Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à gestão do Partido dos Trabalhadores no Governo Federal, em especial à Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Críticas à gestão do Partido dos Trabalhadores no Governo Federal, em especial à Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Aécio Neves, Donizeti Nogueira, Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, José Agripino, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2015 - Página 516
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ENFASE, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, DIVULGAÇÃO, DECLARAÇÃO FALSA, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, REFERENCIA, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Meu caro Presidente, Anastasia, Srªs e Srs. Senadores, vivendo e aprendendo. Ontem, não apenas o Senado, mas o Brasil e o mundo tomaram conhecimento de uma grande descoberta etnológica.

            A Presidente Dilma Rousseff, em um pronunciamento no Palácio do Planalto, na comemoração da abertura dos jogos indígenas, revelou ao mundo, para perplexidade e admiração de todos, a existência de uma nova subespécie: a mulher sapiens. Vejam V. Exªs!

            Todos nós sabemos, ou pelo menos sabíamos até agora, que o gênero humano é uma subespécie da espécie homo sapiens. Nós somos homo sapiens sapiens.

            Havia outras subespécies, como homo erectus, homo neanderthalensis, e a expressão, a palavra homo não significava sexo masculino, mas homo designava um gênero, do qual nós somos uma espécie.

            A Presidente Dilma, talvez ciente de algum segredo que lhe foi revelado como muita confidência por seus colegas etnólogos, inventou mais uma espécie: a mulher sapiens. Ou será que isso terá sido apenas flerte com o politicamente correto que, em alguns casos, como nós sabemos, beira a idiotia, a idiotice? Não é o caso da Presidente. Ela, seguramente, está nos revelando uma descoberta científica, da mais alta relevância.

            É verdade que o auditório recebeu a notícia com algum constrangimento, que rapidamente transbordou para uma ligeira hilaridade. Uma hilaridade que foi um pouco além. Não chegou a se transformar numa gargalhada, mas foi um pouco além, quando a Presidente alardeia que nós, brasileiros, somos responsáveis por uma das maiores conquistas da humanidade, que é a mandioca. Vejam os senhores! Nós somos responsáveis por essa extraordinária conquista da humanidade, que é a mandioca! Aliás, nem é nossa, dos brasileiros de hoje. É dos indígenas, e, para nossa tristeza, meu caro Senador Caiado, nós não somos mais o primeiro produtor mundial da mandioca, nem o primeiro exportador mundial da mandioca, que é a Tailândia. Também nesse item nós fomos superados.

            Atribuo, Sr. Presidente, esse discurso estranho da Presidente não à incultura. A Presidente, inegavelmente, é uma mulher culta. Ela, provavelmente, está muito perturbada com os últimos acontecimentos, porque a cada dia é uma agonia. 

           Num dia recebe um resultado absolutamente devastador de pesquisa da opinião pública: o maior índice de rejeição de um governo desde a crise mais aguda do Governo Collor. Notícias da área econômica sempre, sempre, sempre ruins, mas não é porque a área econômica dá notícias ruins. É porque as coisas estão ruins mesmo. A inflação está alta, o desemprego cresce, o endividamento das famílias se acentua, os juros estão estratosféricos. A taxa Selic está 12,75%, mas os juros médios que são cobrados daquele pobre cidadão que recorre ao empréstimo bancário estão em torno de 60% ao ano. As contas públicas, desarrumadas; o Tribunal de Contas está em cima dela querendo que ela explique as pedaladas que deu para disfarçar todo o desarranjo fiscal do seu Governo - e que, aliás, vêm lá de trás, vêm do governo do seu antecessor, que pedalou bastante, também. Só notícia ruim. São fatos que brotam da realidade que ela tentou esconder, mas não consegue mais. Não dá para tapar o sol com a peneira.

            Notícias ruins - dizia eu - levam à queda da popularidade, e mais: ao afastamento do seu mentor, Lula, que, em um gesto de esperteza, que tem pernas curtas, assim como a mentira, em uma reunião com religiosos, em um impulso confessional, abriu seu coração e disse: “Olha, o PT, eu e a Dilma estamos no volume morto. Nós renegamos as nossas promessas. Nós só nos preocupamos com cargos. Nós somos viciados em poder”. Foi o que disse o Presidente Lula, e colocou Dilma no mesmo saco. Só que ele, não: ele procura se apresentar, agora, como promotor de uma revolução cultural no PT. “Estou voltando aos anos 80!” Ao tempo do “sapo barbudo”, que foi exatamente o tempo que o levou ao gueto político; a atitude que o levou a sucessivas derrotas eleitorais; um perfil que ele vestiu, tendo só conseguido sucesso depois de ter feito uma reviravolta na sua própria pregação política, a famosa “carta aos brasileiros”, em que ele se compromete a manter os pilares da política econômica do Presidente Fernando Henrique, como de fato manteve no início do seu governo.

            Mas o Presidente Lula é esperto. Ele procura se afastar da Presidente da República, da sua criatura, dizendo ao povo brasileiro: “Toma, que o filho é teu”. Não; é dele! Eles vão juntos, abraçados, não digo que para um “volume morto”, mas para um ponto ainda mais profundo do que o pré-sal. E não há salvação. Não adianta querer cultivar ainda alguns resíduos ideológicos que avivam setores do seu eleitorado.

            O Presidente Lula faz uma autocrítica pela metade, não se coloca como alvo pessoal da crítica. É como se a coisa decorresse da invenção dos outros, como se ele não tivesse nada a ver com os desacertos da Presidente Dilma, que ele mesmo patrocinou. Petrobras não é com ele? Como? Como não é com ele? Quem nomeou essa gente toda? Quem instaurou esse sistema de partilha de cargos, que resultou numa organização criminosa, de conluio entre dirigentes de empresa, políticos e empresários? Uma organização criminosa que não surgiu por acaso, foi colocada ali por alguém. Quem montou isso?

            Um dirigente de uma empreiteira, que reformou o sítio do Presidente e construiu um triplex de cobertura no Guarujá para ele, chamava-o de Brahma em e-mails confidenciais, que acabaram sendo revelados. Brahma, não! Ele, hoje, é Vega Sicilia, é Chateau Petrus! Só viaja em jatinho particular, arrumou a vida da família - o seu filho se transformou em grande empresário, dois anos depois de ter deixado um emprego modesto no zoológico de São Paulo. É lobista de empreiteiras que têm negócios no Governo! É viciado em poder, não sabe viver fora disso; não sabe deixar de alardear sua influência, em prejuízo da sua própria pupila. E procura se colocar agora como uma espécie de reserva política do PT para 2018.

            E ontem, meus caros colegas, os nossos colegas Senadores do PT divulgaram uma nota de solidariedade ao Presidente Lula. Eu sinceramente digo aos senhores, com o coração na mão, que aprecio a lealdade. Devem tudo ao Presidente Lula. Sem Lula não haveria PT. E o PT vai acabar quando Lula acabar também, e já está começando a acabar.

            Saíram em socorro do Presidente Lula, mas não disseram uma palavra, uma única palavra para a Presidente Dilma. Falaram de uma campanha de desconstrução do prestígio do Presidente Lula, mas não criticaram a obra de desconstrução do Presidente Lula sobre a Presidente Dilma. Aquilo que ele disse em um confessionário improvisado é mais devastador do que 10, 20, 30 discursos que eu possa fazer aqui desta tribuna. Os Senadores, meus colegas, não disseram uma palavra contra esse que lançou o maior petardo até agora dirigido contra a Presidente. Por quê? Têm esperança de que ele seja o salvador do partido em 2018. Ora, todas as pesquisas mostram que vão juntos para o buraco todos eles.

            Não digo que o PT está morto, não; revejo minhas palavras. O PT é um partido vivo, um partido que tem gente honrada, gente decente, gente cada vez mais incomodada com essa situação, gente que faz política por idealismo, gente que quer o Brasil correto, gente que seguramente se envergonhou ao ver o noticiário da convenção do PT, ocorrida na Bahia, e constatar que a pessoa mais ovacionada, durante três longos minutos, foi o tesoureiro do partido, Vaccari, que está preso depois de ter sido universalmente apontado por todos os delatores e por todas as investigações ocorridas na Lava Jato como o operador de dinheiro sujo na Petrobras. Foi o mais aplaudido. Três minutos! Nem a Presidente Dilma foi tão aplaudida quanto Vaccari. Eu tenho certeza de que muita gente do PT - e não apenas a mocinha que sonhava com Che Guevara e acordou nos braços de Vaccari, não é isso - acredita sinceramente que um partido de esquerda veio para governar e fazer transformações.

            Hoje eles só falam em projeto, “o nosso projeto”. Mas que projeto? O projeto nacional popular, que está dito aqui, que é o projeto a que se referem os Senadores meus colegas do PT? Que projeto? Qual foi a grande transformação que o Partido dos Trabalhadores fez na estrutura tributária do nosso País, por exemplo? Qual foi a grande transformação? Fizeram coisas positivas, sim: alargaram o Bolsa Família, alguns programas na área educacional. Mas a grande transformação social, profunda, cadê?

            Então, Srs. Senadores, o projeto que sobra é o projeto cada vez mais de difícil alcance, que é o projeto de se manter no poder. Eu tenho certeza de que as coisas vão caminhar para que nós tenhamos, em 2018...

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Permite-me um aparte, Senador Aloysio?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não, com muita honra.

            As coisas vão se encaminhar, em 2018, para que nós tenhamos uma mudança política no Brasil, uma mudança democrática, uma mudança no voto, uma mudança que leve a uma recomposição da confiança dos brasileiros no seu governo, um governo capaz de entregar efetivamente a mercadoria que promete.

            Ouço o aparte da minha colega Senadora Gleisi Hoffmann.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senador Aloysio. Eu estava ouvindo o seu pronunciamento com atenção e quero primeiro dizer do respeito que tenho por V. Exª, pelos debates que já fizemos nesta Casa, pelas discussões que tivemos, mas queria lhe fazer um pedido, Senador Aloysio, para repormos a discussão sobre os nossos posicionamentos em relação ao Governo, em relação à economia, em relação a projetos de País, não utilizando a relação do Presidente Lula e da Presidenta Dilma. Desde o início do primeiro mandato da Presidenta Dilma, desde os primeiros dias, eu ouço a oposição e alguns setores da mídia falarem sobre essa relação, dizerem que o Presidente Lula desautoriza a Presidenta Dilma, ou dizerem que a Presidenta Dilma desautoriza o Presidente Lula, que eles estão sempre de rusgas, que não chegam a um acordo, que têm uma disputa de poder. Isso não é correto, porque não é verdadeiro. Haver divergências dentro do Partido dos Trabalhadores é algo normal. Talvez não o seja para o PSDB, que não tem a vivência de participação democrática, mas no PT nós temos. Desde que nós surgimos como partido, nós nos fizemos discutindo, debatendo, divergindo. É natural. Agora, isso não pode ser entendido como desautorização, como contraposição, como disputa para a desconstrução de algo com que ambos concordam e que ajudaram a construir. O Governo da Presidenta Dilma é um governo de continuidade do Presidente Lula.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Ah, nós sabemos.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É um Governo de continuidade do bem-estar social, da inclusão, da melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, da melhoria da respeitabilidade do Brasil no exterior. É o Governo da continuidade, mas também é o Governo que traz mais programas e projetos, como o Ciência sem Fronteiras, como o PIL, que é o Programa de Investimento em Logística, como o PAC 2, como o Minha Casa, Minha Vida 3, como vários projetos que ampliam e melhoram a situação da vida do povo brasileiro. Então, eu acho que essa tentativa de dizer que o Presidente Lula, ao fazer uma crítica ao Partido dos Trabalhadores ou a se referir a programas de Governo ou a momentos em que nós estamos, da autoridade que ele tem, inclusive por ser ex-Presidente e do prestígio que ele tem como homem público e como liderança, não é correta. Como não é correto também o senhor vir aqui e usar a nossa nota - uma nota de solidariedade ao Presidente Lula -, dizendo que é uma nota que não fala nada sobre a Presidenta Dilma.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E não fala mesmo.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Mas essa não era uma nota levada a falar sobre a Presidenta Dilma. Quem sofreu os ataques no último final de semana, inclusive da oposição, de pessoas do seu Partido, foi o Presidente Lula.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E quem sofreu os ataques na...

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Uma coisa absurda!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E os maiores ataques à Presidente Dilma foi o Presidente Lula que desferiu.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Os jornais de sábado e de domingo foram de um desrespeito com uma liderança pública, como é o Presidente Lula, inigualável. Nunca vi tratarem assim nenhum outro ex-presidente. Nunca vi! Que o Lula não tinha direito, por exemplo, de estar com empresários visitando outros países para divulgar os nossos serviços, as nossas empresas, para melhorar as divisas do País. Como se o Lula estivesse, em um ato como esse, ferindo o País, ferindo a realidade aqui, a idoneidade ou sua idoneidade. Pergunto: como o ex-Presidente Bill Clinton faz isso e ninguém fala? Como outros ex-presidentes falam isso? O Presidente Fernando Henrique Cardoso cobra para dar, inclusive, palestras no exterior, e o Presidente Lula não pode? Foi um acinte o que fizeram. Em razão de prenderem o Marcelo, da Odebrecht, na Operação Lava Jato, fizeram crer que o Presidente Lula estava envolvido em situações ilegais. Eu não posso concordar com isso. Acho que ter divergência política, Senador Aloysio, é uma coisa. E nós sabemos que divergimos de projeto de País. Aliás, há coisas em que convergimos, mas há muitas em que divergimos. É natural, é da democracia, nós precisamos fazer isso. É importante, não há problema nenhum. Agora, o que não dá é para utilizar de outros meios para desconstruir uma liderança, uma liderança como o Presidente Lula - eu já estou encerrando. Sabe o que me parece? Parece-me que é medo das eleições de 2018.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Ah, não é, não!

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Que, se vocês não tomarem uma atitude contra o Presidente Lula, o Presidente Lula voltará e será Presidente do Brasil. Assim como têm medo de que o instituto da reeleição continue. V. Exªs, que apoiaram a reeleição lá atrás, agora querem mudar. Então, não dá para ter posições conjunturais. Vamos debater política, vamos debater projeto de País, vamos debater economia, mas não fazer isso. A Bancada do Senado do PT tem e teve o direito de fazer uma nota em defesa do seu líder.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu não lhe nego.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - E faz a defesa da sua Presidenta todas as vezes aqui neste Plenário. Eu, particularmente, faço - e fazemos sempre.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Isso eu lhe reconheço.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agora, desse líder nós queremos fazer a defesa. Não é possível uma liderança como o Presidente Lula, reconhecido internacionalmente, ter um tratamento tão desrespeitoso...

(Soa a campainha.)

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... aqui no seu País, por parte da oposição e da imprensa.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Querida Senadora Gleisi Hoffmann, reconheço a sua combatividade e a sua lealdade na defesa da Presidente Dilma e do Presidente Lula, é incontestável. Uma das razões pelas quais eu tenho muita admiração pela senhora. A senhora não se exime de se expor e debater com coragem.

            Agora, dizer que não posso usar a nota pública que os Senadores do PT divulgaram, aí também a senhora está querendo censurar o meu discurso, o que não admito. Não é isso. Estou comentando algo que foi feito para vir a público. Não é um bilhete de amor dirigido, confidencialmente, ao Presidente Lula. Foi uma nota pública. Uma nota pública em que os senhores...

            A Sra Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - E que nada tem contra a Presidenta Dilma.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Nada. Mas não tem nada a favor. Esse é o ponto.

            A Sra Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Mas era uma nota para o Lula. Não para a Dilma.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Para o Lula, exatamente.

            No meu entender - não sei se a senhora ouviu essa primeira fase da minha argumentação -, a grande desconstrução pública que se deu, nos últimos dias, foi, exatamente, da imagem da Presidente Dilma pelo Presidente Lula. Na tal reunião com religiosos.

            Quem é que disse que ela não está cumprindo as promessas eleitorais? Nós dizemos sempre, mas o Presidente Lula, pela primeira vez, diz isso. “Estamos todos no volume morto.” Só que ele procura escapar do volume morto, logo em seguida. Logo em seguida, depois de puxar a Presidente Dilma para o volume morto, ele vai embora. E paira como o grande salvador do PT. “Vamos fazer uma revolução cultural no PT.”

            Ora, por que ele não...? É um partido que debate democraticamente? O PT é um partido que tem várias correntes organizadas, muitas vezes o que alguém de uma corrente diz não corresponde àquilo que outra corrente diz, inclusive, publicamente. Há Ministros que pertencem a correntes diferentes e que não têm receio em expor suas diferenças. Muito bem.

            Agora, por que o Presidente Lula não se aproveitou da grande instância democrática da vida de qualquer partido, que é a Convenção Nacional? Por quê? Aquele era o momento para ele dizer ao Partido o que era preciso que o Partido fizesse para se resgatar da pecha que colou na pele, uma pecha injusta para muitos dos seus membros, como eu fiz questão de dizer aqui.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - V. Exª me permite um aparte, Senador Aloysio?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Logo em seguida, com muita honra.

            Então, o problema, o ponto que eu quero explorar - e acho que tenho todo o direito de explorar - é que, nessa nota em que os senhores defendem o Presidente Lula e sem esquecer de atacar a oposição, nos chamando de sórdidos, por exemplo, campanha sórdida. Campanha sórdida o quê? Não podemos criticar o Presidente Lula, agora ele é uma pessoa está acima do bem e do mal?

            Agora é ele que não pode mais. O homem tem a dimensão internacional, então, não pode ser criticado?

            Pode! Minha querida Senadora, minha querida amiga, pode sim, e deve. Ninguém está acima disso.

            Senador Aécio Neves, por favor.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Senador Aloysio, V. Exª, mais uma vez, de forma extremamente oportuna, traz, ao plenário deste Senado, o debate político, o debate que está nas ruas do Brasil, nas universidades, nas escolas, na sociedade, no conjunto da sociedade brasileira, que quer entender e entender como, em tão pouco tempo, um Governo se degradou tanto. Ouvia, na fase final do pronunciamento da Senadora Gleisi, a quem respeito, também como V. Exª, pela combatividade em defesa do seu Governo, mas ela falava de desrespeito da oposição em relação à Presidente da República. Desrespeito, Senador Aloysio, foi o que a Presidente da República fez para com os brasileiros, porque uma Presidente que, para vencer as eleições, mente, falseia números, manipula dados como fez a candidata a Presidente da República, e depois demonstra, sem nenhum constrangimento, sem preocupação em fazer qualquer mea-culpa, que já sabia aquilo que estava acontecendo com o Brasil - e não sou eu mais que digo que ela mentiu, o Presidente Lula afirmou isso recentemente. Li até com atenção uma entrevista de um ex-marido da Presidente da República, se não me engano o Sr. Araújo, que dizia: “Não, durante a campanha que ela ficou sabendo da situação”, e o jornalista ainda pergunta: “Mas não falou nada” “Ah é, sabe como é que é esse negócio de campanha”. Então, se houve um desrespeito no Brasil contemporâneo, no Brasil dos nossos tempos, ele foi cometido por este Governo. O que nós fazemos é aquilo que a sociedade cobra de nós: denunciamos as irresponsabilidades, a manipulação de dados, o desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - ...já atestada no relatório do Ministro Nardes, no Tribunal de Contas da União. Em relação ao Presidente Lula, Senador Aloysio, vejo, como V. Exª, que essa crítica tem, sim, uma estratégia política, já que talvez considerando impossível salvar este Governo, ele quer ser oposição ao seu próprio Governo,...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Claro! Esperto.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - ...como se fosse possível, como se fosse possível separar criador e criatura. O Presidente Lula, a Presidente Dilma e o PT são uma coisa só. E o momento por que passa o Brasil, de crescimento negativo, de aumento estratosférico dos juros, de desemprego alcançando níveis impensáveis, a inflação chegando a 9%, essa é uma obra exclusiva do Governo do PT, uma obra assinada pelo ex-Presidente Lula e pela Presidente Dilma. E o que me chama a atenção nesses ataques que, certamente pensados ou planejados, ele faz à sua sucessora, é que ele não tem coragem de assumir a sua parcela de responsabilidade nisso, que vem nessa obra, nessa perversa obra, cobrando, principalmente dos brasileiros que menos têm, dos trabalhadores brasileiros, a parte mais alta da conta.

Encerro, depois de ouvir também uma parte do pronunciamento da Senadora, dizendo que a oposição tem receio do Presidente Lula em 2018, afirmando à ilustre Senadora que, se alguém tem receio, não apenas de 2018, do que pode acontecer no dia de amanhã, é o Presidente Lula e o PT, que não sei se chegarão bem ao ano de 2018.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Obrigado, Senador Aécio. E o ano de 2018 pode vir quente que eu estou fervendo.

            Senador Tasso Jereissati, em seguida, o Senador Agripino.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Só me permite, porque é rápido, não vou depois fazer outro aparte.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Claro.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É que o discurso do Senador Aécio é muito próprio para o Estado do Paraná. Aquilo que ele falou sobre o Governo da Presidenta Dilma. Acho que o Senador poderia visitar o Estado do Paraná, governado pelo PSDB, pelo Beto Richa. Esse, sim, mentiu na campanha; esse, sim, tem irresponsabilidade fiscal.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Quero apenas fazer uma consideração, com o respeito que tenho pela Senadora. Acredito que, pela votação que teve, ela não é a porta-voz mais adequada para falar em nome do povo do Paraná. Falam aqueles que tiveram votos no Paraná, e eu me incluo entre eles, Senadora.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Muito bem.

            Senador Tasso Jereissati. Depois, Senador José Agripino.

            O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - Senador Aloysio, apenas para complementar o discurso de V. Exª, respondendo aqui à nossa querida Senadora Gleisi, quando ela fala que nós da oposição fizemos uma desconstrução desrespeitosa da imagem do ex-Presidente Lula e a construção de uma intriga entre o ex-Presidente Lula e a Presidente Dilma. Apenas alguns fatos. Não vi nenhum ataque mais duro de ninguém da oposição durante esse fim de semana. O que vi foi do Lula, do ex-Presidente Lula. Vou lembrar algumas frases - estou falando sem ler - do ex-Presidente Lula: “Ela [a Presidenta] não poderia dizer na campanha que não aumentaria o preço da energia nem que a vaca tossisse, para, logo em seguida, aumentar o preço da energia”. Essa frase é dele, não é do Senador Aloysio, nem do Senador Aécio; não me lembro.

Depois ele diz também a algum companheiro que estava ao seu lado: “Quantas vezes cansei de fazer, de tentar com que ela levantasse da cadeira e fosse viajar pelo País? Mas você sabe a dificuldade que é fazer levantar daquela cadeira para ir à rua e andar pelo País”.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E o Governo de mudos?

            O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - E o Governo de mudos. Todas essas frases foram construídas entre aspas; não há uma palavra minha, um adjetivo meu até agora aí. E o mais duro ainda foi a espantosa frase do Presidente Lula em relação a ele mesmo. Eu, pessoalmente, nunca vi o Senador Aloysio, nem o Aécio, nem ninguém fazer alguma ilação entre a prisão do empresário Marcelo Odebrecht e o Presidente Lula. A única ilação que vi, e me surpreendeu quase como uma confissão, foi quando, diante da notícia da prisão do Marcelo Odebrecht, ele disse: “O próximo sou eu”. Por que ele disse isso? Não sei. Mas me deu a entender, e deu a entender a todo mundo que leu aquilo, que ele tinha uma correlação íntima, porque, se o próximo é ele, há alguma relação entre aquela prisão e ele. Então, todo esse processo que aconteceu no fim de semana, que o PT chamou de sórdido, foi literalmente construída pelos petistas e pelo Presidente Lula em especial.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Veja V. Exª, eu ainda ontem li um texto do blogue do ex-ministro José Dirceu. As coisas que ele diz sobre o Governo são pesadíssimas. O ataque à condução do Governo, aos resultados do Governo, duríssimo.

            A prova, então, é isto: é Lula de um lado, Dilma de outro, Senadores aqui defendendo Lula em 2018, quando a Presidente está apenas iniciando o sexto mês do governo. Tudo isso mostra, meu caro Senador Anastasia, que, no campo do PT, vaca não conhece mais bezerro. Está uma confusão dos diabos!

            Ouço o nobre Senador José Agripino.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Senador Aloysio, eu estava numa outra dependência do Senado, ouvi o discurso de V. Exª e me apressei em vir aqui.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Muito me honra.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Porque V. Exª faz um discurso de apreciação de circunstâncias políticas do momento. É um discurso apropriado, é nosso dever fazer a avaliação das circunstâncias políticas. Política é isto: são avaliações, mas, em cima de avaliações, fatos. V. Exª faz avaliações e eu quero me ater a fatos.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Veja só: o Presidente Lula, que é uma pessoa que merece o nosso respeito, ele cometeu acertos e muitos equívocos, mas ele é merecedor pelo menos do meu respeito e sei que do de V. Exª também.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Do meu também.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - E não vai aqui nenhum ataque de ordem pessoal. Nós temos uma discussão política.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu acho apenas que ele se perdeu.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Claro. Os fatos falam por si sós. Veja bem, quem foi o Ministro Palocci? Foi o Chefe da Casa Civil de quando Lula foi Presidente. Palocci caiu em desgraça quando o caso Francenildo, o caseiro, veio a público; Palocci foi descartado. Em seguida, Zé Dirceu. Zé Dirceu foi o centro do mensalão e, quando Zé Dirceu ficou entendido como o responsável pelo mensalão, o mentor, ele caiu em desgraça e foi descartado. O PT só lança cargas ao mar quando vê flagrado o malfeito naquele petista. Fora disso, convive. Agora, é a Presidente Dilma: 67% de rejeição. E começou uma arenga que é preciso que seja bem explicada. Até hoje não existia arenga explícita do Presidente Lula com a Presidente Dilma. De repente, uma entrevista, ou uma matéria de página inteira no jornal O Globo falando em volume morto: “Dilma está no volume morto e o PT está no volume abaixo do morto”. O que eu quero dizer é que os fatos são esses. Quando os petistas são flagrados em desgraça, são descartados. É o que parece que está ocorrendo agora, só que no último nível, na relação entre Dilma e Lula. Lula hesitou em descartar Zé Dirceu, que foi uma grande figura do PT num dado momento, Palocci, idem, e agora está havendo uma coisa que a análise política nos leva a tirar constatações em cima de fatos. Pelo fato de a Presidente estar com avaliação ruim e Lula ter um instinto de sobrevivência na ponta dos dedos, ele se saiu com essa pérola...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Ele é um sobrevivente de alguma forma.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - É claro. O instinto de sobrevivência, e ele se saiu com essa pérola do volume morto. Eu vi a reação da Presidente Dilma e pude compreender, numa entrevista que ela deu num ato público de ontem, quando perguntaram o que é que ela tinha achado das críticas de Lula. Ela disse: “As críticas são normais, e Lula tem o direito de criticar quem quer que seja. Aliás, porque ele é o mais criticado de todos”. Deu meia-volta e saiu. “O mais criticado de todos”, como se dissesse: “até por mim”. Sem dar a resposta, mas “até por mim”. Então, o que está ocorrendo, no seio do PT, pela avaliação dos fatos, é a repetição do que ocorreu com o Palocci, com o José Dirceu...

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - ... e agora na relação de Lula com Dilma. Agora, quem sofre as consequências disso é a governabilidade, é o País que está sem rumo, está com a inflação beirando os 9%, com a economia estagnada, estamos dentro de um processo de estagflação, com um empregado amedrontado com a perspectiva do desemprego e um Governo sem rumo.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Esse é que é o fato grave, importante.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Esse é que é o fato mais grave de todos e a nossa obrigação é fazer a avaliação desses fatos para tentar encontrar rumo para o País, até pela vertente política. Por essa razão é que eu quero, com essa modesta contribuição, emitir essa minha opinião e cumprimentar o discurso de V. Exª feito nesta véspera de São João com muita propriedade.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Agradeço muito o aparte de V. Exª. V. Exª volta ao ponto inicial do meu discurso. É que essas más notícias não são apenas más notícias para o Governo, para a Presidente Dilma, para o PT, são más notícias para o País, para o povo brasileiro. Aí eu vejo um Governo fraco, um Governo isolado, um Governo fraturado por divisões internas, um Governo cercado por aliados inconstantes, de olho já na porta de saída, um Governo sem condições de fazer as reformas importantes que nós precisamos fazer. Um Governo enroscado num ajuste fiscal que não fecha, numa conta que não fecha.

            Essa é a minha grande preocupação, preocupação nossa e nós estamos apenas há seis meses no Governo, seis meses no início de um Governo, que parece que envelheceu décadas.

            Nós temos que ter muita lucidez, muita calma, sem deixar de lado a crítica, porque nós temos tempo pela frente, as eleições são em 2018. Haverá eleições municipais no ano que vem, que serão um momento importante de manifestação do povo, de forma democrática, de desafogo, de escolhas. Mas temos que ter um enorme cuidado, não deixando de ter diálogo, minha querida colega Senadora Gleisi Hoffmann, mas um diálogo que não... Que para ser real, tem que ser feito com toda a franqueza.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Permite-me, Senador Aloysio?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Desculpe-me, mas é que foram quatro intervenções.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - A senhora tem toda a minha.tolerância. Fico com muita honra em receber sua intervenção, muitas vezes eu faço isso nos discursos da senhora.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Gostaria de fazer e acho que nós estamos fazendo um debate aqui que é a função desta Casa: fazer debate e colocar as posições. Mas eu queria fazer algumas considerações aqui.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - As críticas são muito pesadas em cima da Presidenta Dilma pelo que ela teria dito na campanha e não teria feito agora no Governo. Eu não acho que há essa contradição, a Presidenta não mexeu em direito dos trabalhadores, a Presidenta sabia que tinha que fazer ajustes, está fazendo de tudo para manter o emprego e para manter a inflação sobre controle. Nós estamos vivendo um momento difícil? Estamos, mas nem de perto se compara às crises que tínhamos no passado, quando a gente devia para o Fundo Monetário Internacional, nossa taxa de juros era imensa...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Já sei, isso é fato já.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Então, V. Exª conhece porque era resultado do Governo do PSDB.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) -Isso. Claro.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Então, não é perto daquelas crises, e não tenho dúvidas de que vamos sair. Aliás, uma notícia recente no Jornal Valor Econômico desta semana traz exatamente uma avaliação de que investidores internacionais já começam a olhar o Brasil de forma diferente...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Tomara!

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... pela credibilidade reconstruída do País e que vão, aqui, fazer investimentos. Então, acho que isso é importante que seja dito. Segundo, acho que para que façamos críticas tão fortes, como estou ouvindo aqui as críticas feitas, a gente não pode ter nenhum problema. Minha avó tinha um ditado que dizia assim: se você tem telhado de vidro, não atire a pedra porque vai voltar para o seu. Porque não foi a Presidenta Dilma...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) -Ah! O PT sabe disso.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Não foi a Presidenta Dilma, Senador Aloysio, que tratou professores com cachorro, com bomba, com cassetete e que colocou o Paraná, e o Brasil, por consequência, no plano internacional ferindo os direitos humanos. Não foi a Presidenta Dilma. Não foi a Presidenta Dilma que elevou em 50% o IPVA do Paraná, nem que elevou em 50% o ICMS, não foi a Presidenta Dilma. Também não foi a Presidenta Dilma que mexeu no superávit primário de um orçamento fechado, só vou repetir, mexeu no superávit de um orçamento fechado, não do orçamento em exercício, do orçamento anterior. Quem fez tudo isso  e que está numa situação crítica na gestão de suas finanças e que disse que, quando acabou a eleição, o melhor estava por vir foi um Governador do Partido do PSDB, o Beto Richa, foi ele que fez tudo. Então, se vai criticar a Presidenta Dilma, primeiro, faz a lição de casa: chama o Governador diz pra ele...

(Soa a campainha.)

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... não ficar fazendo esse tipo de coisa, porque isso desautoriza o discurso de V. Exªs neste plenário, desautoriza. E, com todo respeito que tenho a V. Exª, com todo o respeito que tenho ao Senador Aécio, mas se ele vai se basear para dizer que não represento o Paraná pela votação que tive como governadora, vou ter que dizer a ele que também não representa o povo de Minas pela votação que teve como candidato a Presidente naquele Estado.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Quatro vezes mais que a da senhora, Senadora, com todo o respeito.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - As coisas não podem ser assim, a gente precisa olhar...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... aquilo que é responsabilidade da gente antes de  atirar pedra. E, assim também aqui foi falado das questões de corrupção. Sou a favor que se passe a limpo tudo, tem que passar, não há problema nenhum, respondo ao inquérito, assim como o Senador também responde, acho que tem que responder se o nome foi citado, não há problema.

            O problema é que não pode olhar para o vizinho, apontar o dedo e achar que o seu quintal está limpo, quando no seu quintal há mensalão mineiro, há trensalão de São Paulo, quando no seu quintal houve Demóstenes. Então, não dá! Ou temos coerência - e não venho aqui atacar a moral de ninguém - ou temos coerência e debatemos aquilo que realmente nos separa, que é a visão de desenvolvimento do País, de um lado quem quer fazer esse desenvolvimento com inclusão, para que todos ganhem, e de outro quem tem restrição a isso, ou nós vamos ficar fazendo um debate que não corresponde à realidade dos fatos, porque quem está acusando tem muito a ser acusado.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Senadora Gleisi Hoffmann...

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Senador Aloysio, permita-me bem rapidamente, trinta segundos, já que tive a honra de, mais uma vez, ser citado pela Senadora Gleisi.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Sim, pois não.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Tenho que cumprimentá-la, até porque, aqui abandonada pelos seus pares, ela faz aqui o bom combate. Isso é motivo de reconhecimento, mas há um ainda maior. Ela consegue encontrar nos jornais uma boa notícia em relação ao Governo. Realmente, deve ter pesquisado bastante ao dizer que...

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Foi manchete no Valor Econômico.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Ao dizer que os investidores estão otimistas em relação ao Brasil. Nunca, Senadora, e V. Exª sabe disso, houve tanto desânimo em relação ao Brasil; nunca houve tanto desencontro entre a palavra empenhada e a ação praticada. Quem disse que a Presidente mentiu na campanha eleitoral não foi apenas nós, foi o Presidente Lula. Quem percebe essa mentira não somos nós da oposição, são os cerca de 70% de brasileiros que rejeitam a Presidente da República. O Deputado Indio da Costa encontrou comigo agora há pouco e me trouxe uma pesquisa do Rio de Janeiro, na qual a avaliação da Presidente é de 5% de ótimo e bom. Isso não é obra da oposição. Por mais competente, por mais dedicada, por mais combativa que fosse a oposição, nós não conseguiríamos desqualificar, desmoralizar um governo da forma como o próprio Governo conseguiu fazer. Essa é a realidade, ilustre Senadora, essa é uma obra do PT e por essa obra o PT terá que responder.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Obrigado, Senador Aécio Neves.

            Senadora Gleisi Hoffmann, quero dizer à senhora que ficaria fascinado em discutir com a senhora a respeito do Paraná, fascinado, mas esse não é o tema do meu discurso. Vamos deixar que a Assembleia Legislativa do Paraná, que foi invadida, que foi ultrajada por manifestantes açulados, sabe-se lá por quem, para impedir uma deliberação legítima... Vamos deixar que essas críticas ocorram lá neste momento.

            Agora, a senhora se diz chocada com o rigor das críticas que fazemos à Presidente Dilma.

            Ah, Senadora Gleisi Hoffmann! Ouça o que o povo diz aí fora, ouça na fila do supermercado, na hora do caixa, da feira, ouça o que as pessoas dizem, os comerciários que ficam a ver navios nas lojas desertas, as pessoas que têm de recorrer a empréstimos bancários com juros médios de 60%. Quem, então, caiu na desgraça de entrar no cheque especial está liquidado! As pessoas com medo do desemprego, que está chegando perto, os jovens a quem se prometeu o Pronatec, o bolsa isso, o bolsa aquilo, e agora tudo está cortado, como a grande parte está cortada. O que o pessoal fala por aí, Senadora Gleisi, é muito, mas muito pior do que eu possa dizer nesta tribuna, mesmo porque algumas palavras que eu ouço eu não poderia pronunciar aqui, sob pena de ferir as regras do decoro parlamentar.

            Srs. Senadores, eu agradeço os apartes que recebi. Creio que já abusei da paciência e da tolerância do meu querido companheiro de Bancada.

(Soa a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Quero dizer, somente para encerrar, que temos...

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Senador Aloysio...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não, quem é? Senador Humberto Costa, por favor.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Senador Aloysio Nunes Ferreira, tenho, sem dúvida, por V. Exª um enorme respeito.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É recíproco, Senador.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Eu estava acompanhando, na Comissão da Medida Provisória que trata do futebol brasileiro, o pronunciamento de V. Exª, as colocações da Senadora Gleisi, e gostaria de dizer, em primeiro lugar, que nós estamos apenas iniciando o segundo mandato da Presidente Dilma, em meio a um ambiente de muitas dificuldades, dificuldades internacionais, dificuldades internas, erros que efetivamente cometemos, mas, sem dúvida, diante de um cerco jamais visto na história deste País, um cerco liderado pela grande mídia, secundado pela oposição. Digo secundado porque hoje em dia é muito fácil fazer oposição. Na época em que nós éramos da oposição, não. Nós - Deputados, Senadores, Parlamentares - tínhamos de ir atrás dos assuntos dos temas, buscar as informações. Hoje, a oposição é pautada pela mídia, que solta uma informação, muitas vezes sem comprovação ou de algo que não corresponde à realidade, e daí a oposição faz o seu carnaval. É óbvio que hoje há um desânimo na sociedade brasileira, é óbvio que temos, hoje, problemas de ordem política, mas, obviamente, há um clima muito mais artificial do que a realidade.

            Dizer que a situação econômica do Brasil é uma situação caótica, como nós vemos no dia a dia... V. Exa é inteligente, V. Exa entende desse assunto e sabe que não é verdade. Os pressupostos da economia brasileira são positivos, nós temos amplas condições de superar este momento, estamos aplicando as medidas corretas. E V. Exa me desminta se discordar do que eu vou dizer agora: se o Partido de V. Exa tivesse vencido a eleição, estaria aplicando essas medidas hoje. Não aplaude nem apoia essas medidas porque, no fundo, é a teoria do quanto pior, melhor. E, com todo o respeito mais uma vez, carece ao PSDB autoridade política para fazer críticas ao nosso Governo. Eu acho tão interessante que ele fala: “Olha, o Fies...”

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Por que nós não temos autoridade? Por que não temos autoridade? Nós fomos eleitos assim como o senhor. Nós estamos aqui por vontade do povo.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Eu vou dizer, eu vou dizer, eu vou dizer... Não, eu estou falando de ter razão. Eu quero que V. Exa me escute.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Ah, não temos razão! Pois não.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Vou dar um exemplo. V. Exa estava falando aí: “Ah, o Fies está com problema. O Minha Casa, Minha Vida está com problema”, n coisas que são construções do nosso Governo, que não existiam nos governos do PSDB, que não existiam no Governo que nos antecedeu. E hoje é isso que a gente vê, o tempo inteiro, as críticas. É como se aqueles programas agora fossem uma coisa que foi feita lá atrás, que não houve quem produziu, que não houve o compromisso de quem fez. Então, esse é o primeiro dado. E o segundo dado é esse outro, é de que o conjunto das críticas que hoje são feitas, V. Exa sabe muito bem, seriam... As medidas que estão sendo tomadas hoje e que são medidas que geram esse sentimento de antipatia, de questionamento da sociedade, até porque foram mal comunicadas... Eu já tive a oportunidade de dizer isso.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É verdade. Mal comunicadas inclusive na campanha eleitoral pela Presidente Dilma.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Elas seriam tomadas por V. Exas se ao governo tivessem chegado. Então, por isso eu digo que falta autoridade ao PSDB de fazer essas críticas. Primeiro porque, se estivessem no governo, estariam tomando essas medidas e hoje não têm a coragem de reconhecer a necessidade dessas medidas. Segundo porque, o tempo inteiro, falam de conquistas que foram dos nossos governos e que nos governos de V. Exas jamais sequer foram pensadas. Muito obrigado pela gentileza de V. Exa em me conceder o aparte.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu que fico muito honrado com seu aparte, meu prezado Líder Humberto Costa.

(Soa a campainha.)

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Só uma precisão: o Fies foi criado no governo Fernando Henrique. O Ministro era o Paulo Renato.

            Agora, voltando aos tempos atuais...

            O Sr. Humberto Costa (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Excelência, o que existia anteriormente (Fora do microfone.) era o Crédito Educativo.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            Vamos voltar aqui aos tempos atuais, porque os senhores sempre procuram voltar ao tempo do Fernando Henrique. Faz 13 anos que não somos mais governo. São obcecados por isso. E, cada vez que o Fernando Henrique fala, ficam agitados, nervosos.

            Vejam: na história do pingue-pongue entre a palavra do partido e a mídia, os senhores foram mestres nessa articulação. Quem não se lembra de como funcionava quando o PT era oposição? Plantavam uma notícia no jornal - queixam-se, agora, da mídia; estão cuspindo no prato em que comeram -, com grande repercussão. Em seguida, quem entrava no jogo? O Procurador Luiz Francisco e seus companheiros, para transformar essa notícia num pedido de abertura de inquérito. E aí se gerava outra notícia: há um inquérito aberto. Depois disso, havia uma terceira: uma tentativa de instaurar uma CPI. Isso era um roteiro padronizado e conhecido que os senhores praticaram à exaustão, a tal ponto que ficaram, depois, desacreditados.

            Agora, V. Exª diz, Senador Humberto Costa, que, se a nossa coligação tivesse ganhado as eleições, nós teríamos feito coisas semelhantes. Em primeiro lugar, acho que não teríamos a dificuldade que a Presidente Dilma tem, para mostrar que ela é durona nas finanças, para desfazer toda a pecha legítima de irresponsabilidade fiscal que pautou o seu primeiro Governo e que pautou também o governo do Presidente Lula a partir da saída do finado Ministério Palocci. Ela precisava exagerar na dose para mostrar que é durona, que controla as finanças, que tem rigor no controle das contas públicas, para tentar recuperar - como disse, aliás, o Ministro Levy - uma credibilidade perdida. É muito difícil recuperar uma credibilidade perdida, especialmente quando não se reconhecem os erros que foram cometidos.

            Sabem quem sumiu do noticiário? Ninguém mais fala nele, e ele não diz mais nada: o grande executor da nova matriz de política econômica. Alguém já ouviu falar, recentemente, de algum pronunciamento do ex-Ministro Guido Mantega? Ninguém defende mais.

            Nós estamos vivendo uma conjuntura difícil, como se essa conjuntura tivesse caído do céu e não tivesse sido preparada, adredemente preparada, por erros sucessivos de populismo, de irresponsabilidade, de incompetência, que geraram a situação que nós estamos vivendo, mas não se reconhece o erro.

            Senador Humberto Costa, quero tirar o chapéu para o senhor, pois falou, pela primeira vez, uma palavra que é muito difícil de se encontrar nos discursos do PT: erros, cometemos erros. É verdade. E muitos. E os erros do PT estão sendo pagos, agora, pelo povo brasileiro.

            Por isso é que disse que, quando nós fazemos críticas, nós, nem de longe, nos aproximamos das críticas que nós ouvimos por aí.

            E, mais ainda, falando da campanha eleitoral, que já faz um século que aconteceu, eu me lembro, perfeitamente, de uma resposta da candidata Dilma Rousseff a uma interpelação do então candidato Aécio Neves sobre a inflação. Sabem o que ela disse? “Se vocês ganharem o governo, sabe como é que vocês vão combater a inflação? Mandando os juros lá para as alturas e provocando o desemprego”. Foi o que disse a candidata Dilma Rousseff. E ela que faz isso agora.

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Permite um aparte, Senador?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Lembram-se disso, Srs. Senadores?

            O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Permite um aparte?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - “Se ganharem a eleição, vocês vão elevar os juros para as alturas e provocar o desemprego”, como quem dissesse “com nossa matriz econômica, é diferente”.

            O que está acontecendo hoje são juros estratosféricos e um desemprego crescente, angustiante. E não há nenhuma perspectiva oferecida por este Governo para a superação desta crise, nenhuma perspectiva de longo prazo, de reformas profundas, que permitam um crescimento com sustentabilidade, inclusive para dar respaldo a programas sociais importantes como esse a que aqui se referiu o Senador Humberto Costa.

            De erro em erro, este Governo foi perdendo margem de manobra. O que se vê é que não há outro recurso na imaginação criadora dos neoliberais que controlam as finanças públicas hoje senão o aumento dos juros para provocar o desemprego e para, com isso, tentar desaquecer o mercado e derrubar a inflação. Só que o mercado já está mais do que desaquecido. Começa agora o setor de serviços, que é o último a entrar na paralisia, que já está hoje demonstrando sinais evidentes da mesma paradeira que atinge os outros setores.

            Ouço o Senador Donizeti, que pediu um aparte.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador, acho que é muito salutar este debate, mas eu queria perguntar: o senhor leu o artigo do Marcos Coimbra, que fala dos dois janeiros?

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não li, Senador.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Então, acho que o senhor precisava ler, porque, naquele momento...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Se o senhor puder me mandar...

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Os dois janeiros são o do Presidente Fernando Henrique e o da Dilma nos dois segundos mandatos. Quando o Presidente Fernando Henrique assumiu o segundo mandato, no mês de janeiro, a inflação saltou quase para 20%. Houve um desequilíbrio. Foi feito tudo para ganhar a eleição; ganhando a eleição, gerou desequilíbrios. Esse é um artigo orientador, porque ele mostra a comparação dos dois janeiros, e os fundamentos da economia hoje são muito melhores do que os do janeiro do ex-Presidente Fernando Henrique. Acho que é muito bom o debate, mas também não se pode tapar o sol com a peneira. De vez em quando, eu vejo aqui a reclamação: “Mas vocês ficam falando lá do Presidente Fernando Henrique”. É óbvio! Nós estamos, de um lado, o PT e, de outro lado, o PSDB, os dois Partidos que governaram por 20 anos, e há essas comparações. Esse artigo dos janeiros, como também um outro artigo que é do jornalista Mauro Santayana, que fala que o PT não quebrou o Brasil, faz comparações com os governos anteriores. Então, eu acho que o debate é bom, mas é preciso também não só pautar pela Veja, não só pautar pela Época, não só ver o Jornal Nacional, porque eu estou mais ou menos, Senador Aloysio, como o Raul Seixas: “Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”. Há muita mentira, muita maldade e muita distorção. Não podemos comparar o controle que o Presidente Fernando Henrique tinha dos meios de comunicação, que foi o que facilitou e ajudou a aplicar o Consenso de Washington no País. Ele tinha praticamente 100% da mídia do lado dele. Em algum momento...

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - O que é o Consenso de Washington, Senador? Eu não sei o que é isso.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - O senhor sabe.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não sei. Sinceramente, não sei.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - O Consenso de Washington foi a decisão do grupo lá nos Estados Unidos que levou à aplicação do neoliberalismo, junto com a Inglaterra, Ronald Reagan etc.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É a linha do PT, meu amigo!

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Não é, não!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É o que vocês estão fazendo. Foram buscar o Joaquim Levy para fazer isso.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Não é, não!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - O que é isso?!

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Não, senhor!

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Esses erros são do PT, não são de Washington, não.

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Aloysio, no decorrer do processo, vamos ter oportunidade de ver que há diferença. É o discurso de antes: “O PT está aplicando a política do PSDB”. Durante anos, vocês ficaram repetindo que o PT está aplicando a política do PSDB. Não é! Não é verdade. Então, eu acho que o debate é bom, mas temos que, no mínimo, ir ao trilho da verdade em muitos aspectos. Eu não quero fugir da verdade. Agora, eu leio Época, eu leio Veja, mas eu leio outros articulistas, eu leio outros meios de comunicação que têm visão e dados diferentes, para poder contradizer muita coisa que a imprensa nacional tem dito e que vocês têm repetido. Obrigado pelo aparte, Senador.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Agradeço o aparte a V. Exª, Senador Donizeti, e agradeço, inclusive, as referências a artigos que ainda não li, mas vou procurar me interar do seu teor.

            Eu apenas quero dizer ao senhor que não me pauto apenas pela leitura de jornais. Procuro meditar sobre as coisas, procuro colher dados estatísticos, ouço discursos dos colegas e ouço o que as pessoas dizem na rua. As pessoas me dizem: “Senador, o que vamos fazer? O que vai acontecer?” Eu sinceramente não sei. O clima de incerteza, de insegurança, de falta de rumo é tão grande, Senador Donizeti, que os senhores são obrigados a vir comparar janeiro de não sei quando com outro janeiro. Não tem sentido isso. O primeiro janeiro do Presidente Fernando Henrique faz tantos anos, foi um janeiro no bojo de uma crise terrível, uma crise que...

            O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Desculpe-me, Senador, é o segundo janeiro, não é o primeiro.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois é. Eu quero me referir ao primeiro, para depois falar do segundo.

            Havia uma crise terrível, uma crise política, que começa a ser superada no governo Itamar, que os senhores repudiaram - chegaram a expulsar uma das mais valorosas militantes de seu Partido, Luiza Erundina, porque ela foi integrar o governo Itamar. A crise de hegemonia que vinha desde a agonia do governo militar foi superada graças a um programa de reformas efetivo, que mudou profundamente o Brasil, que não apenas permitiu controlar a inflação, mas mudou os fundamentos, o funcionamento da economia brasileira para o bem.

            Eu esperava, sinceramente, que, no primeiro janeiro do Presidente Lula, ele anunciasse a sequência de um programa de reformas importantes, para dar sustentação e continuidade a um processo de mudança, para libertar o Brasil da amarra, do atraso, da burocracia, da mediocridade. Ele pediu o nosso apoio para dar sequência à reforma da Previdência, que nós havíamos iniciado. E nós demos esse apoio ao Presidente Lula, o apoio que o seu Partido negou. Nós do PSDB lhe demos.

            Naquele segundo janeiro do Presidente Fernando Henrique, realmente, nós assumimos o governo numa situação difícil. Depois de ter enfrentado várias crises internacionais reais, nós enfrentamos uma crise grave que vinha da perspectiva da vitória do PT. “Se o PT ganhar”, alguns diziam, “os empresários vão embora do Brasil”. E o Presidente Fernando Henrique fez tudo para que tivéssemos uma transição tranquila e pacífica. Quando precisou recorrer ao Fundo Internacional, porque havia uma fuga de divisas por causa do pânico gerado pela perspectiva de vitória do Presidente Lula, o Presidente Fernando Henrique convidou ao seu gabinete o Presidente Nacional do PT, o então Deputado José Dirceu. Fui eu que articulei esse encontro, para que o Presidente avisasse aquele que era o grande articulador político da campanha do Lula dos passos que necessitava tomar.

            Aqui no Congresso Nacional - eu era Deputado à época -, quando Lula ganhou a eleição, o Presidente Fernando Henrique orientou a sua base de apoio, que eu integrava, para que, na elaboração e na votação do Orçamento, nós seguíssemos as orientações do Deputado Bittar, que falava pelo próximo governo, o governo do Lula.

            São janeiros memoráveis, dos quais eu não quero me esquecer.

            Agora, voltando e já me encaminhando para o final do meu pronunciamento, me refiro a todas essas notícias ruins que geram um movimento de muita insatisfação do povo, de muita impaciência, de muita revolta. Fomos enganados. A pessoa que foi enganada, que compra gato por lebre, fica muito, muito, muito brava com todo mundo, mas principalmente com aquela pessoa que ocupa a cúpula do sistema político, que é a Presidente Dilma, que foi a principal responsável pelos desacertos e a principal emissora das mentiras mais deslavadas.

            Vejo essa impaciência, mas vejo também, meus caros colegas, a confiança de que esse mesmo povo que está hoje triste, amargurado, revoltado, esse povo que inventou a mandioca, em 2018, vai descascar esse imenso abacaxi que o PT nos legará.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2015 - Página 516