Discurso durante a 81ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Anúncio de propostas lançadas pelo PT que visam discutir a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras.

Críticas ao Presidente da República, Michel Temer, e defesa da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, Ex-Presidente da República.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Anúncio de propostas lançadas pelo PT que visam discutir a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras.
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Presidente da República, Michel Temer, e defesa da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, Ex-Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2018 - Página 167
Assuntos
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, POLITICA, PREÇO, COMBUSTIVEL, GASOLINA, OLEO DIESEL, ADOÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), REGISTRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, ALTERAÇÃO.
  • REGISTRO, GRUPO, MANIFESTAÇÃO, OPOSIÇÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, CANDIDATURA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DISPUTA, CARGO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, OBJETIVO, SOLUÇÃO, CRISE, PAIS.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Valadares, Senador Capiberibe, estamos no final da sessão – só estamos nós aqui.

    Eu subo à tribuna sem voz, porque domingo foi um dia de mobilizações, foi o dia em que lançamos, no Brasil inteiro, em vários Municípios, a candidatura do Lula como candidato a Presidente da República e, hoje, foi um dia de debates intensos aqui.

    Eu fico vendo, Senador Capiberibe, o tamanho da destruição que esse pessoal fez no País – lembramos aquele processo do golpe contra a Dilma há dois anos –, da devastação social. Houve 1,5 milhão de pobres a mais em 2017; volta da mortalidade infantil; desnutrição infantil crescendo; o Brasil voltando ao Mapa da Fome; um ajuste fiscal irresponsável que está destruindo serviços públicos; e, por fim, esse apagão, porque o que houve foi um apagão. A proposta do Governo, sinceramente, não atende o povo brasileiro.

    Nós estamos apresentando aqui um conjunto de propostas, Senador Capiberibe, que entra na questão central, que é a política de reajuste da Petrobras. Nós temos que defender a queda do preço da gasolina e do botijão de gás, porque essa proposta do Governo só fala do diesel. E pior: eles falam em subsidiar isso com o pagamento de PIS/Cofins. PIS/Cofins é um dinheiro da seguridade social, da assistência social; é um dinheiro que vai para os mais vulneráveis. Eles estão querendo retirar desse imposto para subvencionar a Petrobras, os grandes acionistas da Petrobras e também – pasmem! – importadores, empresas importadoras de diesel. Estão tirando do orçamento para isso. Mas eu quero falar disso daqui a pouco e explicar as nossas propostas, o que o PT está apresentando como propostas para a saída dessa crise.

    Mas antes eu queria dizer que a Frente Brasil... A minha voz de fato está... Eu queria dizer – será que dá para aumentar o som um pouquinho, só um segundinho? Eu queria dizer – muito obrigado – que a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo se reuniram em São Paulo hoje e tiraram a próxima quarta-feira como dia de lutas.

    E eu quero falar para você, que é democrata, que está contra esse golpe que está acontecendo no País: é fundamental que a gente vá para as ruas. Nós não podemos deixar as ruas com o pessoal que defende a intervenção militar; grupos minoritários, que querem fazer barulho defendendo uma proposta como essa. A saída é mais democracia.

    Agora, esse pessoal a gente já viu na história. A gente tem que ocupar as ruas, não pode deixar eles estarem sozinhos nas mobilizações. Eles fazem de um lado, nós temos que fazer do outro lado. Temos que levantar a bandeira do Fora, Temer, sim. Essa bandeira é nossa. Nós estamos há dois anos lutando contra esse Governo, lutando contra esse golpe. Qual é a autoridade de um sujeito que defende a intervenção militar de falar Fora, Temer?

    O Bolsonaro e essa turma que esteve aqui patrocinando o golpe estiveram juntos – o senhor lembra, Capiberibe? – para tirar a Dilma. Estiveram juntos votando contra os trabalhadores na reforma trabalhista. E agora, quando a situação é de caos, de colapso, nós vamos deixar essa bandeira com eles? De jeito nenhum. Essa bandeira é nossa. Essa bandeira é da esquerda, é das forças populares e democráticas do País. Então, temos que ir para as ruas defendendo Fora, Temer, Fora, Parente.

    Nós do PT achamos que a saída passa pela eleição do Lula. O Lula tem uma força gigantesca no meio do nosso povo. A gente sabe que a prisão do Lula fez parte desse golpe continuado, porque o golpe teve um objetivo: afastar o povo do processo democrático. Rasgaram 54 milhões de votos da Dilma. Sabe por quê, pessoal? Porque o povo não aceita esse programa que eles estão fazendo no País, programa de retirada de direitos, programa de um neoliberalismo radical, porque essa Emenda Constitucional 95, que congelou o teto dos gastos, Senador Capibaribe, destruiu a nossa Constituição e vai destruir os serviços públicos. Não tem como o Brasil crescer com essa política econômica que aí está.

    Eu vi hoje um importante analista do mercado financeiro fazendo uma análise e fazendo uma análise sobre essa greve dos caminhoneiros. E dizia ele: "Não sei quem ganhou, mas eu sei que quem perdeu; foi o Temer e a sua agenda econômica." E continuou ele dizendo que foi isso porque o povo já demonstrou, na discussão da reforma da previdência e desses aumentos abusivos, que vêm de uma visão ultraneoliberal, que o povo não concorda com isso, que o povo quer outro caminho. Em vez de ajuste fiscal, quer mais saúde, mais educação, quer melhores salários.

    O povo está sofrendo com o desemprego e não aceita essa política econômica. Daí o desespero deles. Eu, sinceramente, não sei para onde vai esse golpe. Porque, nesse momento, eles estão inseguros porque sabem que não têm candidato, não têm discurso e o povo não concorda com o seu programa.

    Agora, Senador Capiberibe, eu vejo muita gente da esquerda em dúvida: "Olha, a gente não deve ir para as ruas agora, levantar o Fora, Temer agora. A gente não pode criar um momento de maior instabilidade." Pessoal, a crise está dada, está no meio do povo. A única coisa que não podemos fazer é deixar de falar com o povo, de disputar, de dialogar. Temos que levantar, sim, o Fora, Temer e ir para as ruas. Só quando nós tivermos o povo nas ruas, defendendo a democracia... É em uma situação como essa que ganhamos força; não é ficando em casa, não é se recolhendo; muito pelo contrário, é indo para esse enfrentamento. Sabe por que, pessoal? Está fácil de conversar com o povo.

    Não se impressionem com essa turma que defende intervenção militar; são grupos extremamente minoritários, com que temos que ter cuidado, mas são minoritários. Mas, se não formos para a rua, eles podem crescer, como no processo de 2013, deixando o movimento democrático de fora.

    Temos que ir para a rua. Eu deixo esse apelo para essa mobilização da próxima quarta-feira. É fundamental que mexamos com o povo, porque o povo está nos escutando, pessoal.

    Olha, essa questão do combustível, nós estamos falando, eles falam lá o discurso deles, e nós fazemos o nosso com grande audiência, Senador Capiberibe. Quando eu olho para as pessoas, eu digo: "Gente, Temer entrou e foram 229 reajustes." O senhor acredita nisso? Parece um exagero quando se fala: 229! Sabe quantos houve no governo do Presidente Lula? Oito. Da Dilma? A Dilma não foi de oito anos, Lula foi oito anos. A Dilma ficou em cinco e meio. Oito também. Duzentos e vinte e nove!

    Então, nós, inclusive, estamos apresentando amanhã, Senador Capiberibe, um projeto que institui diretrizes para a política de preços da Petrobras, em que dizemos que têm que ser ajustes de médio e longo prazo, bandas, porque na época do Lula e da Dilma a Petrobras – nesse caso dos preços, eu vou falar sobre isso – não houve prejuízo. Ela ganhava um pouco mais, compensava depois, ia fazendo o jogo. Aumentos diários: isso é uma loucura!

    Então, o povo está escutando quando falamos isso, o povo está escutando também quando dizemos: "Olha, o botijão de gás subiu 70% de 2017 para agora", porque as pessoas estão voltando a cozinhar com o fogão à lenha. Tem gente se queimando, indo para os hospitais, pois está cozinhando com álcool. As pessoas sabem disso, percebem que é verdade. Então, nós temos que fazer esse enfrentamento.

    Eu, inclusive, queria dizer, Senador Capiberibe, além da volatilidade dessa política maluca do Parente, há uma outra coisa: nós tínhamos a crítica que existia à Dilma de que ela botava o nosso preço da gasolina, do diesel, do botijão de gás, um pouco abaixo da cotação internacional. Agora, de onde vinha essa crítica centralmente? Olha, da imprensa, mas essa crítica tinha interesses. O interesse é do capital financeiro, porque, infelizmente, a Petrobras tem capital aberto lá na bolsa de valores dos Estados Unidos. Há muito investidor, fundos privados norte-americanos, acionistas da bolsa de valores cheios de interesse na Petrobras – cheios de interesse – e criticavam a Dilma por isso.

    Sabe o que o Pedro Parente fez quando ele entrou? Ele aumentou tanto o preço da gasolina, do diesel e do gás que hoje o diesel no Brasil tem um preço 50% superior ao preço internacional. Quem é que ganha com isso? Esses investidores, acionistas da Bolsa de Nova Iorque. Quem ganha mais com isso? As multinacionais do petróleo, porque o preço aqui está tão alto. O Brasil importava 41% do diesel dos Estados Unidos; hoje importa 82% do diesel dos Estados Unidos. Importa de quem? Da Shell, da BP, da Chevron, das grandes multinacionais do petróleo, Senador Capiberibe. E nós tínhamos aqui, chegamos a utilizar 93% de tudo o que produzíamos sendo refinado aqui. Hoje, 75%; 25% está ocioso. Então, o que mudou foram os interesses.

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - AP) – Por que paralisou o refino dele?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Olha, por isso. Na minha avaliação foi...

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - AP) – O que é que justifica?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Não existe...

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - AP) – O que justifica a paralisação, o desemprego?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Não existe lógica. Se tivesse interesse do povo, do Brasil, o que é que nós faríamos? Pegava o petróleo que extrai aqui, até porque nós aumentamos a capacidade de refino, e refinava quase tudo. Nós chegamos a refinar 93%. Agora estamos fazendo o quê? Exportando petróleo bruto e comprando refinado.

    Eu começo a ver pelos interesses. Quem ganhou com isso? As multinacionais do petróleo dos Estados ganham com isso. O povo brasileiro perde, e o Temer quer privatizar quatro refinarias em uma situação como essa. Então, é uma maluquice o que está acontecendo neste País, nesta área.

    Eu digo mais: queria fazer uma reflexão com V. Exª, Senador Capiberibe. Eles tiveram uma cara de pau! Eu não consigo entender e eu estive na reunião de Líderes no Senado, tentei: "Os senhores vão fazer isso?" Para abaixar o diesel – que eles baixaram os R$0,46 e vai ter reajuste só de mês em mês, só no diesel, gasolina e gás vão continuar como estão – eles disseram o seguinte: "A União vai ter que passar um dinheiro para a Petrobras". Sabe de onde decidiram tirar? PIS/Cofins. PIS/Cofins – eu já falei no começo, repito e vou repetir a vida toda –, isso aqui é covardia. PIS/Cofins é direito dos miseráveis, de gente que recebe assistência social, Bolsa Família, previdência, seguro-desemprego. Não passa pela cabeça deles, Senador Capiberibe. E sabe para quem eles estão dando subvenção? É para a Petrobras. Quem ganha nesse caso da Petrobras? Os acionistas, mas também as importadoras de diesel dos Estados Unidos. V. Exª acredita nisso? As empresas que compram lá e importam para cá, uma empresa que está importando, vamos dar subvenção com dinheiro público.

    É por isso que estamos apresentando duas propostas alternativas, porque nisso do PIS/Cofins não votamos. Quais são as duas propostas? Número um: aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos bancos de 20% para 25%. Não há uma crise? Há setor que ganhe mais neste momento do que os bancos? Lucros extraordinários crescem a cada trimestre; Itaú, Bradesco. Então, essa é a primeira.

    Vai tirar da Seguridade Social? O debate que nós temos que fazer aqui é quem vai pagar a conta. E há uma segunda proposta que é: eles aprovaram a Medida Provisória 795, que foi uma medida provisória que deu isenção para as petroleiras – há gente que calculou essa isenção, em 40 anos, de R$1 trilhão –, pois bem, nós fizemos um estudo para suspender essa isenção em 2018.

    Dá um valor alto, algo como 16 bi. Não é melhor suspender a isenção das petroleiras do que tirar de quem recebe Bolsa Família? De quem recebe assistência social?

    Então, esse debate nós vamos ter que fazer aqui, porque eu, sinceramente, acho essa proposta inadmissível. O que estão fazendo, o que o Temer está querendo fazer é enrolar o povo brasileiro. Não vai mudar nada, porque ele não tem coragem de mexer no Presidente da Petrobras. O Parente tinha que sair. Ele, lá dentro, não vai mudar essa política de preços. A gasolina vai continuar oscilando; oscilando, não, subindo, mas quase diariamente – até agora, 229 reajustes –, com o botijão de gás será a mesma coisa.

    Então, senhores e senhoras que nos assistem, acho que nós temos um momento que é um momento bom para falar com o nosso povo. O nosso povo, as pessoas começam a ver o que aconteceu no Brasil. Eu vi uma pesquisa recente em que a maior parte do povo reconhece que o impeachment da Dilma foi golpe. No começo não era assim, mas ele está vendo, porque a vida das pessoas está piorando.

    Eu tenho ido muito às ruas lá no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, São Gonçalo. Eu pego um carro de som e vou falar com as pessoas. Eu fui, na véspera do Dia das Mães, a São João do Meriti, Vilar dos Teles, que era um grande comércio popular. Estava muito vazio em relação ao que era anteriormente, porque as pessoas estão sem dinheiro. O segredo do Lula naquele período, quando ele foi Presidente, foi de entender que melhorava para todo mundo quando fazia pelo mais pobre, pelo trabalhador; as pessoas tinham dinheiro, investiam no comércio, a economia cresceu.

    A economia não cresce agora, Capiberibe, porque o consumo das famílias está lá embaixo, ninguém tem dinheiro. Eles diziam que, com a reforma trabalhista – o Meirelles chegou a dizer –, iam criar dez milhões de empregos. E eu fiquei vendo agora: primeiro trimestre de 2018, sabe o que houve? Foram 1,4 milhão a mais de desempregados. Já são 13,7 milhões, que, se juntar com subemprego, com subocupados, são 27 milhões de brasileiros.

    É uma destruição. O que o Temer fez no País, essa turma, é devastação social!

    Então, é fundamental, volto a dizer, para encerrar, Senador Capiberibe, que nós saiamos às ruas, que não tenhamos medo de fazer o enfrentamento, que levantemos a bandeira do Fora, Temer e do Fora, Parente, pela redução do preço da gasolina, pela redução do preço do botijão de gás. Temos que falar a linguagem do povo e temos que pedir a outras categorias que também vão às ruas. É hora de mobilização, é hora de todos os que acreditam na democracia brasileira irem às ruas.

    Por isso acho muito importante o que os petroleiros fizeram: conversar com os caminhoneiros, explicar o que estava acontecendo, dialogar. Aqui também, Senador Capiberibe, muita gente diz "Ah, os caminhoneiros...". Olha, caminhoneiro é trabalhador brasileiro, há de tudo: há os que defendem Bolsonaro, há os que defendem Fora, Temer, há os que defendem Lula. Há de tudo. Não podemos deixar de dialogar com o povo, até porque – e eu queria fazer aqui uma pequena reflexão, Senador Capiberibe – se olharmos no mundo, recentemente na Europa, com a crise, estamos vivendo uma profunda crise do neoliberalismo no mundo. É uma disputa de setores de trabalhadores, uma massa – hoje nós não temos tantos setores organizados do operariado – dispersa de trabalhadores com a extrema direita.

    Na França, quem cresceu primeiro foi Marine Le Pen. Onde? Em cima da base dos trabalhadores, porque o Partido Socialista francês estava praticamente rendido às políticas neoliberais. Na Inglaterra, a mesma coisa. Trump falou para os trabalhadores dos Estados Unidos. O que aconteceu na Inglaterra e na França? Quando você teve um candidato de esquerda que fez um discurso forte, disputando os trabalhadores, a esquerda cresceu. Foi o caso da candidatura do Mélenchon e do Corbyn, na Inglaterra.

    Daqui para a frente, nós vamos disputar muito com a extrema direita, porque aqui há uma desmoralização total do centro-direita neoliberal. Total! Se bem que aqui há uma situação atípica. A extrema direita no mundo, que flerta com o discurso fascista, é nacionalista, com todos os seus problemas – são xenófobos, têm de tudo, mas fazem um discurso nacional. Aqui, nós temos um absurdo que é uma extrema direita fascista e entreguista, com um discurso liberal na economia. Quem é esse Bolsonaro? É uma figura menor, despreparada. Nota-se que há uma diferença dessa extrema direita europeia e norte-americana, a extrema direita do Trump, que faz o discurso, mas faz o discurso de economia nacionalista, fechando. Aqui, não. Então, eu acho que é a fragilidade do personagem, mas aqui há uma coisa diferente.

    Eu encerro, Senador Capiberibe, dizendo o seguinte: sou daqueles que acham que temos de ir para as ruas defender essas bandeiras. Acho que a pior coisa que podemos fazer agora é ter medo de que aconteça alguma coisa e recolher-se. A pior coisa é não ter o nosso lado nas ruas, o nosso povo mobilizado. Então, eu acho que, de fato, vivemos um desafio histórico.

    Sinceramente, no meio de tudo isto o que está acontecendo aqui, eu sou um otimista. Acho que nós, da esquerda, vamos ganhar a eleição. Estou confiante nisso. Sabem por quê? Nós temos uma figura com uma força popular gigantesca que se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Senador Capiberibe, é impressionante: em todas as pesquisas, depois de tudo isso, de mais de 45 dias preso de forma injusta, em qualquer pesquisa, Lula lidera. Ele lidera em todos os cenários. Quando vou ao Rio falar com as pessoas, com o povo, na Rocinha, na Baixada Fluminense, as pessoas me perguntam por Lula. Querem saber como ele está, como é que vai ser, se ele vai ser candidato. Eu acho que o caminho da vitória para derrotar esse golpe passa pelo Lula. É por isso que nós do PT vamos registrar a candidatura do Lula no dia 15 de agosto.

    E vai ser uma batalha, porque eles, agora que deram vários golpes, que tiraram a Dilma, que prenderam o Lula, querem dizer: "Lula não pode se registrar". Chegaram a dizer que era "irregistrável". V. Exª já disputou muitas eleições, V. Exª sabe que a impugnação é um ato posterior ao registro, que só começa depois do registro. Como é que querem fazer isso? Aí, meu amigo, eles, que falam da eleição da Venezuela, vão ter de se explicar para muito observador internacional. Isso aí é rasgar qualquer direito de defesa. Nós vamos registrar o Lula. Depois, há 5 dias para impugnação; há 7 dias para a defesa. Há um processo aí.

    E há mais: lá na Lei da Ficha Limpa, está claro que o direito político só é suspenso com a sentença condenatória transitada em julgado. Se o Lula perde no TSE, ele pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal e pode ser candidato sub judice.

    Você que está em casa nos assistindo diz: "Do jeito que estão fazendo, vão tirar o Lula na última hora, na véspera da eleição." Agora, são 20 dias; são 20 dias antes da eleição para poder mudar o candidato. E muita gente diz que eles vão tirar. Aí eu digo que, se tirarem, é mais um motivo para as pessoas verem a perseguição ao Lula. Eu tenho esta certeza: o candidato que ele disser "esse vai ser meu candidato e vai falar em meu nome", para mim, vai para o segundo turno. Com ele indo para o segundo turno, a nossa chance é muito grande, porque eu não acredito que uma candidatura dessas, como a do Alckmin, a do Meirelles, essas coisas, avancem. O que está consolidado – na verdade, é o fruto desse golpe – é essa maluquice do Bolsonaro.

    O SR. PRESIDENTE (João Capiberibe. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - AP) – Senador Lindbergh, eu estava lendo hoje um analista de mercado que me surpreendeu. Ele estava falando sobre os prejuízos causados pela greve dos caminhoneiros, que vai impactar o PIB, ele calcula, acima de 1%. Ele disse: "Isto é coisa que o mercado não suporta: prejuízo." E, com o clima que está aí, com o Governo completamente esvaziado, sem autoridade, sem uma perspectiva de essas lideranças liberais, da direita liberal, terem uma candidatura viável, ele chega à conclusão de que o mercado vai terminar trazendo o Lula de volta, que o Lula vai voltar pelas mãos do mercado. Eu fiquei muito surpreendido com essa tese, mas ela é possível, porque as pesquisas estão mostrando que não restam outras alternativas de alguém para retomar o processo e vencer essa crise política e econômica que nós estamos vivendo. Ele chega a essa conclusão.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Senador Capiberibe, V. Exª sabe que o Lula sempre foi um conciliador. Eu até acho – sempre defendi – que a gente devia ter ido mais: a gente devia ter feito democratização dos meios de comunicação, devia ter avançado na tributação mais progressiva. Agora, o Lula foi sempre foi aquele conciliador. Só que a gente vive um momento do capitalismo, Capiberibe, em que esse mercado, no meio dessa crise econômica, só vê um jeito, que é superexplorar trabalhador; eles querem massacrar o povo trabalhador. O processo em curso é de redução de salário, de retirada de direitos. É por isso que eu não concordo com essa tese, porque eu acho que o mercado hoje tem condições de pegar até um caminho autoritário. Esse pessoal não tem compromisso nenhum com a democracia. O que eles querem é fazer seus projetos, hoje, de ataque aos trabalhadores e de apropriação das nossas riquezas.

    Senador Capiberibe, eu não quero tirar muito tempo de V. Exª, sei que está tarde – está aqui a Janete Capiberibe também, nossa Deputada, futura Senadora lá do Amapá.

    Vejam que eles estão se apropriando – falando da Petrobras. Eu sempre achei que por trás desse golpe tinha sempre muito interesse no pré-sal. Agora, vai haver o leilão do pré-sal, o quarto leilão. O pré-sal está todo descoberto, foi o Brasil que descobriu o pré-sal. Nós descobrimos o pré-sal, investimento da Petrobras, dinheiro nosso. Ali ninguém gasta, ninguém está arriscando nada. A União chegou a ficar com 70%, 80% do petróleo que está sendo explorado pela empresa privada. Você acredita que agora, no quarto leilão, eles colocaram o percentual mínimo do excedente de óleo que vai ser transferido para a União entre 7% e 22%? Assim, uma empresa de petróleo pode ganhar um campo de pré-sal daqueles e ficar com 93% para ela, só entregando 7%. O nome disso é roubo, porque, volto a dizer, aqui já está descoberto. Uma coisa é quando há risco.

    Outra coisa, Senador Capiberibe: eles acabaram com a política de conteúdo local que o Lula criou, que gerou empregos na indústria naval. Agora está tudo parado nos estaleiros. Então, é uma destruição tremenda.

    Sinceramente, eu acho que o mercado quer qualquer coisa, menos opção de esquerda neste momento. É por isso que eles estão frustrados, porque os candidatos deles não emplacam. E é por isso que vivemos um momento perigoso e delicado do golpe, porque, se eles acharem que vão perder, podem ir para qualquer caminho, mas a saída não é se recolher. A saída para enfrentar isso é mobilização popular do nosso campo, da esquerda das forças democráticas.

    Eu falo isso, porque, na minha avaliação, está havendo muita confusão, muita teoria de conspiração. É claro que o clima é de delicadeza, nós não vivemos um momento normal, mas não tem jeito, temos que falar com o povo, disputar as massas, levantar as nossas bandeiras.

    Essa turma do Bolsonaro está começando a levantar: Fora, Temer e intervenção militar. Eu volto a dizer: é cara de pau. Eles levaram o Temer ao poder. Estavam de braços dados com Eduardo Cunha. Não nos enganam.

    A nossa bandeira tem que ser: Fora, Temer; Fora, Parente; Lula Presidente. É para tirar o País deste impasse, para fazer o País crescer, para se reencantar com o futuro. Neste momento, o...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – ... Brasil todo tem que exigir. Essa proposta de Temer não engana o povo brasileiro.

    Pela redução do preço da gasolina, pela redução do botijão de gás, por uma outra política de preços para a Petrobras: Fora, Temer; Fora, Parente; Lula livre.

    Muito obrigado, Capiberibe.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2018 - Página 167