Discurso durante a 178ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem aos feitos do General Giap, ex-militar e político do Vietnã; e outros assuntos.

Autor
Inácio Arruda (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. HOMENAGEM, POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem aos feitos do General Giap, ex-militar e político do Vietnã; e outros assuntos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2013 - Página 71656
Assunto
Outros > HOMENAGEM. HOMENAGEM, POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, COMPOSITOR, POETA, BRASIL.
  • HOMENAGEM, GENERAL DE EXERCITO, COMBATENTE, EX MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO, VIETNÃ, COMENTARIO, BIOGRAFIA, CARREIRA, DEFESA, SOCIALISMO, COMBATE, CAPITALISMO, LUTA, EXERCITO, VITORIA, GUERRA.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco Apoio Governo/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Claro!

            Quero cumprimentar o Senador Suplicy pela iniciativa de manifestar aqui também o seu apoio a este grande brasileiro, Vinicius de Moraes, que soube tão bem compreender o sentimento do País, o sentimento político, econômico, social, e traduzir isso em textos espetaculares de poemas e músicas com muitos parceiros. Então, o Vinicius tem essa grandiosidade. Ele soube compreender e desafiar com o texto, com a palavra. É isso. No final, o tapete era estendido para que ele pudesse passar.

            Portanto, cumprimento o Senador Suplicy.

            Também quero dar os parabéns a V. Exª pela sensibilidade de compreender a necessidade de nós estarmos fazendo referência a um homem que teve essa compressão do Brasil e que expôs para o mundo o que era o Brasil, a sua realidade e essas coisas que acontecem.

            Hoje, homenageamos Vinicius, e a homenagem, com certeza, será a semana inteira, porque o seu centenário é no sábado. Então, a semana inteira vai ser a semana Vinicius, e poderemos, todos os dias, ler um texto seu.

            Eu não vou ousar fazer o que o Suplicy faz. O máximo que posso fazer é ler aqui as letras do Vinicius, e acho que todos os dias poderemos fazer isso e, talvez, nos ocupar com alguns trechos de O Operário em Construção, que é um poema fenomenal.

             E, exatamente fazendo referência a O Operário em Construção, V. Exª mesmo, um operário, metalúrgico, brasileiro, mas com a compreensão mais larga ainda do que simplesmente o gaúcho, o brasileiro, mas um homem da integração sul-americana, um homem do mundo, neste mesmo dia, hoje, a Embaixada do Vietnã deixou ali aberto o livro de condolências a um dos seus maiores homens, que foi o General Giap.

            Na brincadeira, o Lula perguntou-lhe o que significavam as três medalhas no peito, fazendo referência a um outro general que o acompanhava, que tinha quase dez ou mais medalhas. Na brincadeira, ele perguntou: “General, essas suas dez medalhas são o quê”? Ele disse: “Isso aqui é honra ao mérito”. “E a sua, Giap?” Ele disse: “A minha foi por três grandes guerras, em que eu tive que comandar o Exército Popular do Vietnã. Como eu venci as três, eu recebi por cada uma medalha. E pronto. Estava resolvido o meu problema”.

            Mas Giap é o estudante que participa do movimento estudantil; é o jornalista que faz o texto dos jornais revolucionários do Vietnã de libertação nacional; é o homem que participa da construção partidária no Vietnã. Ele milita permanentemente, desde a sua juventude até a sua morte, e, nesse período de vida de mais de 100 anos, ele teve que enfrentar essas três grandes guerras.

            Então, nós queríamos registrar, neste dia, Vinicius e Giap. Dois grandes. Um usando a pena, e o outro tendo que usar a própria baioneta para defender a sua pátria e o seu país.

            O General Giap é ex-membro do birô político do Partido Comunista do Vietnã, ex-Secretário do Comitê Militar Central, ex-Vice-Primeiro-Ministro Permanente do Governo, ex-Ministro da Defesa e ex-Comandante em Chefe do Exército Popular do Vietnã.

            O General Giap nasceu em 25 de agosto de 1911, na comunidade Loc Thuy. De 1925 a 1926, participou do movimento estudantil na cidade Hue. Em 1927, filiou-se ao Partido Revolucionário de Tan Viet, uma das organizações precedentes do Partido Comunista da Indochina - hoje, Partido Comunista do Vietnã. Em 1930, foi condenado a dois anos de prisão. Ao terminar a sentença, continuou atuando no movimento estudantil e da juventude. Em 1936, participou do movimento semilegal do partido, em Hanói. Trabalhou como redator dos jornais do partido: Trabalhadores, Nossa voz, Avante!, Bandeira Libertadora, entre os outros. Foi presidente do Comitê de Imprensa no Norte.

            Em junho de 1940, ingressou no Partido Comunista da Indochina. Em 1941, tomou parte nos preparativos para a insurreição armada nas áreas de montanhas de Cao, Bac, Lang. Em dezembro de 1944, criou o Grupo de Propagandistas e Libertadores do Vietnã. Em abril de 1945, integrou o Comitê Militar do Norte e, em maio, assumiu o cargo de Comandante das Forças Armadas. Em junho, fundou o Comando Provisório da Zona Liberada. Nesse mesmo ano, fez parte do Comitê Executivo Central do Partido e da Comissão Nacional de Insurreição.

            Ainda em 1945, tornou-se Ministro do Interior do Governo Provisório da República Democrática do Vietnã e membro da Comissão Executiva do Comitê Central do Partido. Em março de 1946, tornou-se o Presidente Militar e membro do governo aliado. Após a criação do Comitê Militar Central, foi designado seu Secretário. Em outubro de 1946, foi Ministro da Defesa e o Presidente Ho Chi Minh o nomeou Comandante Comum do Exército Popular e da Militância de Autodefesa do Vietnã. Em janeiro de 1948, alcançou a patente de general e o cargo de Comandante em Chefe do Exército Popular do Vietnã. De setembro de 1955 a dezembro de 1979, assumiu o cargo de Vice-Prímeiro-Ministro e de Ministro da Defesa. Em janeiro de 1980, foi Vice-Primeiro-Ministro Permanente; de abril de 1981 a dezembro de 1986, Vice-Presidente do Conselho de Ministro. Manteve simultaneamente o mandato de Deputado da Assembleia Nacional da primeira à sétima legislatura.

            Por suas grandes contribuições à obra revolucionária do partido e do povo, seu grande prestígio dentro e como fora do país, o General Giap foi condecorado com a Ordem da Estrela Amarela, a Ordem de Ho Chi Minh, a Insígnia de 70 anos de vida partidária e outras inumeráveis ordens, medalhas nobres vietnamitas e internacionais.

            O General Giap foi o protagonista da derrota dos dois maiores exércitos do mundo: o exército colonial francês, em 1954, pondo fim à dominação colonial do Vietnã, que já durava 98 anos; e o exército dos Estados Unidos, que invadiram o país após a expulsão dos franceses. Duas vitórias marcantes que inspiraram revolucionários de todos os continentes, que batalham pela construção de um mundo novo, sem explorados, sem exploradores, sem dominadores, em que as relações entre os países sejam de colaboração mútua e solidariedade.

            É muito importante destacar, Senador Paim, Senador Suplicy, Senadora Ana Amélia, Senador Gurgacz, essa figura extraordinária. Talvez a Academia, que distingue tantos com o Prêmio Nobel da Paz, tivesse de oferecer, post mortem, o Prêmio Nobel, pelo menos por duas vezes seguidas, a um homem que teve a capacidade de desenvolver a estratégia para libertar o seu país, primeiro, do domínio sanguinário francês; depois, do maior império militar da história de todos os tempos, os Estados Unidos da América. Derrotar aquela nação, que se utilizou, seguidas vezes, das armas mais terríveis que a humanidade já pôde imaginar, que foi a primeira a usar a bomba atômica, no Japão, por duas vezes, e, depois, as armas químicas, que usou abertamente no Vietnã. Quem não se lembra da imagem da criança pegando fogo, correndo pelas ruas do Vietnã, tentando se socorrer das armas químicas produzidas pelos Estados Unidos da América, que eram utilizadas na Guerra da Vietnã contra o povo vietnamita?

            Por tudo isso, o Prêmio Nobel deveria ser oferecido a este homem, a este general franzino, pequenino, mas um gigante em defesa do seu povo. E não há melhor maneira de defender a paz do que defender seu povo das atrocidades dos colonialistas e dos imperialistas.

            Por isso, quero render, em meu nome, em nome do meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, a nossa homenagem ao General Giap, a esse extraordinário comandante do povo, do seu povo, do povo da sua nação, dos vietnamitas, que, corajosamente, nunca se renderam. Disseram: “Nós não vamos deixar que a nossa nação seja dividida, seja enxovalhada por nenhuma potência; mesmo que a luta dure um longo tempo”, como foi a luta contra os franceses, de uma ocupação de quase um século. Mas eles resistiram e conseguiram vencer, meu caro Senador Suplicy, a quem ouço agora.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Senador Inácio Arruda. Ainda há pouco, eu relatei aqui como, aos 21 anos, fiquei persuadido de que nós deveríamos realizar uma batalha para a transformação do Brasil por meios que não fossem o da guerra revolucionária. Mas eu quero dizer que, quando V. Exª aqui nos traz a vida do General Giap, a forma como foi formando uma consciência de que não se poderia mais aceitar o domínio de outra nação tão poderosa, a França, e depois, dos Estados Unidos, que ali procuravam ajudar o Vietnã do Sul. Esse homem conseguiu, através de estratégias, enfrentar um poderio extraordinário, primeiro da França, depois dos próprios Estados Unidos, até que conseguiu unificar, ou contribuir para unificar o seu país, junto ao chefe Ho Chi Minh. Finalmente, hoje, o Vietnã do Norte e do Sul estão unidos numa nação que consegue progredir e que inclusive tem uma ótima relação conosco, brasileiros. Então, cumprimento V. Exª por esse registro tão importante que faz da vida do General Giap, que faleceu há poucos dias, lá no Vietnã.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco Apoio Governo/PCdoB - CE) - Eu é que agradeço a V. Exª.

            Sr. Presidente, requeiro à Mesa que o nosso pronunciamento - agora posso assim dizer, porque é meu, ilustrado com o aparte do Senador Suplicy - seja recebido como requerimento e destinado à Embaixada do Vietnã, como condolências e homenagem ao povo vietnamita, da luta de um bravo guerreiro.

            Senadores Suplicy e Paim, há alguns dias, relataram-nos a Presidente Dilma, o Presidente Lula e o Renato, Presidente do PCdoB, que os três, em visita à casa do Giap, à casa simples do general, perguntaram-lhe: “General, e a relação com os Estados Unidos? Vocês venceram o mais poderoso exército do mundo!”. E Giap disse: “Não, nós só queremos ser respeitados como povo independente, autônomo, que tem projeto. Os americanos, no Vietnã, são muito bem-vindos. O que nós não aceitamos são suas bombas. Bombas, nós iremos sempre repeli-las, mesmo que sejam do exército mais poderoso do mundo”.

            Eu acho que é uma lição também para todos nós, para o mundo inteiro, da bravura de um povo e de seus comandantes, e o Giap foi um desses comandantes.

            Por isso, reitero, Sr. Presidente, que V. Exª receba o meu pronunciamento como requerimento ao mesmo tempo de condolências e de homenagem ao povo vietnamita.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2013 - Página 71656