Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa dos movimentos sociais, em referência aos movimentos de protesto que têm ocorrido em todo o País.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Defesa dos movimentos sociais, em referência aos movimentos de protesto que têm ocorrido em todo o País.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2013 - Página 37971
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PAIS, BUSCA, REDUÇÃO, PREÇO, PASSAGEM, MELHORIA, TRANSPORTE, INVESTIMENTO, SAUDE.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Vanessa Grazziotin, é uma satisfação falar novamente deste tema de que já falei ontem, falei na quarta, falei na quinta. E V. Exa me fez um brilhante aparte.

            Sra Presidenta, há muito tempo, não víamos neste País manifestações como essas que estão ocorrendo. Quero dizer que eu entendo que é legítimo. Faz parte da democracia, e eu diria que é necessário.

            O mais interessante nisso tudo é que essa movimentação tomou forma no seio da juventude.

            Nós aqui reclamávamos tanto que a juventude estava parada, como se anestesiada, e aí está a juventude fazendo o seu protesto. Sim, essa mesma juventude, esses mesmos jovens que ainda há pouco eram acusados de terem perdido a capacidade da indignação.

            Sra Presidenta, a história tem seu curso. A história derrubou muros, derruba muros; segue rumos que muitas vezes não estavam traçados por ninguém. É isso o que está acontecendo aqui no Brasil.

            Ela dá voltas, sufoca os gritos e os gemidos daqueles que ousaram um dia falar, com a voz do coração, que esta terra ainda tem dono e, assim, reconstrói-se a história. E eu me lembro de Sepé Tiaraju.

            Srª Presidenta, isto que está ocorrendo nada mais é do que a explosão dos tambores que outrora ecoavam exigindo o fim da Ditadura, exigindo Diretas Já, a geração de empregos e melhores salários.

            Enfim, essa é a história da humanidade no Brasil e no mundo. Por isso, não vamos, como alguns estão fazendo, pregar o Apocalipse.

            Até pode haver quem discorde do ponto de vista dos manifestantes. Isso também é legítimo e é democrático.

            A Constituição cidadã de 1988, de cuja construção eu tive a honra de participar, garante o direto de livre pensamento, expressão e manifestação.

            Por isso, Srª Presidenta, eu sei que V. Exª concorda. Portanto, não me venham com a ideia de criminalizar os movimentos sociais. E digo mais: muito menos de confundir - e V. Exª foi feliz aqui, Senadora - a truculência de alguns, o vandalismo de alguns com a grandeza das manifestações, que são, na verdade, lideradas pela ampla maioria, aliás, tática de querer criminalizar a atuação de alguns com a marcha, a caminhada, a passeata de São Paulo de mais de cem mil, usando termos para confundir a população. Ninguém vai aceitar isso.

            Deixem, deixem a nossa juventude mostrar ao País com que cores ela quer pintar a aquarela brasileira!

            O movimento busca a redução do preço das passagens, melhores condições dos transportes coletivos, a famosa mobilidade. Almejam também, com suas bandeiras de luta, mais investimentos em saúde - isso é ruim? Claro que não! -; mais investimentos em educação - é ruim? É bom! -; mais emprego - é ruim? Não, é bom! -; mais segurança. Claro que é bom!

            Há algo errado nisso? Claro que não.

            Do mesmo modo, Srª Presidenta, eu poderia aqui dizer que o Governo tem a legitimidade de demonstrar comparativamente, com números e pesquisas, que o nosso País avançou muito nos últimos dez anos, doze anos, mas tem consciência de que muita coisa ainda precisa ser feita. Fizemos muito, mas há muito por fazer, e assim é a democracia.

            Queria muito - ah como eu gostaria! - que este movimento se alastrasse abraçando outros movimentos.

            Gostaria que ele fosse espelho, não a mostrar novos caminhos, mas a semear e a colher, como a história nos ensina a consciência da indignação.

            Queria ver milhões de brasileiros rufando tambores nas ruas e nos campos, nas cidades, nos bairros em alto e bom som para serem ouvidos por aqueles que detêm o poder.

            Queria ver, sim, o nosso povo bradando - claro que gostaria, e estaria mentindo se dissesse que não; e não venho à tribuna para mentir - pelo fim do fator previdenciário, que confisca a metade do salário do trabalhar depois de trinta, trinta e cinco anos de contribuição.

            Queria ver, sim, o povo bradando pelo reajuste real para os aposentados e pensionistas, pelo fim do voto secreto no Parlamento.

            Queria ver o encontro de gerações. Queria ver os jovens que vi ontem, de "cara limpa" junto com os "cabeças brancas”, mas com cicatrizes no peito e na alma.

            Srª Presidenta, no ano de 2006, eu escrevi um livro de memórias, com o título de O Rufar dos Tambores. Ali eu conto um pouco da nossa caminhada na vida política do nosso País, e passamos exatamente por momentos como este.

            Em todos os momentos decisivos do Brasil - Campanha da Anistia, Fim da Ditadura, Diretas Já, entre outros - a participação da sociedade, dos movimentos sociais, dos jovens, foram decisivos. Só se alcança algo de bom, algo que mude a vida das pessoas, que transforme o País, com a participação das pessoas, no dia a dia, exigindo seus direitos.

            Srª Presidenta, durante toda a minha vida, eu fui embalado pelo som das ruas, dos portões das fábricas, dos colégios, dos campos, das paradas de ônibus, das vilas; pelo som também das florestas; pela voz do povo a tocar seus tambores a exigir um país melhor para todos.

            Presidenta Vanessa Grazziotin, cheguei a pensar, muitas vezes, se não estava perdendo a condição de entender o presente, mas, agora, tenho certeza que não: o presente está aqui, aqui às portas do Congresso, nas Capitais ou mesmo lá, em Novo Hamburgo, uma cidade onde, embora não esteja ligada à Capital do Estado, ontem estavam 20 mil pessoas protestando.

            Srª Presidenta, dou-me o direito, mediante essa história, de aqui fazer algumas reflexões: será que os governantes e os partidos políticos não se afastaram dos movimentos sociais? Infelizmente, infelizmente, acredito que sim. Parece-me que pecamos por construir uma estrada de mão única, e não adianta dizer: “não, recebi os movimentos”. Receber os movimentos e não atender o mínimo da pauta não representa nada. Não há como negar, Srª Presidenta, que, infelizmente, neste País, se desconhece a realidade do estudante, a situação dos aposentados e dos pensionistas ou não se quer reconhecer.

            Srª Presidenta, ainda esta semana, um jovem me disse a seguinte frase: “O meu pai, Paim, deu a sua vida pelo País, trabalhou de sol a sol, e o que ele ganhou? Qual o seu reconhecimento?” E ele dizia: “Estou no movimento, sim, fazendo por mim e por ele”.

            E acrescento algumas palavras do poeta que disse: “Meu velho, meu querido velho, agora já caminha lento, como perdoando o vento, mas eu sou o teu sangue, meu velho, teu silêncio e o teu tempo”.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Srª Presidenta, também temos que ter clareza de que, queiram ou não, algumas ações foram feitas pelo Governo Federal: as taxas de energia foram reduzidas, principalmente para os empresários. Qual foi a contrapartida? Não aconteceu. Houve desoneração da folha de pagamento. Ocorreu contrapartida? Não! Os tributos da cesta básica foram reduzidos, e o resultado: os preços dos alimentos subiram. Houve subsídio para o transporte urbano, e o preço das passagens subiu. O plano de saúde dos aposentados subiu, e os seus vencimentos continuam pífios.

            Srª Presidenta, essas minhas reflexões vão na linha de dizer "fizemos muito, mas temos muito ainda por fazer."

            Essa...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - ... movimentação, essa mobilização... E, aí, eu termino, Srª Presidenta. (Fora do microfone.)

            Essa mobilização, que envolveu em torno de 300 mil pessoas, foi a maior manifestação que eu vi neste País num único dia. E nós sabemos que vai continuar. Não vai parar por aí. Por isso, fica aqui o meu pedido, fica aqui, de forma respeitosa e carinhosa, a todos que estão nessa mobilização e aos outros que vão entrar: digam sempre não à provocação, não à violência.

            E aqui vai meu apelo aos palácios de Brasília, aos palácios dos Estados, aos palácios dos Municípios: por favor, por favor, ouçam a voz do povo nas ruas. Esse movimento é um grito de alerta; é um grito em defesa da democracia; é um grito em defesa da justiça.

            É isso, Srª Presidenta.

            Agradeço a tolerância de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2013 - Página 37971