Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre os resultados da pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo a qual mais de 50% dos brasileiros com idade entre 16 e 29 anos não estão empregados.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PROGRAMA DE GOVERNO.:
  • Comentários sobre os resultados da pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo a qual mais de 50% dos brasileiros com idade entre 16 e 29 anos não estão empregados.
Aparteantes
Mário Couto.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2011 - Página 46169
Assunto
Outros > PROGRAMA DE GOVERNO.
Indexação
  • CRITICA, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, MOTIVO, DIVULGAÇÃO, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE), METADE, JUVENTUDE, ATIVIDADE, OCIOSIDADE, REGISTRO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, POLITICA, FATO, MELHORAMENTO, FUTURO, PAIS.

            O SR. JAYME CAMPOS (Bloco/DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Senadora Marta Suplicy, Srªs e Srs. Senadores, serei breve, Srª Presidente, no final do mês passado, a Voz do Brasil divulgou o levantamento efetuado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em conjunto com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), segundo o qual o Governo permite que mais da metade dos jovens brasileiros entre 16 e 29 anos não trabalhem.

            Embora esses dados não tenham sido, a nosso ver, suficientemente divulgados, trata-se de pesquisa oficial, publicada na terceira edição do Anuário do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, em que se revela que, dos mais de 46 milhões de pessoas entre 16 e 29 anos no país, 55% apenas estudam e estão fora do mercado de trabalho. Estamos falando de uma realidade extremamente preocupante. Primeiramente porque, sobre estes 55% que declaram que "apenas estudam" pouco ou nada se sabe sobre a natureza e a qualidade desses alegados estudos. Segundo, porque a proliferação desenfreada das bolsas de auxílio criou um inchaço incomensurável de pessoas ociosas, dependentes do amparo econômico do Estado, e vem estimulando uma espécie de acomodação, na qual a inclusão social se faz de maneira artificial e eleitoreira, totalmente equivocada, baseada em políticas compensatórias, do nosso ponto de vista errôneas e oportunistas, que têm levado nossa juventude ralo abaixo.

            Ao promover e cultivar a falsa ideia de um país plural e igualitário, com chances para todos, o Governo Federal manipula as classes menos favorecidas, ao igualar "por baixo"; ao premiar a mediocridade e ao distribuir pão e circo para calar as massas.

            E a nossa combalida Previdência Social? Onde ela vai parar, se mais da metade da força produtiva da Nação simplesmente não trabalha? E não é por falta de oferta, não. Recente estudo da empresa de Recursos Humanos, Manpower, identificou que 57% dos empregadores têm dificuldade para preencher as vagas oferecidas. Conforme recentemente divulgou a TV Globo, "as vagas de motorista, operário, secretária, assistente administrativo, representante de vendas, mecânico e os técnicos estão em falta". Isto é só um exemplo. No Brasil de hoje, na cabeça de muitos dos tutelados pelas bolsas do Governo, trabalhar não compensa.

            Como vamos fazer para fechar as contas da Previdência? Atentemos à crise por que passa atualmente a Europa. Uma das suas principais razões é que a população envelheceu e precisa ser suportada pela força ativa do trabalho dos jovens.

            Apesar do surto mundial de desenvolvimento nos últimos anos, no qual o Brasil soube pegar carona, o dado concreto é que nosso desempenho tem sido pífio. Como País emergente, com imenso potencial e com invejáveis recursos, o que mais se vê são as oportunidades sendo jogadas pela janela.

            Nossos governos atuais, navegando nos mares do fisiologismo inconsequente, impulsionados pelos ventos da arrogância, abusam da boa-fé de seus governados e propagam que estamos no melhor dos mundos, mas as evidências mostram o contrário.

            Na semana passada, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o novo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), considerado o melhor método de avaliação das condições econômicas e sociais das nações. Em uma escala de 0 a 1, o Brasil subiu, acanhadamente, de 0,715 para 0,718. Esses três centésimos estão longe do desempenho que poderíamos ter apresentado. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano se equivale ao verificado nos Estados Unidos há 40 anos ou aos da França e da Itália no começo dos anos 80. Ainda estamos atrás de países instáveis politicamente, como a Líbia e o Líbano.

            Na educação, por exemplo, nossa média é equivalente à do Zimbábue, país que ocupa o lugar número 173 no ranking da ONU. Nosso índice de alfabetização de adultos é pior que o da Bolívia, e o de escolarização de universidades está abaixo do índice verificado no Paraguai.

            Entre 2003 e 2010, o crescimento médio do PIB per capita do País foi de 2,85%. Entretanto, no resto da América Latina, foi de 4,07%. Crescemos, portanto, Senador Mário Couto, bem menos que os nossos vizinhos.

            Então, quando nos deparamos com a realidade nua e crua e constatamos o desserviço que esses governantes atuais têm prestado ao nosso País, torna-se inevitável a preocupação com o nosso futuro.

            Concedo o aparte ao Senador Mário Couto, com muito prazer.

            O Sr. Mário Couto (Bloco/PSDB - PA) - Senador Jayme Campos, primeiro, quero parabenizar V. Exª pelo belo pronunciamento que faz à Nação brasileira na tarde de hoje, preocupado com o Índice de Desenvolvimento Humano do nosso País. Ouço V. Exª atentamente, até pelo brilhantismo e pela importância do conteúdo do seu discurso. Fico a meditar, Senador Jayme Campos: por que o nosso País, tão grande, tão belo e tão rico, ainda não tem um grande Índice de Desenvolvimento Humano? Por que, Senador Jayme Campos? Porque aqui se estabeleceu um formigueiro, um ninho de saúvas, Senador. Estou cansado de falar desta tribuna sobre os números da corrupção, sobre os números dos desvios de dinheiro público. A revista Veja já chegou a publicar R$86 bilhões, Senador! Está aí Senador: a corrupção cresce, e o Índice de Desenvolvimento Humano cai estupidamente, e o povo brasileiro é recompensado pelo Bolsa Família. É um grande programa? É um grande programa, mas, se se combatesse a corrupção, no Brasil, haveria, além do Bolsa Família, saúde e educação, e não haveria tanta violência! Neste País, haveria educação e saúde de melhor qualidade. Saúde não existe neste País! E como estão as estradas brasileiras? V. Exª sabe muito bem como estão as estradas do Pará e as do Mato Grosso neste momento. Mas tudo isso é fruto da corrupção desenfreada neste País, criada pelo Partido dos Trabalhadores, Senador. Não se tem dúvida disso. Não lhe quero tomar o tempo. Obrigado por me conceder esse minuto, para, com muita honra, aparteá-lo e parabenizá-lo.

            O SR. JAYME CAMPOS (Bloco/DEM - MT) - Agradeço a V. Exª, que tem toda a razão quando explicita isso com clareza. Lamentavelmente, todos os dias, surrupiam o Erário público brasileiro de maneira geral. Isso tem prejudicado, sobremaneira, a melhoria das condições de vida da sociedade brasileira.

            Enquanto isso, mais da metade da população entre 16 e 29 anos simplesmente não trabalha. Sabemos muito bem que o único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

            Ou acordamos agora, ou pode ser tarde demais.

            O progresso se produz pela geração de riqueza e pela erradicação da pobreza. Porém, bem pior do que a indesejável pobreza material é a pobreza de espírito. A pobreza moral, lamentavelmente, vem assolando nossa Pátria, enganando seu povo e sequestrando o talento de sua outrora promissora juventude.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, na tarde de hoje.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2011 - Página 46169