Pela Liderança durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, falecido recentemente.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, falecido recentemente.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2014 - Página 125
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARQUITETO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, PROJETO, PREDIO, LOCAL, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero cumprimentar a todos que nos honram com a sua presença hoje, esperando votações importantes: o pessoal do Detran e o pessoal do QESA, da Aeronáutica. Espero que possamos apreciar todas essas matérias ainda hoje.

            Sr. Presidente, hoje faz oito dias da morte do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, um dos maiores mestres da arquitetura modernista brasileira, único pela genialidade precisa de integrar beleza, tecnologia e funcionalidade, sempre em profundo compromisso com a ética, com os baixos custos das obras, com o interesse coletivo, com o zelo irretocável com quem iria habitar as suas obras.

            Eu tive o privilégio de conhecer o Lelé, de conhecer a sua família, as suas filhas e tinha por ele uma profunda admiração.

            Os hospitais da Rede Sarah Kubitschek mostram bem essa sensibilidade rara de Lelé, que conseguiu unir arquitetura e saúde em perfeita simbiose.

            Com sedes em Brasília, Salvador, Curitiba, São Luís, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife e Natal, os projetos desses hospitais aproveitam luz e ventilação naturais para diminuir os riscos de infecção hospitalar, dispensando o uso de ar condicionado. Todos os pacientes do Hospital Sarah, aqui na capital, têm condições de tomar sol na medida necessária para o seu tratamento, pois os sheds das coberturas possibilitam a incidência controlada do sol nos ambientes.

            Lelé conseguiu operar com pequenas variações dentro de faixas de conforto ambiental relacionadas, por exemplo, com a temperatura, velocidade e umidade do ar, que são extremamente benéficas e estimulantes para a manutenção dos níveis de produtividade e de conforto dos usuários de suas obras.

            Em 1992, fundou em Salvador o Centro de Tecnologia da Rede Sarah, espécie de fábrica-escola destinada a projetar e executar obras da rede e novos equipamentos de tratamento, como a emblemática cama-maca, que facilita os exames e a locomoção do paciente, levando-o para as áreas verdes que sempre permeiam seus hospitais.

            Oscar Niemeyer costumava dizer: "Quem quiser projetar um hospital atualizado tem antes que conversar com o Lelé". O arquiteto até brincava que aprendeu tanto sobre Medicina que era capaz de ler um raio X e considerava-se o melhor médico dos males que enfrentava.

            Ele dizia: "É óbvio que tenho cardiologista e oncologista, mas quem dirige o tratamento sou eu." Poucos sabem, mas relação de Lelé com o programa hospitalar, que se tornou tão íntima, vem de um acontecimento fortuito, que foi um acidente de automóvel com sua esposa, em 1963. Por isso, conheceu o médico ortopedista Aloysio Campos da Paz, idealizador do Hospital Sarah Kubitschek, de quem se tornou grande amigo.

            Com a carreira iniciada nos canteiros de Brasília, Lelé nos deixa legados inestimáveis para a nossa Capital, além do hospital e do centro de reabilitação da Rede Sarah Kubitschek, Lelé assinou os projetos do Hospital Regional de Taguatinga, do Hospital Regional de Ceilândia, do Centro de Pesquisas Agropecuárias do Cerrado e, mais recentemente, do Beijódromo - sonho antigo deixado pelo amigo Darcy Ribeiro -, que é o memorial que abriga todo o acervo do antropólogo. O prédio foi definido como mistura de oca de índio e disco voador, hoje instalado na Universidade de Brasília, e segue os padrões construtivos criados pelo arquiteto.

            No entanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lamentavelmente, um projeto muito especial feito pelo Lelé para Brasília ainda não saiu do papel, que foi o projeto da nova sede da Fundação Athos Bulcão, outro gênio da nossa Capital, que atuou em profunda parceria e sincronicidade com Lelé.

            Os painéis de Athos Bulcão trazem vida aos ambientes internos dos hospitais da Rede Sarah Kubitschek e aos inúmeros projetos desenvolvidos com a técnica da argamassa armada de Lelé, que fez o projeto da nova sede da Fundação Athos Bulcão. A realização desse sonho de Lelé seria agora uma bela homenagem a ser feita a ele e ao eterno mestre Athos Bulcão.

            Além das obras aqui em Brasília, Lelé também fez os projetos da sede da Eletrobras, do Centro Comunitário de São Luís, do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia e dos Tribunais de Contas da União em Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Sergipe, Mato Grosso e Espírito Santo, entre muitos outros.

            Lelé também foi o criador de soluções para construções pré-fabricadas e em série. Segundo Oscar Niemeyer, foi o maior especialista em obras com pré-fabricados. Em viagem aos países do Leste Europeu, em meio à construção da Universidade de Brasília, especializou-se na fabricação e no uso de pré-moldados, aprimorando um método de trabalho desenvolvido a partir dos primeiros alojamentos para operários aqui na Capital, utilizando inicialmente a madeira e depois o concreto armado. Anos depois, criou a argamassa armada ou ferro-cimento. E assim ergueu edifícios modernos e singelos, transformando os pré-fabricados em obras de arte.

            Não bastasse ser gênio pelo refinamento criativo, estético e construtivo de seus projetos, Lelé sempre buscava reduzir os custos. O preço de muitas de suas obras custava a metade de um similar feito por empreiteira. Li sua entrevista à Folha, na qual afirmou que "não era só o uso de pré-fabricado que derruba o preço da obra, mas o conhecimento sobre as funções do prédio".

            Esse era o Lelé, uma unanimidade em suas virtudes, um homem de imensa capacidade generosa de sair de si e de colocar sua competência e sua arte de projetar e construir a serviço de obras públicas para programas sociais.

            Seu legado cultural é valiosíssimo para o País e sua riqueza humana, como homem afável que foi, sempre aberto ao diálogo e sempre antenado aos anseios coletivos e ao zelo com a humanidade, serão sempre a sua maior marca. Que seu exemplo de vida e de entrega com tanta dedicação e amor ao Brasil sirvam de conforto e alento para a sua família e sejam sempre uma referência norteadora para o nosso País.

            O Brasil e Brasília, Sr. Presidente, terão sempre para com Lelé um sentimento de grande gratidão e reconhecimento por seu espírito altamente inovador e solidário.

            Eram essas as palavras, Sr. Presidente, que eu, na condição de Senador pelo Distrito Federal e de uma pessoa apaixonada por Brasília, gostaria de dirigir a essa figura muito especial para todos nós do Distrito Federal, que é a figura do Lelé Filgueiras, homenageando-o.

            E quero aproveitar para cumprimentar também toda a sua família. Tenho certeza de que todos estão muito tristes com a partida do Lelé, mas todos têm também a consciência da importância que ele teve para a arquitetura brasileira e, por que não dizer, para a arquitetura mundial.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2014 - Página 125