Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador André Franco Montoro.

Autor
José Aníbal (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: José Aníbal Peres de Pontes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador André Franco Montoro.
Outros:
Aparteantes
Aécio Neves.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2016 - Página 75
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, EX SENADOR, ANDRE FRANCO MONTORO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, REFERENCIA, MANDATO, GOVERNADOR, SÃO PAULO (SP), PARTICIPAÇÃO, MOVIMENTO SOCIAL, DEFESA, DEMOCRACIA.

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, conversando com o Senador Aloysio Nunes e também com o Presidente Renan Calheiros, acordamos que faríamos hoje, antes da sessão, uma homenagem a um brasileiro extraordinário que, no dia 14 de julho, faria 100 anos e que foi Senador: André Franco Montoro. Para essa homenagem, inclusive, nós convidamos aqui o seu filho José Ricardo Montoro, que já foi Vereador e Deputado Estadual e que atua na Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo.

    Eu queria começar, Sr. Presidente, com uma lembrança que diz muito sobre Franco Montoro. Em dezembro de 1983, ele era Governador de São Paulo, e a Executiva do PMDB de São Paulo era presidida pelo então Senador que o sucedeu no Senado, como suplente, Fernando Henrique Cardoso. Em determinado momento da reunião, que era feita na casa da Deputada Ruth Escobar, a reunião foi interrompida por um telefonema de Montoro. Isso ocorreu no final de dezembro de 1983. Ele, então, disse a Fernando Henrique que ele tinha acabado de convocar um ato pelas Diretas Já no Brasil no dia do aniversário da cidade, 25 de janeiro. Fernando Henrique voltou para a reunião e disse: "Não sei de onde o Governador Montoro tirou essa ideia. Não acredito que se possa fazer um ato pelas Diretas Já na Praça da Sé, daqui a 30 dias, com alguma chance de sucesso."

    Poucos dias antes, em novembro, nós tínhamos convocado um ato pelas Diretas Já com muitos partidos e movimentos empenhados, e o ato teve resultado muito precário. O único fato relevante do ato foi o anúncio de que o grande Teotônio Vilela tinha morrido naquele dia.

    Enfim, o ato foi convocado. Montoro, como disse um grande mineiro que pediu a ele luz alta, respondeu de forma muito assertiva, e houve na Praça da Sé um ato com centenas de milhares de brasileiros. E perguntaram a ele: "Governador, quantas pessoas estão neste ato? Cem mil, duzentas mil, trezentas mil?" Ele disse: "Eu não sei quantas. Eu sei que o Brasil está aqui". Com aquilo, ele mostrou, de uma forma extraordinária, a percepção de que o momento era o momento em que os brasileiros todos esperavam algo para manifestar o seu desejo de democracia, de recuperação das eleições diretas. A partir daí, conhecemos toda a história.

    Quero brevemente ainda ressaltar que o Governador Montoro foi um grande Governador. O ex-Presidente Fernando Henrique comentou uma vez com amigos, e eu estava presente: "Eu não consegui entender. Na campanha para Governador, o Montoro repetiu o mesmo discurso cinco, seis vezes por dia. Era o mesmo discurso: a descentralização, a participação, a austeridade, o cuidado com o dinheiro público. E eu vim a entender depois que cada um daqueles comícios, daqueles discursos, era para um público diferente. E ele estava criando ali uma corrente. Independentemente de partido, independentemente de candidato, ele queria passar a ideia que ele julgava ser a melhor para governar São Paulo". E foi a melhor ideia. Montoro foi o grande Governador que São Paulo teve, foi o grande Governador que estimulou as ações nas regiões, que dividiu o Estado em 42 grandes regiões administrativas e que, com isso, tornou muito mais eficiente a gestão pública de São Paulo.

    É com uma satisfação enorme que eu venho a esta tribuna, Presidente Renan Calheiros, mais que para prestar uma homenagem, mas para manifestar, como ontem conversava com o Aloysio, a nossa admiração por esse grande brasileiro. Ele tinha um olhar com relação à nossa América. Ele trabalhou muito sobre isto, como eu não vi presente em nenhum outro político brasileiro: a sensibilidade dele para a América do Sul. Era um olhar não só para o Atlântico, mas para o Pacífico. Um brasileiro, realmente, que se distinguiu.

    Ele terminou a vida como Deputado Federal, iniciou a vida pública como Vereador, sendo Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, Governador. Foi grande iniciador do movimento das diretas na forma das manifestações que levaram milhões de brasileiros às ruas e, finalmente, um brasileiro que deixou saudades e que honra muito este Parlamento, que ele ocupou por alguns anos.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) - Senador José Aníbal, V. Exª me permite...?

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Eu queria só pedir um pouco mais a presença do Senador José Aníbal.

    Nós gostaríamos de propor ao Plenário, em função da antecipação desta homenagem ao Franco Montoro, uma breve suspensão da Ordem do Dia, que, na verdade, não começou ainda, porque há um pedido reiterado do Senador Romero Jucá para que haja agora, aos 15 minutos para as 18h, uma rápida reunião da Comissão de Regulamentação da Constituição Federal. E eu combinei com o Romero - nesses dias de muitos compromissos, para que a comissão não atrapalhasse o Plenário e também para que o contrário não acontecesse - que ele realizasse essa reunião da Comissão de Regulamentação da Constituição Federal. É uma rapidíssima reunião.

    Vamos, durante esse tempo, conceder a palavra ao Senador Aloysio, ao Senador Aécio Neves, ao Senador José Aníbal. É uma antecipação das homenagens ao Franco Montoro, que completaria, se vivo estivesse esse grande homem público brasileiro, cem anos de existência. Ontem, eu combinei com o Senador José Aníbal para que hoje fizéssemos essa suspensão, de modo a prestarmos uma justa homenagem, sem prejuízo, Senador Aloysio, da sessão do Congresso Nacional, que poderá acontecer no início de agosto.

    Senador José Aníbal, com a palavra V. Exª. Há um pedido de aparte do Senador Aécio Neves. Com a palavra V. Exª.

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP) - Pois não, Senador.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) - Senador José Aníbal, V. Exª dá ao Plenário do Senado Federal hoje uma oportunidade rara de homenagear um dos mais extraordinários homens públicos do seu tempo. Ao ver aqui, nas tribunas, o filho dele, meu querido amigo Rico Montoro, eu faço, Rico, quase que um passeio pela bela história...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) - ... construída por Montoro, por Tancredo, por Ulysses e por tantos brasileiros que deixaram, às gerações que lhes vieram a suceder, exemplos, caminhos, mas, sobretudo, uma Pátria democrática. E, se hoje, em um Brasil de tantos desencontros, há algo que ainda nos sustenta, são exatamente os pilares da democracia construídos por esses e outros homens públicos, seus contemporâneos naquele tempo, e que hoje se mostram ainda extremamente sólidos. Eu teria, caro Rico Montoro, Srªs Senadores, Srs. Senadores, inúmeras boas lembranças de manifestações políticas, como aqui fez o Senador José Aníbal, e também de algumas passagens pessoais, que me fazem lembrar, Líder Aloysio Nunes, com muita saudade do Governador Franco Montoro. Porém, eu quero aqui me restringir a uma apenas, que é ilustrativa e emoldura, de forma extremamente completa, a personalidade do então Governador, depois Senador, do homem público Franco Montoro. Existe um pensamento universal que diz, Rico Montoro, que, se você quer conhecer de verdade um homem, dê-lhe poder - e óbvio que eu não faço aqui uma restrição de gênero quando me refiro a homem. O que temos visto na vida pública do Brasil - e de outras nações do mundo, isso não é uma exclusividade nossa - são abusos, são excessos, é ausência de compreensão da dimensão daquele momento, daquele posto, daquele poder que, de forma efêmera, esse homem público exerce. Com Montoro, José Aníbal, aconteceu algo que não é comum nos homens público. É a esse episódio que eu quero me referir aqui, hoje, no plenário do Senado, quando homenageamos o centenário de nascimento de Franco Montoro. Era ele o mais poderoso, era ele o mais importante líder da oposição ao regime autoritário quando se elege Governador de São Paulo em 1982. Outros Governadores - entre eles, meu avô Tancredo; entre eles, José Richa; e Leonel Brizola, no Rio de Janeiro - elegeram-se naquela mesma quadra e, ao lado de outros extraordinários homens públicos, deram início à construção da redemocratização, da fase final da redemocratização no País. Era absolutamente natural que Franco Montoro, Governador do mais importante Estado brasileiro, fosse, de alguma forma, o nome consensual, o nome a surgir de forma absolutamente unânime por parte das principais lideranças da oposição, em especial, os governadores de oposição naquele instante. Lembro-me - e Rico Montoro se lembrará, e tantos que nos ouvem aqui se lembrarão - de uma antológica, histórica reunião no Palácio Bandeirantes, quando, ao lado de outros governadores da oposição - lembro-me de Gerson Camata também nesse episódio -, Franco Montoro pede a palavra e declina, Senador José Aníbal, de uma indicação que poderia, repito, com razoável naturalidade, caminhar na direção do seu nome como candidato das oposições à Presidência da República. Entendendo o quadro político, fazendo ali a sua análise, mas mostrando um extraordinário desprendimento, colocando sempre o interesse do País e da democracia à frente dos seus próprios interesses, ele ali indica o nome do então Governador eleito de Minas Gerais, Tancredo Neves, como o nome que poderia melhor representar o conjunto das forças de oposição e mais rapidamente construir a saída do Brasil do regime autoritário. Foi um gesto surpreendente para muitos. Tancredo, Rico, levou-o na alma e no coração durante toda a sua existência. E, a partir do gesto de Franco Montoro, outros gestos de desprendimento, como o de Ulysses Guimarães, acabaram por levar Tancredo a ser eleito Presidente da República no colégio eleitoral. Quis o destino que ele não assumisse a Presidência da República, mas a sua obra principal, o restabelecimento dos princípios, dos valores e das instituições democráticas no Brasil, essa, sim, foi concluída. E se, de tantos brasileiros que poderíamos homenagear, tantos que tiveram papeis de enorme destaque naquela construção, pudesse eu aqui destacar um, sem sombra de dúvidas e sem qualquer constrangimento, dentre tantos ilustres homens públicos daquele tempo, eu diria que a construção da candidatura...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) - ... de Tancredo e a retomada da democracia brasileira tiveram como seu maior inspirador a coragem, o espírito público e a grandiosidade de André Franco Montoro.

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP) - Muito bem.

    Senador Aloysio.

    (...)

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, queria mais uma vez agradecer a oportunidade, e, já que o Aloysio provocou, Presidente Renan, dizendo dos auxiliares da equipe de Montoro como Governador, vamos começar com o próprio Aloysio, que foi Líder do Governo na Assembleia Legislativa; do atual Presidente da República Michel Temer, que foi seu secretário; do atual Ministro das Relações Exteriores, José Serra, que também foi seu secretário. Foram muitos que passaram pelo Governo.

    O ex-Ministro, saudoso Paulo Renato; também Ministro do Trabalho Almir Pazzianotto; João Sayad, Ministro da Fazenda, Secretário da Fazenda de Montoro; Costa Carvalho. Enfim, Montoro criava equipes que realmente tinham muita competência, muita dedicação e com as quais ele, efetivamente, compartilhava o ato de governar.

    Ricardo, leve à família Montoro, a seus irmãos, suas irmãs um abraço carinhoso de todos nós aqui e o desejo de que vocês continuem cada dia mais a se orgulhar do grande pai que tiveram.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2016 - Página 75