Pronunciamento de João Capiberibe em 12/03/2015
Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Pesar pelo falecimento da Sra. Magda Zanoni.
- Autor
- João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
- Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Pesar pelo falecimento da Sra. Magda Zanoni.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/03/2015 - Página 198
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, MORTE, PESQUISADOR, CAMPO, REFORMA AGRARIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, é com uma grande tristeza que venho à tribuna homenagear Magna Zanoni.
Nesta terça-feira, faleceu, em Paris, Magda Zanoni, uma das principais pesquisadoras no campo da reforma agrária e agricultura familiar do País.
Perdemos uma grande amiga, e o Brasil, uma brilhante pesquisadora, reconhecida internacionalmente.
Lembro que, em 2013, durante a Semana da Solidariedade Internacional, que ocorreu em Paris, Magda foi homenageada pelo seu trabalho no Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), no qual atuava como colaboradora.
No evento, Magda recebeu o título de Diplomata Alternativo, concedido a personalidades acadêmicas que contribuíram para a pesquisa ligada aos problemas e desafios do desenvolvimento.
Magda Zanoni era bióloga e socióloga e acumulou, em vida, diversos títulos de pós-graduação, entre eles o de Doutorado em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade de Paris I - Sorbonne.
Um dos argumentos utilizados por Magda era que somente a reforma agrária permitiria resolver os problemas de alimentação no Brasil. Era uma critica aos organismos transgênicos como solução à fome.
Nos últimos anos, Magda fazia parte do Grupo de Estudos sobre Agrobiodiversidade do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que acompanha as reuniões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e produz informações sobre temas como agroecologia, agricultura familiar e biossegurança.
Magda também é autora e organizadora de publicações do Nead, que debate o uso e os impactos dos organismos geneticamente modificados, como “Transgênicos para quem?”, “Biossegurança e o Princípio da Precaução” e “Plantas geneticamente modificadas - riscos e incertezas”.
Para Magda, a solidariedade internacional se definia por valores, ações e trocas entre os seres humanos e entre países com o objetivo de trabalhar por um desenvolvimento com igualdade.
No Brasil ela observava que, nos últimos anos, houve um grande avanço nas políticas voltadas aos agricultores familiares e às populações tradicionais.
Ela viajou, em novembro de 2013, para ser homenageada na França pelo Crid, sigla em francês para Centro de Pesquisas e Informação para o Desenvolvimento, e não mais voltou ao nosso convívio, pois sua saúde foi se debilitando.
Passou o ano passado em idas e vindas entre seu apartamento parisiense e os hospitais, até que não resistiu e faleceu nesta terça-feira.
Magda era graduada em Ciências Naturais e Ciências Biológicas e Geológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Teve que continuar sua formação acadêmica na França em decorrência de um exílio forçado, em função de sua militância de resistência à ditadura militar e em defesa da redemocratização do Brasil.
Tornou-se Maítrise d’Écologie na Universidade de Paris Sud-Orsay (1969), Maítrise d’Etude deu Milieu, na Universidade Paris VII (1974), e, ainda, diplomada em estudos aprofundados da Escola de Altos Estudos Sociais, opção Ecodesenvolvimento (1976-77).
Em 1983, obteve o Doutorado em Sociologia do Desenvolvimento, na Universidade Paris I -Sorbonne.
Atuou como pesquisadora e professora do Instituto de Geografia, na Universidade Paris VIII, na área de desenvolvimento e meio ambiente, entre 1971 e 1987.
Em seguida, atuou como professora e pesquisadora da Universidade Paris VII, na área de Ecologia Geral, Ecologia Aplicada e na Unidade de Formação e Pesquisa de Biologia e Genética, entre 1987 e 1989.
Em 1990, foi aprovada em concurso e nomeada Maítre de Conférence na Universidade Paris VII, na área de Meio Ambiente, sendo promovida, em 1993, à categoria de Primeira Classe de Maítre de Conférence, onde se aposentou.
Atualmente, era pesquisadora do LADYS (Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição de Espaços), da Universidade de Paris Ouest Nanterre La Defense.
Rendo essa homenagem à Magda, na justa semana em que esta Casa reverencia a zoóloga Bertha Luz, reconhecida como a maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras pelo seu empenho pela aprovação da legislação que outorgou o direito às mulheres de votar e de serem votadas.
Coincidentemente, assim como Magda, Bertha formou-se em Biologia pela Sorbonne.
Rendo esta homenagem em nome de todos daqueles que, certamente, sentirão muito a sua falta, os seus amigos, e incluo-me no rol de amigos e reconheço o belíssimo trabalho realizado no campo brasileiro, especialmente na Amazônia. Foi uma das nossas colaboradoras, no Amapá, no desenvolvimento do nosso programa que buscava equilibrar a sustentabilidade econômica, a equidade social e a preservação do patrimônio ambiental de todos os brasileiros.
Que Deus a tenha e que conforte todos os seus amigos.
Muito obrigado, Presidente.