito com o eleitorado gaúcho, com a população do Rio Grande do Sul.

            O que me traz agora a esta tribuna, Senador Mão Santa, é um tema que já me trouxe outras vezes. Eu assumi o compromisso de, pelo menos uma vez ao mês - não sou de muitos pronunciamentos na tribuna da Casa -,trazer essa lembrança, esse assunto, esse tema que é de grande preocupação, de enorme preocupação e que tem sensibilizado vários colegas daqui da Casa.

            Hoje mesmo a nossa querida colega Marisa Serrano trouxe esse tema ao plenário. Falo mais uma vez da questão das drogas, Senador Mão Santa, aproveitando especialmente o transcurso, nesta semana, da 12ª Semana Nacional sobre Drogas, que se iniciou na última segunda-feira, dia 21.

            A respeito disso, o 1º Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários, realizado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, recém-divulgado, trouxe dados alarmantes sobre o uso de drogas em geral. Esse levantamento foi divulgado também nesta semana, coincidindo com a Semana Nacional sobre Drogas.

            Ficou constado nessa pesquisa que cerca de 49% dos universitários do País já usaram drogas ilícitas. O estudo indica que 22% dos universitários estão sob risco de desenvolver dependência de álcool e 8% no caso da maconha.

            Outro dado mostra que 40% dos entrevistados usaram duas ou mais drogas nos últimos doze meses. Em relação ao álcool, 86% disseram já ter consumido - a maioria entre menores de 18 anos. O fumo representa o hábito de 22% dos entrevistados.

            A pesquisa ouviu cerca de 18 mil jovens de instituições públicas e privadas de ensino superior nas 27 capitais brasileiras e chama a atenção, pois essas drogas chamadas lícitas, como o álcool e o cigarro, são, na maioria das vezes, a porta de entrada para drogas mais pesadas, como é o caso da cocaína e do famigerado crack.

            Temos que encarar, Senador Mão Santa, esse debate em todas as suas frentes. E o Congresso Nacional tem o desafio de estabelecer marcos legais para o combate efetivo às drogas. Aqui, nesta Casa, apresentei alguns projetos que podem contribuir para as próximas ações governamentais nesse enfrentamento. O primeiro deles já teve a aprovação do Congresso Nacional e, após a sanção do Presidente Lula, tornou-se a Lei nº 12. 219, de 2010.

            Essa lei permite que a União possa estabelecer convênios diretamente com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso indevido de drogas e possibilitar a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes. Com esse instrumento, as políticas municipais para essa área poderão ser implementadas com menos burocracia e mais efetividade.

            Outro projeto é o PLS nº 187, de 2009, que aumenta a pena para o tráfico de drogas mais danosas à saúde, como é o caso da cocaína e, especialmente, do crack. Devemos endurecer a punição para esses traficantes, porque eles não podem ter a mesma pena de um criminoso comum, já que essa droga não dá a menor chance para quem nela é viciado. O Projeto tramita ainda na Comissão de Constituição e Justiça e está sob a competente relatoria do nobre colega Senador Jarbas Vasconcelos.

            Temos ainda o PLS nº 202, de 2009, que concede ao segurado da Previdência Social a concessão do auxílio-doença durante o tempo que durar o seu tratamento contra a dependência química. Ocorre que o segurado recebe o benefício e, após alguns dias de tratamento, já se nota uma melhora na sua aparência. Mas essa melhora não significa que ele esteja recuperado. Daí, quando ele se submete a uma nova perícia, tem o seu benefício suspenso e é obrigado a voltar ao trabalho sem concluir o tratamento.

            Então, estamos sugerindo que essa segunda perícia, quando indeferida, terá direito à revisão por uma junta de peritos. A matéria tramita na Comissão de Assuntos Sociais, Senador Paulo Paim, e está sob a relatoria do nosso colega Senador Renato Casagrande.

            Ainda existem outras ações. O Relator Geral da LDO, Senador Tião Viana, incluiu no seu relatório, entregue hoje, a previsão de recursos para a implementação da política nacional de combate ao crack.

            Na esfera do Executivo, e por ocasião da Semana Nacional sobre Drogas, o Presidente Lula anunciou a liberação de R$410 milhões para ações de combate ao crack e outras drogas. Inclusive, nessa solenidade, foi feita uma homenagem, esta semana, registrada desta tribuna pelo Senador Paulo Paim, ao grupo RBS de Comunicação, do nosso Estado, o Rio Grande do Sul, pela contribuição nessa luta através da campanha pioneira na imprensa: “Crack, nem pensar”.

            A cruzada federal contra as drogas, na qual o crack foi eleito o adversário número 1, será coordenada por uma força-tarefa de nove Ministérios, órgãos do Judiciário e entidades da sociedade civil.

            As apreensões de drogas também têm crescido consideravelmente. Ainda hoje de manhã, Senador Paim, no nosso Rio Grande, foram incineradas quase três toneladas de drogas apreendidas somente neste ano, nos primeiros meses de 2010, pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico - Denarc.

            Sr. Presidente Mão Santa, ainda há muito a fazer para que o Brasil possa vencer essa guerra contra as drogas. Às vésperas de mais um pleito eleitoral, quero aqui fazer um apelo como cidadão, e não apenas como Parlamentar, já que eu não sou candidato a nada. Então, como eleitor, como cidadão, eu deixo este apelo. Senador Paulo Paim, candidato à reeleição como representante do Rio Grande do Sul para poder continuar sua obra aqui no Congresso Nacional, especialmente aqui no Senado, vamos convencer todos os candidatos, não apenas ao Legislativo, mas aos postos do Executivo Federal e estaduais, a colocarem essa discussão em destaque nas suas propostas à população. A responsabilidade deve ser compartilhada com toda a sociedade, pois essa é a única forma de transpor essa muralha que se coloca diante de nós e que desafia a nossa capacidade de reação.

            Mas, antes disso, alertamos para o papel das famílias nessa prevenção e conscientização. Os pais devem conversar com seus filhos sobre esse assunto, mostrando desde já os perigos do uso de drogas em geral. Essa discussão não pode mais ser um tabu. Observem, sobretudo, os sintomas de uma possível dependência, que, na sua maioria, são visíveis, como, por exemplo, baixa no rendimento escolar e agressividade e irritabilidade apresentada em muitos casos.

            Essas são atitudes simples, mas que podem fazer toda a diferença, porque, depois que o vício se instala e se apodera do dependente, a tarefa se torna quase que inglória. Portanto, o diálogo é realmente fundamental.

            Antes de concluir, o Senador Paim me pede um aparte e eu o concedo, com muito prazer.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Zambiasi, faço um aparte para elogiar V. Exª por todo seu mandato, por toda sua história, não só como Senador, mas também como Deputado que foi pelo Rio Grande, como Presidente da Assembleia. V. Exª nunca disse aqui, no plenário, mas eu sei que V. Exª ajuda, e muito, um centro de recuperação de drogados no Rio Grande do Sul, cujo nome é...

            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS) - Centro de Reabilitação Vita.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Centro de Reabilitação Vita. Então, V. Exª tem toda autoridade para falar do tema, porque tem travado uma batalha em defesa da recuperação da nossa juventude. Meus cumprimentos a V. Exª. Meus cumprimentos também pela fala que fez antes sobre a questão das perícias médicas. Concordo integralmente com V. Exª. Foi conversando também com V. Exª que apresentei um projetinho simples, para acabar com a história da alta programada. O cidadão faz a perícia, fica trinta dias, em três meses, ele é afastado pelo computador. Aí, ele volta lá depois de três meses, fica na fila para fazer uma nova perícia e não recebe. Ele não recebe na fábrica e não recebe também da Previdência. Eu quero só destacar o trabalho de V. Exª, que é um estudioso desse tema. Senador Zambiasi, eu acompanho seu trabalho. Acho que V. Exª foi um dos primeiros Senadores a tocar neste tema aqui, no Congresso. Depois é que vieram a campanha no Rio Grande do Sul e outras campanhas de âmbito nacional. V. Exª sabe que estou falando somente a verdade. V. Exª, como eu disse há um tempo, me deu a alegria de estar entre os Parlamentares mais destacados do Congresso, e eu quero dizer-lhe que o Congresso vai perder com a sua não presença aqui. Mas tenho certeza de que, onde V. Exª estiver, seja numa outra atividade, seja voltando para os meios de comunicação - porque eu não sei, naturalmente, a caminhada de V. Exª -, sempre terá o compromisso com o social. V. Exª acho que não fez de público, mas deu um depoimento para mim que me emocionou aqui. Eu disse: fale para os Senadores. V. Exª me contou a história de um e-mail de uma criança que V. Exª carregou no colo e que hoje está no Pará. Então, V. Exª é um daqueles homens públicos que faz política olhando para o ser humano. Eu terei outras oportunidades ainda, mas não poderia deixar de fazer um aparte a V. Exª. Tenho muito orgulho de dizer que sou seu amigo. Um abraço.

            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS) - Obrigado, Senador Paim. Quero dizer que a área social vai ter uma forte representação com a sua presença aqui no Senado Federal. O Rio Grande do Sul está muito bem representado com o Senador Paim, com o Senador Simon e por quem mais for eleito na terceira vaga.

            E essa questão da drogadição, Senador Paim, me compromete muito. Entendo que temos que estar nesse alerta permanente. E porque vale a pena. O Senador Magno Malta está aqui e tem uma experiência muito parecida com a minha, tem um trabalho mais forte que o meu, inclusive.

            Neste último feriado em que estivemos visitando essa entidade, tive uma das maiores emoções da minha vida. Um dos internos, após permanecer seis meses em abstinência, 180 dias e noites, por vontade própria, convivendo num ambiente de abstinência, entendeu que era chegada a sua hora de ter alta. Ele saia no dia em que, Senador Paim, aproveitava a passagem grátis dos ônibus de Porto Alegre - temos um dia por mês em que os ônibus não cobram a tarifa -, e aproveitava para ir com a esposa para casa para retomar a vida.

            Quando eu vejo que ele está com as suas sacolinhas de roupa, que ele ganhou lá dentro, que ele conquistou naqueles seis meses em que conviveu com tantos que por lá passaram - alguns não resistiram, abandonaram, foram embora, chegaram outros, mas ele esteve lá, lutou, acreditou na possibilidade de limpar-se -, eu ofereci a ele uma carona: tu não precisas pegar esse ônibus lotado agora, carregado de mala; deixa que eu te levo, vou te levar para casa.

            E pude ouvir, então, um pouco mais desse convívio e da importância dessas obras sociais, Senador Magno Malta, que muitas vezes não recebem qualquer tipo de apoio público, nada; são fruto da determinação, da vontade e do compromisso social de voluntários, do voluntariado.

            Esse é um assunto que o Senador Magno Malta conhece muito bem também.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Concede um aparte Senador?

            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS) - Pois não.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Eu quero parabenizá-lo até porque, quando V. Exª vem à tribuna, não traz um discurso vazio para registrar na Voz do Brasil que falou de alguma coisa e sai atirando para todo lado. V. Exª tem foco, V. Exª tem bandeira, V. Exª tem identidade com o sofrimento humano, com as causas da sociedade. E, porque tenho focado demais na causa da pedofilia e viajado demais com a CPI, tenho perdido parte do privilégio de ouvir V. Exª, fazendo o enfrentamento ao abuso das drogas, ao avassalamento ocorrido no País nos últimos anos com o problema do vício como um todo. Eu lhe parabenizo até porque são 30 anos da minha vida tirando drogados da rua. Nós temos uma instituição chamada Projeto Vem Viver, que nasceu dentro da minha casa, e minhas filhas nasceram nos braços dos drogados. Há dez anos, denunciei o crack no relatório da CPI do Narcotráfico; uma droga que era só de São Paulo, e havia um acordo do PCC com o Comando Vermelho do Rio de que essa droga não sairia de São Paulo. Por ser uma droga barata, que vicia muito rápido, e esse dependente vira um lixo rapidamente, ele não tem força nem para roubar para poder vir e comprar mais droga. E eles, com uma artimanha muito forte, começaram a comer pelas beiradas e começaram pelos distritos, pelo interior do País até chegar às grandes cidades. Trinta anos tendo o privilégio de enxugar lágrima de mãe que chora, de esposa que chora; de recolher pessoas nas ruas; privilégio de entrar no carro com a minha esposa e sair nas estradas recolhendo andarilhos bêbados. Um privilégio, porque o meu próximo não é aquele que cruza o meu caminho, mas aquele cujo caminho faço questão de cruzar. Como o exemplo que V. Exª acabou de contar: ele não lhe pediu carona; V. Exª cruzou o caminho dele e foi oferecer a carona. Pois bem. Estamos vivendo os mais terríveis dramas sem poder enxergar a saída. O primeiro é o da pedofilia, porque, no Brasil, há mais gente usando criança do que usando droga. E o segundo é o drama das drogas, com o qual o Poder Público não sabe como lidar e não tem humildade para buscar, com quem sabe lidar com o problema, uma ajuda para ter saída. O Presidente Fernando Henrique Cardoso criou a Senad - Secretaria Nacional Antidrogas. Fez um discurso na ONU dizendo que ia erradicar as drogas no Brasil em dez anos. Primeiro, ele não ia ser Presidente por dez anos; depois, ele saiu e deixou a Senad com R$65,00 de orçamento. O Presidente Lula a implementou, mas os relatórios da Senad são assim: R$3 milhões gastos com as pesquisas do instituto tal para saber onde se usa mais, onde se fuma mais, onde se cheira mais...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - No Brasil, ninguém precisa saber mais disso. Guardando-se as devidas proporções, cheira-se e fuma-se de maneira igual em todos os lugares do País, em todos os lugares. As drogas são o adubo da violência no País. Criamos a Lei de Narcotráfico no Brasil, da qual fui o Relator, que virou um monstrengo na Câmara. Criminalizou-se demais o traficante e deixou-se livre o usuário, que é exatamente o consumidor que faz esse empresário-traficante forte no seu negócio. O juiz não tem moral, não tem autoridade para punir o usuário de droga. Na verdade, a gasolina que é comprada pelo tráfico para incendiar um ônibus com criança dentro vem do dinheiro do usuário. A arma usada para o assalto é adquirida com o dinheiro do usuário. Essa é uma política de enfrentamento, mas é a política preventiva, porque - veja - centro de recuperação de drogado é a UTI. Tenho uma UTI há 30 anos. Abri outra há nove meses só para criança de oito a 13 anos dependente de crack, chamada Horta de Vida, Projeto Vem Viver. Com quem? Com Ledir Porto. Esse Ledir Porto eu tirei da cadeia há 15 anos, traficante de drogas, ladrão de carga e assaltante de banco. Ele chegou à minha instituição morto, desgraçado, desmoralizado. Só tinha o segundo ano primário. Lá dentro, ele mudou de vida, estudou, fez faculdade e elegeu-se Vereador na cidade dele, onde foi preso pela última vez. Hoje, é uma das autoridades de segurança pública no Brasil. Esse rapaz reduziu a violência em Vila Velha em 84% e é o Secretário de Defesa Social depois de 15 anos, referência em segurança pública. Quer saber de uma coisa? Vai eleger-se Deputado Federal. O Prefeito Javan, do meu Estado, foi recuperado na minha instituição. Chegou lá desgraçado...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - ...de cocaína (fora do microfone). E V. Exª chama a atenção, porque Zambiasi traz um tema, Sr. Presidente. A sociedade deve estar ávida, e as pessoas devem estar saindo da novela para assistir ao que V. Exª está falando. Neste momento, é hora de Dilma e do Serra não dizerem que são contra as drogas e que vão enfrentá-las. Enfrentar como? Temos na ponta milhares de pessoas religiosas como essa casa de recuperação a que V. Exª foi e que vive de migalhas sem atenção do Poder Público, porque o dinheiro é gasto com institutos de pesquisa para saber quem cheira mais e quem usa mais. É difícil acautelar um carro preso no tráfico de drogas, uma caminhonete, Kombi, seja o que for, para mandar para as instituições que estão na ponta fazendo aquilo que o Poder Público não faz. Não faz. Então, eles precisam dizer o que querem, porque é preciso realmente o que V. Exª disse no começo do discurso. Eu estava lá dentro vendo V. Exª pela televisão. Que o Governo Federal se associe aos Municípios, porque nós precisamos é de uma campanha efetiva de prevenção via família. Via família. Via família. Porque as casas de recuperação vão receber o resto de gente, a UTI está morrendo. Nós não queremos é gente drogada na sociedade. E para mudar esse quadro só via família, pela via da prevenção. E o Poder Público tem de intervir como? Com os seus instrumentos. Tem Ministério da Educação, tem Ministério da Saúde. Mas Ministério da Saúde não recupera drogado, não é negócio para médico. Essa cura tem de ser é na alma, é por dentro, o homem tem de ser mudado por dentro, para depois tratar o caráter dele, e isso o Ministério da Saúde não faz, nem o Ministério da Justiça faz. Mas o dinheiro público pode muito bem investir nessas pessoas que são sacerdotes da vida humana, tal qual V. Exª, e todos esses que militam lá no Rio Grande do Sul, que estão nos ouvindo e sabem do que estou falando, investir para que essas pessoas criem multiplicadores e nós mudemos o quadro no Brasil. Eu parabenizo V. Exª pelo pronunciamento, parabenizo pelo tema e até pela hora. Até pela hora que V. Exª escolheu para debater, mesmo tendo poucos Senadores, porque é a hora em que o Senador Mão Santa está sentado ali e podemos debater à vontade o tema e V. Exª pode ficar aí mais uns 20 minutos, está autorizado por mim, por Paim e por quem mais está aqui, ou mais 30, se V. Exª quiser, porque esse tema é da sociedade, é da família. Nós estamos aqui pacientemente ouvindo V. Exª, porque sei do bem que esse Senador, que, infelizmente, não quer voltar mais, sabe Deus por que, e Deus sabe, tem algo maior no Rio Grande do Sul para ser feito, porque Deus tem seus caminhos, que não são os nossos. Mas eu o parabenizo e sou seu fã.

            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS) - Obrigado, Senador Magno Malta, e também eu o parabenizo pelo seu aparte, como aconteceu com o Senador Paim, e pela experiência de vida, Senador Mão Santa, do companheiro, colega Magno Malta, que vem trabalhando, sustentando essa CPI da Pedofilia. Eu sou um membro Suplente e tenho colocado minha assinatura todas as vezes que sou solicitado, exatamente por entender a importância desse trabalho. Se não fosse a sua determinação, a sua teimosia, ela teria se encerrado há quase um ano e não teria registrado os resultados que registrou nem conscientizado, da forma como conscientizou o País, em relação à questão da pedofilia, que tem muito a ver também com as drogas.

            Senador Mão Santa, vou-lhe pedir, um minuto, um minuto e meio ou dois, porque o Senador Paim falou de um assunto que ficou no ar. Senador Jefferson Praia, permita-me, são dois minutos.

            Lá, numa cidade perdida do interior do Pará, de lá chegou às minhas mãos a história vivenciada por uma gauchinha, fisioterapeuta, formada pela Ulbra, lá em Canoas, na nossa Canoas, Senador Paim. Formou-se pela Ulbra, Universidade Luterana do Brasil, e decidiu que iria para o Pará. E achou no mapa do Pará uma cidade chamada Xinguara, e lá se foi ela, aos 22, 23 anos de idade, e uma colega. Lá chegando, depararam-se com uma realidade completamente diferente da realidade do Sul. Lá no Sul, no nosso Sul do Brasil, Senador Mão Santa, hoje de manhã, as temperaturas estavam zero grau. Ontem estavam abaixo de zero, um grau abaixo de zero, dois graus abaixo de zero. Lá, no Pará, hoje de manhã, estava trinta e tantos graus. Então, já há o choque cultural, o choque térmico, o choque humano, com as diferenças que fazem este Brasil espetacular e maravilhoso.

            E ela me conta uma história. Ela me disse: “Sérgio, aqui onde trabalho, tem um jovem que ajudo. Tenho um aluno - ela é professora, trabalha com fisioterapia, professora de educação física -, Senador Magno Malta, com 19 anos, que é surdo, que tem uma doença degenerativa nos olhos e está ficando cego”. Ou seja, ele é surdo, é mudo, porque não ouve - muitas vezes, a gente erradamente diz surdo e mudo, mas é apenas surdo, não fala porque não ouve e, por não ouvir, infelizmente, não desenvolve a capacidade da fala, nem sempre desenvolve.

            Vejam o que ela diz:

“(...) ele é surdo, mudo, pois não aprendeu a falar, porque nunca ouviu e agora está ficando cego. Ele ficará incomunicável com o mundo, se não conseguir ajuda.

Tem uma equipe de professores surdos de Belém [olha que coisa fantástica, em Belém do Pará, há uma equipe de professores que são surdos e ensinam] que se disponibilizou a ajudar vindo até o interior do Pará para ensinar a ele o método de libras tátil, que é uma forma de ele se comunicar quando ficar cego.”

            E ele vai ficar cego infelizmente, logo na frente, em seis meses, em um ano. E essa garota, esta jovem Aline está trabalhando para que, quando isso acontecer, ele não perca o contato com o mundo, já que não poderá ouvir nem falar, que possa se comunicar pelo sistema de libras tátil.

            Disse ela:

O custo para trazer estes profissionais [de Belém, pois é longe, me falaram hoje] é de R$2 mil, a família não tem condições de ajudar e a prefeitura [que é pobre] já está ajudando com as passagens e hospedagens, mas o dinheiro para pagar estes profissionais ainda não conseguimos”.

            Eu me virei para o Paim, estava aqui no plenário, vamos falar com os colegas do Pará. Mas, naquele momento, Paim, digo: “Vou ligar para a nossa colega, para a Ana Júlia, foi colega, Governadora”. Liguei para o gabinete da Governadora Ana Júlia, atendeu o Chefe de Gabinete, o Dr. Paulo, que imediatamente, Senador Paim, deixou o celular dele à disposição da Aline. Ele disse: “Pede para me ligar, pede para falar comigo. Esse assunto é da nossa responsabilidade e nós vamos resolver”.

            Eu ganhei o meu dia. A vida é feita de gestos. Esses gestos, Senador Mão Santa, valem mais do que mil discursos, porque valeu à pena ver alguém lá do meu Rio Grande, do nosso Rio Grande, Senador Paulo Paim, lá no interior do Pará, tão distante que não conheço, mas que, com esse gesto, mostrou que podemos transformar o mundo, porque, nesse gesto, o mundo dessa pessoa vai ser transformado para melhor. E se cada um de nós conseguir produzir um gesto destes, não por dia, por mês ou por ano que seja, o mundo seguramente vai entrar numa corrente do bem, numa corrente boa.

            Era isso. Agradeço imensamente esse generoso espaço que me foi concedido e dizer que vamos continuar essa luta, fazer a luta da solidariedade, da conscientização, a luta contra as drogas que deve ser insistentemente lembrada, aqui da tribuna da Casa que, por meio da sua rede de comunicação, tem a capacidade de fazer chegar aos locais mais distantes deste nosso País o nosso alerta, num incessante trabalho, Senador Mão Santa, de conscientização e combate ao uso de drogas.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2010 - Página 31178