Discurso durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de visita realizada por S. Exª aos réus presos em decorrência da Ação Penal nº 470.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA.:
  • Registro de visita realizada por S. Exª aos réus presos em decorrência da Ação Penal nº 470.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2013 - Página 83590
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, VISITA, JOSE GENOINO, EX-DEPUTADO, LOCAL, PENITENCIARIA, DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, NECESSIDADE, REGIME SEMI ABERTO, SOLIDARIEDADE, SAUDE, RECLUSO.
  • LEITURA, DEPOIMENTO, FILHO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, RECLUSO, CONDENADO, CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente, companheiro Paulo Paim, Senador do Rio Grande do Sul e do PT; prezados Srs. Senadores e Srªs Senadoras, em primeiro lugar, quero aqui relatar o que aconteceu no domingo último.

            Eu recebi telefonemas de diversas pessoas do Brasil pedindo para que me preocupasse, sobretudo, com a saúde do ex-Presidente do PT, Deputado José Genoino, que estava detido em São Paulo. Ele próprio havia se entregado à Polícia Federal e se encontrava nas dependências daquele órgão. Também para lá se dirigiram José Dirceu e Delúbio Soares, que até ficaram surpreendidos, porque o diretor responsável, na Polícia Federal, informou que ainda não havia chegado qualquer determinação sobre a prisão dos três. Mas eles ali ficaram aguardando até que isso acontecesse.

            Foi, então, ao final da tarde de domingo, que recebi um telefonema da Miruna, filha de José Genoino, que, muito preocupada, angustiada, falou-me do risco que estava correndo seu pai. Eu até - estava programado - assisti ao show maravilhoso do Yusuf (Cat Stevens), acompanhado de meus filhos, que recomendo a todos. Hoje, no Rio de Janeiro, ele se apresenta, cantando músicas como Father and Son e a música com que ele denominou o seu show em homenagem ao Brasil, Peace Train (Trem da Paz). Ele veio aqui com esse propósito e, em todas as suas canções, foi extraordinariamente aplaudido.

            Logo em seguida ao show, telefonei, tentei falar com o Ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, e acabei falando com sua assessora, a Simone, que me informou das providências que o Ministro procurou tomar, inclusive de providenciar que um médico visitasse o Genoino e verificasse suas condições de saúde. Também estava preocupado com a transferência que iria acontecer, pois José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares foram encaminhados por avião até Belo Horizonte para, depois, virem a Brasília. Em Belo Horizonte, outros detidos entraram no avião.

            Explicaram que todos os servidores da Polícia Federal, seja em São Paulo, seja quando eles chegaram aqui, ao Complexo da Papuda, inclusive os outros detentos, tiveram uma atitude de muito respeito e civilidade para com os três, ao ponto de os detentos terem oferecido a eles - isso no domingo - lençóis e compartilhado alimentação, um gesto obviamente de civilidade e humanidade.

            Eu disse que procuraria visitá-los, o que fiz ao final da tarde de segunda-feira, quando eles já estavam sendo transferidos para outro lugar, que é o Centro de Integração e Reeducação, o chamado CIR, no Complexo da Papuda. Conversei com eles por algum tempo e solicitei - e agradeço ao Diretor do Complexo da Papuda, Sr. João Feitosa, por ter permitido -, em razão da condição frágil de Genoino, recém-operado do coração, que pudesse, sim, receber a visita de sua esposa Rioco e de sua filha Miruna, de sua outra filha e de seu filho, que logo ali chegaram. E tive a oportunidade de conversar com eles.

            Quero dizer que se trata de uma... Recebi inúmeras comunicações, algumas apoiando esse gesto e algumas pessoas criticando, mas quero aqui dizer, eu assumo, acho mais do que importante, que, tendo uma relação de mais 33 anos com essas pessoas, no momento de dificuldades, em que estão detidos, é mais do que natural que eu tenha ido visitá-los. Inclusive levei a eles cinco livros para que aproveitem bem o seu tempo, eu que sou a favor de que esses detidos tenham, sobretudo, penas alternativas ou que realizem efetivamente ações durante qualquer punição que lhes seja imputada, mas que sejam de compromissos, na medida em que puderem até transformar suas penas em penas alternativas, de serviços à comunidade. Eu seria muito favorável a isso.

            E quero dizer que José Genoino nos relatou que teve um problema - ele estava relativamente rouco e com um pouco de tosse. Ele nos contou que, de manhã cedo, quando tossiu, cuspiu um pouco de catarro com sangue, tal como havia acontecido logo após a cirurgia, o que era sinal evidente de que demandava cuidados, e que aquela viagem de avião poderia ter tido algum efeito. Ele inclusive não passou tão bem na viagem de avião. Mas, felizmente, ao lado de seus familiares, que, de forma muito comovida o abraçaram, então pudemos conversar.

            Ele estava relativamente, dadas as circunstâncias. O Diretor do sistema penitenciário nos disse que, no caso de José Genoino, foi explicado, inclusive por seu advogado, Sr. Grossi, que estava presente, a solicitação para que ele esteja na condição de prisão domiciliar para poder cuidar de sua saúde, como é próprio. O próprio Presidente do Supremo Tribunal, segundo foi anunciado, solicitou que o IML fizesse o exame de saúde.

            O exame de saúde de José Genoino concluiu que, de fato, ele precisa de cuidados específicos, medicamentosos e gerais, pois está com doença grave, crônica e agudizada e que é necessário controle periódico por exame de sangue e dieta hipossódica, ou seja, quando se reduz o consumo de sal, adequado aos medicamentos utilizados por ele.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Portanto, é necessário que se dê todo o cuidado devido. E é importante que o Supremo Tribunal Federal e o juiz responsável pela prisão de José Genoino e de José Dirceu definam logo o local onde vão cumprir o regime semiaberto. Tal regime permite, segundo o próprio Diretor da prisão ontem nos informou, que eles saiam cedo para realizar algum trabalho e estudar. José Dirceu mencionou que, podendo estudar, vai fazer um curso de mestrado.

            Eu gostaria aqui, Sr. Presidente, Senador...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... me permitir, rapidamente, de relatar o depoimento do filho de José Dirceu, que, acredito, é relevante que seja registrado e dado ao conhecimento de todos. Por Zeca Dirceu:

Um filho do Brasil

Falar que a prisão do ex-ministro José Dirceu foi resultado de um julgamento político, de exceção, pressionado pela grande mídia e que foi condenado sem provas, é quase uma obviedade [na opinião de Zeca Dirceu]. É discorrer sobre assunto que grande parte dos brasileiros já tem conhecimento. Hoje, pretendo me posicionar não como agente público, deputado federal ou ex-prefeito. Falo como filho mais velho de um homem que doou a sua vida pela transformação do nosso País. Falo pelas minhas irmãs, pelos meus tios, avó, mãe e filha, num momento em que a nossa família está sofrendo muito.

Meu pai tem 67 anos.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -

Nasceu em Passa Quatro, interior de Minas Gerais. Ativista estudantil, obcecado pela luta democrática, depois de ter sido exilado em Cuba, ficou refugiado clandestinamente no interior do Paraná, quando conheceu e se casou com minha mãe Clara. Tenho 35 anos e sou fruto desta trajetória de meu pai.

Tendo plena convicção sobre a sua inocência, quando sou questionado sobre o mensalão, sempre digo que não é da natureza de nenhum filho condenar o próprio pai. Quem já teve alguém a quem ama muito nessa situação de fragilidade, com certeza compreende o que estou falando. Especialmente, quando o direito de liberdade é retirado de quem sempre buscou um país onde todos fossem verdadeiramente livres política e socialmente, mesmo que para isso precisasse sacrificar a convivência com a sua própria família, como foi o caso do meu pai.

Estou me sentindo como a minha avó se sentiu há décadas quando viu seu filho preso, torturado e expulso do país pela ditadura militar.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -

Hoje com 93 anos, mais uma vez ela suporta todas as cenas. Parece história repetida! É uma sensação de muita tristeza e preocupação, mas ao mesmo tempo de uma certeza, a mesma que carregava vó Olga quando meu pai tinha vinte e poucos anos, de que só sairemos vitoriosos de mais esta situação, se enfrentarmos a tempestade com muita coragem.

            Presidente Paulo Paim, vou pedir que seja transcrito na íntegra, porque não quero desrespeitar o Regimento, em que pese a importância desta comunicação de um filho que ama o seu pai.

            Se me permite, vou só dizer suas últimas palavras:

E nós vamos continuar defendendo a democracia e os direitos igualitários, dando sequência a essa bela história moldada desde a década de 80. Com humildade, mas também com muita garra, não deixaremos a nossa estrela parar de brilhar!

            Peço a transcrição dessa comunicação na íntegra, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Um filho do Brasil, de Zeca Dirceu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2013 - Página 83590