Discurso durante a 212ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Retrospectiva da atuação parlamentar de S.Exa. ao longo de dois mandatos consecutivos como Senadora pelo Estado do Acre, interrompidos por cerca de cinco anos, enquanto exerceu o cargo de Ministra do Meio Ambiente, rememorando episódios também desse período, a saída do Partido dos Trabalhadores para ingressar no Partido Verde e a campanha de S.Exa. à Presidência da República em 2010.

Autor
Marina Silva (PV - Partido Verde/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Retrospectiva da atuação parlamentar de S.Exa. ao longo de dois mandatos consecutivos como Senadora pelo Estado do Acre, interrompidos por cerca de cinco anos, enquanto exerceu o cargo de Ministra do Meio Ambiente, rememorando episódios também desse período, a saída do Partido dos Trabalhadores para ingressar no Partido Verde e a campanha de S.Exa. à Presidência da República em 2010.
Aparteantes
Adelmir Santana, Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Garibaldi Alves Filho, Jefferson Praia, Marco Maciel, Marconi Perillo, Marisa Serrano, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2010 - Página 59297
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, BIOGRAFIA, ORIGEM, POBREZA, ESTADO DO ACRE (AC), LEITURA, TRECHO, DISCURSO, ORADOR, INICIO, MANDATO ELETIVO, SENADO, EXPECTATIVA, TRABALHO, RETRIBUIÇÃO, CONFIANÇA, POVO, DIVULGAÇÃO, SITUAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS, COMENTARIO, DIRETRIZ, AMBITO, OPINIÃO, VALORES, ETICA, PROPOSIÇÃO, ARTICULAÇÃO.
  • BALANÇO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DETALHAMENTO, MATERIA, TRAMITAÇÃO, AUTOR, RELATOR, ORADOR, FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, APROVAÇÃO, LEGISLAÇÃO, PROTEÇÃO, APROVEITAMENTO, BIODIVERSIDADE, BRASIL.
  • BALANÇO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ARTICULAÇÃO, GOVERNO, CLASSE POLITICA, BANCADA, OPOSIÇÃO, BUSCA, ATENDIMENTO, INTERESSE NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, CREDITOS, PRODUTOR, EMPRESTIMO, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), ESTADO DO ACRE (AC), FUNDO ESPECIAL, COMBATE, POBREZA, PRESERVAÇÃO, CODIGO FLORESTAL.
  • BALANÇO, ATUAÇÃO, QUALIDADE, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), DIRETRIZ, POLITICA NACIONAL, MEIO AMBIENTE, ORIENTAÇÃO, CONTROLE, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, REFORÇO, FISCALIZAÇÃO, CONSERVAÇÃO, RECURSOS NATURAIS, BUSCA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, INTEGRAÇÃO, CRITERIOS, POLITICAS PUBLICAS, MINISTERIO, ESPECIFICAÇÃO, REDUÇÃO, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA.
  • AGRADECIMENTO, APOIO, SENADOR, SERVIDOR, SENADO, POVO, ESTADO DO ACRE (AC), COMENTARIO, RESPEITO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ORIGEM, VIDA PUBLICA, ORADOR, ESCLARECIMENTOS, DIFICULDADE, DESLIGAMENTO, MOTIVO, DIVERGENCIA, CONCILIAÇÃO, ECOLOGIA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, ETICA, DETALHAMENTO, PROCESSO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO VERDE (PV), ESFORÇO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DADOS, SUPERIORIDADE, VOTAÇÃO, AMPLIAÇÃO, DEBATE, MEIO AMBIENTE, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, DESTINAÇÃO, CANDIDATO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, APRESENTAÇÃO, CONFIANÇA, CANDIDATO ELEITO, BENEFICIO, BRASIL.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiro quero agradecer a Deus por estar aqui. Agradeço, de um modo especial, ao Senador Heráclito Fortes e ao Senador Alvaro Dias pela compreensão que tiveram para que eu e o Senador César Borges pudéssemos usar da tribuna para fazer aqui a nossa fala. É claro que reconheço aqui os procedimentos regimentais, sempre me pautei por eles, e sei que não estamos aqui extrapolando nenhuma norma pela metodologia encaminhada por V. Exª.

            Quero pedir vênia, a exemplo de outros Sr. Senadores - obviamente que espero não extrapolar o tempo -, para poder falar, ainda que brevemente, aos meus colegas, Srs. Senadores. Tenho a honra de tê-los como colegas de trabalho, muito deles como amigos, muito deles como parceiros e, graças a Deus, sempre, mesmo quando em divergência, mantendo o princípio de não tratar divergências políticas como se fossem desavenças.

            Um registro que eu gostaria de fazer é que tenho aqui o Líder do meu partido na Câmara dos Deputados. Quero dizer que estou muito feliz de tê-lo aqui, nessa sua liderança, que tem dado uma grande contribuição não só ao Partido Verde, mas principalmente à sociedade brasileira pelo serviço relevante que vem prestando ao nosso País como Deputado Federal.

            Sr. Presidente, senhoras e senhores, meus colegas de trabalho, eu, há 16 anos, mais precisamente em 1995, aos 36 anos de idade, chegava a esta Casa para fazer o meu primeiro pronunciamento. Fiz questão de trazer aqui o primeiro parágrafo da fala que fiz em 1995 para poder começar esta minha fala.

            Naquela época, cheguei com os temores e os tremores de quem vinha de uma cidade pequena, de quem vinha de uma realidade completamente diferente e, às vezes, desconhecida, de quem vinha de uma origem social em que, talvez, nunca tivesse condição, em tempos anteriores, de se transformar em Senadora.

            Fui admoestada por um jornalista de meu Estado, por quem tenho gratidão até hoje, em um artigo em que ele dizia:

A Marina foi uma boa Vereadora, uma boa Deputada Estadual, mas agora ela vai encontrar muitas dificuldades, porque está indo para o Senado, e o Senado é um lugar de ex-Governadores, ex-Ministros e, com certeza, não é suficiente a pequena experiência de Vereadora e de Deputada Estadual.

            Confesso aos senhores que, lendo aquela matéria, em um primeiro momento a sensação foi de uma certa tristeza; depois, de gratidão. E tomei a iniciativa de fazer o seguinte... Eu pensei: “De fato, ele tem razão”. O Senado é um lugar de ex-Governadores, ex-Ministros, pessoas com condição social que transitam em todos os espaços da pirâmide. E eu? Uma professora de ensino médio que, pela graça e pela generosidade do povo acriano, conseguiu ser Vereadora e Deputada Estadual; que havia sido alfabetizada aos 16 anos pelo Mobral e feito Supletivo de 1º e 2º Graus, com uma formação em História. E pensei: “Ele está me dizendo algo, algo que é relevante”.

            Então, peguei um avião, dirigi-me até Brasília, pedi um abrigo ao Senador Eduardo Suplicy - que não sei se lembra de que me acolheu tão generosamente em seu apartamento, com meu assessor Erlando, que trabalha comigo até hoje - e resolvi aqui ficar uma semana para aprender um pouco desta Casa.

            Quando cheguei aqui, fui generosamente recebida e respeitada por alguns Srs. Senadores e também por alguns Srs. Deputados que, de uma forma cortês e gentil, se dispuseram a conversar comigo para que eu entendesse como era o funcionamento da Casa. Nunca me esqueço de D. Sarah, que é a nossa decana aqui.

            Foi com ela que conseguimos o Regimento Interno. E foi assim que, antecipadamente, procurei me preparar para que, quando chegasse aqui, ter alguma noção desta Casa, que considerava, de certa forma, um mistério.

            Quando alguns setores da mídia - poucos, diga-se de passagem - tentaram folclorizar o fato de que uma seringueira havia sido eleita Senadora da República, naquele momento, senti que corria o risco de que as pessoas começassem a me tratar com desdém pela minha origem, minha condição social e minha condição de membro de comunidades tradicionais da Amazônia, de extratores de borracha, dos seringueiros, segmento muito próximo dos índios, dos quais tenho muito orgulho de fazer parte.

            Foi nessa oportunidade que o humorista, jornalista, poeta e escritor Jô Soares me convidou para fazer uma entrevista no seu programa. E quero aqui agradecer ao amigo Jô, que me apresentou ao Brasil. A partir daquele momento, todos os demais, os que já me conheciam, passaram a me olhar com outros olhos. Então, quando vim para esta tribuna, eu já havia sido apresentada pelo Jô ao Brasil e comecei fazendo a seguinte fala:

Sr. Presidente e Srs. Senadores, em primeiro lugar, registro minha satisfação em estar nesta Casa e em compartilhar com V. Exªs as responsabilidades que tenho em relação à resolução dos grandes problemas que enfrenta nosso País.

Ao iniciar este primeiro pronunciamento, peço a Deus que nos dê sabedoria e humildade para que possamos desenvolver nosso trabalho. Nosso povo deposita esperança neste Senado:

150 milhões de brasileiros esperam vê-lo renovado, ativo, procurando respostas concretas para os problemas que vivenciam [eram 150 milhões porque aquela época era 1995]. Essas esperanças estão espalhadas pelas 27 Unidades da Federação que compõem o nosso País.

            Devo dizer, Srs. Senadores, que eu encontrei essas esperanças nesses 16 anos, em preto e branco, ao vivo e em cores, em três dimensões, por todos os lugares em que andei, Senadora Fátima Cleide, Senador Mozarildo, Senador Suplicy, demais colegas aqui presentes, meu líder Duarte. Encontrei esperanças mesmo nos lugares mais áridos, em que talvez elas tivessem muita dificuldade de brotar, como, por exemplo, na favela do Coque, com o menino Dado, e tenho o compromisso de lá retornar para, de alguma forma, contribuir com aquela realidade, grávida de problemas e rica de soluções.

Venho de uma região [eu continuava] posso até dizer desconhecida e distante, venho de um Estado pequeno, onde conheci a pobreza, a fome, o desemprego, mas cujo povo tem coragem para lutar por seus sonhos.

            Esse é o povo acreano, por quem tenho imensa gratidão. Não tenho nada a exigir, a cobrar do povo acreano. Só tenho que agradecer. Nada disso teria acontecido se não fosse pelas suas mãos.

Na luta pela realização desses sonhos, frente às dificuldades, esse povo não perdeu a ternura. E com o coração cheio de amor, ousa dar ao Brasil respostas para alguns problemas que parecem não ter solução.

A tarefa que desejo cumprir no Senado Federal, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é pequena e pode parecer ousada: fazer o Brasil conhecer a sua outra metade [...]”.

            A outra metade do Brasil é mais do que a metade, é 61% do território, é a Amazônia, naquele tempo bem mais desconhecida do que hoje - não que tenha ficado conhecida pelas minhas mãos, ficou conhecida, graças a Deus, por todos nós e pelos brasileiros e os meios de comunicação, que cada vez mais se interessam por ela e pelos demais biomas.

[...]Cinquenta por cento do território brasileiro não é conhecido, chama-se Amazônia.

Ao abordar esse tema, não trago para esta tribuna uma discussão meramente regional. Os problemas do Norte e do Nordeste não são regionais, são problemas brasileiros e devem ser tratados como tal. Eu sei que nós temos especificidades, mas enquanto tratarmos essas regiões como problemas e não como soluções, enquanto acharmos que são apenas problemas regionais, e não problemas de todo o Brasil, nós não conseguiremos resolvê-los. Por essa razão, senhoras e senhores, nas discussões desta Casa, nos debates sobre nossas dificuldades, devemos encará-los dessa forma.

O desenvolvimento da Amazônia representa uma saída para o Brasil e tranquilidade para o Planeta. Disso não tenho dúvida. Minha tarefa no Senado Federal será levantar essa discussão.

Antes de vir a esta tribuna para fazer este pronunciamento, junto com um pequeno grupo de amigos e colaboradores do mandato eu tinha acabado de fazer um planejamento, onde traçamos alguns eixos e diretrizes que consideramos estratégicos para o mandato.

            Eu lembro que juntei algumas pessoas, lá no meu apartamento, vindas do Acre, e alguns colaboradores de outros Estados para pensarmos, numa chuva de ideias, o que deveria ser o mandato da primeira Senadora seringueira aqui no Congresso Nacional. Estabelecemos três diretrizes a partir das quais orientei a minha ação durante toda a minha trajetória parlamentar, meu querido Edson Duarte. Foram as seguintes: primeiro, que seria um mandato de opinião; segundo, que seria um mandato de proposição; terceiro, um mandato de articulação. Opinião porque não há como propor absolutamente nada se não se tem uma opinião sobre as coisas.

            Já naquela época eu dizia: é fundamental ter uma opinião sobre as coisas, ter uma visão das coisas, mesmo que seja para reconhecer que você não tem a solução, que você não tem a resposta, que você não sabe, que você não pode e que talvez você não seja suficiente para dar conta do recado.

            Geralmente, quando fazemos balanço, colocamos muito o olhar no excesso daquilo que fizemos, mas não temos a coragem e a humildade de colocar o olhar na nossa falta. E é a falta que revela aquilo que de fato somos. É a falta que nos dá a oportunidade de continuar a crescer. Quando nós só olhamos para aquilo que fizemos e, às vezes, só para as coisas positivas, perdemos a oportunidade de ter como nos projetar cada vez mais para o futuro. As respostas saem pela falta.

            Bem, eu já falei rapidamente sobre cada uma delas. Mas, no que concerne a ser um mandato de opinião, durante esse tempo todo, a opinião que fosse sempre baseada em princípios e valores, não baseada numa ética de circunstâncias, de conveniência, que faz um discurso para um público, um discurso para outro; que, quando tem que encarar, muitas vezes, um auditório hostil, como eu tive que encarar em muitos momentos... Nunca me esqueço de Novo Progresso, Senador Suplicy, logo quando fui Ministra do Meio Ambiente. Um grupo de produtores queria que eu revogasse as medidas de multa aos que haviam explorado floresta ilegalmente. Eu era uma minoria arrasadora ali naquele evento, e eu disse: “Os senhores me desculpem, mas eu não tenho como fazer isso”. Ali estavam Prefeitos, Vereadores, em algumas dezenas, alguns segmentos do mundo empresarial, mas, mesmo naquelas circunstâncias, graças a Deus, eu tive a coragem de dizer não. Dizer não para afirmar um sim, o sim de que era possível fazer a exploração das florestas com o devido cuidado para que elas continuassem sendo florestas. Ter opinião significa ter uma opinião baseada em princípios e valores, em uma visão do mundo e da política, uma visão que, em primeiro lugar, para mim, tem que ser construtiva, generosa, acreditando que é possível a transformação. Se eu me transformo, por que não as outras pessoas? Se eu não sou perfeita, por que serão as outras pessoas?

            Eu quero aqui dizer que, nessa diretriz, procurei orientar-me pelos valores da ética, da moral, que fazem parte de toda pessoa, independentemente de crer ou não crer. E existem pessoas que, mesmo não crendo, às vezes têm valores muito mais sofisticados do que aqueles que arrotam sua fé o tempo todo e não tentam fazer jus à fé que estão professando. Mas também, com certeza, baseada nos valores da minha fé, o Cristianismo, que, com o respeito pela fé dos outros e por aqueles que não têm fé, tenta contribuir para que este mundo seja um pouco melhor, que a Terra possa ir ao céu e que o céu possa ser também na Terra, porque não podemos mais adiar esse encontro, como disse o Mestre.

            Ainda conta muito a gente saber aquilo que é a nossa relação com as pessoas, a nossa relação com o meio em que vivemos, com a natureza e, a partir daí, a relação conosco mesmo, porque isso também conta.

            No que concerne a ser um mandato de proposição, Sr. Presidente, durante esses 16 anos, com um intervalo de 5 anos no Ministério do Meio Ambiente, mais precisamente, Fátima Cleide e Suplicy, 5 anos, 5 meses e 14 dias, foi apresentado um conjunto de projetos que eu tenho muito orgulho de tê-los apresentado. Foram 125 preposições; algumas delas transformadas em lei, Sr. Presidente.

            Mas eu saio daqui com a tristeza de que a lei mais importante, a primeira que apresentei, a Lei de Acesso aos Recursos da Biodiversidade, Senadora Marisa Serrano, dezesseis anos após trabalhar e lutar, como Senadora, como Ministra, para que a nossa biodiversidade possa ser usada na produção de conhecimento técnico-científico, na produção de novos produtos e materiais, na geração de emprego e renda, no novo fazer daquilo que chamamos de uma nova economia para o século XXI, evitar a biopirataria. Confesso que não consegui aprovar essa Lei.

            Saio daqui com essa frustração. Saio daqui com essa falta, a falta de que o Brasil não tem uma lei para proteger e usar, com sabedoria, os 22% de espécies vivas que estão no nosso domínio territorial, só para citar um exemplo.

            Dezesseis anos!

            Talvez tenha sido isso que me fez, em 2007, tomar a decisão e confidenciar, para além da minha família, ao meu amigo Governador Binho Marques, do meu querido Estado do Acre, que possivelmente não sairia para um terceiro mandato; não sairia porque 24 anos poderia parecer demasiado longo e já ter dado a minha contribuição, e que talvez a minha contribuição fosse melhor em uma outra frente.

            A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Marina.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Eu vou pedir a V. Exª e aos demais que me honram com os seus pedidos de aparte para tentar concluir e, em seguida, vou dar o aparte a todos vocês. Pode ser assim?

         Ainda nesta diretriz de ser um mandato de proposição, eu não vou ter como me alongar aqui, mas inúmeros foram os pareceres, os diálogos com os Srs. Senadores, as tentativas de aprovar e protelar matérias que eu entendia não ser para o bem serem aprovadas ou ser para o bem serem aprovadas, segundo o meu ponto de vista.

         Na diretriz de ser um mandato de articulação, não vejo que seja possível a gente achar que vai fazer as coisas sozinho. Eu não acredito em fazer as coisas para as pessoas; eu acredito em fazer com as pessoas, com os meus colegas Senadores, com os meus funcionários - e alguns estão aqui, nessa câmara de honra, nessa tribuna de honra -, que tenho a felicidade de tê-los, dedicados, trabalhando de manhã, de tarde, de noite, com os funcionários da Casa, com a Consultoria do Senado, competente, que me ajudou em muitos momentos, com o pessoal da Taquigrafia, que eu acho que é o pessoal que tem mais paciência nesta Casa. Nós temos de aprender com eles o exercício da paciência, porque eles nos ouvem atenciosamente, independente de concordar ou não, fazendo o registro daquilo que falamos. E com as Comissões.

            Então, no que concerne a ser um mandato de articulação, compreendo que era fundamental articular com a própria Casa, articular com o Executivo, com a sociedade civil, com a academia, com os diferentes segmentos da sociedade.

            Como exemplo dessa visão, conseguimos criar a primeira linha de crédito para os extrativistas, que nunca tinham tido acesso ao crédito na época do Presidente Fernando Henrique Cardoso, conversando com ele próprio, com a Drª Ruth Cardoso e com o Ministro Malan.

            O subsídio para a borracha, que tive a felicidade de tê-lo aprovado, articulando-me aqui com o ex-concorrente meu, Senador José Serra, a quem pedi que defendesse o projeto por mim desta tribuna, porque, se fosse eu ou o meu querido amigo Senador Suplicy que defendesse o projeto, correríamos o risco de ter o projeto rejeitado.

            O Governador Serra compreendeu que o projeto era justo, que estava tecnicamente bem feito, fez a defesa e quase foi aprovado por unanimidade, porque a mim não interessava a autoria, interessava a realização, favorecer os produtores de borracha que, na época, precisavam de um preço que equalizasse a borracha brasileira contra a concorrência da Malásia, que estava nos inviabilizando.

            Conseguimos também, em uma articulação com o Banco Interamericano, com o amigo Iglesias, fazer o primeiro empréstimo para o Governo do Estado do Acre, na gestão do meu querido amigo e companheiro Jorge Viana.

            O Programa Amazônia Solidária foi uma criação da Drª Ruth Cardoso, com uma modesta sugestão minha de que assim fosse chamado para que pudéssemos alcançar os diferentes segmentos de uma região que estavam completamente excluídos.

            Ainda nessa parte de articulação, a Comissão da Pobreza. Quando o Senador Antonio Carlos Magalhães propôs um Fundo de Combate à Pobreza, alguns segmentos começaram a dizer: “Mas quem é o ACM para agora querer defender a pobreza?”.

            Eu fiz como o Apóstolo Paulo, eu pensei na frase do Apóstolo Paulo, quando alguém foi dizer: “Olha, tem um grupo aí pregando o Evangelho”, e ele disse: “Seja por amor a Cristo, seja por vaidade, o importante é que pregue o Evangelho”. Eu pensei: seja por uma compreensão da necessidade da pobreza ou seja apenas um gesto político, o importante é que se discuta a pobreza.

            Alinhei-me a ele e propus uma comissão especial para debater a pobreza. Ali, 14 Srs. Parlamentares - sete Senadores, sete Deputados - discutiram durante um ano as questões da pobreza.

            Visitamos os lugares mais pobres do Brasil. Nunca me esqueço, no Estado de Alagoas, de São José da Tapera, Presidente Collor, na época, o Município mais pobre do Brasil. Nós fomos visitá-lo, e eu encontrei ali uma mulher com oito filhos, numa casa de taipa, cheia de barbeiros, e eu perguntei: “O que a senhora vai dar para eles comerem hoje?”. Ela disse: “Chá de capim-santo, sem açúcar”. Eu senti que deveria sair dali comprometida com a aprovação do Fundo.

            Depois, eu, a Erundina, o Suplicy e um grupo maior de Senadores e Deputados fomos ao Cadeião de Pinheiros, numa rebelião de adolescentes que haviam se revoltado na Febem, e ali eu pude ver um depósito de jovens sem oportunidades, sem as menores condições de conseguirem se recuperar. Nunca me esqueço do jovem que estendeu a mão para mim e me pediu que fizesse um carinho no seu rosto porque ele estava com saudade da sua mãe.

            Foi uma das coisas mais difíceis de elaborar na minha vida ver aquelas crianças. Esse tinha em torno de 16 anos. Ele me chamou, e o guarda disse: “Não vá; ele vai pegar seu braço e pode fazer alguma coisa com a senhora, e vou ter que reagir.” E ele dizia: “Tia, venha! Venha!” E fui me aproximando. Quando cheguei, ele pegou minha mão e a colocou no rosto dele. E ele começou a chorar.

            Sr. Presidente, ainda nessa fase de articulação, discutimos o Fundo. Foi aprovado. Não tenho tempo de falar qual foi o resultado. A ideia era boa. Mas uma coisa aconteceu aqui com esse debate.

            Pessoas como Anna Maria Peliano, Ricardo Paes de Barros, que me ajudou agora a fazer o programa de governo da candidatura que representei, e outros eminentes pensadores da questão da pobreza apresentaram um conjunto de medidas, junto com Cristovam Buarque, Senador Eduardo Suplicy, na Comissão da Pobreza. E, ali, surgiram os rudimentos de um programa de transferência direta de renda que, hoje, configura-se no Bolsa Família, por iniciativa que começou numa Prefeitura do PSDB, no Governo Cristovam, e a que o Governo do Presidente Lula deu a escala necessária para fazer a diferença. Todos os rudimentos do que hoje é o Bolsa Família estavam presentes já naquele debate que fizemos na Comissão da Pobreza.

            Ainda na questão de ser um mandato de articulação. A aprovação da lei que criou a comissão especial, aliás que fez a articulação na tentativa de aprovar uma lei que permitisse candidaturas avulsas, que chamo de lista cívica, ainda não pude terminar. Comecei, discutindo com o pessoal da USP, da Ciência Política, do Iuperj, mas, lamentavelmente, por causa de algo complexo que tem a ver com a reforma política, não foi possível finalizar essa ideia.

            Mas, da sociedade, a exemplo do Ficha Limpa, quero liderar esse processo, para que tenhamos candidaturas avulsas no Brasil não como ação individual, mas a partir de uma lista representativa, com registro programático, para que a gente possa oxigenar esta Casa. E pessoas que não querem pertencer a partidos, que possam se candidatar para contribuir com o Brasil, e, talvez, com sua presença, a gente faça as reformas que nunca fizemos durante todos esses anos.

            Articulação para que a gente pudesse evitar as mudanças no Código Florestal. Quero, aqui, homenagear o Deputado Edson Duarte, que continua fazendo essa articulação até hoje, da qual participo.

            No mandato, fiquei até 2002, quando tive a honra de ser convidada pelo Presidente Lula para ser sua Ministra do Meio Ambiente. E confesso aos senhores que me senti muito honrada com esse convite. Eu o aceitei como um desafio. Lembro-me que, à época, eu pensava: “agora, vou ter que colocar a mão na massa. Será que não é melhor ficar apenas no Parlamento e assegurar que vou apoiar as coisas positivas e criticar as coisas negativas, como sempre faço e como fiz durante o Governo do Presidente Fernando Henrique?” Nunca me furtei de votar as coisas que eu achava que eram corretas e justas. Mas pensei: “não é ético. O Presidente Lula está me chamando. Estou caminhando com eles há quase 30 anos. Agora, ele é Presidente da República, coisa por que lutei juntamente com vários companheiros durante uma vida toda. Não é correto, não é ético não contribuir.”

            E ali fiquei durante cinco anos e meio. Mas, a exemplo da experiência que já havia tido aqui, quando, para começar, fiz um planejamento, e estabelecemos diretrizes, estabeleci também diretrizes para lá, Senador Suplicy. E as diretrizes que estabelecemos foram as seguintes: a Política Nacional do Meio Ambiente deveria ser orientada pelo controle e pela participação da sociedade. Não há como cuidar de todas essas riquezas, em oito milhões de quilômetros quadrados, com toda essa diversidade social, cultural, de recursos naturais; da água em abundância, à desertificação; da desertificação, às riquezas minerais; das riquezas minerais, às imensas riquezas biológicas que temos no nosso País apenas de Brasília. Era preciso um forte envolvimento da mídia e da sociedade nos seus mais diferentes segmentos: os empresários, os trabalhadores, a academia, as ONGs, com transparência, controle e participação social. Era uma das diretrizes.

            A outra diretriz: fortalecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente para que ele pudesse cumprir com suas atribuições precípuas de fiscalizar, de criar unidade de conservação, de fazer seu papel, de cuidar dos recursos naturais brasileiros.

            Uma outra diretriz: a do desenvolvimento sustentável. Não há como pensar na proteção da natureza sem pensar no desafio de que proteger a natureza tem que ser acompanhado das ações que possibilitem também a geração de riquezas, para que pudéssemos fazer frente aos grandes desníveis sociais que temos no nosso País. Então, não era só a natureza pela natureza. Era juntar economia e ecologia, e essa diretriz também foi estabelecida.

            E, por último, talvez uma das mais ousadas e a que acabou me levando a cinco anos depois sair do Governo foi a diretriz de que a política ambiental não deveria mais ser uma política isolada, só do Ministério do Meio Ambiente. Deveria haver a atitude de sair correndo atrás do prejuízo: do Ministério da Agricultura, dos Transportes, das Minas e Energia e dos vários ministérios. Isso não daria nenhum resultado.

            A política ambiental deveria ser transversal. O Ministério do Meio Ambiente nem precisaria existir se, de fato, critérios de sustentabilidade já estivessem nos ministérios que mencionei e nos demais, onde o planejamento das ações já contasse com critérios de sustentabilidade na hora de fazer a estrada, na hora de fazer a hidrelétrica, na hora de dar o licenciamento para o necessário crescimento da nossa agricultura e da nossa produção. Essa diretriz levou a alguns tensionamentos no Governo, mas também a resultados muito importantes.

            Eu poderia citar aqui algumas ações estratégicas para a preservação dos biomas. Cerca de 24 milhões de hectares de unidades de conservação foram criados durante minha gestão.

            Ontem, ouvi da boca do Presidente Lula que, durante seus oito anos de Governo, ele criou 24,6 milhões de hectares. Na minha gestão, foram 24 milhões. Os 600 mil hectares foram nos anos que sucederam minha gestão.

            Essa é uma contribuição para a proteção permanente que a sociedade brasileira ajudou a estabelecer durante o Governo do Presidente Lula. Todos aqueles que trabalharam os mapas dos biomas, as áreas prioritárias para as unidades de conservação sabem que, com critério, criamos essas unidades de conservação.

            Bem, outras políticas também foram implementadas em vários segmentos. Ajudamos, na época da Ministra Dilma, como Ministra do Meio Ambiente, a pensar um novo modelo para o setor elétrico, em que estabelecemos para as rodadas de petróleo e gás que o licenciamento deveria ser feito antes da concessão, para que o empreendedor não ficasse com o ônus de receber a concessão e, depois, não ter a licença.

            Mas um dos projetos, talvez, mais ousados foi o de encarar o desmatamento da Amazônia. Quando chegamos, o desmatamento havia crescido de 2002 para 2003 de forma assustadora. Tinha sido 18 mil quilômetros quadrados em 2001 e foi para mais de 20 mil em 2002; depois, 23 mil em 2003, e chegamos em 2004 com 27 mil quilômetros quadrados, o segundo maior desmatamento da Amazônia. O maior de todos foi em 1995, no Governo do Presidente Fernando Henrique, quando chegou a 29 mil quilômetros quadrados.

            Eu pensei: nós temos de fazer alguma coisa e aí sugeri ao então Ministro da Casa Civil, Deputado José Dirceu, que fizéssemos um plano integrado para a Amazônia, contando com 13 Ministérios, coordenado por ele. E ele, por telefone, concordou comigo.

            Passamos a trabalhar no programa com a coordenação executiva. Eu não tenho tempo de dizer, mas, a partir de 2004, o programa estava pronto. Implementamos o programa, eu e a minha equipe.

            Quero fazer um registro de todos aqueles que, no Ministério, ajudaram-me de forma competente, dedicada: o Secretário Capobianco, Muriel Zaragoza, Egon, Langone, Gilney Viana e tantas pessoas que eu não tenho tempo de citar aqui. Trabalhamos dia e noite e implementamos o plano.

            Em 2005, de 27 mil foi para 18 mil; depois, foi para 14 mil no ano seguinte; 12 mil em 1997; e, em 2008, quando o desmatamento ameaçava voltar a crescer, tive de tomar medidas drásticas com a minha equipe. O Presidente Lula, corajosamente, assinou as medidas: vetar o crédito, moratória para os 36 Municípios, criminalização da cadeia produtiva. E, aí, veio a grande pressão a que me referi.

            Naquele contexto, eu, já não tendo mais apoio político para manter as ações estruturantes e as diretrizes com que havia me comprometido, pedi para sair. Pedi para sair e voltei para o Senado.

            Saí de forma respeitosa, agradecida, mas, como disse para um jornalista, com a determinação de que poderia até perder o pescoço, mas não iria perder o juízo, porque revogar as medidas significaria voltar o desmatamento a crescer. Se isso tivesse acontecido, o Brasil não poderia ter ido a Copenhagen ou a Cancun para dizer que tem metas de redução de CO². Hoje, o Brasil não teria o Fundo Amazônia; hoje, o Brasil não poderia dizer que a nossa agricultura pode ser vigorosa sem que a gente tenha de destruir as nossas florestas e os nossos biomas.

            De muitas outras medidas eu poderia falar, mas sei que não tenho tempo. Na parte do uso sustentável das florestas, conseguimos aprovar uma lei aqui, quase por unanimidade, pedindo a ajuda de todos os Srs. Senadores, porque era difícil, mesmo na base de sustentação do Governo, ter o apoio para essas ações. A lei foi aprovada com o apoio de todos os partidos. Mesmo que, em alguns casos, fosse só um a apoiar, eu conversava com todos. Do PSDB, conversei com Arthur Virgílio e com Tasso; conversei com o Senador Marco Maciel; conversei com o Presidente Fernando Henrique; a minha Bancada do PT me ajudou muito; conversei com o PDT e com todos eles aqui, e aprovamos a primeira Lei de Gestão de Florestas. Em 400 anos de exploração das florestas, não havia uma lei para proteger as florestas e fazer o seu uso sustentável.

            Criamos o Serviço Florestal Brasileiro e, depois, o Instituto Chico Mendes; para o uso racional das águas, o Plano Nacional de Recursos Hídricos; na agenda de combate à desertificação, também o Plano de Combate à Desertificação.

            Fomos, juntamente com o Deputado Edson Duarte e tantos outros do Nordeste, os articuladores de uma Conferência das Nações Unidas que aconteceu no Ceará, para o combate à desertificação.

            Para o controle e a participação da sociedade, tornamos todos os processos transparentes, inclusive cada polígono do plano de combate ao desmatamento, para que a sociedade pudesse acompanhar algo que era uma verdadeira caixa-preta, pois nem o ministro tinha acesso à informação. Ela passou a ser de domínio público, para que pudéssemos ser cobrados, fiscalizados e assim por diante.

            Muitas coisas não foram feitas por falta de tempo, por falta de apoio, por divergência, mas as que foram feitas não foram feitas por mim, foram feitas por nós, pelo Congresso, naquilo que apoiou; pelos parceiros do Governo, naquilo em que ajudaram e com que contribuíram; pela equipe com a qual trabalhei, no suporte técnico que deram e no esforço de quem resolveu gastar todo o capital político que tinha, se fosse o caso, para fazer políticas estruturantes e não pirotécnicas.

            Como eu disse, fiquei enquanto tinha apoio para as ações. Quando eu não tinha mais apoio, voltei para esta Casa e, aqui, fui recebida de forma respeitosa e até amorosa por todos os Srs. Senadores, pelos servidores da Casa, pelos quais tenho imensa gratidão, e pela minha Bancada.

            Quero agradecer ao Isaías, ao Eurípedes, àqueles que trabalham na Casa comigo; aos consultores, à Taquigrafia, a todos os servidores e aos Srs. Senadores, alguns amigos e parceiros.

            Pedro Simon. Muito obrigada, Senador Pedro Simon. Em muitos momentos difíceis aqui, era muito bom saber que eu tinha V. Exª aí.

            Senador Cristovam Buarque, Senador José Nery, Jarbas Vasconcelos, Patrícia Saboya, Tasso, Lúcia Vânia, Arthur Virgílio, Marisa Serrano e Marco Maciel, só para citar alguns. Não tenho como citar todos, mas acho que estou passando por todos os partidos. Que todos os partidos se sintam homenageados, porque, mesmo divergindo, tenho muito respeito por V. Exªs e, por que não dizer, pela minha Bancada, do meu Partido de origem, o Partido dos Trabalhadores, no qual fiquei durante 30 anos. Também não tenho como citar todos, mas, a título de homenagear a forma como a Bancada me recebeu, quero citar alguns e, na pessoa deles, agradecer e cumprimentar todos: meu querido amigo e companheiro Senador Tião Viana; meu querido amigo Senador Suplicy; minha querida amiga Fátima Cleide; meu querido amigo Aloizio Mercadante. Para mim, serão sempre meus companheiros.

            Vivenciamos momentos difíceis, de divergências, mas devo dizer que a minha saída do PT não está relacionada à minha Bancada. Aqui, mesmo divergindo, foi possível nos tratarmos com respeito, com apoio e, em muitos momentos, a Bancada, em que pesem as dificuldades com o Governo - como no caso da MP da Grilagem -, cerrou fileiras junto comigo, assim como vários Srs. Parlamentares. Tivemos mais de 28 votos e eu devo dizer isso por uma questão de justiça.

            Minha saída do Partido dos Trabalhadores, que veio em seguida a essa vinda para o Senado, tem a ver, isto sim, com aquilo que considero ter sido a falta de percepção do Partido dos Trabalhadores para a necessidade de não se deixar aprisionar pelo que já conquistamos, fechando as portas para os novos desafios, que são a única forma de encontrarmos os caminhos do novo.

            A questão da sustentabilidade ambiental é a utopia deste século. Nenhum partido... O Partido dos Trabalhadores não foi capaz de perceber isso e, majoritariamente, sempre tratou a questão ambiental em oposição ao desenvolvimento, quando não se trata de confronto entre ecologia e economia, mas de encontro de ecologia e economia, para que possamos sobreviver ao desafio de nossa Era e não destruir o Planeta.

            Outra coisa que me fez sair foi o fato de que não se pode ter em mente que as virtudes conquistadas são permanentes, pois não o são. É uma luta cotidiana feita por cada um de nós para, a cada dia, estarmos de pé.

            A Palavra de Deus diz o seguinte: “Aquele que está de pé, que pensa que está de pé, cuide para que não caia.” Não é nem que está de pé, que pensa que está de pé, cuide para que não caia. É um esforço.

            Às vezes, pelas muitas virtudes que temos, a gente acha que já patrimonializou a ética e que já sacralizou a nossa ação. E aí começa abrir muito o espaço para o pragmatismo, porque o pragmatismo acaba também nos levando para caminhos que, muitas vezes, podem nos deixar, no mínimo, muito incoerentes com aquilo que fazemos, com aquilo que pensamos.

            A minha saída se deveu principalmente a essas questões de o PT não ter assumido o desafio da sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural, moral, ética e, principalmente, a sustentabilidade política. Na dimensão da sustentabilidade ética perceber que a maior parte das respostas técnicas para o problema do desenvolvimento sustentável já estão dadas. O que falta é assumirmos o desafio ético de colocarmos toda a nossa técnica a serviço dessa inflexão civilizatória.

            Sr. Presidente, quero, aqui e agora, desdobrar já o meu discurso para o fato da minha gratidão, do meu respeito pelo meu partido, pelos meus companheiros do Acre e do Brasil inteiro.

            Ontem, fui à cerimônia, a que se referiu o Senador Osmar Dias. Foi a primeira vez que me encontrei com o Presidente Lula depois que saí do PT. Fui convidada como ex-Ministra. Pensei: “Eu vou. Eu fiz parte do Governo. Eu fiz parte do PT. Eu não tenho uma relação de rancor com as pessoas nem de mágoa, graças a Deus, e eu quero me encontrar com as pessoas. Encontrando-me com elas eu estou encontrando também comigo mesma”. Foi muito bom poder abraçar o Presidente Lula. Eu acho que na cerimônia de prestação de contas a gente corre o risco de ser muito apologético e de ver sempre as coisas positivas. É por isso que eu sei que do muito que eu falo aqui - já registrei -, a maior parte não pôde ser feita e não pôde ser feita por dificuldades minhas, dificuldades nossas, mas não posso dizer que tudo foi apenas um mar de rosas. Com certeza devo ter cometido muitos erros também. Mas foi muito bom poder estar ali para dizer que, muitas vezes, para ficarmos juntos a gente tem de sair da casa, morar no mesmo bairro, na mesma vizinhança, como disse no meu discurso, quando saí do Partido dos Trabalhadores. Considero que estamos no mesmo bairro, na mesma vizinhança, sim. Em cima de princípios éticos e valores duradouros, podemos fazer alianças pontuais, que se dissolvem, porque ninguém pensa o tempo todo igual. As pessoas pensam diferente. O que a gente não pode é relativizar os valores. O que a gente não pode é abrir mão dos princípios. Aí não tem como conversar. Mas, em cima desses valores é possível, sim, fazer alianças pontuais, coerentes com os valores.

            Eu dizia, na campanha - e já me dirijo a esse processo -, que eu preferia perder do que perder ganhando, aliás, eu preferia perder do que ganhar perdendo. A gente ganha perdendo quando, para ganhar, abre mão dos valores, faz qualquer coisa, vai para o vale-tudo eleitoral. E eu dizia que, de preferência, eu gostaria, se não ganhasse ganhando, de perder ganhando. Acho que de alguma forma, graças a Deus e ao povo brasileiro, perdi ganhando.

            Quero agora dizer que não foi fácil a saída do PT para o PV, foi uma decisão difícil, já falei sobre isso daqui desta tribuna. Não foi fácil a decisão de ser candidata à Presidência da República, eu sabia das dificuldades, mas sentia que esse era, sem sombra de dúvida, Sr. Presidente, talvez o chamado o qual se eu não atendesse, com certeza, eu iria me sentir faltosa comigo mesma, com o Brasil e com as bandeiras que acredito e defendo.

            Então, a decisão foi de, primeiro, ir para o PV, para essa construção que eles sinalizaram - revisão programática, reestruturação do partido. Em primeiro lugar isso e não a candidatura, para colocar no eixo do partido, da sua atividade programática, a nova forma de fazer política e a sustentabilidade ambiental como eixo estratégico da sua decisão, da sua ação. Depois veio a candidatura.

            O esforço para poder levar pessoas que pudessem me ajudar. Tive a felicidade de contar com a colaboração de pessoas como o Guilherme Leal. Fiquei muito feliz com a contribuição, a gratidão que tenho por aquele homem que, há 30 anos, luta na agenda socioambiental do Brasil e, sem precisar de qualquer sacrifício a mais, porque acho que já realizou quase tudo na sua vida, submeteu-se a um processo difícil como esse. Mas ele também atendeu ao chamado. Tive a felicidade de ter bons colaboradores. Quero aqui, partidários e não partidários, agradecer a todos nas pessoas dos meus companheiros que me ajudaram: Bazileu; do Guilherme já falei; Sirkis; Neca Setúbal; João Paulo Capobianco; Pena, que é o Presidente do meu Partido; Maurício Brusadin. Quero cumprimentar todos os diretórios; Ricardo Paes de Barros, que me ajudou no programa de governo; Eduardo Janete; Paulo Sandroni; Gisela Moreau; Eduardo Jorge; Beto Ricardo; o Zeli; o jovem Eduardo Rambal, do Movimento Marina Silva, e tantos outros.

            Quero agradecer a todos os candidatos a governador que marcharam comigo. Fomos o Partido que teve a maior quantidade de candidatos a governador, individualmente falando: Montsserrat, Paulo Salamuni, Fábio Feldmann, Fernando Gabeira, Zé Fernando, Bassuma, Sérgio Xavier, Eduardo Brandão, Marcelo Silva, Teresa Brito. Houve um candidato nosso em Santa Catarina que foi impugnado, mas todos os demais aqui foram candidatos e ajudaram nesse processo.

            Na campanha, Senador Cristovam, Senador Eduardo Suplicy, demais colegas, procuramos trabalhar, mais uma vez, as diretrizes e estabelecemos as diretrizes programáticas. As diretrizes programáticas eram as seguintes: estabelecemos que o Brasil deveria ser avaliado a partir de duas coisas: o Brasil que temos e o Brasil que queremos. No Brasil que temos, ser honestos e reconhecer que, nos últimos 16 anos, tivemos avanços econômicos e sociais; que, nós últimos 20 anos, conseguimos reconquistar a democracia; que temos uma sociedade civil rigorosa; e a redução da pobreza. Isso tinha de ser registrado como avanços.

            Mas não poderíamos, como disse o economista Eduardo Janete, em nome dos acertos, ter uma atitude complacente com os erros. E aí tratamos dos desequilíbrios, da desigualdade de oportunidade, da estagnação da qualidade de ensino, da dilapidação do patrimônio natural, dos recursos financeiros, dos recursos humanos; enfim, de uma série de problemas que ainda precisam ser enfrentados.

            No Brasil que queremos assumimos, como um desafio, que o Brasil deve ser o País da economia de baixo carbono, da educação que gera oportunidade para todos, igualdade de oportunidade para todos, livre das desigualdades sociais, que aposta na inclusão produtiva e um exemplo de prosperidade e sustentabilidade ambiental. Foi com isso que fomos conversar com os eleitores brasileiros.

            Nas diretrizes gerais, estabelecemos que deveríamos ter um jeito novo de fazer política. E assinamos embaixo e registramos no cartório que não iríamos fazer nenhum ataque pessoal, durante a campanha, nem à Dilma, nem ao Serra, nem ao Plínio, nem a ninguém. Eu, às vezes, tinha de esgrimir, porque era difícil. Às vezes, você vai para espaços muito tensionados. Mas, graças a Deus, acredito, não fizemos nenhum tipo de ataque pessoal e tratamos da política cidadã, com base em princípios e valores, em educação para a qualidade de vida, em economia sustentável, em terceira geração de programa social, na qual se faz a transferência de renda direta, com o Bolsa Família, mas se faz também a inclusão produtiva, com educação de qualidade, para gerar igualdade de oportunidade, qualidade de vida para os brasileiros, valorização da diversidade cultural e política externa para o século XXI, também baseada em princípios.

            Todas essas diretrizes foram debatidas. E a sociedade brasileira, no meu entendimento, respondeu, de forma fantástica, a esse esforço de fazer um debate, não um embate.

            Tive a oportunidade de, aqui, registrar algumas coisas que eu gostaria que ficassem nos Anais, porque não tenho mais tempo. Em relação à questão política, perguntavam-me: “Como vai ser o embate entre a Dilma e o Serra?”. Eu dizia: “Não quero o embate; vai ser o debate”. Isso fazia com que meu amigo Plínio me chamasse de Pollyanna. Certa vez, eu disse para ele que eu não tinha como ser Pollyanna, porque, na idade de ler Pollyanna, eu ainda era analfabeta, infelizmente. Mas persistimos, persistimos. E me perguntavam: “Como a senhora vai governar se o PV é um Partido pequeno?”. Eu dizia: “Nós vamos governar com os melhores do Congresso, do PT, do PSDB, do PMDB, do PDT, dos Partidos de tradição democrática de esquerda, reunindo os melhores e tirando da frente os atravessadores da política”. E, quando cobravam que não tínhamos aliança, eu dizia que tínhamos alianças com os núcleos vivos da sociedade, com os homens, com as mulheres, com os jovens, com os empresários de vanguarda, com a academia, com os diferentes segmentos da sociedade brasileira.

            No processo eleitoral, em muitos momentos, vimos uma disputa que, muitas vezes, parecia um vale tudo eleitoral. E aí sempre colocamos a necessidade do segundo turno, que seria melhor para o Brasil, para que os brasileiros pensassem duas vezes, ouvissem duas vezes, e quem fosse eleito sairia duplamente legitimado. E dizíamos que nós, açodadamente, não deveríamos entregar o futuro do Brasil nem para Marina, nem para Plínio, Dilma ou Serra.

            Quando tentavam nos constranger, perguntando se estávamos à direita ou à esquerda, onde é que estávamos, dizíamos que estávamos à frente.

            Vou deixar todas essas ideias aqui registradas. E dou-as como lidas, Sr. Presidente, para que eu possa adiantar meu tempo.

            Mas, com essa atitude, com essa visão, tivemos 19,3 milhões de votos, ou melhor, 19,3% dos votos válidos, ou seja, 19,6 milhões de votos, sendo que, no Distrito Federal - muito obrigada, Distrito Federal! -, foram 42%; no Rio de Janeiro, 31,5%; no Amapá, 29,7%; no Espírito Santo, 26,3%. No Amazonas, sem qualquer estrutura - nem meu Partido me apoiava lá -, ficamos em segundo lugar, com 25,7% dos votos. Victor Hugo disse uma vez: “Nada é mais potente do que uma ideia cujo tempo chegou”. Não foi uma pessoa, não fui eu, não foi Guilherme, não foi o PV que conquistou tudo isso, que é fruto da força da ideia cujo tempo chegou e falou alto para o Brasil, em que pesem as circunstâncias.

            Esse foi o desempenho nos Estados, e, aqui, está o desempenho em algumas capitais: Brasília, 42%; Belo Horizonte, 39,9%; Vitória, 38%; Recife, 36%; Manaus, 35%; Rio Branco, 35%; Sabará, 42%. Em alguns outros Municípios, este foi o resultado: Cabo Frio, 40%; Volta Redonda, 40%; Vila Velha, 38%; Niterói, 37%.

            É uma ideia cujo tempo chegou! E essa ideia falou alto desse jeito, em que pesem as circunstâncias. “Que circunstâncias, Senadora?” Um minuto e vinte segundos de televisão contra sete minutos de um candidato e dez minutos do outro. Os dois já eram candidatos há muito tempo - essa não é uma crítica, essas são as regras do jogo -, já estavam historicamente no processo; eu é que nele entrei depois. O Presidente Lula, com sua força, com um desempenho de 80% na faixa do ótimo e do bom, dizia que a Ministra Dilma era sua candidata. O Governador Serra, desde que perdeu as últimas eleições, era o candidato com a força do Governo de São Paulo, do PSDB e de todo o seu leque de alianças, que, em ambos os lados, era muito amplo.

            Nossa opção de não fazer aliança foi programática, porque dissemos que não seríamos pragmáticos. Pagamos um preço para fazer isso.Tínhamos baixa estrutura de recursos, e, como se não bastasse, as pesquisas diziam que eu não estava crescendo, que, pelo contrário, eu estava caindo. Mas eu sabia que estava crescendo. Quando diziam isso, eu dizia: “O que vejo nas ruas é maior do que o que aparece nas pesquisas”. É claro que não tenho como fazer avaliação técnica dos institutos de pesquisa, mas, talvez, isso sirva de algum ensinamento, porque é a segunda vez que isso acontece comigo. Quando saí para o Senado, me colocaram em quarto lugar, sem chance alguma de ganhar até o final. Ao final, eu estava em primeiro lugar. E, agora, novamente, aconteceu algo que não me dava qualquer chance de competitividade, e sei que não cresci o que cresci em uma semana. Sei que o que estava nas ruas há quatro ou cinco meses já era muito maior do que o que apontavam as pesquisas. Mesmo assim, foram quase vinte milhões de votos. São votos que servem não para a Senadora Marina ou só para o PV, mas que, no meu entendimento, servem para o Brasil, Senador Cristovam. São votos que servem para o Brasil, para dizer que a agenda da sustentabilidade ambiental é relevante.

            Alguns tentaram desqualificar minha votação - foram poucos, bem poucos -, dizendo que eram votos atrasados, conservadores; outros diziam que as pessoas não tinham consciência, que votaram na questão ambiental. Mas posso dizer que os que estão preocupados com a sustentabilidade e com o meio ambiente são muito mais do que os quase vinte milhões, porque, dos que votaram na Dilma, no Serra e no Plínio, boa parte também tem essa preocupação.

            Essa votação na agenda da sustentabilidade é muito maior. A diferença é que, no meu caso, mesmo identificada visceralmente com a questão ambiental, não foi suficiente o esforço daqueles que tentavam amedrontar a população brasileira, dizendo que éramos meia dúzia de “ecochatos” e que iríamos travar o País. Isso não foi suficiente. A população decidiu que a economia que se encontra com a ecologia pode produzir riquezas, pode aumentar a produção por ganho de produtividade, pode gerar energia, pode usar o alto carbono para produzir o baixo carbono. Podemos usar os recursos do pré-sal para poder fazer a economia de baixo carbono. Para isso, é preciso ter visão estratégica. Para isso, é preciso ter essa visão e criar o processo e as novas estruturas para esse mundo em crise, que pode ter na sua crise a grande oportunidade da transformação deste início de século.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Marina Silva?

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Agora, vou conceder os apartes, Senador Suplicy. Já estão inscritos o Senador Suplicy, o Senador Pedro Simon, o Senador Cristovam, a Senadora Marisa, o Senador Marco Maciel, o meu amigo Jefferson Praia. Enfim, vou passando a palavra pela ordem. Eu só queria dizer que, ao final dos apartes de V. Exªs, vou fazer o registro da parte que falta. Estou carregada de emoção e de gratidão.

            Começo, então, pelo Senador Eduardo Suplicy, que foi o primeiro a se inscrever.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Querida Senadora Marina Silva, desde o momento em que nos conhecemos, antes mesmo de V. Exª se tornar Senadora e eu ter tido o prazer de hospedá-la na sua primeira semana aqui, quando ainda não tinha o apartamento de Senadora, desde antes, eu já nutria por V. Exª enorme admiração e respeito. Desde o tempo em que aqui nos aproximamos mais, em 1995, V. Exª foi uma das pessoas com as quais tive maior afinidade de propósitos, de valores éticos, de valores que defendemos ambos para o nosso Partido. Como eu disse no dia em que V. Exª preferiu deixar o PT e ingressar no PV, quero reiterar que considero que estaremos juntos como irmãos nessas batalhas pelo resto de nossas vidas, por muito tempo. Quero agradecer a V. Exª as lições que deixou para nós aqui, para mim, em especial no Senado, mas também para o povo brasileiro, durante sua campanha para a Presidência. V. Exª conseguiu um feito extraordinário, colocando em pauta o tema do meio ambiente e da sustentabilidade, dizendo como isso combina com os objetivos de justiça social, de erradicação da pobreza. Também avaliei como importante o efeito que isso teve para os demais candidatos, porque todos passaram a precisar ter maior preocupação com esses temas. Não fosse a presença e a atuação de V. Exª, isso teria sido diferente. Inclusive, os dois candidatos que foram para o segundo turno fizeram questão de apresentar a V. Exª cartas-compromisso relativas ao seu próprio programa. E, da minha parte, como membro do Partido dos Trabalhadores, fiquei contente quando V. Exª declarou que, das duas proposições, a carta da então candidata Dilma Rousseff era a que mais se aproximava dos seus propósitos nas áreas de sustentabilidade, de proteção ao meio ambiente. Eu gostaria aqui de falar muito. Inclusive, registro que a Senadora Fátima Cleide, que teve de se ausentar por ter de pegar um avião, pediu-me que eu transmitisse seu carinhoso cumprimento e agradecimento a V. Exª. Falo também em nome da nossa bancada, do Senador Aloizio Mercadante, que se encontra acamado nesta semana. Acredito que o Senador já esteja bem - espero que esteja ótimo -, porque, amanhã, deverá defender sua tese de doutoramento na Unicamp. Estendo o meu abraço e o de toda a bancada do PT a V. Exª. Para nós, como V. Exª sabe, V. Exª continua sendo nossa companheira, companheira de propósitos e de objetivos. É uma pessoa que, muitas vezes, leva a luz, acende a luz para o bom caminho para todos nós. Por respeito aos demais colegas que querem também falar bastante, vou encerrar meu aparte. Mas lhe dou meu grande abraço! V. Exª, onde estiver, terá em mim um companheiro de luta!

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senador Eduardo Suplicy. V. Exª é um amigo e um irmão.

            Ouço o Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - É com muita mágoa que falo, ao imaginar que, ao voltar para a reabertura dos trabalhos, V. Exª não estará mais aqui. Ficará um grande vazio neste Congresso. V. Exª tem uma representação muito grande na sociedade brasileira. Sua candidatura representou um fato muito significativo para toda a sociedade brasileira. Podemos encontrar biografias que nos emocionam e as quais temos de respeitar, mas é difícil encontrar uma que se compare à de V. Exª. Ressalto o início da luta de V. Exª, da luta pela sobrevivência, para continuar viva, da luta para avançar, passo a passo, alfabetizando-se aos 16 anos. Talvez, achasse que a convivência diária com Deus, na religião, fosse a solução, e V. Exª até que seria uma freirinha muito bonita. Aceitou o desafio de ir para a faculdade, a luta pelo meio ambiente. Destaco ainda a confiança de V. Exª nos heróis, inclusive no maior de todos, que é nosso patrono das questões do meio ambiente, Chico Mendes. Entrou nessa luta de carnificina, que é a vida política, principalmente naquela região onde as leis são quase as leis da selva. E V. Exª conseguiu muitas vitórias, elegendo-se Vereadora, Senadora, Ministra. V. Exª foi uma das que construiu, com seu sangue, com seu suor, com sua luta, esse grande Partido, que é o Partido dos Trabalhadores. Quando era uma esperança, e não se sabia qual era o destino, V. Exª estava lá. E, exatamente no auge, quando esse Partido estava no poder, quando V. Exª era Ministra, com grandes perspectivas de reeleição - e conseguiu a reeleição -, V. Exª sai, com a defesa da sua bandeira e da sua tese, e percorre este País. Nosso sistema eleitoral é ridículo, é suicida. É um sistema eleitoral em que, na televisão, um partido tem um minuto, e outro, vinte minutos; em que um partido tem as rédeas do dinheiro ao infinito, e outro partido, praticamente nada. Não sei de onde V. Exª tirou forças para fazer vinte milhões de votos. Com aquele pequeno espaço na televisão, V. Exª ainda teve a competência de, em um minuto, dizer muita coisa. Se fosse eu, em um minuto, eu diria “sou Pedro Simon”, e, quando eu visse, teria terminado o minuto, e eu teria dito nada com nada. Vinte milhões de pessoas acreditaram em V. Exª e deram ao Brasil a chance de um segundo turno, que era a tese que V. Exª realmente defendia. No Rio Grande do Sul, vi que quem votou em V. Exª o fez pelo que V. Exª é, pela sua história, pela sua biografia. Foi impressionante o número de pessoas que me perguntaram sobre V. Exª, foi impressionante o número de correspondências sobre V. Exª que recebi ao longo dessa caminhada eleitoral. Parece com o que, casualmente, foi o Evangelho de São Lucas de ontem. João Batista mandou seu emissário a Cristo, perguntando: “O Senhor é aquele que há de vir, ou temos de esperar ainda mais?”. Muita gente me perguntava: “Ela é tudo isso, realmente? Ela é essa pessoa que teve risco de vida, que estava lá no meio da Floresta Amazônica, que, com 16 anos, era analfabeta, que vivia ou não vivia, que era empregada doméstica e que conseguiu avançar e chegar ao lugar a que chegou? E ela é essa seriedade de dignidade, de respeitabilidade? Ela é tudo isso ou é exagero de campanha?”. Eu tinha de dizer: isso aí é apenas uma imagem do muito mais que ela é de tudo isso. O gesto - repito - de V. Exª... V. Exª estava ali, Ministra, em um Governo que tinha 80% de popularidade. E, nesses 80% de popularidade, se fôssemos perguntar qual é a popularidade da Ministra do Meio Ambiente, V. Exª teria bem mais do que os próprios 80%. E V. Exª saiu. E aceitou uma tese, quase de suicídio, quando não se viam condições materiais, não havia o mínimo de condições na eleição. Nós todos sabíamos disso. O povo sabia disso! Quem votou em V. Exª é claro que, lá na expectativa, no fundo, esperava que V. Exª ganhasse. E tinha condições, porque, para quem disputa, a perspectiva de vitória sempre existe. Mas, no fundo, sentia-se ser difícil demais! A legislação eleitoral deste País não é para coisa séria. E V. Exª foi. Foi, resistiu... Poderia ter composto; um ou outro candidato poderia ter-lhe dado tantos cargos, isso e aquilo... Não! V. Exª entregou um programa, uma plataforma: “É isso que nós desejamos. Não são dois cargos, não são três Ministérios, não é isso, não é aquilo.” E estão até hoje discutindo. Há partido que até hoje não se compôs, a começar pelo próprio partido que ganhou a eleição. Agora a briga é interna com relação à ala 1, à ala 2, à ala 3, à ala 4, a quem ganhou um, ganhou menos, não sei o quê. Tudo isso é muito bonito. O que é muito sem graça é V. Exª nos deixar; é V. Exª sair desta Casa. Eu sei, não tenho nenhuma dúvida de que sei. Se o meu querido amigo José Serra, com muita simpatia, na entrevista coletiva de despedida, disse: “Até a vista”. Até a vista. E não tenho nenhuma dúvida de que a V. Exª não vamos dizer adeus. O seu discurso é triste, pesado; é um discurso de despedida da convivência desta assembleia do Senado, mas não é um discurso de saída da vida pública. V. Exª tem uma grande caminhada pela frente. Lembro-me, minha querida Marina, de quando Teotônio Vilela, longe da capacidade de V. Exª, às vésperas da eleição para o Senado, não pôde ser candidato, porque estava morre e não morre, e não morreu. Recuperou-se e durou mais três anos. Aí, ele ficou aqui. Acampou no meu gabinete, morou na minha casa e continuou percorrendo o Brasil, como se fora Senador, com duas bengalas, quatro cânceres e careca. E parecia um jovem entusiasmado. Eu olhava e chorava, parecia que ele tinha começado a caminhada dele e não era candidato a coisa nenhuma. A morte é que veio pegá-lo logo adiante. V. Exª, não. V. Exª não tem nenhum câncer, nenhuma doença, uma mulher formosa, cheia de saúde, cheia de inteligência, cheia de competência; agora, sem a tribuna, sem a candidatura, agora, sim, V. Exª tem de percorrer o Brasil. Tem de levar adiante a sua caminhada, as suas ideias, os seus princípios, os seus pensamentos, mulher cristã, de pensamento profundo como V. Exª, mulher de ideias fantásticas, de beleza, de amor, de fraternidade, como as de V. Exª; que, mesmo durante a campanha, deixava a campanha, deixava compromissos importantes eleitorais, para fazer uma assembleia, uma palestra a um grupo de cristãos que a buscavam para fazer uma palestra de fé. V. Exª agora começa... Eu vou dizer a V. Exª, desculpe-me, é duro o que vou dizer: V. Exª não está terminando, não. V. Exª está terminando uma etapa até muito sem graça, essa da vida política no Congresso, essa deste Senado, que a gente não sabe o que está fazendo e o que não está fazendo, passando um tempão danado sem fazer nada com nada. V. Exª agora vai às praças, na liberdade, rindo, cantando, falando, vendo o povo à sua frente. V. Exª vai iniciar uma grande caminhada. Espero - como nesta última, em que estive ao seu lado -, em meio a esta sua caminhada, graças a Deus, sem nenhum câncer, mas com 80 anos, poder acompanhá-la e muitas vezes bater palmas neste seu futuro tão brilhante e tão espetacular. Se V. Exª, analfabeta aos 16 anos, sem saber o que fazer, chegou ao lugar a que chegou, agora, V. Exª, com 20 milhões de votos, com a sociedade amando-a, respeitando-a, meu Deus, o infinito é o seu futuro. Um beijo muito querido.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senador Pedro Simon. Muito obrigada também pelo apoio durante todos esses anos e pelo apoio, quando V. Exª manifestou corajosamente o seu voto à minha candidatura. Saiba que este discurso aqui é o do fechamento de um ciclo de 16 anos e o da abertura de uma caminhada que tem também à sua frente o imponderável, porque é assim que nos sentimos motivados para caminhar. Se tudo já estiver predeterminado, com certeza, não conseguimos ser tão criativos e produtivos, como devemos ser.

            Concedo agora a palavra ao Senador Marco Maciel. Em seguida, aos Senadores Cristovam e Marisa Serrano.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE. Com revisão do aparteante.) - Nobre Senadora Marina Silva, procurarei ser o mais breve possível. Quero destacar três pontos. Em primeiro lugar, reconhecer o trabalho que V. Exª realizou, ao tempo em que foi Ministra do Presidente Lula, na busca da proteção ambiental brasileira. Essa é uma causa que realmente interessa a milhões e milhões de cidadãos brasileiros, visto que precisamos preservar a nossa biodiversidade, algo que o Brasil ostenta com grande significação. Diria até que talvez poucos países tenham uma diversidade ambiental com tanta expressão como a do Brasil. Em segundo lugar, gostaria também de cumprimentá-la pelo desempenho na campanha eleitoral. Como o Senador Pedro Simon salientou, V. Exª teve uma atuação muito acima do esperado, sobretudo se considerarmos que foi um pleito em que houve um segundo turno. Havia candidatos de grande expressão, e V. Exª se houve muito bem na sua caminhada pelo País, deixando bem clara sua mensagem. Felicito-a por essa pregação e pelo sucesso de sua candidatura, ao chamar a atenção do eleitorado brasileiro para a importância da defesa da biodiversidade. E, por fim, espero que V. Exª permaneça na vida pública, dando sua importante contribuição, dentre tantos outros, nesse campo da biodiversidade. Aproveito a ocasião, para desejar que V. Exª continue, mercê da sua vocação para a vida pública, a defender seus ideais e, por esse caminho, possamos encontrar saídas para as diferentes questões com as quais ainda convive o País. Muitas dessas questões, a meu ver, só encontrarão solução por meio de uma política corretamente pensada e adequadamente defendida. Por isso, meus cumprimentos a V. Exª e votos de que prossiga sua jornada.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senador Marco Maciel. Tive a oportunidade de conviver com V. Exª em vários momentos como Presidente de Comissão e sempre foi possível, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e em outros espaços, ter uma relação de diálogo com V. Exª em favor de projetos que, para mim, e acredito para o Brasil, eram muito relevantes, e V. Exª sempre teve um grande acolhimento pelas ponderações que fazia.

            Concedo a palavra ao Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora Marina, este último aparte da sua presença nesta Casa acho que tem de ser em pé. Eu não ficaria à vontade de fazer este aparte sentado. Quero lhe dizer que não vou sentir falta como amiga, porque vou lhe visitar sempre que a senhora aceitar, e vou me oferecer muitas vezes.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Já está convidado.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não vou nem sentir falta, digamos, exatamente como Senador, porque aqui a gente se vê tão pouco no dia a dia que talvez nem seja essa a falta. Vou sentir falta como brasileiro que sente que este País precisa fazer uma inflexão na sua história. E a senhora, como política, com esta tribuna, mesmo continuando a sua luta, como eu espero, na linha do que falou o Senador Pedro Simon, não vai estar mais nesta tribuna. E disto o Brasil sente falta: políticos que façam inflexão na história do Brasil. A senhora é um das poucas resta. A última inflexão que este País fez foi quando saiu do regime militar e entrou no regime democrático. O Governo era o do Presidente Sarney. Outra foi quando a economia saiu de um protecionismo exagerado, fechado e fez uma abertura no Governo do Presidente Collor. Depois, fez uma no Governo Itamar, quando saiu de décadas de inflação e entrou na estabilidade monetária. O Presidente Fernando Henrique tem um papel como Ministro. Mas, a partir daí, como Presidente, não houve mais inflexão na história do Brasil. A gente pode até ter tido, como a senhora conseguiu, uma redução na destruição de florestas. Mas não conseguimos a inflexão de um modelo econômico que incorporasse o respeito ecológico. Não conseguimos. É apenas o que sabe a senhora, que se chama muito na ecologia, de mitigação, redução do problema, mas não transformação. Nós não conseguimos transformar nada na educação de base. Nesses últimos dezesseis anos, conseguimos avanços, mas, não transformação. Nós temos tido dezesseis anos de uma social democracia tímida, em vez de uma social democracia transformadora. Não estou propondo outra coisa além disso. Não estou propondo uma revolução. Mas não tivemos uma inflexão. E a população vai cansar, provavelmente, porque eu creio que a Ministra Presidenta Dilma será a última deste ciclo, se não for a primeira de um novo ciclo. A população está querendo que a gente faça uma virada. Uma virada na economia da economia baseada em produtos primários, mesmo aqueles da indústria mecânica, para bens de alta tecnologia; que a gente faça uma mudança de um modelo predatório na natureza para um modelo que incorpore a natureza como parte do seu produto; que veja uma árvore em pé como sendo um produto da economia e não somente quando ela é derrubada; que faça a inflexão de blindar os governos contra a corrupção. De vez em quando até a gente pune alguém, mas isso não é inflexão; isso é um avançozinho. A gente precisa de uma inflexão que diga quando é que não vai ser mais necessário Bolsa Família, e não a simples evolução de aumentar o número de famílias com Bolsa Família. Nós discutimos quem vai dar mais Bolsa Família, em vez de discutir quem é que vai fazer com que seja desnecessária a Bolsa Família. Essa seria a inflexão. Nós precisamos fazer uma inflexão por meio de uma reforma política que acabe, de uma vez por todas, esse financiamento privado de campanha, que transforma o candidato em um buscador de recursos, a cada quatro anos, e quase sempre correndo muitos riscos ao receber dinheiro ou, até, fazendo pior: não corre riscos, enriquece com as campanhas. Nós precisamos de uma inflexão na história. E a senhora faz parte desse seleto grupo de pessoas que tem uma visão de inflexão, que tentou passar na sua campanha, que tenta passar nos seus discursos. Nós precisamos ir além daquela frase que a senhora citou, do Victor Hugo, quando ele disse que nada mais forte do que uma ideia quando chega o seu tempo. Nós precisamos de políticos que façam o tempo da ideia chegar, e não que fiquemos apenas esperando que esse tempo chegue. A gente precisa de políticos que sejam líderes, que sejam estadistas. Mas a gente não consegue fazer inflexão de sair da próxima eleição para entrar na próxima geração, como o propósito do nosso discurso. É isso que vai fazer falta aqui. Mas, se vai fazer falta para nós, eu quero lhe fazer uma proposta, para que não faça tanta falta ao Brasil inteiro: toda vez que a senhora tiver alguma coisa a dizer e não puder mais subir nesta tribuna, mande para mim que eu leio o seu discurso. Obviamente, citando que é seu discurso Toda vez que tiver um projeto de lei e que não mais puder dar entrada, mande para mim que eu dou entrada no projeto de lei, dizendo que é da nossa Líder, Marina Silva. Conte comigo, como o seu seguidor aqui, para ler os seus discurso, para apresentar os seus projetos de lei, para continuar a sua luta, para que este País faça a inflexão que a gente vem querendo há dezesseis anos, e que o povo está cansando de esperar por governos que se sucedem com acertos, tímidos, com avanços, mas não com mudança. A senhora representava a mudança, e eu espero que continue na luta, como disse o Pedro Simon, e use a gente para essa sua luta.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senador Cristovam. V. Exª é um amigo, um parceiro. Tive a honra de, também, além da experiência como Senadora, de convivermos no Governo do Presidente Lula, V. Exª como Ministro da Educação e eu como Ministra do Meio Ambiente, e sei o quanto V. Exª é visceralmente comprometido com aquilo que eu chamei de uma educação geradora de igualdade e de oportunidade, para que a gente não tenha mais que necessitar de nenhum tipo de ajuda, para que as pessoas possam viver com dignidade, mas que cada uma possa ter a ajuda para desenvolver as suas potencialidades e, aí, sim, buscar as suas oportunidades.

            É igualdade de oportunidades que nós devemos gerar, e esse é o desafio que chamo de políticas sociais de terceira geração e que trabalhei com a felicidade de ter pessoas, como Neca Setúbal, Ricardo Paes de Barros, enfim, vários, como Luiz Eduardo Soares, que me ajudaram na parte de educação, de segurança, de política social, enfim, todos aqueles que contribuíram e que eu não tenho como citar todos aqui.

            Concedo um aparte Marisa Serrano.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Senadora Marina Silva. Depois de tantas palavras carinhosas que V. Exª está recebendo dos seus Pares, palavras tão bonitas, eu queria também poder falar um pouquinho daquilo que sinto, não só pela vida de V. Exª, que é um exemplo, um exemplo de vida, um exemplo para nós mulheres, mas também para dizer que estamos perdendo nesta Casa, como disse o Senador Cristovam, companheiros valiosíssimos, como V. Exª, excepcionais companheiros. Mas esperamos - eu tenho certeza - continuar brigando pelas boas causas neste País. E V. Exª sabe que conta com bons amigos nesta Casa, que sempre estarão dispostos a trabalhar juntos. V. Exª se referiu, no seu discurso, à importância que foi a sua vida, principalmente a sua candidatura a Presidente da República, para a integração do norte, pelos problemas que o norte tem de deslocamento, de educação, de saúde, mas também pelas soluções que o norte tem para o País, seja na área da energia, seja pela matéria-prima abundante dos produtos locais, seja pela água que tem também em abundância. Quer dizer, nós temos problemas e soluções no Norte, e V. Exª trouxe isso para o debate nacional, fez com que o Brasil inteiro passasse a discutir não só a sustentabilidade ambiental, mas também a integração de uma região que é vital para o País. Quero dizer que V. Exª leva a marca - V. Exª não deixa, mas leva a marca - da seriedade, da ética, do compromisso com a população brasileira e mundial e também do apreço que sempre demonstrou à liberdade e à democracia. Eu quero deixar-lhe um abraço enorme. Fiquei aqui para fazer este aparte e dizer a V. Exª que trazemos no coração bons amigos, e a senhora foi uma pessoa que eu encontrei nesta Casa que me deu prazer de fazer política. Seja muito feliz e conte sempre conosco!

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senadora Marisa Serrano. Eu agradeço as palavras carinhosas e respeitosas de V. Exª para com o nosso trabalho e a respeito de nossa convivência nesta Casa. Pode ter certeza de que para mim também foi muito gratificante tê-la conhecido, trabalharmos juntas. E isso em muitos momentos, como foi o caso na Comissão Especial de Recursos Hídricos, em que V. Exª liderava aquele processo junto comigo e, eu, junto com V. Exª. As diferenças e os distanciamentos que criamos em função de nossos partidos são mais artificiais do que reais, e aqui nos foi possível trabalhar no real, superando o artificial, em muitos momentos da nossa convivência.

            Pode ter certeza de que, como eu disse ao Senador Cristovam, vou estar sempre buscando o apoio daqueles que têm aqui a prerrogativa de apresentação de projetos e requerimentos, seja para acelerar uma matéria, seja para protelá-la - porque também faz parte do nosso trabalho, às vezes, protelar aquelas que não conseguimos evitar em determinados momentos, por questão de maioria.

            Muito obrigada pelo apoio. O que V. Exª disse em relação a mim eu devolvo a V. Exª, com o mesmo carinho.

            Concedo o aparte, então, ao amigo da minha região, do Estado do Amazonas, Senador Jefferson Praia.

            O Sr. Jefferson Praia (PDT - AM) - Muito obrigado, Senadora Marina. Serei breve. Quero apenas dizer a V. Exª que poucos são os políticos que as pessoas, principalmente as mais jovens, podem ter como referência. V. Exª é uma mulher de bem, tem um enorme espírito público e tornou-se, ao longo desses anos, uma referência na luta pelas questões ambientais e, principalmente, na defesa da Amazônia. Se hoje alguém me perguntar onde estará Marina Silva ano que vem ou daqui para frente, responderei apenas que sei que V. Exª estará à frente de todas as lutas relacionadas às questões ambientais, às questões referentes à Amazônia e, embora não estando presente aqui, como Senadora, estará influenciando nas decisões que esta Casa irá tomar a partir deste momento. Muito obrigado, Senadora.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Obrigada, Senador Jefferson Praia. V. Exª, como eu, é da Região Amazônica e, durante todo esse tempo, vem substituindo, como suplente, um grande amigo, alguém que aprendi a admirar e respeitar, o Senador Jefferson Peres. Tenho certeza de que a escolha de V. Exª para ser o seu suplente honrou a biografia do nosso Senador, que já não está mais entre nós, e, principalmente, o povo do seu Estado. Que, na continuidade desse trabalho, nossos caminhos continuem se encontrando!

            Quero conceder, então, a palavra ao Senador Adelmir Santana, Senador do Distrito Federal, que, eu disse, é a minha segunda casa. Aprendi a ter uma relação de carinho e respeito por esta cidade, por esta população, e pude verificar que a recíproca é verdadeira, em função do acolhimento que tive e tenho. Aqui, pude conhecer novas pessoas, fazer novas amizades, no trabalho e na Igreja - me converti à fé cristã evangélica aqui, em Brasília; faço parte de uma comunidade muito grande de fé, onde sou muito feliz; congrego na Assembleia de Deus da L2, com o pastor Sóstenes Apolo. Para mim, Brasília representa muito. Hoje mesmo, recebi a visita do Bispo de Brasília para tratarmos da Campanha da Fraternidade. Graças a Deus, contamos com essa capacidade de manter pontes e realizar um trabalho integrado, o que faz com que possamos nos sentir fazendo parte de um processo em que ninguém é o dono da verdade ou tem a exclusividade da ação.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senadora Marina Silva, esta cidade que nos acolhe, realmente, modificou a vida de todos nós que para cá viemos - de V. Exª, que veio como Senadora, e de outros, que vieram para povoá-la, para construí-la. Brasília efetivamente mudou a vida de todos nós. V. Exª iniciou o seu pronunciamento falando de sua apresentação ao Brasil e a Brasília, que passou pela figura do apresentador de televisão Jô Soares. Quero dizer que hoje, pelo trabalho de V. Exª como Ministra do Meio Ambiente, como Senadora da República, por sua atuação nos fóruns internacionais, por sua firmeza de comportamento, por sua garra, seriedade e honestidade, o Brasil e o mundo a conhecem. Portanto, V. Exª sai daqui engrandecida por esses últimos anos. V. Exª fez referência à sua partida inicial. O Brasil tem uma dívida social imensa, principalmente na área de educação, porque a partida não é igual. V. Exª dá o exemplo do que significou o retardamento nessa partida. Mas quero louvar as palavras carinhosas com que V. Exª se despede desta Casa e aí, como o Brasil e o mundo a conhecem, eu me associo às palavras do Senador Pedro Simon. Não necessariamente nesta tribuna, mas em qualquer outra, V. Exª hoje tem o caminho para a sua pregação, para a pregação das suas convicções, e não só em Brasília, mas em todo o País, e no mundo. Concito V. Exª a continuar essa caminhada, que nos engrandece e que engrandece sobretudo os pontos que V. Exª defende e sempre defendeu em relação ao meio ambiente e suas inovações. Louvo o seu comportamento aqui, entre nós, que foi um aprendizado para todos, e quero dizer que vamos sentir a sua falta. Eu também estarei saindo da Casa, mas, como moro aqui há 48 anos, me ofereço também para sermos companheiros em alguns momentos, em alguns pontos de vista, em algumas posições que muitas vezes nos aproximam, apesar das divergências partidárias. Parabéns a V. Exª por sua despedida! E, mais uma vez, quero dizer que o caminho está feito, o País a conhece, o mundo a conhece, e, portanto, carece da sua pregação permanente. Meus parabéns!

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Muito obrigada, Senador Adelmir Santana. Sinto-me honrada com esse acolhimento. V. Exª é uma espécie de anfitrião nosso e, mais uma vez, registro a minha gratidão à Capital Federal por tudo o que aprendi e por tudo o que recebi. Quero continuar - e sempre digo que vou continuar - como foi, aqui e no meu Acre, pelo Brasil adentro e pelo Brasil afora.

            Sinto que estamos já no final e peço desculpas...

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senadora Marina Silva...

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Senador Garibaldi Alves, desculpe-me. V. Exª foi Presidente da Casa durante um período em que ainda pude conviver com V. Exª. Agora, V. Exª tem pela frente novos desafios, e o Partido Verde tem em V. Exª uma parceria, em função do seu Suplente. E, com certeza, o Partido Verde tem uma contribuição a dar, com a Prefeita Micarla, e sei que V. Exª tem acompanhado e ajudado em todo esse processo.

            Concedo a palavra a V. Exª.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senadora Marina Silva, posso até adiantar que o meu Suplente é um médico - um profissional da área de saúde, portanto - muito conceituado. Até agora, era Deputado Estadual e tornou-se Primeiro Suplente da minha chapa. Com a licença que vou realmente apresentar aqui, ele vai se tornar um Senador, acho que o primeiro Senador do Partido Verde neste plenário, se não me engano; se eu estiver enganado, corrijam-me. Por outro lado, quero dizer que tenho uma gratidão, como todos aqui, a V. Exª pelo fato de que V. Exª sempre me recebeu muito bem quando fui ao seu gabinete quando Ministra do Meio Ambiente. E olhe que a sua agenda como Ministra era muito carregada, mas sempre havia um espaço que dispensava aos pleitos, sobretudo da minha região, que é uma região diferente da região de V. Exª! É uma região marcada -como o sabe o Senador Marco Maciel - pela desertificação, pela possibilidade de termos um agravamento dessa situação. Mas existem desafios e V. Exª sempre apoiou para que esses desafios fossem enfrentados. E, depois, quero dizer a V. Exª que não votei em V. Exª, mas... quase voto! Faltou pouco... Faltou pouco... Aliás, dizem isto: que, se a campanha tivesse demorado mais, V. Exª teria feito um estrago ainda maior no panorama eleitoral, porque sua campanha cresceu de tal maneira que passou a mexer com aquela equação que parecia consolidada entre a candidatura governista, da Ministra Dilma, e a candidatura oposicionista do ex-Governador José Serra. Mas V. Exª realmente conseguiu penetrar em um eleitorado até então silencioso. Dizem que há um eleitorado silencioso, cuja manifestação só ocorre mesmo através do voto. E V. Exª, com essa pregação... Porque também diziam: “A Senadora Marina Silva é candidata de um tema só, de uma pregação só”, apesar de o tema ser exuberante, cuja discussão merece que todos os brasileiros sobre ele se debrucem. Mas sempre diziam: “Não. A Senadora Marina vai ser candidata de uma bandeira só”. E, de repente, V. Exª arrebanhou outras bandeiras. Eu só diria o seguinte: V. Exª está de parabéns. Teve uma vitória moral. Dizem que, em política, vitória moral não interessa; o que interessa é a vitória eleitoral. Eu até chego a concordar, porque temos que obter mesmo é a vitória eleitoral. Mas fique certa de que V. Exª foi uma vitoriosa nas últimas eleições. Obrigado.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Obrigada, Senador Garibaldi Alves. Eu, mais uma vez, quero dizer o quanto é importante esse olhar aberto para a diferença, mesmo V. Exª tendo pertencido a uma outra articulação política e, estando na condição de Ministro - quase já em fase de posse -, de poder ter a liberdade de manifestar esse seu quase voto. Ainda bem que esses 20 milhões não quase votaram! Mas eu fico muito honrada com essa declaração de V. Exª e de todo esse reconhecimento que faz dessa contribuição dada para o processo político brasileiro.

            Gostaria de dizer, Sr. Presidente, indo à conclusão, que, no segundo turno, a decisão não foi de ficar neutra, nem eu nem o meu partido, o PV, que caminhamos juntos. O meu vice, Guilherme Leal - que, mais uma vez, repito, tive a honra de tê-lo como vice -, foi uma pessoa que contribuiu significativamente para que tivéssemos alcançado esses resultados. Pessoas que ajudaram de todos os lugares do Brasil de forma anônima, silenciosa; alguns faziam barulho na Internet, só que o barulho na Internet é também um pouco, às vezes, aparentemente silencioso. A comunidade cristã contribuiu muito, católicos e evangélicos, enfim, espíritas, pessoas que crêem e não crêem, todas acabaram se envolvendo de uma forma muito especial e espontânea.

            Mas a independência não foi neutralidade. Apresentamos uma plataforma, com um conjunto de pontos, para os dois candidatos. E, como eu dizia que o voto não era meu, nem da Dilma, nem do Serra, mas do eleitor, a ideia era de que eles pudessem se comprometer e convencer o nosso eleitor de que eles mereciam o voto daqueles que votaram em mim no primeiro turno.

            Não revelei qual era a minha decisão em termos de votação e não vou fazer isso - talvez, lá pelos 90, 100 anos, eu faça. Mas devo dizer que, para mim, pelo que eu sinto das pessoas que me abordam, que dialogam comigo pelos diferentes meios de comunicação, foi a atitude correta.

            A gente, às vezes, é tentado a querer se dar uma relevância, e nenhum momento é mais propício a essa tentação do que o momento em que você parece ser o fiel da balança e alguém diz: “se você pender para um lado ou para o outro, você vai assegurar a vitória”. Eu digo que talvez seja mais difícil manter-se independente do que tomar uma posição, porque quem não gostaria de dizer: “olha, você ganhou, mas foi em função do meu apoio!”.

            Portanto, tenho alguma prerrogativa em relação a esse feito. A minha atitude foi de ser coerente, eu, o Guilherme e o PV. Alfredo Sirkis, Penna, todos os candidatos a governador, os nossos deputados, ainda que alguns deles tenham se manifestado em favor de Serra ou de Dilma, mas todos estavam de acordo que eu e o partido deveríamos ficar independentes e que os candidatos deveriam se comprometer em convencer o eleitor de que não podemos “patrimonializar” o voto, ter a atitude do rebanho: “sigam-me, estou dizendo a vocês o caminho”. Eu sempre pensei que as pessoas devem fazer as suas escolhas de forma amadurecida. Pude ver que os brasileiros compreenderam isso. Não entenderam como uma missão nem neutralidade, mas como independência comprometida, que apresentou uma plataforma. Mas do que isso, uma plataforma com a qual eles puderam se comprometer parcialmente: um, mais; o outro, um pouco menos. Mas apresentei uma carta aberta aos dois candidatos, dizendo as razões pelas quais eu, naquele momento, não caminhava com nenhum deles. E eu quero deixar nos Anais desta Casa a carta que enviei à Ministra Dilma e ao Governador Serra no dia 17 de outubro de 2010, reconhecendo - porque eles me mandaram por escrito os pontos com os quais eles haviam se comprometido -, mas dizendo da impossibilidade de caminhar com um deles nessa jornada. Fiz também uma avaliação de que estamos à beira de conseguir, no Brasil, algo que eu considero fundamental para a democracia, ainda que isso vá dar muito trabalho, que é a efetivação de uma terceira via. A terceira via não está pronta, é apenas uma sinalização, algumas sementes, mas indica a possibilidade de sairmos da dualidade que agora é entre PT e PSDB, não mais entre Arena e MDB, ou como acontecia em outras circunstâncias históricas e partidárias que eu aqui não tenho tempo de exemplificar.

            Vou deixar a carta nos Anais desta Casa, dizendo que quebrar a dualidade, quebrar essa polarização é bom para a democracia, para que as pessoas democraticamente possam escolher. A escolha pressupõe a presença do terceiro. Quando você tem que optar entre “a” e “b”, já não há mais a liberdade de escolha. E eu quero trabalhar junto com o PV, com a sociedade, com os homens e mulheres de bem que se dispõem ao exercício de que não estamos nem à direita nem à esquerda, que estamos à frente, de que não é embate, é debate e de que nós não podemos nos colocar na perspectiva de que pessoas boas existem só no Partido da gente. Elas estão na sociedade, estão em todos os partidos. E o que proponho é uma nova forma de fazer política, do agir em rede, de dialogar com os diferentes segmentos da sociedade e de construir esta nova política que não está dada, mas que precisa urgentemente se colocar no cenário nacional.

            Dizendo muito claramente, não vou ficar no lugar de candidata, a priori, para 2014. Quero fazer parte de um processo como parte do processo, colocando-me a serviço, porque compreendo que, num processo como esse, teremos de ter o melhor representante para essa ideia de um Brasil que seja economicamente próspero e socialmente justo, ambientalmente sustentável e culturalmente diverso. É por esse Brasil que eu me disponho a continuar lutando com a mesma alegria, com o mesmo sonho da minha juventude.

            Aos 52 anos, quase aos 53, disse que queria ser mantenedora de utopias. Quero voltar para a sociedade brasileira como ativista, como professora, como membro de um partido, mas também como alguém que milita na sociedade. Não vou ficar presa só à questão partidária. Quero voltar na condição de mantenedora de utopias.

            Acho que estão ensinando nossos jovens a serem excessivamente pragmáticos, e os jovens precisam ser também, e principalmente, sonhadores. Se estou aqui hoje é porque fui uma sonhadora. Se não tivesse sonhado, nem teria chegado aqui, porque, para estar aqui, primeiro tive de sonhar que era possível ter saúde, quando até os médicos me desenganaram.

            Cheguei aqui ainda com muitos problemas de saúde. Quero agradecer, inclusive, aos médicos e enfermeiros do Serviço Médico do Senado, que, no primeiro mandato, tão calorosamente e carinhosamente, cuidaram de mim.

            Hoje, estou com saúde, com alegria, com a disposição de quem fez uma campanha com agenda pesada, com mais de quatrocentos compromissos ao todo, 140 coletivas dadas durante todo o processo, visitas a 69 cidades, participação em inúmeros eventos, que não tenho tempo aqui de mencionar, dividindo isso com meu Vice, Guilherme, meus companheiros de Partido, Capô, Luciano Zica, Alfredo Sirkis, Gabeira, Sérgio Xavier. Sei que estou cada vez mais disposta a esta condição de mantenedora de utopias. Isso não custa caro.

            Quero ainda agradecer, por final, à minha equipe. Eu tenho mania de esquecer nomes. O pessoal sabe o quanto eu fico desesperada por esquecer nomes. Mas, na pessoa do Eurípedes, na pessoa do Izaías, do Ricardo Murta, que foram os meus três Chefes de Gabinete, ao longo desses dezesseis anos, quero agradecer a todos os servidores da Casa, de um modo geral e os que trabalharam comigo. Na pessoa da Jane, minha amiga e irmã que está ali; do Carlos Vicente; do Basileu, que não está aqui, já está em São Paulo; do Pedro Ivo; do Guto; do Charles, que veio recentemente; da Eliete; da Tracy; da Jandira; da Terezinha; do Givanildo; do Jordney; do Juliano; da Natália; da Marisa, de tantas pessoas, não vai dar para falar o nome, até porque já estou embargando a voz. Eu vou parar por aqui, me perdoem.

            Eu agradeço profundamente. Nada do que eu fiz seria possível sem a ajuda de vocês. E é muito bom saber que aquelas ideias cuja autoria, reconhecimento e realização às vezes eu falo que temos que dividir, no trabalho com vocês isso foi perfeitamente possível.

            Os colaboradores, tantos, as organizações da sociedade civil, da academia, dos setores do Governo, do empresariado, que entendem essa agenda, os inúmeros colaboradores Brasil afora que dão pareceres, que me ajudam em tantas coisas, a minha amiga Maristela Bernardes e Fernando Lira, dois consultores que quando cheguei aqui, na primeira semana, pediram para conversar comigo, eu fiquei até assustada, e eles disseram: Nós somos consultores do Senado, temos obrigação de trabalhar para todos igualmente, porque é assim que funciona a Consultoria, mas nós queremos dizer que, nas horas vagas, nós queremos ajudá-la. E até hoje eles me ajudam. Fernando, inclusive, e Maristela foram do Senado, hoje a Maristela está aposentada, mas continua me ajudando.

            Meus queridos amigos, companheiros, parceiros, colaboradores, citados e não citados, a todos vocês muito obrigada.

            Meus companheiros e amigos do Estado do Acre, independentemente de filiação partidária, as pessoas ficavam me cobrando: “Mas por que a senhora não foi o primeiro lugar no Acre?”. E, obviamente, que não tinha como sê-lo. No Acre, já era difícil ser o primeiro lugar quando estávamos juntos. Imaginem divididos. Então, a Ministra Dilma ficou com 23 vírgula uma fraçãozinha maior e eu, 23 virgula uma fraçãozinha menor. Mas ali estávamos juntos para eleger Jorge, Senador; Tião, Governador; e o Edvaldo, que, infelizmente, não se reelegeu.

            Agora, eu aprendi uma coisa, inclusive, com as dificuldades de saúde: independentemente das nossas diferenças, o Acre é um lugar pequeno. E eu, há muito tempo, deixei de ficar fazendo guerra entre o verde e o azul; entre o vermelho o verde e o azul, ou as outras cores, porque o Acre e o Brasil são de todas as cores.

            E quando eu me encontrava com o Senador Nabor Júnior, com o saudoso Jorge Kalume, que já não está mais entre nós, eu não encontrava partidos, eu encontrava pessoas. Quando tínhamos diferenças, divergências, disputávamos com garra, com determinação. Em muitos momentos foi bastante difícil a disputa, bastante difícil a peleja. Mas, como eu disse, não trato divergências políticas como desavenças pessoais.

            E devo dizer que aprendi e me edifiquei, mesmo com aqueles que se opuseram a mim. Alguns nem sempre de maneira justa. Espero em Deus que, da minha parte com eles, tenha procurado ser justa; se não fui, aqui faço o meu pedido de perdão a Deus e de desculpas.

            Eu, nesses dias, tenho feito algumas leituras. Depois eu vou poder me dedicar mais; é um exercício de que eu gosto muito. 

            E eu, que estou voltando para a sociedade como cidadã comum, recebi um presente do meu amigo Ciro - um dos colaboradores também - que é muito apropriado: A Volta do Filho Pródigo: A história de um retorno para casa, das Edições Paulinas. É uma leitura tão gostosa que eu disse para as pessoas de que gosto: eu queria que todos os meus amigos lessem isso aqui antes do Ano Novo! Para as pessoas que não gostam de mim e de quem porventura eu não goste, eu também recomendo, porque é um momento de nós nos encontrarmos. O livro é maravilhoso! Ele nos coloca... E a gente, quando começa a ler, pensa que é o filho pródigo. A gente nunca quer se identificar com o irmão mais velho: aquele rancoroso, que fica com raiva da festa, do cabrito cevado, que acha que o irmão não merecia a festa, que o pai era um injusto. A gente nunca se identifica com esse. Mas a gente, além do filho pródigo, é também o irmão mais velho, que às vezes não tem a generosidade de celebrar com aqueles que chegam, com aqueles que voltam.

            E o grande ensinamento do Padre Henri Nouwen é o de que a gente, como filho pródigo ou como irmão mais velho, deve passar por todas essas condições para se identificar com o amor do pai, que ama incondicionalmente, que serve incondicionalmente; que diz para o filho mais velho: “Tudo o que eu tenho é teu! Vem celebrar conosco a volta desse teu irmão que estava perdido e foi encontrado!”

            E diz para o filho que retorna: “Você é o meu amado!”, não em palavras, mas no abraço, em devolver a ele o anel de honra, as vestimentas de honra, as sandálias de honra.

            Tudo aquilo nos faz ensinar algo: o que sustenta o mundo não é o ódio, o que sustenta o mundo não é a disputa. O que sustenta o mundo é o amor, o que sustenta o mundo é a cooperação. Esse mundo é sustentado por bilhões e bilhões de seres humanos, que todo dia se levantam para produzir o necessário, para sustentar as suas famílias, por amor: por amor ao filho, por amor ao pai, por amor à esposa, por amor ao esposo, por amor a Deus, por amor à pátria, por amor aos homens, por amor à natureza.

            Há ódio? Há ódio. Há guerra? Há guerra. Mas se nós estamos aqui é porque elas não foram capazes de nos destruir. Em algum ponto de tudo isso, vai prevalecer o amor.

            E, por último, inspirada nesse livro, não poderia ser diferente, eu vou dizer o que eu senti, em muitos momentos fazendo poesias para poder elaborar a dor, a alegria. Neste momento é alegria, gratidão, não é despedida, é vamos continuar juntos no Brasil, a juventude, as crianças!

            Ontem, eu fui visitada por uma menininha de seis anos e ela pediu para tirar fotografia. Tirou fotografia do pai. Ela maneja essas ferramentas tecnológicas - e me dava uma certa inveja santa -, com seis anos de idade. E quando ela me viu, ela disse: “Eu conheço você, Marina Silva!”

            E começou a falar de um monte de coisas que eu fazia, que eu dizia, e eu fiquei impressionada com aquilo. Eu digo: meu Deus, que responsabilidade! Ser mantenedora de utopias é fazer uma aliança não com as próximas eleições, mas com as futuras gerações! É isso que nós precisamos fazer e, com certeza, as eleições serão melhores.

            Eu não poderia também deixar de dizer que temos um novo Governo. Desejo boa sorte à primeira Presidente eleita mulher, como desejei assim que ela ganhou. Peço a Deus que a ilumine, peço a Deus que lhe dê sabedoria para tantas dificuldades que já encontra agora, inclusive na composição de seu governo. Que não olhe só para o excesso do que foi feito. O que foi bem feito mantenha, o que foi errado corrija, mas olhe para o que está faltando e encare os novos desafios. A sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural, política e ética se traduz em muitas políticas sociais, pois ainda temos, em nosso País, 40% dos nossos jovens vivendo em lares mais pobres, 20% em extrema pobreza, quase dois milhões de jovens analfabetos, 60% que não consegue terminar a 8ª série, muito poucos que terminam o ensino médio e poucos que vão para uma universidade.

            Igualdade de oportunidade, minha querida Neca Setúbal, que aprendi a amar e a respeitar e que me ajudou na parte de educação, é dar uma educação de qualidade. Eu sou um milagre da educação, eu quero lutar por isso. Então, que a Ministra Dilma saiba viver na situação uma relação construtiva com a oposição, e que a oposição aprenda também que o Brasil está cansado do confronto. O Brasil quer o encontro, não diluindo as diferenças, não eliminando os sonhos, mas olhando que o Brasil é maior do que nós. E porque ele é maior do que nós, não vamos, nem situação nem oposição, olhar de cima para baixo; vamos olhar de baixo para cima para ver o que está acima de nós. Acima de nós está um Brasil que tem 24% dos seus jovens fora da escola e sem ocupação digna. Está um Brasil em que 80% dos domicílios não têm saneamento básico. Está um Brasil que ainda não tem um plano de infraestrutura. Está um Brasil que ainda está destruindo suas florestas, sua biodiversidade. Que ainda não conseguiu, em que pesem os avanços de Copenhague, ter uma atitude que coloque fim no que estão querendo promover com o fim do Código Florestal e as mudanças no art. 23, que inviabilizarão, na prática, a maior parte dos esforços que eu aqui celebrei, inclusive esse de o Brasil ter metas. Que esta Casa possa amadurecer para ver que não precisa fazer oposição entre meio ambiente e economia, que nem é conciliar, é integrar. Que ao governo que vai acontecer Deus possa dar sabedoria e a todos nós, para que o Brasil seja melhor!

            Eu não aposto no quanto pior melhor, mas, como disse, em nome dos acertos, jamais terei uma atitude complacente com os erros. Também, no dever de não ser complacente com os erros, não quero ter uma atitude de ocultar os acertos, nem tampouco de querer reescrever a História. A História não começa agora; a História é um processo. E se foi possível ao Presidente Lula manter o Plano Real, é possível a qualquer outro manter o Bolsa Família. Se é possível a gente ser capaz de dividir a autoria, a realização e o reconhecimento, fazendo a política com as pessoas de forma clara e transparente, este Brasil, que está acima de nós, com certeza poderá ser muito melhor.

            Terminando mesmo agora, porque discurso é como consulta médica: a gente, enquanto está lá na porta, fica reclamando de quem está lá dentro ficar demorando muito; mas, quando entra e começa a ser atendido pelo médico, em nossa dor e temores, esquece do tempo e, quando sai, pede desculpas porque demorou demais ao paciente que está esperando.

            Vou pedir desculpas a todos os senhores que me honram com as suas presenças e me esperam, aos que estão acompanhando todo esse processo. Vou terminar com um sentimento de gratidão e reconhecimento chamado “Meus Melhores Presentes”:

Quando me senti perdida em minha própria casa,

Em meus armários de ambições,

Nas gavetas de meus medos;

Você era a mulher diligente

(...)

Que mesmo sabendo ser eu uma simples moeda,

Por quem poucos dariam alguma coisa em troca,

A fazer de tudo para me encontrar. [Isso tem que ver com a parábola de Jesus da moeda perdida.]

Quando gastei dissolutamente

Tudo do que de Ti por antecipação herdei,

Saúde esperança e crença,

Riquezas que de tantas nem eu mesma sei,

Você era o pai amoroso ansiando meu retorno

Disposto a me abraçar [é a parábola do Filho Pródigo].

Quando fui ferida pelas garras da incompreensão,

Por mostrar o que sou e não o que de mim se quer;

Em meus sonhos de menina, meus desejos de mulher;

Você era o Bom Pastor disposto a me tirar do risco,

Trazer-me de volta ao aprisco

E minhas chagas sarar.

Quando já ia de idade

Sonhando pela metade,

Sonhos que na mocidade,

Brotavam em forma jorro;

Você era o Deus feito homem

Que me venho visitar,

Chamando-me a nascer de novo

Pra novamente sonhar.

            Isso tem a ver com a história de José, do Egito, o grande sonhador, e do grande patriarca Abraão, que quase perdeu o sonho de ter um filho, mas foi honrado em seu sonho.

Menino doce menino

Nascido por mim em carne,

Tua origem é o espírito,

Não me estende tua mão,

Inclina a mim teu ouvido,

Sustenta meu coração,

Ouça do céu o meu grito,

Sendo eu carne,

Faz que de novo eu,

Nasça de Ti, em espírito.

            Muito obrigada.

            Feliz Natal, feliz Ano Novo.

            Que Deus nos abençoe e o Brasil. (Palmas.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senadora Marina Silva, ganhei um presente de V. Exª, um livro, Maravilhosa Graça, as bênçãos que Deus dá, as graças. E, hoje, de presente, todos tivemos esta graça, que foi ouvir o pronunciamento de V. Exª.

            V. Exª é cristã. E me lembro das palavras de Paulo, que V. Exª não pode repetir, porque ele disse: “Terminei minha carreira”. Agora é que V. Exª está começando sua carreira! Mas pode dizer: preguei, guardei minha fé e combati o bom combate. E posso dizer que sei o que é o sofrimento de não ganhar, mas é muito pior a vergonha de não ter lutado, e V. Exª lutou. V. Exª igualou-se às grandes mulheres cujas histórias são sintetizadas no momento mais dramático da história de Cristo: a crucificação.

            Os homens falharam, a mulher de Pilatos estava lá: “Você é um fraco”; a outra, enxugando o rosto; as três ao pé de Cristo, e as outras indo ao túmulo. Por isso, acreditamos. Quando foram ver, ouviram: “Não, Ele não está aqui; Ele está no céu”, porque foram mulheres. E V. Exª representou a beleza da firmeza da mulher brasileira.

            Fomos fracos, fui igual a Pilatos, fui igual a Pedro, que negou; assim como o Garibaldi, que disse que quase votou na senhora, mas eu dizia ainda: fui melhor do que Garibaldi! Estou numa coligação, sou candidato, mas há uma mulher extraordinária, que me deu o livro Maravilhosa Graça, e a sua candidata, uma encantadora mulher, Teresa Brito, foi também muito firme.

            Então, fui melhor do que Garibaldi, porque eu ainda dizia: “Tem uma mulher.” E fraquejei igual a Pilatos, quando decidi não votar na senhora.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Obrigada.

            Bem, você usou uma frase bíblica do Apóstolo Paulo: “Fiz o bom combate e guardei a fé”. A Jane havia me sugerido, exatamente, que eu terminasse dessa forma. E espero em Deus que o bom combate continue e que possa continuar guardando a fé.

            Até segunda-feira ainda espero voltar aqui, mas para outras falas. Porém, olhando aquelas crianças ali, ocorreu-me agora algo que eu não poderia deixar de dizer.

            Quando entrei aqui, a Mayara tinha três anos; a Moara, cinco anos; a Shalon, 13 anos; o Danilo, 12 anos. A Shalon está com 29, o Danilo está com 28, a Moara está com 20 e a Mayara está com 18. E aquelas crianças que corriam aqui, naquele corredor, juntamente com o Fábio, meu marido, deram-me tanta sustentação para tudo isso que está aqui, que, mesmo eles não estando aqui hoje, porque estão trabalhando - meu marido teve que ir ao Acre a trabalho -, quero fazer o que faço sempre: agradecer a Deus por eles; por Deus ter cuidado, por Deus ter sustentado e por hoje estar aprendendo com eles. É muito bom poder aprender com os filhos.

            Nunca me esqueço da Mayara, sentada naquela cadeira, com dois para três anos de idade, e eu querendo ir ao Acre, quase perdendo o avião; e ela, desconfiando que eu ia viajar, sentou-se ali e não saía de perto. E o parlamentar que estava dirigindo os trabalhos, disse: “De acordo com o Regimento Interno, artigo tal, pessoas estranhas não podem sentar-se nas cadeiras dos Senadores”. E, aí, veio um funcionário para tirar a pessoa estranha; e a pessoa estranha deu muito trabalho! Ele não conseguiu tirar a Mayara de jeito nenhum dali, e a Folha de S.Paulo fez uma matéria belíssima com ela, resistindo, bravamente, ali, ao lado da mãe.

            Então, podem ter certeza de que aqui não falou só a Senadora, a ex-Ministra, a candidata; falou a esposa, a mãe, a amiga, e isso tudo me deixa tocada, mas muito feliz. É muito bom sair daqui com essa alma leve e tranquila.

            Senador Marconi Perillo, pedi uma concessão, mas vou lhe dar o aparte, de acordo com a transigência do médico!

            Lá, no Acre, tem uma brincadeira que fazemos: quem perde a eleição, a gente não diz que perdeu a eleição, mas que “desceu na balsa”, que “foi na balsa”. Nesses últimos dias, temos aqui as sessões da balsa. Muitos de nós desceram na balsa. Vão para Manacapuru, Município na terra de V. Exª. E eu estou indo na balsa também, porque não ganhei a eleição; com a felicidade de estar indo acompanhada de quase vinte milhões de pessoas, vendo as paisagens do Brasil, remando para os horizontes da esperança. Mas com a tranquilidade de que, às vezes, é possível ganhar perdendo, quando a gente sente que fez o bom combate.

            Senador Perillo, todos os meus pedidos de vênia já foram esgotados aqui.

            O Sr. Marconi Perillo (PSDB - GO) - Senadora Marina, quisera Deus que eu pudesse fazer minha última intervenção aqui, como Senador - daqui a pouco vou renunciar ao mandato de Senador da República -, com esse aparte ao discurso de V. Exª. Fiz muita questão de fazê-lo porque acompanho a trajetória de vida de V. Exª, a trajetória de vida pública, há muito tempo, desde a época de Chico Mendes. Tive a oportunidade, enquanto Governador do Estado, de celebrar parcerias, dialogar com V. Exª. Com isso, percebi, mais do que nunca, seu idealismo, sua vontade de fazer o melhor por este País. Acompanhei sua trajetória aqui, no Senado, especialmente agora, como candidata à Presidência da República. Esses vinte milhões de votos não vieram por acaso. V. Exª, hoje, é, sem dúvida, uma espécie de patrimônio nacional; patrimônio de todos os brasileiros. Que Deus abençoe sua trajetória daqui para a frente. Obrigado pelo aparte.

            A SRª MARINA SILVA (PV - AC) - Amém. Obrigada a V. Exª. Que Deus abençoe seu mandato também.

            Obrigada também à Tânia e ao João Sassi.

            Olha, gente, depois, lá, no gabinete, vou ver. Isso é um perigo! Aí o Eurípides me protege.

            Obrigada a todos vocês.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA MARINA SILVA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

- Carta aberta aos candidatos à Presidência da República.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2010 - Página 59297