Comunicação inadiável durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o atraso na interligação do Estado de Roraima ao sistema elétrico nacional; e outro assunto.

Autor
Ângela Portela (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE. ENERGIA.:
  • Preocupação com o atraso na interligação do Estado de Roraima ao sistema elétrico nacional; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2015 - Página 228
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE. ENERGIA.
Indexação
  • REGISTRO, DIA INTERNACIONAL, AGUA, ANALISE, UTILIZAÇÃO, SUSTENTABILIDADE.
  • REGISTRO, ATRASO, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, LINHA DE TRANSMISSÃO, LIGAÇÃO, BARRAGEM DE TUCURUI, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), BOA VISTA (RR), ENFASE, APREENSÃO, FALTA, ABASTECIMENTO, AGUA, ENERGIA ELETRICA, MUNICIPIO, ALTO ALEGRE (RR), RORAIMA (RR).

            A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Apoio Governo/PT - RR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Amorim; Srs. Senadores; Srª Senadora, quero aqui registrar um momento de reflexão importante em nosso País.

            No último domingo, dia 22, tivemos a passagem do Dia Mundial da Água. Instituído em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), esse dia carrega consigo significado especial, que remonta à problemática crise hídrica no mundo.

            Sabemos que o volume de água no Planeta é estável há milênios, enquanto a população humana cresce, o que torna imprescindível a adoção de medidas destinadas a racionalizar o consumo de água.

            Aqui, no Brasil, a falta de água no Sistema da Cantareira, no Estado de São Paulo, que baixou a níveis nunca antes registrados, aliada à histórica seca no Nordeste e às enchentes que estão a se registrar no Norte - é o caso específico do Acre, que vive, no momento, sua pior crise -, levou-me a refletir um pouco sobre a água, considerando também que, em meu Estado de Roraima, seis Municípios estão em estado de emergência por falta de água.

            A reflexão sobre o uso da água se torna imprescindível diante do fato de que, ao redor do Planeta, já há milhões de pessoas sofrendo privação desse recurso natural insubstituível e essencial à existência da vida humana na Terra.

            Justifica-se, portanto, que a ONU, que coordena ações referentes à água, tenha elegido o tema “Água e Desenvolvimento Sustentável” como o assunto do Dia Mundial da Água neste ano. No ano passado, já demonstrando maior preocupação com esse problema, a ONU escolheu o tema “Água e Energia” para chamar a atenção do mundo.

            A água será a temática do Fórum Mundial das Águas, a se realizar em 2018, em Brasília, que tratará dos desafios da gestão dos recursos hídricos para as atuais e futuras gerações.

            São as características fundamentais desse recurso natural que levaram o mundo a se preocupar com a crise hídrica registrada no Estado mais populoso do Brasil. Constatamos, portanto, que uma junção de fatores ligados à infraestrutura e ao planejamento é responsável pela pior crise hídrica já enfrentada naquele populoso Estado de São Paulo.

            Sr. Presidente Eduardo Amorim, quero fazer, neste momento, uma relação direta entre a crise hídrica e a questão energética, desta vez no meu Estado de Roraima.

            Com extensão territorial continental e com baixa densidade demográfica, a Região Norte do País se vê constrangida a consumir apenas 6% do consumo de eletricidade do País. Se o fornecimento de energia é ruim, seu preço é alto. Nada menos do que 25% desse mercado são atendidos por 27 termelétricas a diesel e a gás - três delas servem Roraima - que custam muito mais caro do que a média de nossa matriz energética e que emitem toneladas de gás carbônico na atmosfera.

            Foi em grande parte por esse motivo que a conta de energia para os moradores do interior do meu Estado sofreu, em 2014, um reajuste que chegou a 54%, o que é um absurdo.

            Decorre daí a importância vital do Linhão de Tucuruí, com mais de dois mil quilômetros de extensão, que ligará a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, a Manaus, no Amazonas, e de lá a Boa Vista, em nosso Estado de Roraima.

            Tenho, reiteradas vezes, dito desta tribuna do atraso dessa obra que interligará Roraima ao sistema elétrico nacional. Hoje, nós somos o único Estado da Federação, Senadora Fátima Bezerra, que está fora do Sistema Interligado Nacional (SIN). Vemos inúmeras dificuldades, inúmeros obstáculos colocados para dificultar a inclusão de Roraima no sistema elétrico nacional, o que acabaria definitivamente com o sofrimento das populações da Região Norte e, especificamente, do meu Estado de Roraima.

            Esse atraso deve-se a uma disputa judicial, surgida a partir de ação interposta pelo Ministério Público Federal do Amazonas, por iniciativa da Funai. O Ministério Público alegou que, ao contrário do que determina a legislação, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deixou de consultar os povos indígenas que habitam a reserva Waimiri-Atroari, situada na divisa entre Roraima e Amazonas. Argumentou o Ministério Público Federal que, na forma como está projetado, o Linhão poderia ser nocivo às comunidades que ali vivem.

            Tenho insistido na retomada das obras do Linhão de Tucuruí, única condição de rompermos a dependência energética que temos hoje em relação à Venezuela, de rompemos com nossa dependência de fontes de energia que apresentam custo alto e risco de agressão ao meio ambiente, como é o caso das termoelétricas.

            A propósito, sobre essa tentativa, estivemos recentemente com o Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Essa audiência teve como objetivo central buscarmos a construção de uma fórmula que permita evitar os obstáculos à obra do Linhão, que foram criados por ação movida pelo Ministério Público Federal do Amazonas.

            Senador licenciado pelo Estado do Amazonas, o Ministro Eduardo Braga, que também conhece o problema representado pela paralisação das obras do Linhão de Tucuruí, telefonou, imediatamente, dessa audiência pública, ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, responsável pela Funai, órgão de onde partiu a reclamação bancada pelo Ministério Público.

            Ficou acertado nessa audiência pública, da qual participaram eu, o Senador Telmário, o ex-Governador Neudo Campos, que seria criada uma força-tarefa, constituída por um grupo de pessoas do Ministério de Minas e Energia e do Ministério da Justiça, encarregada de concretizar um acordo que possibilite a retomada dos trabalhos do Linhão.

            Enquanto isso não acontece, reafirmo aqui a importância da construção do Linhão de Tucuruí para Roraima, Estado que sofre com a precariedade e com o alto custo do fornecimento de energia. Temos que trabalhar intensamente, temos que agilizar o trabalho dessa força-tarefa no sentido de buscar um acordo entre os Ministérios de Minas e Energia e da Justiça, através da Funai, para que a gente possa retomar essa obra, que é de vital importância para o bem-estar e para o desenvolvimento de Roraima.

            Essa situação se reflete diretamente na economia da região, pois desestimula a instalação de empreendimentos e prejudica os já existentes, ao constituir entrave à indústria, à agricultura e aos serviços no Estado, que não tem mais como fazer frente aos custos e que sofre com esses apagões.

            Por outro lado, Sr. Presidente, a Constituição e os acordos internacionais firmados pelo Governo brasileiro reconhecem aos povos indígenas o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Por esse motivo, entidades da Administração Pública devem realizar consulta prévia, antes de qualquer empreendimento nesses territórios. Portanto, a obtenção da anuência da Funai e a remoção de quaisquer outras barreiras que possam retardar as obras do Linhão devem ser objeto de ação conjunta dos Ministérios de Minas e Energia e da Justiça.

            Srs. Senadores, somente essa ligação - e apenas ela - permitirá a Roraima, único Estado ainda isolado desse sistema, a oportunidade de se interligar ao sistema nacional, acabando, assim, com a nossa dependência energética da Venezuela. Não só isso, Sr. Presidente. Calcula-se que, quando o Linhão estiver em funcionamento, mais de dois bilhões serão economizados por ano, à medida que a energia de origem termelétrica for substituída. A energia termelétrica é cara e dispendiosa.

            Não há números que comprovem que o isolamento de Roraima é um grande entrave à nossa incipiente indústria, à agricultura e aos serviços em geral, que não têm como fazer frente aos custos provocados pelos apagões.

            Somente para relatar a situação triste do Município de Alto Alegre. A população do Município de Alto Alegre, em Roraima, vive situação muito precária com o desabastecimento de água e o fornecimento de energia. A falta de água naquele Município ocorre não em função do problema da forte estiagem que está a atingir o nosso Estado. Essa estiagem, é verdade, põe o Município em situação crítica, comprometendo a produção da agricultura, da pecuária e da produção de peixe, em Alto Alegre. Para socorrer a produção dos agricultores familiares e das comunidades indígenas, a prefeitura está usando as máquinas recebidas do Governo Federal, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), para abrir cacimbas emergenciais.

            Mas, como eu ia dizendo, a falta de água em Alto Alegre deve-se a um problema crônico, que se arrasta ao longo dos anos e que, atualmente, depende exclusivamente da oferta de energia de qualidade. Então, falta água, falta energia; falta energia, falta água. É um problema que aflige imensamente o bem-estar das famílias de Roraima, do Município de Alto Alegre e o desenvolvimento desses Municípios.

(Soa a campainha.)

            A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Apoio Governo/PT - RR) - Sr. Presidente, em função da precariedade da energia, há cerca de quinze dias, as bombas de sucção queimaram e foram substituídas imediatamente pela Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). Porém, logo após a substituição das bombas, um novo problema na tubulação sustou o abastecimento de água por mais dois dias. Ocorre que, parecendo capítulo de novela, resolvido o problema da tubulação, as novas bombas voltaram a queimar. Para amenizar tanto sofrimento, a prefeitura alugou um carro-pipa para atender às casas que não estão recebendo água, por conta da pressão das bombas.

            Não bastasse o problema da falta d'água, Alto Alegre sofre também com a baixa oferta de energia. Naquele Município, a energia só funciona das 3 horas da manhã até as 9 horas da manhã. Um Município brasileiro onde a energia só funciona das 3 horas da manhã até as 9 horas da manhã! No resto do tempo, a população fica totalmente desabastecida de energia.

(Soa a campainha.)

            A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Apoio Governo/PT - RR) - É uma situação lamentável. É um deus nos acuda!

            Portanto, para concluir, Sr. Presidente, a única solução, a médio e a longo, prazo para resolver a precariedade da energia, é interligar o Estado ao sistema elétrico nacional. Por isso, a nossa defesa insistente pela continuidade das obras do Linhão de Tucuruí.

            Era isso, Sr. Presidente.

            Muito obrigada pela tolerância do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2015 - Página 228