Discurso durante a 88ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da realização da 10ª Conferência Nacional do PCdoB.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Relato da realização da 10ª Conferência Nacional do PCdoB.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2015 - Página 67
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, APROVAÇÃO, PROJETO DE RESOLUÇÃO, ASSUNTO, CRISE, POLITICA NACIONAL, ECONOMIA NACIONAL, DEFESA, NECESSIDADE, REFORMA POLITICA, AUMENTO, MULHER, PARLAMENTO, ELOGIO, NOMEAÇÃO, LUCIANA SANTOS, DEPUTADO FEDERAL, CARGO, PRESIDENCIA, PARTIDO POLITICO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, PRONUNCIAMENTO, INAUGURAÇÃO, PRESIDENTE.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Senador Paim.

            Srs. Senadores, Srªs Senadoras, companheiros e companheiras, é com muita alegria que ocupo a tribuna neste momento para relatar um pouco daquilo que foi a nossa 10ª Conferência, a 10ª Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil, do meu Partido, realizada de sexta-feira passada até o último domingo, na cidade de São Paulo. Estivemos, entre os dias 29, 30 e 31, envolvidos num importante debate sobre a situação política, econômica de nosso País e também sobre a situação organizativa do nosso Partido.

            Essa conferência, que já havia sido convocada durante o congresso, tinha como principal objetivo, além, é óbvio, de aprovar o projeto de resolução que trata do nosso posicionamento diante do momento atual, Senador Paim, e quais os caminhos que nós estamos apontando no sentido de superar esta crise, de enfrentar esta crise, que não é uma crise fácil, mas plenamente possível de ser enfrentada e superada, e como retomar o caminho do desenvolvimento. Obviamente, aqui não há uma receita pronta e acabada, mesmo porque, se alguém tivesse uma receita plenamente eficaz, nós sequer estaríamos passando por este momento difícil.

            Mas, enfim, além de a conferência servir para aprovar essa resolução, teve como ápice, como o momento mais importante a confirmação da eleição da nossa querida Deputada Federal Luciana Santos à Presidência de nosso Partido, o PCdoB.

            Luciana Santos é uma jovem que iniciou a sua militância muito cedo, filha de uma família de comunistas. Portanto, já se criou na luta. Seu pai era um bravo lutador, militante comunista no Estado de Pernambuco. Ela ingressou nas fileiras do Partido ainda no movimento juvenil, como estudante.

            Ela tem 27 anos de militância no PCdoB; 30 anos de militância política, e ainda não chegou aos 50 anos de idade.

            Luciana foi Deputada Estadual no Estado de Pernambuco e, no ano de 2000, foi eleita Prefeita da cidade de Olinda. Em 2004, foi reeleita, no primeiro turno, Prefeita da sua cidade. Na sequência, no ano de 2009, assumiu a Secretaria de Ciência e Tecnologia, no Estado de Pernambuco, e, em 2010, foi eleita Deputada Federal pelo nosso Partido, o PCdoB; nas últimas eleições, em 2004, foi reeleita.

            Luciana Santos ocupava a Vice-Presidência Nacional do Partido desde 2009 e compõe o nosso comitê central, que é a Direção Nacional do Partido, desde o ano de 2001.

            Sr. Presidente, eu também tenho mais de 30 anos de militância política e a mesma quantidade de militância dentro do PCdoB; convivi no nosso Partido com apenas dois Presidentes - o Presidente João Amazonas, primeiro; depois, o Presidente Renato Rabelo -, e passamos agora a um processo de mudança que, para nós, é muito significativo.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - V. Exª me permite interrompê-la?

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Pois não, Senador Paim.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Eu acho importante o PCdoB ter eleito talvez a primeira mulher Presidente de um Partido histórico, de um Partido que não foi criado ontem. É a primeira vez, na história de um País - para mim, um Partido histórico da grandeza do PCdoB -, que uma mulher assume a sua Presidência.

            Por isso, ficam aqui as minhas palmas, os meus cumprimentos ao PCdoB, que, diga-se de passagem, recebeu-me muito bem quando eu estive em Belo Horizonte neste fim de semana, e um Deputado do PCdoB me ofertou o título de cidadão. Eles me receberam, foram almoçar comigo, enfim, caminharam comigo pela cidade.

            Eu quero dizer que tenho um carinho muito grande pelo PCdoB e fico feliz - vou falar depois sobre o Deputado - de o Partido ter indicado uma mulher para a Presidência, que é a Luciana Santos.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - E tenho certeza de que, com V. Exª lá, no Estado de Minas Gerais, não estiveram nem o Deputado Wadson, nem a Deputada Jô Moraes, porque ambos estavam participando dessa nossa 10ª Conferência, em São Paulo, que, aliás, contou com a presença, na sua abertura, da Presidenta Dilma, o que para nós foi um gesto muito simbólico.

            Ela própria fez questão, no seu pronunciamento, de abrir o seu coração. Falou da crise, da necessidade de enfrentarmos a crise, dos caminhos que devem ser trilhados para o enfrentamento dessa crise, que é econômica e também política. Mais uma vez, fez questão de deixar muito claro que essas medidas de ajuste que nós estamos, inclusive, votando no Congresso Nacional não representam um fim em si mesmas. Pelo contrário, é uma flexão tática necessária para o momento, a fim de que possamos retomar o processo de crescimento. Disse a Presidente o quanto está engajada no debate, na discussão para a busca de caminhos que nos levem à retomada do desenvolvimento. Esse, sim, é o objetivo maior do seu Governo.

            Então, a participação da Presidenta foi muito significativa para nós, Senador Paim. V. Exª sabe disso, porque acompanha na sua militância política, que vai muito além do Senado Federal, uma militância efetiva junto à sociedade brasileira. V. Exª sabe que o PCdoB, desde 1989, apoiou a candidatura do Presidente Lula. Lutamos muito juntos. Estivemos sempre juntos na luta para iniciar um novo projeto político de desenvolvimento econômico e social para o Brasil.

            De fato, temos alcançado conquistas muito importantes. E o principal de tudo - absolutamente tudo - neste momento é garantir que essas conquistas não se percam. Mesmo que uma ou outra medida seja amarga, grande parte aprovada com a nossa discordância, se são necessárias para retomarmos o caminho, não há dúvida alguma de que o Governo, a Presidenta poderá continuar contando com o nosso apoio. Tivemos a oportunidade, através de Renato e Luciana, de expressar a ela pessoalmente a confiança que o Partido tem no Governo da Presidenta Dilma, porque o que nos leva a formar alianças, o que nos leva a compor coalizões políticas não é um objetivo menor, são os objetivos maiores da sociedade. Em nível nacional, nos Estados brasileiros, sempre nos orientamos, na hora de compor coligações, na hora de compor alianças, nos interesses maiores da população brasileiro.

            Então, faço este registro.

            Agradeço, Senador Paim, o seu reconhecimento e a sua fala, que destacam ainda mais a importância da eleição de Luciana, porque, de fato, é isso, como disse Aldo Rebelo. Além de tudo, é uma mulher mestiça, que traz em si traços de negro, traços de indígena.

            Enfim, é preciso um partido ter muita segurança no seu coletivo, na sua militância para eleger uma mulher à Presidência. E nós elegemos não apenas uma mulher capaz, capaz teoricamente, de conduzir os destinos de nosso Partido, mas capaz também, politicamente, de manter a unidade de PCdoB, característica essa que creio seja muito importante, junto com o acerto da política. E unidade é o que temos entre nós, Senador Telmário, e que nos faz um Partido muito forte, um Partido que tem 93 anos de existência.

            Não estamos entre os grandes partidos do poder institucional, do Congresso Nacional. Temos uma Bancada relativamente pequena. São 13 Deputados Federais e uma Senadora. Mas somos um Partido muito forte no que diz respeito à nossa presença no seio da sociedade. Não há um militante que não participe do movimento de onde ele esteja inserido, ou o movimento juvenil, ou o movimento comunitário, ou o movimento sindical.

            A nossa bandeira maior é a bandeira do socialismo, é a bandeira da construção de uma sociedade que seja justa para todos; uma sociedade onde todos têm deveres, mas onde todos têm direitos, direitos a condições mínimas, dignas de viver, não só decentemente, mas de viver e ter direito ao lazer.

            E nós entendemos que, para que isso aconteça, é preciso dividir melhor a riqueza entre as pessoas. É óbvio que o programa do nosso Partido não estabelece os rumos da construção do socialismo imediatamente, Não! O programa do nosso Partido estabelece e aponta caminhos no sentido da transição preliminar do capitalismo ao socialismo. Ou seja, é um programa que traça o caminho dentro da realidade atual com o intuito de que esse caminho reúna condições políticas, orgânicas para que essa transição se dê. E, nessa etapa, garantir um programa nacional, soberano, desenvolvimentista é fundamental.

            Senador Telmário.

            O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senadora Vanessa Grazziotin, deixe-me falar. Primeiro, quero parabenizá-la pelo Partido em que V. Exª milita. O PCdoB é, sem dúvida alguma, o partido mais antigo do Brasil, tem toda uma história de luta, de conquista, de avanço social, principalmente os avanços do trabalhador. O PCdoB foi o primeiro partido pelo qual eu tive simpatia, e militei nele quando ele ainda estava na clandestinidade, em pleno regime militar. Quando tentaram me enquadrar na Lei de Segurança Nacional, como líder estudantil, era no PCdoB que a gente fazia resistência. Era o Mário Frotas, lá de Manaus, era o Fábio Lucena. O Senador Fábio Lucena era nosso guia, um homem que enfrentou duramente o sistema militar. E a gente ia a Manaus, lá eles tinham uma graficazinha clandestina, e era naquela gráfica que a gente fazia os manifestos contra as arbitrariedades, contra os assassinatos. Por exemplo, no meu Estado, mataram um jornalista, porque ele tentava mostrar, Senador Paim, as falcatruas, os erros, as corrupções do governo naquela época, e aí o calaram com a vida. E, como era um Estado pequeno, eu era líder estudantil, nós íamos a Manaus, íamos de caminhão, pegávamos carona de caminhão, junto com o José Barbosa, que inclusive é auditor hoje em Manaus, e o Teixeira, que também é médico veterinário. Nós íamos de carona com os caminhoneiros, pegávamos esse material e trazíamos para Roraima, para expormos nossas ideias à noite, para fazer a distribuição. E, numa das vezes, lá na gráfica, alguém colocou uma frase do Capitão Lamarca. Naquela época, ele ainda era vivo e era considerado terrorista, etc. E, por aquela frase, quase me botaram na Lei de Segurança Nacional, mas me convidaram a me retirar do meu Estado. Foi aí que eu saí, Senador Paim, de Roraima. Fui convidado a sair de Roraima e vim para São Paulo. Foi quando tive a oportunidade de estudar, porque não havia universidade lá. Enfim, acabaram me fazendo um bem. Foi quando entrei num banco e tal e tal. Então, o PCdoB é um partido que tem toda uma história. Ele perseverou em estradas escuras, em rios tenebrosos, e chegou hoje e chegou bem. No meu Estado mesmo, o PCdoB sempre foi meu parceiro, sempre foi meu parceiro. Candidato a vereador, candidato a prefeito, sempre tive a parceria do PCdoB. E agora de novo. O PCdoB sempre esteve ao nosso lado. E eu parabenizo o PCdoB por ter uma Senadora da estirpe de V. Exª. V. Exª é extremamente atuante, bem a cara do PCdoB, uma pessoa resistente, uma pessoa de sentimento forte, de opinião muito consistente. E eu tenho certeza de que, às vezes, um partido, ainda mais um partido como o PCdoB, que não é um partido fisiologista, é muito melhor pela qualidade do que pela quantidade. Quantidade às vezes não funciona, principalmente quando se trata de um bando de fisiologistas, que só pensam em troca, só pensam no “é dando que se recebe”, verdadeiros crentes da devoção de São Francisco, com todo o respeito. Eles fazem isso. Então, quero parabenizar V. Exª, parabenizar os que estão ali na Câmara Federal e dizer que V. Exª orgulha, com certeza, o Partido de V. Exª. E ele chegará um dia com um quadro com qualidade.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada. Eu agradeço muito, Senador Telmário.

            V. Exª falava a respeito do movimento que os jovens realizavam no Estado de Roraima. E eu lembro o quanto nós éramos próximos. Havia os militantes em Roraima e os militantes na Amazônia. A gente sabia que vocês enfrentavam a ditadura até com muito mais dificuldade do que nós, no Estado do Amazonas.

            Como V. Exª, eu também ingressei nas fileiras do PCdoB, e lutamos muito, já no final da ditadura militar, contra o regime. Reconquistamos a nossa legalidade no ano de 1985, e, de lá para cá, eu digo que a minha geração, que tem mais de trinta anos de filiação nesse Partido, conviveu com dois presidentes, sobre os quais não há o que se discutir.

            João Amazonas era uma liderança nacional, constituinte em 1946, um grande teórico, formulador, que soube trazer o Partido, ajudar na organização do Partido nesse período de redemocratização. Cumpriu um papel fundamental, fenomenal na construção da história do nosso Partido.

            Na sequência, veio o Presidente Renato Rabelo, que ficou de 2001 a 2015 - portanto, 14 anos à frente da direção do PCdoB. Ele também nos deixou um legado muito importante. Não foi uma tarefa fácil suceder João Amazonas na direção do nosso Partido. Repito, João Amazonas é uma liderança histórica não só dos comunistas, mas dos movimentos progressistas em todo o País. Renato Rabelo, quando assumiu a direção do PCdoB, em 2001, tinha pela frente a tarefa de sustentar, como disse Luciana no seu discurso inaugural como Presidenta Nacional do PCdoB, o ciclo de crescimento e florescimento que o PCdoB passou a viver no período pós-anistia, em 1979, sobretudo depois da sua legalidade, no ano de 1985.

            Renato Rabelo foi também muito homenageado no dia de ontem e, neste último final de semana, recebeu não só homenagens, mas reconhecimento de toda a militância e da direção.

            Eu, Sr. Presidente, registro que, para a organização dessa nossa conferência, que contou com a participação de 324 delegados, todos eles saíram de mais de 500 atividades, debates que organizamos no Brasil inteiro nestes últimos meses, que reuniram em torno de 15 mil militantes. Desses 15 mil reunidos, quase 3.400 participaram das sessões estaduais, ou seja, das conferências estaduais que antecederam a realização da 10ª Conferência Nacional.

            Luciana - repito - fez um belo pronunciamento de posse, porque efetivamente tomou posse, colocando o quanto essa nova atividade que ela passa a assumir é desafiadora e o quanto - eu acho isso fundamental - ela está disposta e segura em assumir essa nossa tarefa. E, Senador Telmário, falou isso de uma forma muito leve, mas muito profunda, segura e firme, porque sabe que conta com um conjunto de militância aguerrida, que se organiza em todos os Estados brasileiros e mais aqui no Distrito Federal. Nós nos orgulhamos muito de ter mais de 100 mil militantes em nosso Partido, mais de 300 mil filiados em nível nacional. Trabalhamos para ter muito mais. E sempre atuando dentro de uma coerência importante.

            Acho que uma outra questão que eu aqui destaco e que ficou marcada na Conferência tem sido a postura da Bancada federal. Neste momento de tanta dificuldade e de tantos desafios, Sr. Presidente, não é fácil muitas vezes nos posicionar diante de um projeto que limita determinado tipo de direito do trabalhador. Não é fácil. Mas é exatamente a nossa unidade, a convicção de que o que estamos fazendo é o certo, é aquilo que deva ser feito no momento, que nos leva a superar juntos, de forma unida, este momento difícil.

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Também a militância e a direção do Partido destacaram muito o empenho da Bancada, sobretudo na Câmara Federal, frente ao debate da reforma política, Sr. Presidente. Óbvio que não alcançamos aquilo que queríamos alcançar, que seria a determinação da proibição do financiamento empresarial de campanha. Aliás, algo muito polêmico, porque, numa primeira votação, essa questão saiu derrotada.

            O Plenário rejeitou. Foi preciso que arranjassem uma segunda votação para que essa matéria fosse aprovada. Mas, mesmo apesar disso, Sr. Presidente, no que diz respeito à manutenção das coligações e o estabelecimento de uma cláusula de barreira que não impedirão partidos históricos, porém menores, de ter o seu funcionamento político, nós consideramos isso fundamental, não só para o PCdoB, mas fundamental para o desempenho da democracia.

            Creio que, no âmbito da reforma política, o que nós temos que buscar são fórmulas e mecanismos de como impedir partidos que não tenham nenhuma estrutura programática, que não tenham nenhum fator ideológico que justifique sua existência, de continuar a ser criados - partidos que, no geral, apenas trabalham no sentido de utilizar, para benefício pessoal, o tempo na televisão para campanhas e outras benesses que a legislação patrocina. Mas jamais passou por nossa cabeça que a legislação pudesse vir a atuar no sentido de cercear a democracia que precisa ser avançada.

            Então, eu concluo aqui meu pronunciamento, Sr. Presidente, registrando esse evento que foi, para a gente, muito importante, a realização da 10ª Conferência, quando aprovamos nosso Manifesto, que expressa o pensamento do nosso partido frente ao momento atual, e a eleição que elegeu Luciana Santos à Presidência do Partido e Walter Sorrentino para nosso Vice-Presidente. Não posso sair daqui sem falar também da eleição de um homem.

            Aliás, essa questão das mulheres foi muito debatida, porque as mulheres, no Partido, no PCdoB, têm um espaço - e sempre tiveram - muito importante de atuação: as Presidentes, por exemplo, da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, da União Nacional dos Estudantes, da INPG, que é dos estudantes que fazem pós-graduação, são mulheres; 40% de nossa Bancada são de mulheres; e agora temos uma Presidente mulher.

            Os homens já estão para fazer uso da Lei de Cota, mas a Lei de Cota para eles, porque, afinal de contas, o que falta à sociedade saber é que a cota não é de mulher, a cota é de gênero. É óbvio que a mulher, por sua situação de sub-representação, é quem se utiliza da cota. Mas, no PCdoB, são os homens já que buscam a utilização da cota.

            Então, ao lado de Luciana, foi eleito Walter Sorrentino,...

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... que já foi Presidente do nosso Partido no Estado de São Paulo, é médico, formado pela USP, um militante histórico e um dos maiores conhecedores do Partido em nível nacional. Conhece, com profundidade, a organização do Partido desde o Estado do Acre, passando pelo Amazonas, Pará, passando pelo Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste até o Sul do Brasil.

            Então, sem dúvida nenhuma, tenho certeza e convicção plena e absoluta de que ele e Luciana não apenas reúnem as condições ideológicas e teóricas, mas também as condições práticas para seguir na direção de um partido tão complexo e tão importante como é o nosso Partido, o PCdoB.

            Senadora Gleisi, com muito prazer, se a Presidência me permite, concedo um aparte a V. Exª.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senadora Vanessa. Vou pedir só um minuto ao Presidente.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada. Na realidade, só para fazer uma saudação aqui a V. Exª e ao Partido Comunista do Brasil, Partido pelo qual tenho grande respeito e consideração pela sua história, pelo que significa para a história política brasileira, principalmente para a história das liberdades, da democracia e do enfrentamento à ditadura, e pela justiça, e que tem construído junto conosco - com o Partido dos Trabalhadores, com o Presidente Lula e com a Presidenta Dilma - um Governo que está mudando a vida das pessoas. O PCdoB tem uma grande colaboração e participação nesse processo. Quero saudar o seminário, a convenção que vocês fizeram e saudar muito a Deputada Luciana. É muito importante ter uma mulher na Presidência de um Partido da envergadura do PCdoB. Isso, com certeza, fortalece nossa caminhada, nossa causa. E também parabenizar V. Exª. V. Exª falava, agora há pouco, sobre a reforma política. Eu tenho que evidenciar...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... o esforço de V. Exª para que as mulheres participem de forma mais determinante na política brasileira, com as cotas de cadeiras. Apresentei um projeto; V. Exª também. V. Exª foi lá, negociou na Câmara em nome das Senadoras. Isso foi muito importante. Espero que a Câmara dos Deputados não pare com as votações que teve, mas possa prosperar e mandar para o Senado essa matéria muito importante. Então, queria parabenizar e saudar o Partido Comunista do Brasil.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu lhe agradeço o aparte, Senadora Gleisi. V. Exª, logo na sua juventude, também teve a oportunidade de militar entre os companheiros do PCdoB. Ela fez parte da direção da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Tenho certeza de que não só para nós mulheres ou filiados no PCdoB, mas para todos nós que temos uma militância em favor da democracia do nosso País e da justiça social, ver um partido...

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... que tem a historia do PCdoB, que lutou apoiando os pracinhas na Segunda Guerra, que lutou a favor da Petrobras, na gloriosa campanha O petróleo é nosso, que lutou e atuou muito contra a Guerra do Vietnã, na Guerrilha do Araguaia, ter uma mulher Presidente é muito representativo,

porque o PCdoB não é daqueles partidos que passam, é um partido que permanece. Nós, pessoas, passamos, mas o partido fica, porque fica a sua ideologia. O que nós queremos é ter as condições, construir as condições para se promover uma mudança mais elevada, e a mudança mais elevada de uma sociedade é a superação desse sistema chamado capitalista, em que uns vivem à custa do sofrimento, da exploração dos outros para que todos possam ter - repito, aqui - direitos, possam ter deveres,...

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... mas terem direitos plenamente atendidos também.

            Então, eu agradeço os apartes de V. Exªs, Senador Paim, Senador Telmário e Senadora Gleisi. Em breve, já conversei com o Presidente Renan, nós teremos uma audiência com o Presidente da Casa para apresentar a nossa nova Presidenta Nacional, Deputada Luciana Santos.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

            O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Com a palavra, o Senador Paulo Paim.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Sr. Presidente, com a benevolência do Senador Paim e, espero, de V. Exª também, eu me esqueci de solicitar que seja incluído nos Anais da Casa o pronunciamento inaugural de Luciana Santos na Presidência do meu Partido. Que seja, então, incluído nos Anais desta Casa.

            Então, eu quero passar a V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - V. Exª será atendida na forma do Regimento da Casa.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELA SRª SENADORA VANESSA GRAZZIOTIN EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

            - Pronunciamento inaugural da Deputada Luciana Santos na Presidência Nacional do PCdoB.

            Discurso da presidenta do PCdoB Luciana Santos

            PCdoB / 1 dia atrás

            Camaradas,

            É com grande alegria, e também grande emoção, que me dirijo a esta plenária no encerramento desta 10ª Conferência do PCdoB.

            Desde sua fundação, em 1922, e ao longo de 93 anos de história, a marca da ousadia, da vanguarda e da combatividade acompanha nosso partido. O PCdoB viveu 60 anos na clandestinidade; combateu ditaduras; defendeu exemplarmente o patrimônio nacional na histórica campanha “o petróleo é nosso”; lutou bravamente contra o fascismo em apoio aos pracinhas na , mobilizou-se pelo fim da Guerra da Coréia e do Vietnã; e na Guerrilha do Araguaia pela liberdade e os direitos do povo; resistiu à perseguição brutal nos duros anos da ditadura militar que começou em 1964 e na Guerrilha do Araguaia pela liberdade e pelos direitos do povo.

            Nós nos mantivemos firmes ao longo desses quase cem anos, camaradas, porque nos alimentamos do sentimento de justiça e da esperança de ver um mundo mais justo e solidário. Nos alimentamos do desejo e da determinação em construir o socialismo!

            A luta pelo Socialismo, que está em nosso DNA desde aqueles idos de 1922 em Niterói, deve ser a nossa bússola. Como está consagrado em nosso Programa Partidário, sabemos que o Socialismo vive ainda a sua infância. Deu seus primeiros passos no século passado com a construção da União Soviética a partir da grande revolução socialista de Outubro na Rússia, sob a liderança de Lênin, em 1917.

            Mesmo sob circunstâncias adversas o Socialismo conheceu um grande ciclo de edificação e seu legado é precioso, apesar da derrota da experiência pioneira da União Soviética. O socialismo prossegue no cenário mundial a marcha da humanidade por conquistas civilizatórias em vários países, rejuvenescido pelas lições da história, e pelas particularidades construídas em cada país, como por exemplo, na China, Vietnã e Cuba. É preciso observar também a realidade de vários países em que jovens experiências proclamam a determinação de realizar a transição do capitalismo para o socialismo na América Latina, além da experiência da África do Sul.

            No Brasil o programa do PCdoB não trata da construção geral do socialismo, mas da transição preliminar do capitalismo para o socialismo. Traça o caminho, na realidade atual, para reunir condições políticas e orgânicas para essa transição.

            Nosso Partido luta pela construção de uma nova formação política, econômica e social, convencidos de que somente o socialismo é capaz de sustentar a soberania da Nação e a valorização do trabalho, no esforço comum de edificação de um país soberano, democrático, solidário. Nosso partido que no dizer de Pablo Neruda nos permitiu “ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria”. Que nos faz “indestrutíveis porque com ele não terminamos em nós mesmos”, é um bem precioso!

            Apenas o socialismo, camaradas, é capaz de se contrapor aos valores inspirados pelo capitalismo. Nesse momento em que a disseminação do ódio, da intolerância e de preconceitos das mais diversas origens se manifesta com vigor na nossa sociedade é  preciso termos claro que só o socialismo é capaz de fazer contraposição ao individualismo e a todas as mazelas atreladas à lógica do lucro e da busca desenfreada pelo capital. Gosto de ouvir, nos movimentos mais urbanos, a máxima - “existe amor”- uma expressão comum na luta em defesa das cidades e de alguns movimentos, porque identifico ali os valores do socialismo. Existe amor no socialismo. E existe amor no PCdoB, que tem em sua história gerações de militantes que se dedicam a uma causa; alguns destes inclusive tombaram nas trincheiras de batalha, entregando sua vida pelo sonho de democracia e justiça.

            Muitos homens e mulheres deram sua contribuição através dos tempos. Lembraremos, sempre, o papel de João Amazonas, que entre tantas lições nos exultou a nos manter firme na luta. “Verbo por verbo - no presente ou no futuro -, lutar ainda é o melhor. Lutar para transformar a nossa pátria na terra da liberdade, da cultura, da fartura, da justiça social, da solidariedade humana. Terra de homens livres, terra da revolução libertadora”, nos ensinou nosso querido Amazonas.

            E é utilizando a palavra LUTA, camaradas, que quero iniciar aqui uma saudação especial ao nosso bravo, incansável e aguerrido lutador Renato Rabelo.

            Nosso líder, para além do que já dissemos aqui nesses dias de conferência, é um líder respeitado no campo político progressista, como já disse aqui na presença da Presidenta Dilma e que foi reafirmado por ela, aqui mesmo nessa tribuna. Suas opiniões são ouvidas e consideradas; no Partido, fruto de talento e trabalho, e em decorrência também de suas características inconfundíveis, tais como, ter paciência para ouvir e levar em conta o que ouve; a firmeza de decidir e a determinação de tornar realidade o que foi decidido; a sagacidade de perceber e valorizar as ideias novas… por tudo isso, se tornou uma liderança inconteste nas fileiras comunistas; conquistou não apenas liderança, mas o apreço e o carinho de todos.

            No seu Informe político, o camarada Renato nos disse do desafio que se apresentou diante dele, quando, em 2001, assumiu a presidência do Partido, sucedendo João Amazonas, essa histórica liderança dos comunistas brasileiros. Renato tinha pela frente a tarefa de sustentar o ciclo de crescimento e florescimento que o PCdoB passou a viver já depois da Anistia, em 1979, e, sobretudo, a partir da redemocratização e da conquista da sua legalidade em 1985.

            Renato, meu camarada querido, posso dizer aqui respaldada por cada um dos militantes do PCdoB, pode ter certeza do dever cumprido!

            Há uma frase de Clarice Lispector que diz, “palavras até me conquistam temporariamente. Mas atitudes me ganham para sempre”. Tuas atitudes demonstraram a essência, a matéria de que és constituído.

            Recebemos de tuas mãos, um Partido Comunista forte e influente, contemporâneo - ressalto aqui que para esta conferência realizamos cerca de 506 atividades desde reuniões de base a plenárias, mobilizando quase 15 mil filiados e militantes, com a participação de 3.398 destes nas sessões estaduais que deliberaram sobre o documento desta conferência e com a eleição de 321 delegados a este momento. Esse Partido que recebemos de ti Renato, dá, portanto, mais uma demonstração de sua força, um partido que é dotado de um Programa Socialista que tem se revelado uma orientação segura neste mar revolto do Século 21, sacudido pela terceira grande crise do capitalismo; um Programa certeiro ao curso do fértil ciclo progressista iniciado no nosso país em 2003.  Programa que renovou e enriqueceu nosso pensamento estratégico e tático.

            Recebemos um partido que constrói, zela, defende sua unidade de ação, pois sabe que ela é uma das principais condições de sua força. Unidade construída em rica democracia interna, de debate, de pesquisa, de liberdade de opinião. O nosso Estatuto é eficaz porque foi escrito a partir da prática concreta de edificação do PCdoB neste período de legalidade que já soma 30 anos. Ele firma a identidade comunista, identidade de classe do Partido, nossa gema permanente, da qual não abrimos mão, e a associa com a renovação, sem a qual o Partido fenece.

            Verdade também, somos um Partido que acerta e erra, que muito mais acerta do que erra, mas sobretudo, uma legenda que sabe extrair lições de sua prática transformadora. Aliás, quero registrar que em 13 anos de presidência, diga-se em mares nunca dantes navegados, o Partido sob a presidência de Renato não cometeu nenhum erro grave, que comprometesse nosso processo de acumulação de forças. E este é um feito extraordinário.

            O Partido hoje tem mais de 300 mil filiados, mais de 100 mil militantes, está organizado nas 27 unidades da Federação, presente em mais de 2 mil municípios - Já disse antes, torno a dizer: isso sim deveria ser critério para cláusula de barreiras! O que mantém o Partido, esse organismo vivo, em atividade permanente, em estudo, em movimento, em luta são exatamente nossos quadros. Por isto, a importância de formá-los sempre, de criar condições para que sejam promovidos a responsabilidades cada vez mais complexas, de indicá-los para o papeis adequados aos seus talentos. Essas são questões presentes na nossa valiosa política de quadros.

            Camaradas,

            Se Renato, em 2001, se sentiu diante do grande desafio de suceder a João Amazonas e de dar prosseguimento ao percurso de expansão de nosso Partido, imaginem eu, nesta hora, como me sinto à frente de uma grande responsabilidade.

            Tenho convicção, no entanto, que as questões do desafio da luta política ou da formulação política, encontram resposta no nosso DNA, no acúmulo político que conquistamos coletivamente ao longo dos anos e que tão bem está expresso no nosso programa, em seu  caráter antiimperialista, anti-rentista, que aponta a transição do capitalismo ao socialismo através de seis reformas estruturantes: a reforma política ampla, reforma tributária, da educação, dos meios de comunicação, reforma agrária e a reforma urbana.

            O nosso desafio é aplicar essa estratégia à tática, à nossa luta cotidiana. Se o socialismo é o rumo, o caminho é a acumulação de forças, e acumular forças significa também ter a arte e a capacidade política de aplicar isso na realidade concreta.

            Criatividade e audácia, camaradas. Essas são palavras que gosto muito.  Nosso programa também é um programa audacioso e nós temos que ter a capacidade criativa de aplicá-lo a tal da realidade concreta.

            Mas, estou segura, estou convicta, de que a partir do legado da presidência de Renato Rabelo, contando com apoio que sei que terei de todos vocês, da nossa militância, dos nossos quadros - da velha à jovem guarda -, seguiremos avante. E destaco, como grande trunfo não apenas da nova presidência, mas de todo partido, a continuidade de Renato Rabelo no nosso Comitê Central, na nossa Comissão Política, nos oferecendo ideias, nos dando apoio e realizando trabalhos que de comum acordo venhamos estabelecer.

            Vamos nos guiar pelo nosso Programa Socialista, pelas lições da trajetória de mais de 90 anos do PCdoB, e saberemos, seguindo o exemplo de Renato, apoiados na inteligência do coletivo, atualizar e renovar nossa orientação política sempre que as mudanças ocorridas na realidade exigirem.

            Unidos, coesos, conduzidos por uma política acertada, justa, manteremos o PCdoB na rota do crescimento. Nossa histórica legenda, construída por várias gerações de comunistas, das quais se destacam expoentes como Astrojildo Pereira, Luiz Carlos Prestes e João Amazonas, marcha para o centenário.

            Faço a todos nós um convite-convocação. Mês a mês, ano a ano, vamos qualificá-lo cada vez mais para os desafios da contemporaneidade, torná-lo cada vez maior e mais forte, mais enraizado nas lutas dos trabalhadores e do povo, trilhando o caminho pelo desenvolvimento do Brasil rumo à transição do capitalismo para o socialismo.

            A outra substância da felicidade é a luta pelo socialismo. Vamos juntos, juntas, construir a felicidade para o nosso povo, para o nosso Brasil.

            Obrigada Renato pela confiança que deposita em mim para prosseguir com esta trajetória marcada por êxitos e abnegação. Você é um amigo querido, um camarada estimado que aprendi a admirar, a respeitar e a ter como exemplo e como referencial.

            Receba o carinho, o agradecimento e as homenagens de todos os comunistas do Brasil!

            Firme na luta!

            Viva o Partido Comunista do Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2015 - Página 67