Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão Solene destinada a comemorar o Dia Internacional da Mulher e realizar a entrega do Diploma Bertha Lutz aos agraciados em sua 15ª Premiação.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Solene destinada a comemorar o Dia Internacional da Mulher e realizar a entrega do Diploma Bertha Lutz aos agraciados em sua 15ª Premiação.
Publicação
Publicação no DCN de 09/03/2016 - Página 24
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ.

     O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.)

- Srª Presidente Angela Portela, Srªs e Srs. Senadores, do ponto de vista de homenagem, já tivemos uma dose não do tamanho que as mulheres merecem - é muito mais -, mas com consistência.

    Eu vou prestar uma homenagem direta, falando duas coisas: primeiro, lembrando o que o Brasil de hoje oferece às nossas mulheres, e aí o quadro não é muito bom, Senador Paim. Comecemos por aquelas que estão nesse período fundamental, que é a gravidez. O que o Brasil está oferecendo às mulheres grávidas nesse momento? O risco do zika; o risco e o medo, durante nove meses, de um mosquito!

    Estamos oferecendo violência. Duas violências: violência doméstica, aquela de maridos, de irmãos, de pais; e violência das ruas, contra as mulheres, que é maior do que a violência nas ruas contra os homens.

    Meu caro Senador Paim, quando fui candidato a Governador, pela primeira vez, pelo Distrito Federal, em 1994, em Brasília - o candidato a Governador circula, anda; é quase como um prefeito -, uma das coisas que me mais me chamaram a atenção, Senadora Angela Portela, era o fato de ir, à tarde, de casa em casa, e, em geral, eram as mulheres que ali estavam; obviamente, não eram os homens. O que mais me impressionava era o relato de violência que elas sofriam. Com quase naturalidade, elas me contavam isso, e eu estava acabando de chegar.

    Então, é isso o que o Brasil está oferecendo às nossas mulheres? Violência doméstica e violência nas ruas? Treze mulheres por dia - ouvi hoje na televisão - sofrem violências de morte. Numa queda trágica, caímos do 7º para o 5º lugar no mundo em número de violências.

    Estamos oferecendo hospitais sem pediatras, porque o Brasil deveria estar oferecendo isso também aos pais, aos homens, mas são as mulheres que sofrem mais quando chegam ao hospital e não encontram um pediatra para o filho. É isto que estamos oferecendo: hospitais caóticos.

    Estamos oferecendo escolas sem qualidade para os filhos. Algo que não existe tanto em outros países é a desigualdade na qualidade de ensino, conforme o filho seja do rico ou do pobre. A qualidade ruim da educação média do Brasil também existe em outros países, mas estes, que têm uma educação pior do que a nossa, em geral são tão pobres que não há grande desigualdade. Os ultra, super-ricos mandam os meninos estudarem na Suíça.

    Eu insisto - já disse daqui algumas vezes - que não deve haver maior violência social do que uma empregada doméstica, de manhã, acordar, preparar as crianças da patroa para irem à escola, com suas mochilas cheias de livros, sabendo que haverá aula, e esta empregada sabendo que seus filhos não têm escola; ou que têm escola, mas está em greve; ou que têm escola sem qualidade. Não há violência maior.

Muitas vezes, a gente não percebe esse sofrimento lá dentro dessas mulheres, que são domésticas.

    E a situação é tão grave que algumas delas nem têm consciência disso. Tratam como uma coisa natural: existam filhos de uns e filhos de outras, como se o mundo nascesse para haver essa desigualdade.

    Nós temos medo da violência contra os filhos; as mães têm mais ainda do que os pais, para dizer a verdade. O Brasil está oferecendo às mulheres uma situação em que elas não dormem quando os filhos adolescentes, ou depois de adolescentes, estão na rua, porque não sabem se voltam, não sabem se voltam sem serem assaltados e traumatizados.

    Há também uma outra violência que a gente esquece que o Brasil está oferecendo às mulheres: a violência sobre as mulheres dos presos, dos bandidos - chamemos assim -, dos ladrões, dos assassinos. As mães deles sofrem! Sofrem quando sabem as condições, o tratamento dado aos nossos presos. Ontem mesmo saiu um relatório internacional mostrando a tragédia das prisões brasileiras. É isso o que a gente está oferecendo às mulheres; aos homens também, mas os homens sofrem menos com isso.

    E, finalmente - muitos já falaram aqui -, o que o Brasil oferece às mulheres? Salários desiguais em relação aos dos homens. O Brasil ofereceu uma independência às mulheres que começaram a trabalhar nas últimas

décadas, mas não ofereceu salário igual ao dos homens para trabalhos iguais. Isso é o que nós, Brasil, estamos

oferecendo às mulheres no dia 8 de março deste ano.

    E o que o Brasil gostaria, a meu ver, de ver as mulheres oferecendo a ele, ao Brasil? Eu acho - aí eu falo por mim - que uma das coisas que eu gostaria de ver as mulheres oferecendo ao Brasil é cada uma delas votar, no dia das eleições, pensando no candidato que vai oferecer um melhor futuro para o seu filho. Não vote por outra coisa! Não vote porque prometeram uma camisa, porque prometeram algo. Vote pensando no futuro dos filhos! Se fizermos isso, se as mulheres fizerem isso, certamente estarão dando uma grande contribuição.

    Acho que o Brasil quer que as mulheres - e aí os homens também - ofereçam uma educação que compense a falta de educação que se recebe hoje na escola. Antigamente a gente chamava de educação doméstica; chamemos de educação complementar aquela que vem da escola.

    Creio que a gente deveria pedir às mulheres - o Brasil deveria pedir - que elas não se calem diante dos erros: os erros dos Senadores, os erros dos Deputados, os erros dos policiais, os erros dos empresários, os erros dos médicos nos hospitais.

As mulheres não podem calar. É isso que o Brasil espera das mulheres.

    O Brasil espera que as mulheres apoiem os professores nas lutas deles, mas que as mulheres do Brasil tentem evitar as greves que os professores fazem. Apoiem, mas apoiem tentando que não façam greve. Apoiem, indo às manifestações que os professores façam nas ruas, e voltem para dar aulas em tempo. E, se não houver outro jeito, e houver greve, que apoiem as greves para que elas não demorem, porque os prejudicados são as crianças, são os filhos.

    Nós esperamos, o Brasil espera que as mulheres estudem, mais ainda do que já estão estudando. E aqui se falou como hoje há mais mulheres se saindo bem nos estudos que homens. É preciso que estudem ainda mais, porque o Brasil precisa.

    Nós precisamos que as mulheres - nós, o Brasil - puxem os homens para que se preocupem com os filhos dentro das casas e na política nacional. Puxem, porque, naturalmente, nós, os homens, tendemos a não dar essa importância tão grande.

    Nós precisamos da participação política das mulheres. As mulheres conseguiram participar da vida econômica, conseguiram trabalhar, mas ainda não participam o quanto deveriam da política, nas campanhas, elegendo-se e vindo para a cá, vindo para a Câmara, indo para as Assembleias, sendo prefeitas.

    Mas nós precisamos que essas mulheres que cheguem aqui façam política sem métodos machistas. Porque há uma tendência de esquecerem o lado feminino...

    (Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PPS - DF) - ... quando chegam ao exercício de atividades que tradicionalmente eram dos homens.

    Nós precisamos - estou terminando, Senadora - que as mulheres façam política, mas não como a que os homens têm feito nesses 500 anos de história do Brasil; uma política sem compromisso com o futuro das crianças, uma política voltada para o sucesso pessoal, e não para a construção nacional.

    Por isso, eu insisto dizendo que o Brasil precisa que as mulheres nos ensinem, a nós políticos; nos ensinem como feminilizar a política, como fazer com que a política seja feita mais com sentimento do que mais com interesse pessoal. Nós precisamos muito - nós, o Brasil - das mulheres, sobretudo nisto - com o que eu concluo: que nos ensinem como feminilizar a política para fazer do Brasil um País com sentimento.

    Essa pode não ser uma homenagem, Senadora, às mulheres como tradicionalmente se faz no dia 8 de março...

    (Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PPS - DF) - ... mas é a mensagem de um brasileiro que tem esperança de que venha das mulheres a solução dos problemas que nós os homens criamos, e estamos deixando para os filhos de vocês.

    É isso, Srª Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 09/03/2016 - Página 24