Discurso durante a 101ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca das recentes manifestações populares no Brasil.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Considerações acerca das recentes manifestações populares no Brasil.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2013 - Página 39065
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, ORADOR, REFERENCIA, MANIFESTAÇÃO, JUVENTUDE, PAIS, APOIO, REIVINDICAÇÃO, ENFASE, IMPORTANCIA, INICIATIVA, POPULAÇÃO, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, DEMOCRACIA.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª, na manhã do dia de ontem, me ligou e pediu que eu estivesse aqui no plenário durante a tarde e durante a noite, para que fizéssemos uma vigília em nome da democracia, em nome da liberdade de expressão e movimentação, em nome da justiça, em nome da qualidade de vida, enfim, de transporte, em nome do trabalho que essa juventude fica na expectativa, porque, falávamos ontem, é essa a faixa que está mais situada naquele patamar de 5,2% dos desempregados.

            Senador Cristovam, eu, assim como V. Exª, e outros passamos a noite aqui, o Senador Simon, o Senador Rollemberg, o Senador Pedro Taques. Quero começar a minha fala da mesma forma que fiz em um aparte ao Senador que estava na tribuna: acho que estamos vivendo um momento mágico, um momento fantástico, um momento positivo, porque essa juventude apontou o caminho para nós, com muito mais anos e de cabelos brancos.

            Essa juventude está a dizer: esta política está superada; esta política em que tudo caminha meio no submundo, que não é clara, que não é transparente, não dá mais. Por isso que é um momento mágico.

            Essa juventude está a nos dizer: por que vocês não votam de forma transparente para que eu aqui, no meu computador, via Internet, possa saber como cada um votou em cada situação de interesse do País?

            Essa juventude está a dizer: por que vocês estão aí com esta tal de PEC 37, que nos dizem que vai tirar o poder de o Ministério Público continuar combatendo a corrupção?

            Essa juventude está a nos dizer: por que vocês, com a PEC 33, querem tirar o poder da Justiça, ferindo a independência dos Poderes?

            Essa juventude está a nos dizer: não há lógica termos medidas provisórias que desoneram as empresas de transporte e, no outro dia, o preço do transporte aumenta, e ainda sendo de má qualidade o transporte coletivo.

            Essa juventude está a nos dizer: sim, queremos mais investimentos - e esta é a sua marca, Senador - na educação.

            Essa juventude está a nos dizer: queremos, sim, mais investimentos na saúde.

            Os planos de saúde, que me desculpem aqueles que atuam nessa área, na sua grande maioria, viraram até piada. Eu sei porque eu pago, e toda vez que eu preciso é um problema - não é nem para mim; é para os meus familiares. É um problemão: “isso eu não pago; isso não pode; para isso não há lugar; tem que ir para a fila; isso não é mais comigo; tem que ir para a fila; a agência tal não pagou a outra, então, também não posso garantir que você vai ter a consulta, que vai ter o exame”. Ora, sou Senador da República! Se comigo fazem isso, com a maior cara de pau, calculem o que eles fazem, no dia a dia, com outros cidadãos!

            Essa juventude está a nos dizer que os tempos mudaram. Agora, como aqui foi dito pela Internet, pelas redes sociais: “nós que fomos às ruas [eles estão dizendo a nós; eles que foram às ruas], nesses últimos 30 dias [porque isso não começou ontem], voltaremos a qualquer momento [voltarão a qualquer momento se o Executivo, o Legislativo e também o Judiciário, na sua morosidade, não começarem a responder à expectativa da população]; não dá mais!” Alguns dizem que os movimentos sociais sumiram, que os movimentos sociais apresentam pauta e só dizem: “Ah! Isso não pode! Isso não pode! Isso não pode! Aquilo também não pode”. E, aqui no Parlamento: “Ah! Isso também não dá!”. E aí os projetos continuam aqui, tramitando, e as respostas não chegam à população.

            Senador Cristovam, eu tive o cuidado de olhar um pouco a repercussão do que aconteceu a partir de ontem. Primeiro, quero dizer que a nossa vigília cívica aqui, sim, foi vista com muito carinho, com muito respeito pela população brasileira, e está retratada nos jornais: “Senadores Rodrigo Rollemberg, Paulo Paim, Cristovam Buarque, Pedro Taques, Magno Malta, ao longo do dia e da noite, permaneceram no plenário”. E quero destacar isso aqui, não os nossos nomes; nós estamos aqui cumprindo a nossa obrigação.

            O Movimento Passe Livre soltou uma nota dura contra a quebradeira, contra a truculência, contra a violência, dizendo que aquele não é o MPL, não é o Movimento do Passe Livre. É um movimento, segundo dizem aqui, de oportunistas e até de fascistas. Estão se referindo àqueles que estão fazendo quebra-quebra.

            Senador Cristovam - aí a nossa discordância; temos uma discordância hoje -, a minha projeção é a de que nós chegamos a algo em torno de dois milhões de pessoas nas ruas de todo o País. Claro que é um dado positivo essa discordância. Falo que, só no Rio, com certeza, o número ultrapassou 500 mil pessoas, e houve movimentos em todo o País.

            Senador Cristovam, algo me procurou - eu, que estou tão entusiasmado... Quantas vezes eu fui àquela tribuna reclamar dos movimentos sociais, dos estudantes, da juventude, dizendo: onde estão os novos caras-pintadas, meninos e meninas, jovens que nos ajudaram tanto no passado e agora sumiram? E eles estão dizendo: “Estamos aqui; estamos na área; estamos em campo.” Estão aqui para ajudar aqueles que querem, de fato, uma democracia, como eu falo, com liberdade, com justiça e políticas que beneficiem todo o nosso povo e toda a nossa gente.

            Mas, Senador Cristovam, olha o que eu vou dizer aqui. Manchete do jornal digital Brasil 247: “Exclusivo: Inglaterra se oferece para Copa de 2014”. A alegação é de que o clima de instabilidade no Brasil faz com que a Inglaterra se apresente para dirigir e receber a Copa do Mundo de 2014.

            Não, não acontecerá isso! Nós faremos a Copa aqui! Ou a FIFA vai devolver os R$30 bilhões que investimos na Copa do Mundo? A FIFA vai nos responder? Não é só responder. Ela vai nos devolver os R$30 bilhões? Os estádios estão prontos. Isso é fato, é real. Eu tenho certeza de que a Copa vai ser aqui no Brasil e tenho muita esperança, inclusive, de que a gente seja, mais uma vez, campeão do mundo, sob a direção do maestro Felipão, lá do meu Rio Grande, o qual eu respeito muito, muito mesmo.

            Não, FIFA! Você impôs muita coisa ao Brasil. Você impôs a qualidade dos estádios; você impôs a questão da bebida - que nós éramos contra; você impôs a questão da meia-entrada - que nós queríamos garantir, e você era contra. Agora não venha com discurso fácil sobre um ato democrático e legítimo da juventude brasileira, que sai, pelos campos, pelas estradas, pelas cidades, pelas universidades, fazendo seu legítimo ato de protesto, exigindo mais investimento em educação, em saúde, em habitação, no transporte, na distribuição de renda. É legítimo! E nós resolveremos aqui dentro. Não precisa vir a Inglaterra dizer que a Copa será agora lá, porque no Brasil a democracia é plena. E que bom que a democracia é plena! Que bom que a gente pode dizer isso!

            Nós passamos por anos duros de ditadura. “Ditadura nunca mais!” E não vai ser a FIFA nem sequer a Inglaterra... Esta, inclusive, foi deselegante com o Brasil, num momento como este, em que nós estamos a discutir mais avanços para um povo que teve melhorias, sim, nos últimos 12 anos - e eu poderia até dizer nos últimos 20 anos. Mas esse povo entende que podemos avançar mais. E é legítima a mobilização, e não tem que vir nem FIFA, nem a Inglaterra dizer se agora a Copa vai ser ou não vai ser aqui. A Copa será aqui! E repito: ou vão nos devolver os R$30 bilhões que já foram investidos?

            Sr. Presidente Senador Cristovam, eu quero, nesta minha fala curta, somente dizer que eu não sou daqueles que prega o apocalipse. Pelo contrário, repito: é um momento mágico. E repito ainda o que disse ontem, aquela frase histórica de Mandela: se querem me ajudar, pressionem o Executivo, pressionem o Legislativo, pressionem o Judiciário. E ele disse isso em um estádio de futebol lotado por líderes dos movimentos sociais, estudantes, sindicalistas, aposentados e pensionistas.

            Estive na África do Sul e sei a importância que foi a pressão popular para que lá, no governo de Mandela, houvesse avanços. Aqui não será diferente! E, para aqueles que dizem que o movimento não tem líderes, eu queria responder: esse movimento tem líderes sim, e os lideres surgirão do seio do nosso povo, se apresentarão e, com certeza, no amanhã, no futuro estarão aqui na nossa democracia, no Senado da República, na Câmara dos Deputados, na Câmara de Vereadores, nas Prefeituras e, oxalá, não sairá dessa caminhada natural alguém que, no futuro, pode ser presidente ou presidenta da república.

            A vida é assim, Senador Cristovam! Eu venho do movimento sindical, um operário, metalúrgico de Canoas, filho de pai e mãe analfabetos, que ganhavam ambos salário mínimo para sustentar dez filhos. E foi, num movimento como esse, que nós todos - e, eu diria, nós todos que viemos dessa faixa da população - surgimos. E não surgimos automaticamente como líderes nem estou dizendo que somos líderes; surgimos de forma natural, fomos sabendo caminhar com o povo, sendo dirigido, mas ajudando a dar direção. E, hoje, estamos aqui no Senado da República.

            Esse movimento não é em vão nesse aspecto de liderança. As lideranças que foram sufocadas durante um período...

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - V. Exª concede um aparte?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Já vou lhe passar a palavra, Senador Magno Malta.

            Com certeza muitas lideranças foram sufocadas. Houve um período em que era proibido surgir lideranças. E que bom, com sangue, com alma, com coração... E, quando eu digo sangue, é aquilo que vem do sangue da gente. essa vontade de fazer, essa vontade de acertar, essa vontade de produzir, essa vontade de querer e dizer: nós podemos. É essa moçada que está dizendo isso.

            Ah, como é bom! Tristes eram os dias que nós íamos para aquela tribuna, olhávamos para as galerias, olhávamos para as ruas e não víamos ninguém em mobilização, como se, de fato, o gigante estivesse adormecido. O gigante não está adormecido; está acordado, está vigilante e está exigindo melhoria na qualidade de vida de todos os brasileiros. E isto é muito bom! Ruim seria se eles estivessem simplesmente a dormir ou a caminhar sem saber para onde ir. Eles sabem para onde vão! E a internet está ajudando. Que bom!

            Senador Magno Malta.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Senador Paim, quero cumprimentá-lo e cumprimentar o nosso Presidente em exercício, o Senador Cristovam Buarque. Senador Paim, V. Exª, de bom tom, na manhã de sexta-feira, faz algumas referências, traz à luz fatos, dados que são importantes, em função das manifestações que começaram há 15 dias em São Paulo. Eu queria, mais uma vez, dizer, até para respeitar o movimento e não descaraterizá-lo, que é preciso que a lei seja dura com os baderneiros, que a lei seja aplicada, até porque, daqui a pouco, as famílias que foram para a rua com os seus filhinhos no colo não vão querer ir mais, com medo desses baderneiros. E, aí, alguém me diz: por que o movimento pacífico permitiu isso? O movimento pacífico não tem como segurar baderneiro.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Li aqui uma nota do próprio movimento para diminuir a passagem condenando aqueles que estão fazendo o quebra-quebra.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - O Movimento Passe livre já! Não é?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Exatamente.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - E esses baderneiros estão realmente possuídos. Você vê a fúria, a violência com que eles agem, com que quebram, com que incendeiam. Se um pacifista desse se aproximar para pedir calma, é capaz de ele ser trucidado também. O Tribunal de Justiça do meu Estado ficou destruído. Vejam que esses baderneiros infiltrados não têm limite. Não me diga que foi o movimento; não me diga que foram os manifestantes. Foram os manifestados, mas eles foram filmados. Veja o que fizeram aqui com o nosso Itamaraty, que é um símbolo de paz, de convivência entre os homens. Você, quando faz diplomacia, você o faz para evitar guerra, é para dirimir conflitos, é um símbolo das nações, da vida, da sociedade. Eles foram lá e tocaram fogo, quebraram vidraça> E você percebe todos eles com uma mochila nas costas, quer dizer, aquilo já vai cheio de coisa, cheio de pedras e tal. Então, é preciso realmente que esses baderneiros sejam punidos de forma exemplar, até para se salvaguarde o movimento e os pacifistas e aqueles que vieram reivindicar direitos. Não têm concordância, não têm apoio esses baderneiros que foram para a rua tentar descaracterizar o movimento de qualquer maneira. Vi a tropa postada, soldados com as mãos para trás, a tropa agrupada para impedir a invasão, e um baderneiro sem camisa com o delo no nariz de um policial. Agora, você imagine: um pai de família que está ali, muitas vezes mal remunerado, sujeito a tomar uma pedrada e ter que ouvir palavrões, palavra de baixo calão de um menino qualquer, com o dedo no nariz dele. Agora, ai dele se tocar a mão, porque aí viram para cima da polícia, que é grossa, que é despreparada, que é a polícia que não sabe tratar. A mídia já ensinou à sociedade que ela tem dois bodes expiatórios para jogar os problemas dela: a polícia e os políticos. Ai desse policial e muitos deles feridos... Queremos aqui nos congratular, Senador Paim, com os policiais do Brasil. A despeito de tudo que houve, no momento em que eles tiveram que ser mais duros para conter baderneiros, a polícia do Brasil fez um belo e bom trabalho. V. Exª falava sobre o Sr. Blatter, que aqui tem mais poder do que o Supremo, do que o Parlamento; tem mais força do que a Presidente da República, porque o que ele impôs e o que ele disse é o que tinha que acontecer, porque, senão, não teremos essa festa magnífica. Quero ver essa festa magnífica quando acabar isso! Esses elefantes brancos de bilhões que foram erguidos! E você não vai respeitar uma população que levanta cartazes na rua e diz: se você precisar de hospital leve seu filho no estádio, porque o dinheiro do hospital não tem, o dinheiro para fazer a manutenção do posto de saúde também não tem. Até porque é fácil você construir posto de saúde e hospital; o difícil é a manutenção, é o dia a dia, é fazer funcionar - e não estão funcionando. O dinheiro foi para o estádio, para a mobilidade urbana para a Copa, porque nunca se tem mobilidade urbana - e há mesmo muita dificuldade - no dia a dia do cidadão brasileiro. E você vai me dizer que não tem legitimidade? Tem legitimidade sim. Estava falando agora com um jornalista ao telefone, chamando atenção, e acabei de mandar os documentos: as duas medidas provisórias que desoneraram o setor e que deveriam ter sido passadas imediatamente - o que seria um golaço maravilhoso - veja a desatenção do governo. Ora, se você faz uma medida provisória como essa e desonera o setor, você dá aos caras 30 dias para eles repassarem isso para o consumidor. Se não repassar, vai ter problema. Faz duas medidas provisórias, desonera em quase 8%, conforme V. Exª leu ontem, e eles, além de não repassarem, ainda aumentam o preço da passagem. Quer dizer, deram 2000%! Coisa de gatunagem mesmo, de malandragem! Agora, existem conselhos tarifários. Como foi que os gestores permitiram isso sabendo que o benefício já havia chegado? Por isso que digo: se, no primeiro momento, a Presidente vai para a televisão e fala à Nação, aos jovens, àqueles que usam ônibus, às pessoas que não têm carro, que dependem de ônibus, de trem de metrô, e diz que desonerou 8%, eu desonerei. Então, por que eles subiram o preço? Agora estão dizendo que está reduzindo. Não estão reduzindo não. Eu estou vendo lá R$0,50, R$0,10. Vejam: eles receberam 8%! Eles estão desonerando o que eles aumentaram. Há uma coisa errada nisso, e aí eu quero chamar a atenção do Ministério Público, o Ministério Público, que está aí clamando contra a PEC nº 37. Nós precisamos dizer ao Ministério Público, que é uma instituição que tem valor para este País, que agora é a hora do Ministério Público. Eu estou provocando. Se tiver que provocar por escrito, farei. E o governo precisa também provocar o Ministério Público. Dr. Gurgel, o senhor precisa tomar uma atitude, Promotores do Brasil, e notificar as empresas de ônibus do Brasil, dizendo: "Há um documento aqui, vocês foram desonerados em 8%. Então, como é que vocês levantaram o preço?" Eles precisam explicar, e os gestores também precisam explicar, porque, senão, nós não teríamos necessidade dessa história de que baixou R$0,20, R$0,10. Há dente de coelho nisso, pelo amor de Deus! E esta é a hora do Ministério Público, esta é a hora do Ministério Público. E quero ressaltar, Senador Paim, ainda, que V. Exª, quando estava falando do Sr. Blatter, que tem um poder danado, o Presidente da FIFA, que manda e desmanda, nós enfrentamos aqui a bebida alcoólica - eu, V. Exª, com discursos noite adentro...

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - E a meia entrada que eles impuseram também.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Sim, a meia entrada. E a bebida? O drama do Brasil não é crack, não! Eu conheço este assunto. O drama do Brasil é bebida alcoólica. Nós vivemos numa sociedade hipócrita; numa sociedade que consome álcool a rodo, numa sociedade bêbada, numa sociedade de fumantes, e que quer que você resolva o problema do crack da noite para o dia, como se o nosso problema fosse esse. Nosso problema é bebida alcoólica. E nós enfrentamos isso, para não ter nos estádios, e fomos derrotados aqui. Fomos derrotados pelo Sr. Blatter, que disse que tem que vender bebida nos estádios sim. E nós fomos derrotados aqui. Olha que hipocrisia! Olha que loucura! E olha só, ele agora é técnico do meu Flamengo - sou flamenguista -, mas o Sr. Mano Menezes, quando era técnico da Seleção - é gaúcho também, não é, o Mano Menezes? -, virou garoto propaganda de cerveja. Que exemplo é esse? Que exemplo é esse? A bebida alcoólica é a porta de todas as desgraças. O maior número de órfãos que este País tem são filhos da bebida alcoólica. O maior número de órfãos, de jovens paraplégicos, tetraplégicos, que estão no Sarah, que estão em casa, imobilizados, tentando tratamento. É a bebida alcoólica! Ora, e o técnico da Seleção Brasileira virou garoto propaganda de bebida alcoólica?! O que nós estamos querendo com isso? E, aliás, os grandes patrocinadores, a própria publicidade que o Ronaldo Fenômeno faz hoje, junto com o Vampeta, com o Cafu, com não sei quem, antes de começar o jogo da Copa, é de bebida alcoólica. E nós estamos querendo resolver problema de cocaína, problema de crack, como se isso fosse o diabo da sociedade? Nós precisamos começar é pela raiz, que é a bebida alcoólica. Mas a FIFA pode tudo, a FIFA atropela tudo, e depois o seu Blatter vai rindo... Aliás, todos esses diretores da FIFA estão enrolados nos tribunais internacionais.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Todos eles estão envolvidos com corrupção. Então, tentar dizer que o movimento... Eu nem sei dessa nota, eu ouvi falar - e ouvi V. Exª agora - dessa reclamação de que os movimentos podem prejudicar a Copa das Confederações, podem prejudicar a Copa do Mundo.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Não, eu não disse nada disso.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Hein?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Eu não disse nada disso.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Não, eu li uma nota.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Ah, tá.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Eu não sei se V. Exª está falando dessa nota.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - O que eu li aqui, Senador, foi uma nota do Brasil 247, que diz, em seu final, que perder a Copa para a Inglaterra depois de gastar R$30 bilhões na construção das arenas e ainda em outros investimentos para o torneio teria um impacto devastador, seria uma demonstração de fracasso coletivo do Brasil como nação. Mais grave ainda seria...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - ... a transferência para a Inglaterra, que já se apresentou querendo (Fora do microfone.) assumir, no lugar do Brasil, a Copa. O que eu disse? Gastamos 30 bilhões? Os estádios estão prontos? Não, Inglaterra! Não, FIFA! A Copa será aqui! A Copa será aqui!

            Depois que tudo aconteceu, a nossa questão interna nós vamos resolver, sabendo valorizar a nossa juventude, que protesta legitimamente. O que nós questionamos, e V. Exª também, é a quebradeira, a truculência, a violência, os vândalos. Isso nós repudiamos. Agora, querer dizer que, por causa de um movimento interno, vão levar a Copa para a Inglaterra, que, para mim, de forma oportunista, não deveria nem ter se apresentado, faz aqui essa proposta.

            Não, FIFA! Não, Inglaterra! A Copa será aqui e nós resolveremos as nossas questões internas atendendo as demandas da nossa juventude.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Como se eles tivessem moral e autoridade para falar em baderneiro. Eles se esqueceram dos hooligans? Eles não têm moral para falar em baderneiro. Aliás, baderneiro, inconseqüente, isso há no mundo inteiro. Ou eles se esqueceram daquele inconsequente que tirou o nosso corredor de longa distância que estava chegando para cruzar a fita, abraçando-o, jogando-o lá do outro lado e fazendo com que ele amargasse o terceiro lugar? Baderneiro, maluco, inconsequente, endemoniado, isso há em qualquer lugar. Eles se esqueceram dos hooligans? Como se eles tivessem, lá, nas ruas, só gente de bem, pacifistas. Baderneiro há em todo lugar: aqui, na Inglaterra, na Suíça, no Japão, em todo lugar. V. Exª está correto. Eu estava me referindo a uma nota que eu li, hoje, pela manhã, tratando desse assunto. Quando eu vim para o plenário, V. Exª estava falando exatamente disso. Ora, Senador Paim, achar que a culpa é do movimento? Não! Não! Quem está reivindicando aqui, internamente, e é problema nosso, está reivindicando os seus direitos, está reivindicando os seus direitos, o que fez de forma pacífica. Avalie se nós tivéssemos aqui meia dúzia de hooligans da Inglaterra no meio dessas nossas passeatas. Talvez tivessem destruído o Brasil, porque o procedimento, o comportamento que se conhece desses jovens beberrões é absolutamente pior do que o que nós já vimos aqui. Então, comungo perfeitamente com V. Exª, abraço e acolho todas as palavras lidas e comentadas por V. Exª, como acho que assim também o Brasil inteiro. Não tem ninguém, aí fora, que não esteja fazendo coro, condenando baderna, como nós aqui - todo mundo, todo mundo -, fazendo coro com essa movimentação do bem. Agora, às nove horas, iniciou-se a reunião da Presidente com os seus Ministros e líderes. Eu fico me perguntando se os líderes vão chegar para efetivar, porque nós estamos, aqui, debatendo redução da maioridade penal, debatendo de uma forma de brincadeira. Senador Cristovam, o debate está sendo feito nas segundas-feiras. Não tem ninguém aqui na segunda-feira. Não vem nem quem convoca. E o debate é feito pelo Interlegis. Meu irmão, quem é, da população do Brasil, que vai debater pelo Interlegis? Que vai debater redução da maioridade penal pelo Interlegis? O povo está na rua, trabalhando. O carro está sendo roubado na rua, as pessoas estão no ponto de ônibus, na frente da faculdade, na frente da escola... Hoje, fala-se em duas coisas nos jornais: fala-se no movimento e em crimes cometidos por menores neste País. Os jornais falam de duas coisas hoje: do movimento e da violência desses homens travestidos de crianças. Ora, são 97% do País, e fica esta Casa, aqui, fingindo que...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - ... está debatendo. Fingindo! Quem está aqui na segunda-feira? Só quem mora aqui, quem vem para cá fazer discurso e falar com a Nação, mas mesmo sem painel. Debater redução da maioridade penal numa segunda-feira? Isso é uma piada de mau gosto! No Interlegis? Quem é que vai entrar em Assembleia Legislativa? O povo está trabalhando, nem os Deputados estaduais estão lá, no Brasil. E estão debatendo um meio-termo. A palavra é meio-termo. Que meio-termo? De quê? Não tem meio-morto, não tem meio-assassinato, não tem meio-estupro, não tem meio-sequestro, não tem meio! Tem sequestro, tem estupro, tem morte, tem violação de direitos. Reduzir de 18 para 16 anos para que, hein? É tentando contar uma mentira inteira como se fosse verdade para a sociedade? A sociedade não vai engolir isso, não, Senador Paim! Todo mundo sabe, V. Exª sabe... Tem filhos, eu também... Minhas filhas, com 16 anos, estavam feitas. Eu, com 16 anos, era um homem feito. Aliás, já o era desde os 13 anos. Desde os 13 anos.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Encerro a minha participação com V. Exª. Estão nos jornais hoje as movimentações pacíficas, os baderneiros e a violência dos filhos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Eu agora vou chamá-los de filhos do ECA, afilhados de Rita Camata. Filhos do ECA estão nas ruas saqueando. Aliás, tem uma identificação, e terá uma surpresa, viu, Senador Cristovam? A Polícia vai revelar, nos vídeos - eu já tenho informação -, que os saques, quase todos, foram feitos por menores. Menor não, homem travestido de criança, tocando o terror, se aproveitando desse momento. E nós vamos ficar parados aqui, vendo isso, sem tomar uma posição? Então, é o que está nos jornais hoje, que o povo estava na rua com faixas dizendo “redução da maioridade penal já”, reivindicando direitos, transporte, educação, saúde. A Presidente está reunida hoje, mas ela perdeu a oportunidade de ir para a televisão e dizer “olha, se não fizemos tudo, nós avançamos. Foi feito isso, isso, isso e isso.”

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Nós acreditamos que ela irá, Senador.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Hein?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Nós estamos acreditando que, dessa reunião, a Presidenta falará à Nação.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - É falar à Nação “tem coisa por fazer, mas isso foi feito”, e não tentar tapar o sol com a peneira, não é, Senador Paulo Paim? A gente sabe que, em 1992, quando o Fernando Henrique deixou o País com 11 milhões de desempregados, uma dívida homérica com o FMI, havia 18 milhões de irmãos nossos que nunca beberam um copo de água gelada, porque não tinham energia elétrica, que havia 40 milhões de miseráveis. Não há nenhum demérito em ser pobre. Jesus disse aos pobres “sempre tereis convosco”. Demérito é miséria. Mas 30 milhões saíram da miséria e emergiram, são o que hoje os colunistas chamam de pobres emergentes, que vivem no shopping, viajam de avião, têm máquina de lavar em casa. Nós sabemos que o País avançou. A Presidente pode mostrar isso e dizer assim: “Avançou tanto que eu desonerei 8% aqui, porque eu sabia que não podia subir o preço da passagem e eles subiram”. E nós vamos corrigir esse crime, porque isso é um crime. E aí eu chamo novamente o Ministério Público. Chamo novamente o Ministério Público, Chamo novamente. Se vier Promotor ou Procurador agora ao meu gabinete - são meus amigos -, eu vou dizer assim: “Estão querendo reunir sobre a PEC nº 37 de novo? Vamos embora reunir”. Cadê vocês nesse episódio? Cadê? Eu estou provocando. Por que não foram a esses empresários, notificá-los, dizer a eles: “olha, vocês vão devolver o dinheiro, porque foi repassado para vocês e vocês não repassaram para o consumidor?” Obrigado.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Esse foi o Senador Magno Malta.

            Sr. Presidente, eu vou terminar a minha fala, se V. Exª permitir... Eu já fiz isto diversas vezes lá no meu Rio Grande. Vou ao meu Rio Grande, pego a letra de uma canção bem gaudéria, Senador, lá dos nossos pagos, e acabo não a declamando, porque não tenho esse dom, mas apresentando-a na tribuna quando entendo que o momento é adequado. Essa canção, de autoria de Nenito Sarturi, Cláudio Patias e Nelcy Vargas, tem o título “Um Pito”. Eu quero que a nossa juventude entenda que esse Um Pito é, na verdade, uma conversa do pai com o filho. Ele diz:

Olha guri

Repares [bem] o que estás fazendo

Depois que fores é difícil de voltar

Aceite um pito e continues remoendo

Teu sonho moço desse rancho abandonar [ou seja, persiga teu sonho]

Olha guri

Lá no [seio do] povo é diferente

E certamente faltará o que tens aqui

E só te peço não te esqueças de tua gente

De vez em quando manda uma carta [para casa] guri

Se vais embora por favor não te detenhas

Sigas em frente não olhes para trás

Que assim não vais ver a lágrima existente

Que molha o rosto do teu velho meu rapaz

Se vais embora por favor não te detenhas

Sigas em frente não olhes para trás

Que assim não vais ver a lágrima existente

Que molha o rosto do teu velho meu rapaz

Olha guri

Pra tua mãe cabelos brancos

E pra este velho que te fala sem gritar

Pesa teus planos eu quero que sejas franco

Se acaso fores pega o zaino [que é um cavalo] pra enfrenar

Olha guri

Leva uns cobres de reserva

Pega uma erva pra cevar teu chimarrão

E leva um charque que é pra ver se tu conservas

Uma pontinha de amor por este chão

[...]

Se vais embora [aí termina] por favor não te detenhas

Sigas em frente, não olhes para trás

Que assim não vais ver a lágrima existente

Que molha o rosto do teu velho meu rapaz.

            Senador Cristovam, por que eu li? Quando ouço essa canção, interpretada por um cantor ou por uma cantora, sinto como se o pai ou a mãe falasse com o menino o seguinte: não abre mão dos teus sonhos. Não esquece o chimarrão, nem o chão em que tu nasceste. Mas vai em frente, continua firme. O teu sonho pode se tornar realidade. Olha para trás. Ou não olhes para trás, porque, se olhares, vais ver as lágrimas caindo de saudade dessa querida juventude, meu guri, meu rapaz.

            Era isso, Senador Cristovam. Termino deixando essa homenagem à juventude brasileira, lembrando que os pais e as mães estão torcendo por eles. Eles sabem que essa juventude está lá lutando também por eles. Aí as bandeiras são aquelas que todos nós conhecemos.

            Obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2013 - Página 39065