Pronunciamento de Lídice da Mata em 01/08/2011
Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Registro do falecimento do Sr. João da Costa Falcão, fundador do Jornal da Bahia, ocorrido na última quarta-feira, em Salvador.
- Autor
- Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
- Nome completo: Lídice da Mata e Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Registro do falecimento do Sr. João da Costa Falcão, fundador do Jornal da Bahia, ocorrido na última quarta-feira, em Salvador.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/08/2011 - Página 30704
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, FUNDADOR, JORNAL, ESTADO DA BAHIA (BA).
A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Presidente.
Boa tarde, Sr. Presidente. É com alegria que reiniciamos nossos trabalhos legislativos hoje. Infelizmente, gripada. Como fui, voltei. Mas eu não poderia deixar de registrar, nesta Casa do Senado Federal, lamentando muito, que morreu na última quarta-feira, em Salvador, aos 92 anos, o fundador do Jornal da Bahia, fundado em 1958.
O nosso João da Costa Falcão, escritor, jornalista e empresário, sem dúvida, é um dos mais destacados homens da imprensa da Bahia, fundador do jornal que revolucionou a técnica de fazer jornal e a forma de fazer o jornalismo em nosso Estado.
João da Costa Falcão nasceu a 24 de novembro de 1919, em Feira de Santana, filho de João Marinho Falcão e Adnil Costa Falcão. Fez o curso primário na sua cidade natal e o ginásio, na cidade de Salvador, de 1930 a 1937. Em 1938, ingressou na Faculdade Livre de Direito, em Salvador.
Nesse mesmo ano, começou sua militância política no Partido Comunista do Brasil, na clandestinidade, porque se opunha à ditadura do Estado Novo, implantada no país em novembro de 1937.
Fundou, ao lado de outros jovens, a revista Seiva, que seguia a orientação do PCB. Em dezembro de 1942, formou-se em Direito.
Em seguida, em 1943, foi convocado como soldado para servir ao Exército Brasileiro, em razão de o Brasil ter declaro guerra ao Eixo. Essa experiência durou pouco tempo porque, em consequência de suas atividades comunistas, foi condenado, nesse mesmo ano, a cinco anos de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional, expulso do Exército e preso até seus advogados conseguirem a sua absolvição perante aquele Tribunal meses depois.
Terminada a Guerra e concedida a anistia geral pelo Governo, fundou o jornal O Momento. Nesse mesmo ano, concorreu às eleições para Deputado Federal pela chapa do Partido Comunista, ficando suplente do Deputado Carlos Marighela, único eleito pela Bahia.
Com o fechamento do PCB em 1947, passou a militar clandestinamente no Rio de Janeiro, ficando responsável pela guarda e segurança do Senador e líder comunista Luis Carlos Prestes, até o ano de 1950, quando voltou para Salvador.
Em 1950, fundou a imobiliária Antônio Ferreira de Souza, em homenagem ao seu sogro, que havia falecido. Essa imobiliária construiu grandes edifícios, inclusive o edifício Antônio Ferreira, na rua Chile, projeto do escritório do grande arquiteto Oscar Niemeyer, em 1954, e atuou cerca de vinte anos como imobiliária. Em 1954, foi eleito Deputado Federal na legenda do PTB, com o apoio dos comunistas.
Em 1958, foi desligado do Partido Comunista e fundou o Jornal da Bahia e foi seu diretor até 1983.
Em 1960, fundou o Banco Baiano de Produção S.A., que até o ano de 1970 tinha agências em quase todas as capitais, do norte ao sul do país.
Em 1977, fundou a Empresa João Falcão Urbanizadora Ltda., que está em atividade até os dias atuais.
No governo de Luis Viana Filho, foi presidente do Banco de Desenvolvimento da Bahia, de 1967 a 1969.
Foi membro do Conselho Consultivo da Usina Siderúrgica da Bahia, sócio da Associação Brasileira de Imprensa e da Associação Bahiana de Imprensa, da Associação de Bancos da Bahia, e é membro do Conselho das Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid).
Recebeu a Comenda de Grão-Mestre da Ordem do Mérito da Bahia, no Governo de Roberto Santos, e a Comenda da Ordem Municipal do Mérito de Feira de Santana, na classe de Grande Comendador, recentemente.
Em 2010, ingressou na Academia Baiana de Letras, e em 1988, aos 60 anos, iniciou sua vida literária com a publicação do livro de memória O Partido Comunista Que Eu Conheci. Em 1993 publicou os livros A vida de Giocondo Dias, um Revolucionário, e A vida de João Marinho Falcão - Vitória de uma vida de trabalho; em 1999, O Brasil e a 2ª Guerra Mundial; em 2006, Não deixe esta chama se apagar - História do Jornal da Bahia; em 2008, A história da Revista Seiva; em 2009, o livro de suas memórias Valeu a pena (Desafios de minha vida), ao completar 90 anos.
Sem dúvida a vida do político, do jornalista, do militante João Falcão é um exemplo de tenacidade e de resistência política. Mas, certamente, mesmo tendo tido uma participação tão importante como militante comunista, foi como fundador do Jornal da Bahia, seu diretor, que João Falcão alcançou o seu momento mais destacado na vida política do nosso Estado.
O Jornal da Bahia foi criado em 1958, com a parceria de intelectuais importantíssimos no nosso Estado como Zittelman de Oliva, Milton Cayres de Brito, Virgílio da Motta Leal e tem a sua vida vinculada à luta de resistência política, Senador Paim. Esse jornal enfrentou a resistência do Governo da Bahia, não acostumado a conviver, em nosso Estado, com uma imprensa independente e livre.
O comando da redação do Jornal da Bahia foi confiado, durante muitos anos, ao talento de João Batista de Lima e Silva, Flávio Costa, Ariovaldo Matos e Alberto Vita. Entre os jornalistas que militaram no JB ao longo de 25 anos em que esteve sob a batuta do João Falcão, podemos destacar os nomes de Arary Muricy, Antonio Torres, grande escritor baiano, Anísio Félix, o artista plástico Calazans Neto, o grande cronista Carlos Eduardo Novaes, David Salles, Emiliano José, atual Deputado, Fernando Rocha, Genebaldo Corrêa, Glauber Rocha, Gustavo Tapioca, o saudoso Guido Guerra, Helington Rangel, Héron Alencar, Humberto Vieira, João Santana Filho, Jeová de Carvalho, João Ubaldo Ribeiro, José Amílcar, José Gorender, Zezito Contreiras, Joselito Abreu, Lázaro Guimarães, Levy Vasconcelos, Florisvaldo Matos, Samuel Celestino, o historiador Luis Henrique Dias Tavares, Marcelo Simões, Marcelo Duarte, Maria Adenil, Carmela Talento, Misael Peixoto, Muniz Sodré, Nelson Cerqueira, Newton Calmon, Santelmo, Nelson Sobral, Oldack Miranda, Orlando Garcia, Orlando Sena, Otacílio Fonseca, Quintino Carvalho, Sebastião Nery, Sílvio Lamenha, Tasso Franco, Tom Zé, Vera Mattos, Wilter Santiago, os fotógrafos Anísio Carvalho, Domingos Cavalcanti, Mário Paraguaçu, Walter Lessa, o chargista Lauzier, e durante muitos anos o escritor, biógrafo, editorialista João Carlos Teixeira Gomes.
Falei dos mais destacados intelectuais e jornalistas dos últimos 25 anos.
Portanto, foi o Jornal da Bahia um jornal marcado por suas posições de independência que se celebrizou pela importante luta que exerceu para, resistindo às perseguições políticas, sobreviver financeiramente.
Lançou uma campanha de assinantes que mobilizou a oposição baiana em plena ditadura militar com o slogan: “Jornal da Bahia, não deixe essa chama se apagar”.
Com a morte de João Falcão, sem dúvida alguma, a Bahia perde um político que marcou a sua história e que merece um registro e uma reverência pelos seus préstimos na luta em defesa da soberania nacional - era um grande nacionalista - e, principalmente, uma luta em defesa das liberdades democráticas e da imprensa livre em nosso País.
Muito obrigada, Sr. Presidente.