Fala da Presidência durante a 51ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas, em razão do Dia do Índio.

Autor
Telmário Mota (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas, em razão do Dia do Índio.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2018 - Página 30
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, DIA, INDIO.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Obrigado, Álvaro.

    Por isso, eu digo: uma sessão desta reúne o sentimento nacional. Eu lamento e até entendo que, como, na próxima semana, vão fazer o Acampamento Terra Livre, talvez até a nossa equipe tenha cometido um erro em não ter deixado esta sessão, com a presença da população indígena de um modo geral, para o movimento da Terra Livre, mas hoje se valorizou muito este dia. Então, a questão de não deixar passar do dia 19 e fazer numa outra data naturalmente criou esse descompasso.

    Eu quero aqui já registrar a presença da nossa Senadora, a mãe da educação brasileira e nossa futura Governadora do Rio Grande do Norte. Daqui a pouco, ela vai fazer naturalmente uso da palavra.

    Eu quero dizer, Álvaro, que a sua fala – e foi bom a sua fala na presença do nosso Subprocurador-Geral Dr. Rogério – é o sentimento hoje das comunidades. Eu acho que as comunidades não podem perder o seu hábito, perder a sua cultura, mas, como a população indígena aumentou, não há mais como eles viverem, por exemplo, só da caça, só da pesca, andarem nus. O Álvaro disse bem: "Eu não sou nenhum bibelô de ambientalista." Eles querem viver hoje... A internet está lá dentro, wi-fi está lá dentro, os meios de comunicação estão lá dentro. Então, nós temos que fazer essa adaptação. O índio pode, sim, viver bem, viver saudável, viver com dignidade, de forma sustentável. Ele preserva toda a sua natureza...

    No meu Estado de Roraima, se juntar hoje o gado das comunidades, eles são os maiores fazendeiros do nosso Estado. São 70 mil cabeças de gado, chegaram a 80 mil, já perderam 10 mil, porque eles estão matando, pois não têm do que viver. Eles vão para a cidade, não há emprego, vão para a prostituição, vão para o crime.

    Hoje, para um líder segurar um jovem dentro da comunidade, é muito complicado. Na minha época, eu vivi até os 11 anos numa comunidade. Analfabeto de pai e mãe, eu vivia na escuridão do analfabetismo. Às 6h da tarde, a gente ia dormir – era lamparina – e acordava às 4h, 5h. Então, a rádio que havia era com A Voz do Brasil e chiava mais do que tudo, por causa da interferência da Venezuela, pois era na fronteira. Hoje, não. O jovem fica 10, 11 horas ouvindo. E o homem é produto do meio. O que os olhos não veem o coração não sente. Como a gente não via, o coração não sentia, mas eles sentem hoje. Eles olham um jovem indo para uma balada numa moto, num carro, uma televisão. Com isso, nasce uma expectativa dentro deles. Eles olham para o céu, e o teto está encostando na cabeça. Eles não vão pegar mais numa enxada, num enxadeco, num ciscador para ir a uma roça produzir, pois é impossível. Hoje, produzir é para a subsistência, mas não é fácil ir para a roça capinar para produzir, para gerar riqueza. Então, eles vão para a cidade, onde são peça fácil de ser recrutado pela criminalidade, por algo errado. Então, nós temos que observar isso.

    E também isto é um ponto, Álvaro, que tem que ser dito: as universidades e os institutos técnicos têm que casar os cursos com a realidade do homem do campo. Levar mais agropecuária para ele produzir na agricultura, produzir na pecuária, criar peixe, produzir o que for possível dentro da sua terra, para viver com dignidade. Isso permite que as lideranças das comunidades tenham mais domínio e vivam mais pacificamente.

    Eu queria falar exatamente para o Procurador, porque tudo o que é atrito morre lá. Então, é lá que ele vai entender essa parte. E, com a fala do Álvaro hoje, eu ganhei esta sessão. Eu precisava ouvir uma fala igual à sua, Álvaro, com a luta que você tem, com a experiência que tem, com suas conquistas. E você hoje chegou a essa conclusão.

    Eu tenho dito isto sempre para a Iza: a Funai tem que mudar o foco indigenista dela. Ela tem que estar aparelhada. E o Governo, na verdade, foi desidratando a Funai. Tiraram tudo. Tiraram a saúde. A Funai hoje é um bibelô, está funcionando com emenda parlamentar. Ela não tem nenhum orçamento que realmente atenda as suas demandas. Então, é preciso que a Funai retome o seu objetivo principal para dar proteção aos povos indígenas, se necessário, para levar o aparelhamento necessário. Através da Funai, podem botar a pecuária, a agricultura. As políticas públicas têm que chegar. A escola, a educação é fundamental.

    Eu acho que, para isso, nós – todas as lideranças que estão aqui, todo mundo – temos que sair daqui com um documento, para usar este mandato. Este mandato de Senador não é meu, é do povo. Eu sempre digo: meu pai era um vaqueiro, minha mãe era uma índia, empregada doméstica, e Deus quis que eu estivesse aqui. Eu não vou passar aqui em branco. Eu tenho que passar aqui e fazer alguma coisa.

    Minha mãe sempre dizia o que eu disse um dia desses aqui:

Nunca te esqueça que os índios são teus parentes e nunca te esqueça que ser pobre não é defeito. Defeito é fazer coisa errada. Se for um homem honesto, sempre vai ter a tua força e a tua cabeça erguida. Trilhe por esse caminho, meu filho, que nunca ninguém vai te humilhar.

    É nesse caminho que eu estou aqui. Estou aqui não pelas mãos econômicas, não estou aqui pela mão dos poderosos, não estou aqui pela mão da corrupção. Estou aqui, porque Deus quis e estou aqui para defender os humildes. (Palmas.)

    E eu faço isso!

    Quando o Vicentinho disse que teve oitenta e não sei quantos votos, eu quase ri, porque eu tive quase 100% dos votos indígenas. Então, é minha obrigação.

    O Álvaro me empolgou. É por isso que eu estou conversando muito. Ouviu, Álvaro? É você que me envolveu nessa fala, que achei extremamente...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Tuire, agora é a sua vez. Estavam só os homens falando. Iniciamos com mulher e agora será ela.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Ela vai falar na língua dela. Quem vai traduzir?

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Paiakã, se vira agora.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2018 - Página 30