O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Marisa Serrano, eu também quero, acho que como todos os presentes, todos os brasileiros, registrar aqui também, pelo povo do Piauí, o nosso sentimento de muita tristeza neste momento em que tomamos conhecimento do falecimento do nosso ex-Vice Presidente, o empresário José Alencar.

            Como muitos aqui, também tive o privilégio de conviver com ele. Lembro-me, ainda na Federação da Indústria, durante da campanha, em 2002, indo ao meu Estado, e a sua primeira agenda foi exatamente na Federação da Indústria do Piauí, ali naquele Estado, onde ele manifestava o seu pensamento em relação ao Brasil. Acreditava no Brasil, acreditava no potencial natural que Deus deu a este país, acreditando no povo, e apresentava ali a importância daquela aliança que fazia: uma grande liderança dos operários, Luiz Inácio Lula da Silva, e uma liderança também legitimada pelo setor empresarial, que era o nosso, logo em seguida eleito Vice-Presidente José Alencar.

            Acompanhamos, durante o mandato, primeiro, a sua lealdade para com o Brasil, para com o governo, para com suas convicções. A sua capacidade de, em momentos difíceis, participar diretamente das soluções. Eu vi ali, naqueles instantes difíceis, a discussão sobre a política de juros, sobre os rumos da economia. E ele, de modo forte, defendendo a necessidade de mudanças para que o País pudesse colocar um conjunto de investimentos, que resultou, logo em seguida, naquilo que hoje nós chamamos de Plano de Aceleração do Crescimento.

            Lembro-me de uma reunião em que, pela primeira vez, eu o ouvi, em um diálogo entre ele e o Presidente Lula, usar a expressão “destravar o Brasil”. Destravar que resultou, em seguida, no acelerar, que levou em conta esse conjunto de obras e de ações então realizadas.

            Creio que qualquer brasileiro ou qualquer brasileira tem um sentimento muito grande também da sua capacidade de luta.

            Estive, por uma vez, visitando-o no hospital. Estive, em outro momento, tratando com ele... Nós tivemos a descoberta importante, durante esse período, entre 2002 e 2008, de uma planta tipicamente do Nordeste, que chamamos de cachorro pelado, mas que, na verdade, é o avelós. Dessa planta, cientistas brasileiros descobriram uma medicação, que está por ser autorizada pela Anvisa, nos próximos meses, para a cura de vários tipos de câncer, já comprovada. Foi autorizada a experiência em hospitais brasileiros. Foram elencadas algumas pessoas que tiveram esse tratamento. E o nosso querido José Alencar deu um apoio muito grande para esse trabalho bem como para outras áreas.

            Ele, como eu sempre colocava, é o exemplo da resistência. Cada vez que ele era internado, cada vez que ele saía dali, dava uma palavra. Se essa palavra confortava a nós, que não tínhamos problema de saúde, eu fico imaginando as pessoas que estavam em uma situação difícil, de doença, muitas vezes, de familiares, ouvindo a palavra do nosso querido José Alencar. Muitas vezes, saindo da unidade de saúde, saindo do hospital e indo para as solenidades, seja reunião do Conselho Econômico, seja uma solenidade representando o Governo.

            Lembro-me de uma vez em que o Presidente estava viajando para o exterior, e ele saía do hospital direto para assumir o cargo. Acho que isso tudo ficou em todos nós: a lembrança de alguém que lutou muito pela vida, o valor à vida, e sempre utilizando a vida que Deus lhe deu na defesa de muitas causas. Momentos também de alegria. Eu tenho também com o nosso querido José Alencar lembranças de momentos de alegria.

            Lembro-me de uma reunião que fizemos do Fórum dos Governadores do Nordeste, mas os Estados do semiárido, na sua terra, em Montes Carlos, em Minas Gerais, onde visitamos as fábricas da sua empresa. Ali, naquele instante, eu brincava muito com ele, vendo-o comer torresmo, tomando a pinga mineira, enfim, e dizendo do valor que ele dava à vida pelas oportunidades que tinha. Ali foi feita pelos mineiros uma bela homenagem ao Vice-Presidente José Alencar. Lembro-me dos seus amigos cantando, naquela abertura, uma música de serenata que cantavam há muitos anos. Depois deram a ele um violão que teria sido ainda daquela época.

            E ali ele, naquela forma bonita, animada, alegre, quando fez o uso da palavra, logo após o Presidente Lula... O Presidente Lula dizia ali, no final da sua fala, em Minas Gerais, naquele momento de homenagem ao nosso querido José Alencar: “José Alencar, eu tenho a certeza de que é você o cara para todo o povo brasileiro”. E ele ali, quando fez o uso da palavra, disse: “Presidente, o cara é você. Eu agora sou apenas o vice-cara”.

            Então, era uma pessoa muito espirituosa, uma pessoa que amava o que fazia. A gente via ali o carinho das pessoas que trabalhavam nas suas empresas, funcionários com muitos anos de idade. Alguns, inclusive, já aposentados, mas ali presentes no trabalho. O amor, meu querido Itamar Franco, por Minas Gerais, um carinho todo especial, a forma como ele sempre tratava as coisas de Minas Gerais, o povo mineiro.

            Então, são com essas lembranças, creio, que todos nós ficamos, que acho uma grande lição de vida. É alguém que deixa para este Brasil uma grande lição; uma lição que, com certeza, vale para o setor em que ele atuou fortemente, o setor empresarial. Alguém que começou com um pequeno comércio e tornou-se seguramente um dos maiores empresários do nosso País, um líder empresarial brilhante, sempre presente nessas lutas. Alguém que sempre atribuiu também um valor muito grande à classe trabalhadora.

            Eu não posso deixar de registrar aqui o tratamento dado por ele também, nos momentos de negociações, aos trabalhadores. Eu participei, meu querido Paim, de momentos em que se tratou dessa política de crescimento do salário mínimo aqui. E ele dizia da necessidade de uma regra, uma regra que levasse em conta a necessidade de os empreendedores se planejarem também. Então, eu não posso deixar de lembrar disso aqui.

            É um momento triste, mas também um momento em que podemos aqui lembrar desse grande brasileiro, desse grande homem.

            O Sr. Armando Monteiro (PTB - PE) - Meu caro...

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Com o maior prazer, Senador Armando Monteiro.

            O Sr. Armando Monteiro (PTB - PE) - Meu caro Senador Wellington Dias, eu assistia ao pronunciamento de V. Exª quando fazia referência a alguns aspectos da trajetória desse extraordinário brasileiro que foi José Alencar. E V. Exª lembrava alguns episódios que se relacionavam com a intensa atividade que ele teve também no plano da representação empresarial. Ele presidiu a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais; ele foi Vice-Presidente da Confederação Nacional da Indústria e teve sempre um grande carinho por essas entidades. Mas, além da dimensão do homem público extraordinário, dos exemplos que ele pôde dar de uma conduta irrepreensivelmente ética, tanto na esfera dos negócios privados, quanto na vida pública. Mas o que ressalta, o que sobressai, neste momento, é a dimensão humana de José Alencar, dessa figura simples, sensível, que deixa para as gerações novas um belo exemplo de que é possível construir uma vida de sucesso, mas sempre trilhada pelo respeito aos postulados éticos e aquilo que verdadeiramente engrandece o comportamento das pessoas. Então, eu quero me associar a V. Exª, agradecer por essa oportunidade e tributar a minha homenagem a esse grande brasileiro.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Eu que agradeço a V. Exª, que conviveu com ele. Não posso deixar de ressaltar e reforçar aqui essa lembrança: a ética. Um homem ético como empresário; ético como pai de família. A gente ouvia depoimentos dos seus filhos, da Dona Marisa, a sua esposa. É a eles que queremos aqui dar toda a força neste momento de dor. Mais ainda, ético na política...

(Interrupção do som.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Agradeço, Sr. Presidente, Senador Ciro Nogueira. Eu quero exatamente, com essa lembrança, uma lembrança que me tocou em muitos momentos... Lembro-me agora de que, recentemente, comemoramos o aniversário do Partido dos Trabalhadores, em Brasília, no Sindicato dos Bancários.

            No momento em que entrou uma das lideranças, considerada seguramente a maior liderança do nosso partido, uma das maiores lideranças hoje, no mundo, que é o Presidente Lula, logicamente ele foi muito aplaudido. Mas me lembro da forma carinhosa com que foi aplaudido de pé - está certo? - ao fazer ali aquela saudação. São essas lembranças que me vêm à mente.

            Por isso, não poderia, pelo povo do Piauí... O povo do Piauí que recebeu dele, e quero aqui testemunhar isso na condição antes de Deputado Federal, quando comecei a ter essa relação com ele, na condição de empresário, mas também depois, como Governador, toda atenção. Todas as vezes que tratávamos de temas relacionados ao Estado, ele, ou na condição de Vice-Presidente ou na condição de Presidente em exercício, fazia questão de dizer: “Aqui é um Estado que precisa de uma atenção especial. É um Estado que tem grande potencial. É um Estado que precisa aproveitar bem esse potencial”.

            Com essas lembranças, quero aqui, pelo povo do meu Estado, homenagear esse grande brasileiro. Hoje aqui tivemos uma sessão em homenagem a esse outro grande brasileiro que foi Mário Covas, a quem também rendemos nossas homenagens. Queria aqui dirigir uma palavra ao povo de Minas Gerais, à família dele, aos amigos, enfim. Podemos todos nós nos espelhar na história de José Alencar como um grande espelho para nossas vidas.

            Muito obrigado!

Modelo1 5/8/2411:50